Capítulo 29
O sol estava se pondo quando as portas do saguão
principal se abriram, e Trex entrou. Ele não pareceu surpreso ao me ver, mas
ficou surpreso com o anel no meu dedo.
— Parabéns — disse ele.
— Você ouviu alguma coisa sobre a equipe Alpina? —
perguntei.
— A equipe de resgate foi trazida de helicóptero.
Esse incêndio é um monstro.
Fiquei parada em pé atrás do sofá, olhando para a
televisão grande de tela plana ao lado da mesa de Darby. Stavros me trouxe um
copo cheio com algo transparente e efervescente.
— Sprite — disse ele. — Só Sprite. Está com fome?
— Não, obrigada.
Stavros voltou para o bar, e eu voltei minha atenção
para a televisão. A CNN estava relatando que a nuvem de fumaça podia ser vista
da estação espacial, depois entrevistaram o Chefe do Serviço Florestal dos
Estados Unidos, Tom Tidwell.
— Isso é ruim — falei, cruzando os braços na cintura.
— Meu pessoal disse que está de olho na equipe de
resgate — disse Trex, verificando o celular pela décima vez.
Depois de mais uma reunião na sala de conferências,
os oficiais saíram em fila e se reuniram ao redor da televisão. Meu estômago
roncou, mas não me mexi. Darby tinha batido o ponto às três, mas ficou comigo,
sabendo que eu estava preocupada e sozinha.
— Aumenta esse volume! — gritou alguém do outro lado
do salão.
Darby se atrapalhou para achar o controle remoto e
apertou o botão de volume várias vezes.
Uma repórter estava em pé diante de uma grama alta e
de árvores em chamas com um microfone na mão. Meu coração doeu, sabendo que
Tyler não podia estar muito longe.
Eu me ajeitei no assento, olhando para a equipe TAC.
Eles estavam falando rápido com a voz sussurrada, e eu virei, olhando para a
televisão com os dedos sobre a boca.
— A última comunicação registrada com a equipe de
Estes Park foi hoje às dezoito horas, mais ou menos no horário que os dois
incêndios principais se encontraram. Eles já posicionaram os abrigos contra
fogo.
Meus olhos se encheram de lágrimas, e tudo começou a
se mover em câmera lenta. Eu me levantei, rastreando o rosto dos homens ao
redor, procurando alguém que pudesse saber onde estavam meus garotos.
Darby me deu um lenço de papel, e eu sequei o rosto
rapidamente, recusando-me a pensar o pior.
— Eles estão bem — disse um dos bombeiros, dando um
tapinha no meu braço.
Virei para a televisão, rezando para que, a qualquer
segundo, as palavras que passavam na parte inferior da tela mudassem.
— Ellie!
Virei e vi Falyn entrando correndo no saguão vindo do
estacionamento, parecendo tão em pânico quanto eu me sentia. Corri até ela e
joguei os braços ao seu redor, fungando.
— Acabei de ouvir — disse ela. — Alguma notícia?
Balancei a cabeça, secando o nariz com o lenço de
papel que Darby me dera.
— Nada. Chegamos pouco depois das sete. O Tyler dirigiu
como um louco. Ele está lá com as equipes, procurando por eles.
Ela me abraçou.
— Eu sei que eles estão bem.
— Porque eles têm que estar — falei, segurando-a à
distância de um braço com um sorriso forçado. — Ouvi falar... sobre o bebê.
Primeiro neto Maddox. O Jim está empolgado. — O rosto de Falyn desabou, e meu
coração afundou. — Ai, meu Deus. Ah, não. Você... não está mais grávida?
Ela me encarou, parecendo igualmente confusa e
horrorizada.
— Você está certa — falei. — Este não é o momento.
Vamos sentar. O Trex está recebendo atualizações do pessoal dele a cada meia
hora.
— Do pessoal dele? — perguntou Falyn.
Dei de ombros.
— Não sei. Ele simplesmente falou no pessoal dele.
Falyn sentou comigo no sofá em frente à televisão,
cercada por bombeiros e bombeiros de elite. Conforme a noite passava, a
multidão diminuía, mas Falyn, Darby e eu continuávamos ali, esperando alguma
notícia além das atualizações de Trex, que, na verdade, não eram atualizações. A
única coisa que ele sabia é que não tinham encontrado nenhum corpo.
