Epílogo
Apesar de terem se passado anos desde a última vez em que tive caixas desempacotadas pela metade em todos os cômodos, o caos organizado ainda me fazia sorrir. As lembranças da mudança para meu primeiro apartamento em San Diego — mesmo dos primeiros meses inconstantes — eram boas e tinham me ajudado a superar o estresse do meu treinamento como a mais nova analista de inteligência no NCAVC, em Quantico.
Apenas seis meses antes, eu me candidatara ao cargo dos meus sonhos. Três meses depois, fui transferida. Agora eu estava de roupão e meias felpudas, desempacotando os vestidos de alça que ainda estaria usando se estivesse na Califórnia. Em vez disso, tive de prometer a mim mesma não reajustar o termostato — de novo — e me mantive perto da lareira acesa no quarto.
Desamarrei o cinto do roupão, deixando-o se abrir, e levantei o moletom cinza mescla do FBI, levando a mão até a cicatriz circular na parte inferior de meu abdome. O ferimento curado sempre me faria lembrar de Thomas. Isso me ajudava a fingir que ele estava perto mesmo quando não estava. As cicatrizes semelhantes eram algo parecido com a sensação de estar sob o mesmo céu — mas melhor.
Um barulho de motor de carro ficou mais alto quando parou na entrada, e faróis traçaram as paredes antes de serem desligados. Atravessei a sala de estar e espiei pelas cortinas ao lado da porta da frente.
O bairro era tranquilo. O único trânsito por ali era o veículo na minha entrada de carros. Quase todas as janelas nas casas vizinhas estavam escuras.
Eu adorava a nova casa e o novo bairro. Várias famílias jovens moravam na minha rua, e, apesar das batidas regulares à porta e de parecer que eu estava recebendo diariamente crianças da escola do bairro vendendo chocolate ou queijo, eu me sentia mais em casa do que nunca.
Uma silhueta escura saltou do carro e pegou uma bolsa de viagem. Os faróis se acenderam de novo, e o carro deu ré e se afastou. Esfreguei as mãos suadas no moletom enquanto a sombra de um homem se aproximava lentamente da varanda. Ele não devia estar aqui ainda. Eu não estava pronta.
Ele subiu os degraus, mas hesitou quando chegou à porta.
Virei o trinco e puxei a maçaneta na minha direção.
— Acabou?
— Acabou — Thomas respondeu, parecendo exausto.
Abri a porta toda e ele entrou, me puxando para os seus braços. Ele não falou. Mal respirava.
Desde a minha transferência, estávamos morando em lados opostos do país, e eu tinha me acostumado a sentir saudade dele. Mas, quando ele saiu com Travis, poucas horas depois de supervisionar a entrega do restante de seus pertences em nossa nova casa em Quantico, fiquei preocupada. A missão não era apenas perigosa. Juntos, Thomas e Travis tinham invadido os escritórios de Benny Carlisi, e o crime organizado em Vegas nunca mais seria o mesmo.
Pela expressão de Thomas, as coisas não tinham dado muito certo.
— Você foi interrogado? — perguntei.
Ele assentiu.
— Mas o Travis se recusou. Ele foi direto para casa. Estou preocupado com ele.
— É o aniversário de casamento dele com a Abby. Liga pra ele amanhã. Confirma que acabou.
Thomas sentou no sofá, apoiou os cotovelos nas coxas e olhou para baixo.
— Não era para ter acontecido assim. — Ele respirava como se estivesse sem ar.
— Quer conversar? — perguntei.
— Não.
Esperei, ciente de que ele sempre dizia isso antes de começar uma história.
— O disfarce do Trav foi descoberto. O Benny e os capangas dele o levaram para o porão. Fiquei em pânico, mas o Sawyer conseguiu a localização deles. A gente ouvia enquanto eles batiam no Travis durante uma boa hora.
— Meu Deus — falei, tocando no ombro dele.
— O Travis conseguiu boas informações. — Ele deu uma risada sem humor. — O Benny estava fazendo um belo discurso e soltando tudo, pensando que o Travis estava prestes a morrer.
— E? — perguntei.
— O filho da puta ameaçou a Abby. Ele começou a detalhar a tortura pela qual ela ia passar depois que ele matasse o Travis. Foi bem explícito.
— Quer dizer que o Benny está morto — falei, mais como uma declaração do que uma pergunta.
— É — Thomas respondeu com um suspiro.
— Anos de trabalho, e o Benny não vai nem ver o interior de um tribunal.
Ele franziu a testa.
— O Travis pediu desculpa. Ainda temos muito trabalho a fazer. O Mick Abernathy tem contatos com muitos chefões além do Benny. Podemos trabalhar o caso por esse ângulo.
