Capítulo 1
Quando eu era criança, ficava
sentada pelo que parecia uma eternidade, encarando uma chama. Minha família
achava que era um passatempo peculiar, mas, quase vinte anos depois, eu estava encarando
a ponta do meu cigarro, as cinzas tão longas quanto meus dedos, queimando
laranja enquanto o fogo consumia o papel.
A casa estava lotada, tão cheia
de bêbados suados, depravados e quase caindo, que respirar fundo não adiantava;
todo o oxigênio já havia sido sugado de lá. Meus ossos estavam saturados com o
som do contrabaixo, das garotas tagarelando, a maioria jovem demais para
comprar uma cerveja, quanto mais para estar à beira de vomitar a meia dúzia de
garrafas de Smirnoff Ice que tinham acabado de consumir.
Eu me recostei na poltrona
importada supermacia, a preferida da minha mãe, analisando o caos e me sentindo
em casa.
Meu pai estava convencido de que
eu era uma boa garota, então era fácil para mim testemunhar atitudes de mau
comportamento sem nenhum tipo de culpa, apesar de às vezes eu agir da mesma
forma.
Uma garota linda com penteado
pompadour fixado com glitter e pintado de roxo me estendeu um baseado — uns
dois centímetros de erva mágica envolvida em papel de seda —, e eu mirei seus
olhos por menos de um segundo para confirmar se o cigarrinho estava apertado antes
de aceitar. Expirei em direção ao teto, observando a fumaça flutuar acima e se
unir à nuvem branca que já envolvia o amplo espaço que funcionava como a nossa
galeria, projetada sob medida para depois das atividades de esqui, das rodadas
de vinho e dos convidados sofisticados, e não para os trabalhadores de classe
média e os bêbados da região, que se esfregavam nos quadros, derrubando vasos.
Relaxei imediatamente, apoiando a
cabeça no encosto do sofá. Em termos de cannabis recreativa, o Colorado era um
dos três estados que faziam parte dos meus lugares preferidos para passar um
feriado. O fato de os meus pais terem uma casa de férias em Estes Park o fazia
subir para a posição número um.
— Qual é o seu nome? — ela
perguntou.
Eu me virei em direção a seu
esplendor angelical, sem me surpreender por ela estar em uma festa lotada sem
conhecer a anfitriã.
— Ellie — respondi, mal prestando
atenção a seus olhos vermelhos e cansados.
— Ellie Edson? Você é irmã do
Ellison?
Suspirei. Essa não era a conversa
que eu queria ter.
— Eu sou a Ellison.
Suas sobrancelhas se uniram
conforme a confusão anuviava seu rosto.
— Mas... o Ellison é homem,
certo? O cara que é dono desta casa? — Ela deu uma risadinha e apoiou a
bochecha no braço. — Vocês são tipo... gêmeos ou alguma coisa assim?
Eu me recostei, sorrindo enquanto
ela passava espontaneamente os dedos pelos meus longos cabelos. Um de seus
braços tinha sido tatuado com diversos tamanhos de crânios delineados em preto
e rosas azuis brilhantes; o outro era uma tela em branco.
— Não, eu sou a Ellison, a mina
que é dona desta casa.
Ela deu uma risada alta com a
piada, depois se ajoelhou no chão em frente à minha poltrona.
— Sou a Paige.
— Há quanto tempo você mora aqui?
— O que te faz pensar que eu sou
daqui? — ela perguntou.
Ela estava concentrada em cada
palavra que eu dizia, e a atração unilateral estava me provocando uma estranha
combinação de satisfação e tédio. Paige era mais do que apenas linda; ela
demonstrava esperança no modo como contava suas histórias tristes —
abertamente, para todos verem, vulnerável quando seu coração fora destruído
demais para ser consertado.
Estendi a mão para o baseado.
— Seus olhos são vazios por causa
de uma vida inteira de expectativas frustradas e da culpa por desperdiçar
poucos recursos.
Ela deu uma risadinha.
— Não sei o que isso significa.
— Exatamente.
— São seus pais naquele quadro? —
perguntou ela, apontando as unhas curtas e lascadas para o retrato no canto
oposto do ambiente.
Suspirei.
— São eles... tentando comprar a
imortalidade.
— Eles não parecem tão maus. Eles
te deram tudo isso.