Falyn segurou minha mão e a apertou, seu corpo
afundando mais no sofá. Darby nos trouxe café e um prato de donuts, mas ninguém
tocou na comida.
Trex se aproximou, sentando na poltrona perto do
sofá.
— Alguma notícia? — perguntei.
Trex balançou a cabeça, desanimado.
— E a equipe de resgate? — perguntou Falyn.
— Nada — respondeu Trex. — Sinto muito. Meu pessoal
só me dá confirmação visual, e eles não viram ninguém na última hora. Os
helicópteros estão lá em cima com holofotes, mas a fumaça dificulta a visão. —
Ele olhou para Darby, desejando ter notícias melhores. — Vou ligar pra eles
daqui a dez minutos. Aviso assim que souber de alguma coisa.
Fiz que sim com a cabeça, e as portas do saguão se
abriram.
Tyler entrou, com a pele coberta de fuligem. Ele
tirou o capacete, e Falyn se levantou. Dei um pulo e corri na direção dele,
atingindo-o a toda velocidade.
— Ai, meu Deus — chorei baixinho no ouvido dele. —
Ai, meu Deus, você está aqui. Você voltou. — Recuei, vendo as faixas limpas que
marcavam seu rosto. Eu o abracei de novo, e ele me apertou com força.
— Nós não o encontramos. Não consigo encontrá-lo,
Ellie — ele engasgou.
— Tivemos que arrastá-lo pra fora — disse Jubal,
limpando a testa suja com as costas do pulso. Ele parecia exausto, com linhas
limpas ao redor dos olhos.
— Não! — gritou Falyn.
Tyler me soltou e foi até Falyn, puxando-a para os
seus braços. Sussurrou em seu ouvido enquanto ela balançava a cabeça, depois os
joelhos dela cederam, e seu choro encheu o saguão.
Meus olhos piscaram e se abriram, enquanto eu
escutava o meio da conversa de Tyler e Falyn. Em seguida ela achou melhor ir
trabalhar, pois não conseguia mais ficar sentada, na expectativa.
— Você vai voltar pra lá? — perguntou ela.
— Não sei se vão deixar. Pode ser que eu tenha socado
uma ou duas pessoas antes de me tirarem da área — disse Tyler.
— Ele é seu irmão — disse Falyn. — Eles vão entender.
Tyler ficou tenso, e eu estendi a mão e encostei no
seu ombro.
— Ele vai entrar por aquela porta a qualquer momento.
Eles não o encontraram. Isso é bom.
Ele fez que sim com a cabeça.
— Vem. Você precisa de um banho. — Eu me levantei,
puxando Tyler comigo. Ele cambaleou até o elevador e depois pelo corredor, até
chegar ao nosso quarto. Eu o conduzi para o banheiro, tirei suas roupas e as
botas.
Estendi a mão para abrir o chuveiro, verificando a
temperatura antes de deixá-lo entrar. Ele fechou a cortina, mas dava para
ouvi-lo chorar.
Apoiei a cabeça na parede, fechando os olhos, respirando
fundo e devagar para aliviar o estresse e a súbita sede que fez meu corpo todo
doer. Pensei em Stavros e em como seria fácil convencê-lo a me dar uma cerveja
para Tyler. Só uma. Eu estava cansada, com medo e preocupada com Tyler, mas eu
precisava estar presente. Eu tinha que continuar sóbria. Eu me levantei, me
recusando a ceder. Era a primeira vontade de muitas, e eu só precisava passar
por uma de cada vez.
Tyler fechou a torneira, e eu lhe dei uma toalha. Ele
secou o rosto e enrolou a toalha na cintura, me abraçando contra a parede.
Coloquei a mão em sua nuca e beijei seu rosto.
— Ele vai voltar — sussurrei. — A gente devia voltar
lá pra baixo. Você vai querer estar lá quando ele entrar por aquela porta.
Tyler fez que sim com a cabeça, depois limpou o
nariz, virando para enxaguar a boca e se vestir de novo. Segurou minha mão
enquanto descíamos, parando quando chegamos ao saguão.
O irmão dele estava conversando com um pequeno grupo,
tão sujo quanto Dalton e Zeke, parados ao lado. Eles se cumprimentavam e
abraçavam o resto da equipe Alpina.
— Seu babaca idiota — disse Tyler, correndo até o
irmão. Os dois se abraçaram com tanta força que ouvi seus punhos socando as
costas um do outro. Tyler perdeu.