Passei os dedos delicadamente pelo cabelo de Thomas. Ele não sabia que Abby e eu tínhamos um segredo. Ela ia entregar para o FBI tudo o que sabia sobre o pai em troca de mantermos seu marido em casa e longe de confusão. Abby concordara em contar isso ao Travis no aniversário de casamento deles, e ele transmitiria essas informações para a Val, que fora promovida a ASAC em San Diego.
— Eu prometi que ia ter acabado de desempacotar tudo quando você voltasse pra casa — falei. — Estou me sentindo mal.
— Tudo bem. Eu queria ajudar — ele disse. Sua mente estava em outro lugar. — Sinto muito por você não poder estar lá. Esse momento era tão seu quanto meu. — Ele levantou o olhar e tocou o tecido esticado do meu moletom, que cobria minha barriga protuberante: a segunda coisa não planejada que nos acontecera. — Mas estou feliz que você não estava.
Sorri.
— Não consigo mais ver a minha cicatriz.
Thomas se levantou e me envolveu em seus braços rígidos.
— Agora que finalmente estou aqui, você pode olhar para a minha durante as próximas onze semanas, mais ou menos, até poder ver a sua de novo.
Caminhamos de mãos dadas pela sala de estar, e Thomas me levou para o nosso quarto. Sentamos juntos na cama e ficamos observando o fogo tremeluzir e as sombras dançarem nas pilhas de papelão que continham porta-retratos e bugigangas de nossa vida juntos.
— Achei que a gente já teria encontrado um sistema mais eficiente pra isso — Thomas disse, franzindo o cenho para as caixas.
— Você não gosta da parte de desempacotar.
— Ninguém gosta, não importa como essa pessoa esteja feliz por se mudar.
— Você está feliz por se mudar? — perguntei.
— Estou feliz por você ter conseguido esse emprego. Você lutou por ele durante muito tempo.
Ergui uma sobrancelha.
— Você duvidou de mim?
— Nem por um segundo. Mas eu estava nervoso por causa do cargo de ASAC em Washington. Eu estava começando a ficar preocupado em me firmar antes da chegada do bebê, e você não parecia estar com muita pressa de eu vir pra cá.
Franzi o nariz.
— Não estou empolgada com seu deslocamento de uma hora até o trabalho.
Ele deu de ombros.
— Melhor que vir do outro lado do país. Você ignorou a parte de não estar com pressa de ter o pai do seu filho por perto.
— Só porque estou aprendendo a lidar com algumas variáveis, não significa que desisti de ter um plano principal.
As sobrancelhas dele dispararam para cima.
— Quer dizer que o plano era esse? Que eu ficasse louco de saudade de você durante três meses? Que eu pegasse um voo de madrugada para estar aqui em todas as consultas médicas? Que eu ficasse preocupado de cada ligação ser uma notícia ruim?
— Você está aqui agora, e tudo está perfeito.
Ele franziu a testa.
— Eu sabia que você ia se candidatar para esse cargo. Eu me preparei psicologicamente para a mudança. Nada poderia ter me preparado para a notícia que você me deu, quatro semanas depois, de que estava grávida. Você sabe o que isso fez comigo? Ver minha namorada grávida se mudar para o outro lado do país sozinha? Você nem trouxe tudo. Fiquei apavorado.
Soltei uma risada.
— Por que você não me disse nada disso antes?
— Eu estava tentando te apoiar.
— Tudo aconteceu exatamente como eu planejei — falei com um sorriso, incrivelmente satisfeita com a declaração. — Consegui o emprego e trouxe apenas o suficiente para viver. Você conseguiu o emprego, e agora podemos desempacotar as coisas juntos.
— Que tal, quando envolver a nossa família, você planejar comigo?
— Quando tentamos fazer planos juntos, nada acontece como deveria — provoquei, cutucando-o com o cotovelo.
Ele colocou o braço ao meu redor e me puxou para si, pousando a mão livre na minha barriga redonda. Ele me abraçou durante um bom tempo enquanto observávamos o fogo e curtíamos o silêncio, nossa nova casa e o fim de um caso no qual nós dois trabalhamos durante quase uma década.
— Você ainda não aprendeu? — Thomas falou, encostando os lábios em meu cabelo. — É no imprevisto que os melhores e mais importantes momentos da nossa vida parecem acontecer.
AAAAAAAA EU AMEEEI
ResponderExcluirEu amei o livro, ansiosa para ler os próximos.
ResponderExcluirEu gostei bastante, mas confesso que não ficou entre meus favoritos, é uma história bonita, mas Travis e Abby continuam sendo os primeiros, depois Trento e Camille, vou ler os próximos agora.
ResponderExcluir❤❤❤❤
ResponderExcluirAmei esse livro ❤❤
ResponderExcluirMeu livro favorito
ResponderExcluirLinda história mas Travis e Abby sempre em primeiro lugar!!!
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