— Não, ainda é deles. Só estou
pegando emprestado. Pessoas como nós aprendem desde cedo a desistir de abrir
mão das coisas de graça.
— Pessoas como vocês? — ela
pareceu se divertir. — Tipo, pessoas que têm uma casa com um zilhão de metros
quadrados?
— Vários deles — comentei.
Suas sobrancelhas se ergueram e
sua boca se curvou para cima, num sorriso doce.
Algumas pessoas poderiam entender
meu comentário como ostentação, mas havia um desdém proposital na minha voz que
eu sabia que Paige não reconheceria. Ela ainda estava sorrindo. Eu
provavelmente poderia contar a ela que minha mãe tinha admitido, durante uma ingestão
em excesso de Xanax, que amava mais minha irmã Finley, ou que destruí de
propósito a Ferrari que meu pai me deu quando fiz dezesseis anos
(principalmente como pedido de desculpas por ter esquecido a data), ou até
mesmo aquela vez em que Kennedy, minha colega de quarto também herdeira, levou
um saco plástico com seu feto abortado para uma marcha de direitos feministas
em Berkeley, e Paige ainda me encararia como se eu estivesse professando meu
amor por ela em vez de detalhar como sou fodida.
Soltei uma risada.
— Você definitivamente é daqui.
— Culpada. Tem namorado? — ela
perguntou.
— Você vai direto ao ponto.
Ela deu de ombros, dando um trago
e prendendo a respiração por cinco segundos antes de soltar uma baforada de
fumaça.
— Isso é um “não”? — perguntou
ela, ainda tossindo.
— É claro.
Paige tentou me passar o baseado
outra vez, mas balancei a cabeça. Então ela fez um biquinho com o lábio
inferior reluzente.
— Decepcionada? — Eu não tinha
certeza se ela queria um ménage à trois ou uma companhia para as drogas.
— É só que você parece divertida.
— Você está errada. — Eu me
levantei, já entediada com a conversa. Um vidro se quebrou do outro lado do
cômodo, e um pequeno grupo se reuniu ao redor do show que se passava no meio.
As risadas se transformaram em
gritos e cantorias. O quadro Better World, de Peter Max, tinha sido derrubado
da parede, estilhaçando o vidro. A cerveja barata se espalhou sobre as
pinceladas de cinquenta mil dólares. Abri caminho, vendo dois homens trocando
socos e fazendo uma bagunça absurda com todas as obras de arte ao redor.
Todos os olhos se voltaram para
mim, e os espectadores ficaram em silêncio, fazendo os dois no meio da roda
pararem. Todos estavam esperando que eu interrompesse a luta, gritasse ou talvez
chorasse pelos danos, mas meu olhar caiu no homem sem camisa, coberto de
tatuagens.
Ele também me observou, os olhos
castanhos mapeando meus peitos e pernas, depois a sala. Seu adversário virara o
boné de beisebol para trás, se movimentando enquanto rodeava o cara tatuado,
socando o ar como se estivesse num desenho animado do Pernalonga.
— Maddox, você já provou o que
queria. Vamos — disse alguém para o homem tatuado.
— Foda-se — respondeu ele, sem
tirar os olhos de mim. — A gente vai resolver isso lá fora.
O Boné Vermelho tinha pelo menos
vinte quilos a mais que Maddox. Tirei cinco notas do meu decote e as segurei
acima da cabeça.
— Quinhentos no Maddox.
As pessoas socavam o ar,
segurando notas, gritando apostas e vencedores. Maddox me olhou com uma luz nos
olhos que eu tinha certeza que ninguém via havia algum tempo — nem ele mesmo. O
cara mal tinha suado; o cabelo bagunçado e os olhos sombrios gritavam que ele
era invencível. A maioria dos homens que eu encontrara eram só aparência, mas
Maddox não precisava fingir. Ele vivia aquilo e tinha colhões para sustentá-lo.
O triângulo entre as minhas coxas se contraiu, e minha calcinha de repente
ficou ensopada. Dei mais um passo, abrindo caminho para chegar mais perto do
meio. Eu nunca o vira, mas parecia que ele seria meu próximo erro.