Meus olhos se encheram de lágrimas, e Trex envolveu o
braço ao redor dos meus ombros enquanto observávamos o reencontro de Taylor e
Tyler. Dei um momento para eles, depois fui até os dois, me enfiando no meio do
abraço.
— Oi — disse Taylor, com uma lágrima pingando da
ponta do nariz.
— A Falyn estava aqui — falei.
Taylor se afastou.
— O quê? Ela estava aqui? — perguntou ele, apontando
para o chão.
Fiz que sim com a cabeça.
— Ela esperou a noite toda. Está superpreocupada.
Você devia ligar pra ela.
Taylor tateou os bolsos, procurando as chaves. Em
seguida apontou para Tyler.
— Te amo, irmão, mas tenho que ver uma garota.
— Vai lá, seu merda. Não volta até ela ser sua.
Taylor correu até sua caminhonete, cantando os pneus.
Tyler virou e jogou os braços ao meu redor.
— Porra — disse ele, soltando um suspiro de alívio.
A equipe deu tapinhas em suas costas, tão aliviada e
emocionada quanto ele. Abracei Zeke e Judeu, depois os outros caras enquanto
Tyler conversava com alguns oficiais.
Ele voltou para mim, me pegando no colo e me
carregando até o elevador enquanto os bombeiros de elite faziam uma algazarra
de uivos e assobios.
Meus olhos ficaram pesados de repente, e eu me apoiei
no ombro dele. O elevador tocou, e Tyler entrou, manobrando um pouco para eu
conseguir apertar o botão do segundo andar. Ele me carregou até o quarto e
esperou que eu encostasse o cartão-chave na fechadura. A porta clicou, e Tyler
virou a maçaneta, empurrou a porta com o pé e me colocou na cama.
Eu me aninhei no pescoço dele, me derretendo enquanto
ele me envolvia com os braços.
— Eu não sabia que a Falyn e o Taylor estavam com
problemas.
— É, eles estão brigados.
— Mesmo ela estando grávida? Não vejo ele deixando
isso passar.
— A Falyn não está grávida.
Sentei, dando um tapa no peito dele.
— Cala a boca! Sério?
Tyler apoiou a cabeça no braço.
— Ela terminou com ele, e ele foi pra Califórnia
visitar o Tommy. Lá ele saiu com uma das colegas do Tommy. Acho que ela vai ter
o bebê, mas não quer ficar com o filho. Não é estranho? O Taylor vai ficar com
a guarda total.
— Uau. Você acha que eles vão se entender?
Ele deu de ombros.
— Ela ficou aqui a noite toda. Ainda deve se importar
com ele. Vem cá — disse ele.
Eu me abaixei e me aconcheguei a seu lado.
Tyler levou o dorso da mão à testa.
— Uau. Isso foi tenso. Não sei o que eu faria se
alguma coisa acontecesse com o Taylor. Isso dá três a zero nos últimos anos.
— O que você quer dizer?
— O Taylor, o Trent e o Travis quase morreram.
Enterrei o rosto no pescoço dele.
— Não é a sua vez.
— Bom, certamente não é a vez do Tommy. Ele é
executivo de propaganda.
— Tem certeza? — perguntei.
Tyler fez uma pausa.
— O que te faz dizer isso?
— Bom... a sua família acha que você e o Taylor são
vendedores de seguro. E se o Thomas
não for o que vocês pensam?
— O que você acha que ele é?
— Policial.
Tyler bufou.
— Sério. Ou alguma coisa assim. Ele mora em San
Diego, certo? Não tem um prédio federal lá? Ele é alguma coisa. A namorada dele
também. Vi o Travis ir até o quarto deles bem cedo na manhã depois do
casamento.
— Você tem uma bela imaginação.
— A Abby sabe — falei.
— A Abby sabe o quê?
— Sobre você.
Ele deu uma risada.
— Não sabe, não.
— Sabe, sim. E também sabe sobre o Travis.
— Sobre o Travis? O quê?
— O que ele não está contando pra ela. Ela é esperta.
Eu também sou. Sou fotógrafa, Tyler. Eu percebo as coisas. Estou sempre olhando
pras pessoas. Eu sabia desde o começo que você era um cara naturalmente bom,
sabia?
Ele franziu a testa, sem querer ceder.
— Acho que o seu pai sabe — falei.
