Fanfic: FFOBS - Caçadora de Corpos por L. Cosette


Gênero: Suspense
Categoria: Original

Sinopse:
Quando assassinos e estupradores começam a aparecer mortos em Winchester, sem que a polícia local consiga chegar ao culpado, a famosa Scotland Yard é acionada e envia para a cidade seu melhor detetive para cuidar do caso. Ao chegar no condado de Hampshire, o queridinho da polícia londrina conclui que os crimes parecem indicar alguns suspeitos, sim, mas nenhum deles está mais entre nós. Cético e totalmente convencido de que os assassinatos têm alguma explicação racional, o detetive segue a contragosto atrás de uma médium renomada, na esperança de que ela consiga solucionar os mistérios: a sombria e enigmática Madame Viviette.


Prólogo - East Sussex, 2000

Os baques do salto alto contra a madeira faziam com que todas as crianças do ambiente, já familiarizadas com aquele som, se aquietassem e tentassem aparentar o mínimo de etiqueta.
Sempre que a diretora do orfanato seguia até o terceiro andar, com suas roupas formais e o batom excessivamente vermelho, era sinal de que ela trazia consigo um casal ansioso pela adoção. 
As crianças sabiam disso e todas se tumultuavam nos corredores, embora silenciosas, para observar aqueles que poderiam ser seus futuros pais. Seus coraçõezinhos batiam acelerados e os olhos se enchiam de expectativa de que, finalmente, pudessem vir a fazer parte de uma família. 
Para o azar dos pequenos, dessa vez, o casal em questão já tinha um alvo certo. 
– Eu sei que é só durante essa semana, mas eu devo alertá-los mais uma vez – a diretora disse, enquanto o jovem casal a seguia pelos corredores. – Ela pode ter algumas manias bastante... Perturbadoras. 
– Ela é uma criança sozinha, senhora Hall – o homem argumentou e sua mulher, rapidamente, concordou com a cabeça. – Os pais e os irmãos morreram recentemente . Ela não está acostumada com o orfanato e seus novos colegas. Nada mais normal do que ter criado uma válvula de escape... 
A diretora estreitou seus olhos e os dirigiu para o homem. Trabalhava no orfanato há mais de quinze anos e podia dizer, com todo conhecimento de causa, que sabia o que era ou não normal para uma criança de sete anos. 
– Ela mal se comunica com alguém que não sejam seus amigos imaginários – falou a senhora Hall, por fim parando de frente para uma das portas de carvalho do corredor. – E eles podem se tornar bem reais de vez em quando, se é que me entendem. 
– Só vamos ficar com ela durante o Natal e o Ano Novo, senhora Hall – a mulher abriu um sorriso sereno. – Não há nada que possa nos assustar. 
E então, ao som da declaração da ruiva a sua frente, a diretora do orfanato abriu a porta e deixou que o casal vislumbrasse a garota. 
A pequena estava sentada e encolhida em um dos cantos. Seus cabelos volumosos estavam jogados sobre os ombros e ela mirava um ponto fixo enquanto cantarolava uma música. 
– Frère Jacques, Frère Jacques, dormez-vous? Dormez-vous? – cantava baixinho e em francês, e nem se deu ao trabalho de virar o rosto para observar seus visitantes. Sua voz, melodiosa e contínua, chegava até a ser um tanto tenebrosa. – Sonnez les matines! Sonnez les matines. Ding, daing, dong. Ding, daing, dong. 
A moça ruiva mirou a diretora do orfanato, que tinha as duas sobrancelhas arqueadas como se dissesse “eu avisei”. Entretanto, ignorando qualquer primeira impressão, a mulher se desvencilhou do marido para se ajoelhar em frente à menina. 
Assim que o fez, a criança elevou seu olhar para encará-la, e então a ruiva quase engasgou. As íris da garota eram cinzas, de um tom tão gelado, mas tão gelado que parecia que seus olhos eram o espelho para um mar de icebergs. 
A mulher limpou a garganta e tentou não se mostrar muito assutada. 
– Hm... – começou a falar. A pequena a observava com a expressão imutável. – Eu sou francesa e logo reconheci a música. Frerè Jacques era uma das minhas favoritas quando eu era criança. Você fala francês? – deu um sorriso débil e observou a menininha negar com a cabeça. – Mas então como aprendeu a cantar em francês tão bem? 
A garota inclinou um pouco o pescoço e observou um ponto fixo a alguns centrímetros de distância, por cima de um dos ombros da ruiva. Deixou seu olhar estacionado lá como se observasse alguma coisa, mas não havia nada – a mulher constatou ao se virar na mesma direção. 
– O senhor Dupin me ensinou – a pequena disse, por fim. 
– Quem é o senhor Dupin? Um dos funcionários do orfanato? 
A menina negou veementemente com a cabeça.
– Seu amigo imaginário? – a ruiva arriscou mais uma vez e, com os olhos brilhando, a garotinha concordou. – Ele está aqui agora? O senhor Dupin está aqui? – a mulher a observou, mais uma vez, fazer que “sim”. O marido e a senhora Hall estavam estáticos próximos a porta, sem querer tomar parte no estranho diálogo. – Onde ele está? 
A criança novamente inclinou a cabeça e olhou para um ponto fixo no nada. Dessa vez, o obstáculo invísivel que preenchia seus olhos parecia estar muito mais próximo.
Ela levantou sua mãozinha e indicou um ponto acima do ombro da ruiva. 
– Logo atrás de você – falou, e a mulher sentiu um vento frio próximo a orelha, quase como se alguém tivesse soprado seus cabelos. Um repentino calafrio lhe subiu pela espinha. – Ele disse que gosta da tatuagem que você tem nas costas. São dois pássaros, não é mesmo? 

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