Pelo jeito como se movimentava,
eu percebia que ele estava estendendo a luta por muito mais tempo que o
necessário. Soco após soco — nenhum deles do babaca enorme de boné vermelho ao
contrário —, mais vidro quebrado, mais sangue e cerveja derramados no tapete italiano
felpudo e personalizado da minha mãe.
Virou padrão Boné Vermelho
desferir um soco e errar, e Maddox aproveitar a chance para revidar. Ele era
incrivelmente rápido, preciso e implacável. Eu quase sentia suas mãos firmes no
meu maxilar, fazendo meus dentes tremerem, vibrando pela minha coluna.
Rápido demais, a luta acabou. O
campeão tatuado se colocou sobre o oponente ensanguentado como se ele não fosse
nada. Alguém deu a Maddox uma camiseta, e ele a usou para limpar o sangue e o
suor do rosto.
Alguém me deu dinheiro, mas não
prestei atenção à quantia.
— Tyler... vamos dar o fora. Não
quero ser demitido, cara. Tem um monte de menores de idade bêbados aqui.
Maddox manteve os olhos em mim.
— Por que a pressa?
— Não tô a fim de explicar para o
chefe por que fomos presos. Você está?
Maddox vestiu a camiseta branca
de algodão, correndo o tecido sobre as curvas definidas do peito e do abdome.
Quando o V pouco acima do cós da calça desapareceu, meus ombros despencaram
levemente em decepção. Eu queria ver mais. Queria ver tudo dele.
O amigo nervoso lhe passou um
boné preto do White Sox, e ele o enterrou na cabeça.
Um amigo deu um tapinha no ombro
de Tyler.
— Você me fez ganhar cinquenta
pratas, Maddox. Parece que voltamos aos velhos tempos.
— De nada, babaca — disse ele,
ainda sem tirar os olhos de mim.
A multidão passou dinheiro de
mãos em mãos e, em seguida, num êxodo em massa, se dirigiu para a cozinha, onde
os barris jorravam.
Tyler Maddox se aproximou de mim,
a camisa molhada e manchada de sangue. Os olhos e o nariz estavam sombreados pelo
boné. Ele começou a dizer alguma coisa, mas eu agarrei sua camiseta e o puxei,
lhe dando um beijo violento na boca. Meus lábios se separaram, permitindo que
sua língua deslizasse para dentro de mim. Ele reagiu como eu imaginava —
eletricidade carnal entre nós —, enquanto agarrava a parte de trás do meu
cabelo, inclinando minha cabeça para trás, minha boca na direção dele.
Eu o empurrei, ainda com o tecido
de sua camiseta nas mãos. Ele esperou, sem saber o que fazer. Com um sorriso
irônico, dei um passo para trás, acariciei seus braços, até encontrar suas mãos.
Eram mãos calejadas, as unhas roídas até o toco. Eu mal podia esperar para
sentir aquela aspereza em minhas partes macias.
Um lado da boca de Tyler se
curvou num sorriso, e uma covinha profunda apareceu na bochecha esquerda. Ele
tinha o tipo de beleza que não se podia comprar, os olhos castanhodourados e o
maxilar quadrado, desleixado — uma sinfonia de perfeição que apenas genes impecáveis
poderiam gerar. Havia muita gente bonita no meu círculo social, com acesso aos melhores
produtos, estilistas, spas e cirurgiões plásticos, mas Tyler não tinha nada de
artificial — era bonito sem nenhum esforço, em seu estado natural.
Acelerei o passo, subindo de
costas o primeiro degrau.
Tyler olhou para cima, na base da
escada.
— Pra onde nós vamos? — Não
respondi, e ele continuou me seguindo. Eu podia levar o cara para a morte que
ele não tinha medo. — O que tem lá em cima? — perguntou ele, ainda caminhando.
— Eu — respondi simplesmente.
Ele começou a se movimentar com
determinação, os olhos passando de entretidos a famintos. Virei a maçaneta do
quarto principal e empurrei a porta, revelando a cama king-size dos meus pais e
duas dezenas de travesseiros.
— Uau — disse Tyler, olhando ao
redor. — Essa casa é surreal. Quem mora aqui deve ganhar uma fortuna. É de
algum amigo seu?
— Esta casa é dos meus pais.
— Você mora aqui? — perguntou
Tyler, apontando para o chão.
— Às vezes.
— Ah, merda. Você é a Ellison
Edson? Da Edson Tech?