— O quê? — disse ele, levantando a cabeça. — De onde
está vindo tudo isso?
— Eu sei. Eu os observei no Dia de Ação de Graças. A
Abby estava te fazendo todas aquelas perguntas esquisitas, e ela e o Jim
trocaram um olhar.
— Um olhar — repetiu ele, sem emoção.
O celular de Tyler tocou, e ele o tirou do bolso da
camiseta.
— Hum.
— Quem é?
— Meu pai. Ele me mandou uma mensagem.
— O que ele disse?
— Só está querendo saber se todo mundo está bem.
Eu me inclinei para perto do seu ouvido, beijando seu
rosto.
— Te falei.
— De jeito nenhum — disse ele, digitando uma resposta
e depois guardando o celular.
— Ele já foi detetive. Você acha que ele não consegue
te decifrar?
— Por que ele nunca disse nada?
Dei de ombros.
— Talvez ele esteja apenas deixando você pensar que o
enganou. Talvez ele saiba que existe um motivo pra você ter mentido, por isso
não cobra nada.
— Já que o meu pai é médium, talvez ele possa me
dizer quando é que você vai escolher uma data pro casamento — disse ele, meio
que me provocando.
Deslizei a mão por baixo da sua camiseta, passando a
ponta dos dedos em seu peito.
— Achei que você tinha dito que não se importava.
— Claro que eu me importo, baby. Só não vou te
pressionar.
A pele de Tyler estava quente sob o meu toque, sua
respiração cada vez mais acelerada. Pensei em quando nos conhecemos, em como
ele estava suado e sexy, trocando socos na galeria dos meus pais. Tínhamos
conquistado o céu e o inferno, o fogo e o gelo, e ele ficou comigo o tempo todo.
— Minha mãe parece que está muito preocupada se eu
vou ter condições financeiras de pagar pelo apartamento.
— É, mas seu pai não.
— Se o Taylor vai ser pai... ele e a Falyn não vão
precisar de uma casa só deles?
— É, uau. Eu não tinha pensado nisso.
— Talvez você devesse deixar o apartamento com eles e
se mudar pro meu.
Tyler virou de lado e apoiou a cabeça na mão.
— O quê? — perguntou ele, desconfiado.
Dei de ombros.
— Você pode pagar metade do aluguel. Podemos nos
casar depois da temporada de incêndios...
As sobrancelhas de Tyler dispararam para cima.
— Depois desta temporada de incêndios?
— É muito cedo?
Ele segurou meu rosto, virando o tronco até flutuar
sobre mim.
— Baby — disse ele, pressionando os lábios nos meus e
enfiando a língua lá dentro.
Levantei sua camisa, acariciando os músculos das suas
costas.
— Tipo outubro? Novembro? — disse ele nos meus lábios.
Fiz que sim com a cabeça.
Ele encostou a testa na minha, já emocionado por
causa dos acontecimentos do dia.
— Você está brincando comigo?
— Não preciso de nada exagerado, e você? — Ele
balançou a cabeça. — Escolhe um sábado.
Ele procurou o celular e abriu o calendário.
— Sete de novembro. Assim é certeza que a temporada
de incêndios já acabou e talvez alguns dos caras ainda estejam por aqui.
— Parece ótimo.
— Sete de novembro — repetiu ele.
— Perfeito.
— Última chance de mudar de ideia. Vou mandar uma
mensagem pro meu pai — disse ele, esperando que eu detonasse seu blefe.
Esperei, me divertindo.
Ele levou o celular ao peito, fechando os olhos.
— Se você estiver mentindo pra mim, vai partir meu
coração, porra.
— Tyler Maddox! — Peguei seu celular, digitei a
mensagem e a enviei, virando o aparelho para ele ver. — Mandei. Está marcado.
Serei sua esposa em sete de novembro.
Ele levou a mão ao meu rosto, passando o polegar no
meu maxilar.
— Tem certeza que está pronta?
— Do que eu preciso ter medo? Você já viu meu lado
feio e me amou do mesmo jeito.
— E se a situação fosse ao contrário?
Mordi o lábio, encarando o dele. Ele era sincero, ele
era forte, era lindo e era meu.
— Você não é o único que atravessaria um incêndio por
algo que ama.
Ele analisou meu rosto, soltou uma risada e balançou
a cabeça, pressionando os lábios nos meus.
esse é o final do livro?
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