— Não, sou apenas a Ellie.
— Seu pai está na revista Fortune
500, não está?
— Eu não quero mesmo falar do meu
pai agora — soltei entre um beijo e outro.
Ele me afastou.
— Me desculpa pelo quadro, pela
mesa... e pelo vaso. Vou repor tudo.
Abaixei a mão, agarrando a rigidez
por trás do seu jeans.
— Para de falar.
Tyler voltou a se concentrar,
estendendo as mãos e as deslizando por entre as minhas pernas e a minha pele
nua, os dedos cientes do local perfeito a explorar. Tirei as botas com um
chute, gemendo enquanto seus dedos deslizavam com mais facilidade, umedecidos
pelo meu desejo.
A beirada da cama tocou a parte
traseira das minhas pernas, e eu me inclinei para trás, puxando Tyler para cima
de mim. Eu já havia beijado dezenas de lábios antes, mas nenhum me dera a
impressão de que estavam famintos por mim havia tanto tempo. Todas as partes da
minha pele em que Tyler tocava pareciam decididas. Ele não estava nem um pouco
nervoso, tão experiente quanto eu em abrir botões e puxar tecidos.
No instante em que meu sutiã e
minha calcinha foram jogados ao chão, baixei sua boxer. Ele a chutou para longe
da cama, e nós rolamos. Eu sentei sobre ele, ambos ofegando e sorrindo.
Meu batom vermelho estava
espalhado pela sua boca, e minhas entranhas se enrijeceram, implorando por ele.
— De onde é que você veio? — ele
perguntou, maravilhado.
Ergui uma sobrancelha, depois dei
uma olhada para sua calça jeans pendurada na cama.
Estendi a mão, vasculhando o
bolso e sorrindo ao encontrar um pacote metálico.
— Vai com calma, Maddox. Ainda
não gozei.
Três rugas profundas se formaram
em sua testa quando suas sobrancelhas se ergueram. Ele me encarou enquanto
rasgava a embalagem de camisinha com os dentes, depois revirou os olhos quando
usei a boca para colocá-la.
— Caralho — ele ofegou, erguendo
os quadris quando coloquei seu membro todo na boca e na garganta. Seus dedos se
enroscaram em meus cabelos e os puxaram, e eu gemi no látex. Ele arqueou as
costas, enfiando a ponta ainda mais fundo.
Eu subi no seu colo e sentei,
segurando sua circunferência e abaixando meu corpo devagar, observando o calor
e a umidade das minhas entranhas o subjugarem. Com certeza, ele já tinha feito
isso muitas vezes, mas não comigo. Tyler parecia o tipo que assumia o controle,
o tipo de cara que dava prazer para as mulheres até que implorassem futilmente
por mais. Mas ele não podia lhes dar mais, e era exatamente isso que eu gostava
nele — além do fato de ser absurdamente lindo e saber como tocar minhas partes
íntimas como se fosse o arquiteto que me projetara.
Seus dedos pressionaram meus
quadris, e eu notei que ele estava tentando diminuir meu ritmo. Ele não ia
admitir que queria que eu demorasse mais. Ele estava perto de gozar, e eu também,
mas algum babaca bateu à porta, gritando o nome dele. Tyler não sairia antes de
terminar o que eu tinha começado.
Eu estava ofegando muito, gemendo
todas as vezes que minha bunda batia no colo dele, e, quando Tyler gozou, foi
com força, agarrando minha bunda enquanto arqueava as costas. Ele estava tão
fundo dentro de mim que doía, mas girei os quadris até cair para o lado. Enfiei
os dedos em seu peito, sorrindo com a boca aberta, sem conseguir controlar os
gritos que me escapavam da garganta.
Tyler abriu minhas coxas e
tensionou a bunda, entrando ainda mais em mim. Então rosnou um monte de
obscenidades, depois relaxou, expirando após recuperar o fôlego. Foi aí que ele
olhou para mim, sonolento e satisfeito.
— Que inferno, mulher.
Eu me inclinei sobre ele,
erguendo a perna, depois saí da cama engatinhando. Ele me observou enquanto eu
me vestia, deitado de lado, ignorando a batida à porta.
— Eu, humm... trabalho muito.
Faço parte da Equipe Alpina de Bombeiros de Elite e...
— E daí? — Fechei o sutiã nas
costas, depois vesti a parte de baixo.
Tyler fez uma pausa, tentando
decidir o que dizer em seguida.
— Então... isso aí é da Calvin
Klein?
Olhei para baixo, para a cueca
branca apertada que eu tinha vestido. Renda, fio-dental... não faziam minha
cabeça.
— É.
Ele deu uma risadinha.
— Então, humm... não vou poder...
você sabe...
— Ligar? Somos dois.
Tyler se levantou e começou a
recolher as próprias roupas enquanto a batida que vinha do corredor recomeçava.
— Maddox! Você está aí dentro?
— Mas que porra, Zeke! Espera! —
disse ele, vestindo a calça jeans.
Ele estava esperando que eu me
vestisse antes de abrir a porta, mas eu mal tinha colocado a camiseta sobre a
cabeça quando seus amigos a abriram.
Um dos caras, um pouco mais baixo
e muito mais forte, apontou para mim e, depois, percebendo que eu estava quase
nua, encarou o chão.
— Você está pronto?
— Sim, Zeke — disse Tyler,
sorrindo para mim.
Zeke apontou para trás com o
polegar.
— Eles estão destruindo o lugar.
Quer que a gente te ajude a tirar todo mundo daqui?
Balancei a cabeça.
— Tenho uma ótima equipe de
limpeza.
— Acho que não vão conseguir
limpar o sofá. Tem pena de ganso pra todo lado.
— Eu compro um novo.
Tyler franziu a testa.
— Vamos acabar com essa merda.
Zeke fez que sim com a cabeça.
— Depois vamos embora.
Tyler piscou para mim.
— Obrigado pela, humm... surpresa
agradável.
— Eu diria “disponha”, mas nenhum
de nós vai ligar.
Tyler soltou uma risada, olhou
para baixo, depois olhou de novo para mim.
— Acho que é isso. A gente se vê,
Ellison.
— É Ellie. E provavelmente não.
Ele não pareceu se abalar.
— Boa noite. — Tyler deu um passo
para trás e fechou a porta.
Sentei na bagunça de lençóis,
cobertas e travesseiros que era a cama dos meus pais. A camisinha de Tyler
estava pendurada na borda da lata de lixo da minha mãe, perto de sua penteadeira,
ao lado da porta. Tyler tinha uma péssima pontaria.
Eu me encolhi em posição fetal,
derramando lágrimas que ninguém veria. Chorei, não porque estava com vergonha,
mas porque eu sabia que, por mais que a casa estivesse destruída ou eu tivesse
desrespeitado o quarto dos meus pais, eles não ficariam com raiva. Eles me perdoariam
e sentiriam pena de mim. Eu sempre seria a garotinha perfeita deles. Quanto
mais alto eu gritava, mais eles colocavam as mãos sobre os ouvidos.
Alguém bateu à porta, e eu mandei
entrar. Em pé na soleira estava Paige, parecendo sozinha e desesperada.
— Tem lugar pra mais uma? — gemeu
ela.
Puxei o lençol e as cobertas. Ela
sorriu e se apressou para deitar ao meu lado. Envolvi meus braços ao redor dela
e relaxei quando ela beijou a parte interna do meu pulso.
— Você é linda — sussurrou ela. —
Como é? Viver numa casa como essa? Ter essa vida?
Eu não sabia como responder,
então falei a primeira coisa que me veio à mente.
— Fecha os olhos.
Paige estendeu a mão, pousando-a
entre minhas coxas molhadas.
— Eu o vi descendo — disse ela.
— E aí você decidiu subir?
— Eu sabia que ele não ia ficar.
— Eu não precisava que ele
ficasse.
— Eu preciso que as pessoas
fiquem. Você pode fingir que eu sou ele... se quiser.
— Vou fingir que você é você —
falei, beijando sua têmpora.
Paige relaxou nos meus braços, se
aninhando enquanto o baixo fazia o chão tremer. Depois de alguns minutos, a
música foi abruptamente desligada, e eu sabia que Tyler e seus amigos estavam
terminando a festa e mandando todo mundo embora.
Pouco tempo depois, a respiração
de Paige se acalmou. Fechei os olhos, puxei-a mais para perto de mim e
mergulhei em um sono profundo.
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