Capítulo 16 - Espaço e Tempo

De início, eu não entrei em pânico. De início, eu estava sonolento o suficiente para sentir uma falsa sensação de calma. De início, quando procurei por Abby através dos lençóis e não a encontrei ali, senti apenas uma pequena pontada de decepção, seguida por curiosidade. Ela provavelmente estava no banheiro, ou talvez comendo cereal no sofá. Ela tinha acabado de entregar sua virgindade para mim, alguém com quem ela gastou um monte de tempo e esforço fingindo não ter mais do que sentimentos platônicos. Isso era muito para analisar.
"Flor?" Eu chamei. Eu levantei só a cabeça, esperando que ela rastejasse de volta na cama comigo. Mas, depois de vários momentos, eu desisti, e sentei-me.
Sem ter ideia do que estava acontecendo, eu coloquei as minhas calças que eu tinha tirado na noite anterior, e pus uma camiseta sobre a minha cabeça.
Meus pés se arrastaram pelo corredor até a porta do banheiro, e eu bati. A porta se abriu um pouco. Ouvi nenhum movimento, mas eu chamei por ela, de qualquer maneira.”Flor?"
Abrindo ainda mais a porta o cenário se revelou. Vazio e escuro. Então eu fui para a sala esperando vê-la na cozinha ou no sofá, mas ela não estava lá.
"Flor?" Eu chamei, à espera de uma resposta.
O pânico começou a crescer dentro de mim, mas eu me recusei a surtar até que eu soubesse o que diabos estava acontecendo. Eu entrei no quarto Shepley e abri a porta sem bater. América estava ao lado Shepley, emaranhada em seus braços do jeito que eu imaginava que Abby estaria comigo agora.
"Vocês viram Abby? Eu não consigo encontrá-la."
Shepley apoiou-se em seu cotovelo, esfregando os olhos com os nós dos dedos.”Hein?"
"Abby", eu disse, impaciente ligando o interruptor de luz. Shepley e América recuaram.
"Vocês a viram?"
Diferentes cenários passaram pela minha mente, todos causando diferentes graus de alarme. Talvez ela tivesse levado Totó pra fora, e alguém a tinha levado, ou machucado, ou talvez ela tivesse caído da escada. Mas as garras de Totó estavam
fazendo barulho contra o chão do corredor, de modo que não podia ser isso. Talvez ela tivesse ido buscar algo fora, no carro de América. Corri para a porta da frente e olhei em volta. Então eu corri escada abaixo, meus olhos procurando cada centímetro entre a porta da frente do apartamento e do carro de América. Nada. Ela tinha desaparecido.
Shepley apareceu na porta, olhando e protegendo-se do frio.
"É. Ela nos acordou mais cedo. Ela queria ir para casa."
Subi a escada de volta com dois degraus de cada vez, segurando os ombros nus de Shepley, empurrando-o de volta para o lado oposto da sala, e jogando-o parede. Ele agarrou a minha camiseta, com a cara um pouco franzida, com uma expressão meio atordoada em seu rosto.
"O que-" ele começou.
"Você a levou para casa? Para Morgan? No meio da noite, porra? Por quê?"
"Porque ela me pediu!"
Eu o empurrei contra a parede novamente, com a raiva inicialmente cegando os meus sentidos. América saiu do quarto, seu cabelo bagunçado, e o rímel manchado abaixo de seus olhos. Ela estava em seu robe, apertando o cinto em volta da cintura.”O que diabos está acontecendo?", Ela perguntou, parando o passo e olhando para mim.
Shepley levou o braço e estendeu a mão.”Mare, fica aí."
"Ela estava com raiva? Ela estava chateada? Por que ela saiu?", eu perguntei através dos meus dentes. América deu outro passo.”Ela odeia despedidas, Travis! Eu não fiquei surpresa de ela querer sair antes de você acordar!"
Eu segurei Shepley contra a parede e olhei para a América.”Ela estava... ela estava chorando?"
Eu imaginava que Abby estivesse chateada por ter permitido que um idiota como eu, alguém por quem ela não dava a mínima, tenha tirado a sua virgindade, e então eu pensei que talvez de alguma forma, eu acidentalmente a tenha machucado.
A cara da América ficou torcida de medo, confusão, raiva.”Por que?", disse ela. Seu tom era mais uma acusação do que uma pergunta.”Por que ela estaria chorando ou chateada, Travis?"
"Mare", Shepley advertiu.
América deu outro passo.”O que você fez?"
Eu soltei Shepley, mas ele segurou minha camisa quando encarei sua namorada.”Ela estava chorando?" Eu perguntei.
América balançou a cabeça.”Ela estava bem! Ela só queria ir para casa! O que você fez?", ela
gritou.
"Aconteceu alguma coisa?" Shepley perguntou.
Sem pensar, eu girei ao meu redor, quase acertando o rosto de Shepley.
América gritou, cobrindo a boca com as mãos.”Travis, pare!", Disse ela através de suas mãos.
Shepley segurou meus cotovelos, ficando bem próximo do meu rosto.
"Ligue para ela!", Gritou.”Se acalme, e ligue para Abby!"
Passos rápidos e leves foram através do corredor. América voltou, sua mão estendida, segurando meu telefone.”Ligue para ela."
Peguei de sua mão e disquei o número de Abby. Tocou até o correio de voz atender. Eu desliguei e liguei novamente. E novamente. E novamente. Ela não estava atendendo. Ela me odiava. Eu deixei cair o telefone no chão, meu peito agitado. Quando as lágrimas queimaram meus olhos, eu peguei a primeira coisa que minhas mãos tocaram, e atirei por toda a sala. Fosse o que fosse fragmentou-se em grandes peças. Voltando, eu vi nossos lugares arrumados em frente um do outro, lembrando-me do nosso jantar de ontem. Eu peguei uma das pernas da cadeira e a esmaguei contra a geladeira até que ela quebrou. A porta da geladeira abriu, e eu chutei. A força que causou a fez abrir de novo, então eu chutei de novo, e de novo, até Shepley finalmente correr para mantê-la fechada.
Eu entrei no meu quarto. Os lençóis sujos na cama zombavam de mim. Meus braços abertos em todas as direções quando eu arranquei-os para fora do colchão, com lençol de cima, cobertor e, em seguida, voltei para a cozinha jogando-os no lixo, e depois eu fiz o mesmo com os travesseiros. Ainda louco de raiva, eu estava no meu quarto, querendo me acalmar, mas não havia nada para me acalmar. Eu tinha perdido tudo.
Andei, parei em frente à cabeceira. O pensamento de Abby chegar na gaveta veio a mente. As dobradiças rangeram quando eu a abri, revelando a caixa cheia de preservativos. Eu mal tinha usado-os desde que eu conheci Abby. Agora que ela tinha feito a sua escolha, eu não conseguia imaginar estar com ninguém.
O pacote estava frio na minha mão quando eu peguei e atirei por toda a sala. Bateu na parede ao lado da porta e quebrou, espalhando pacotes pequenos em todas as direções. Meu reflexo no espelho acima da minha cômoda olhou para mim. Meu queixo caiu, e eu olhei nos meus olhos. Meu peito arfava, eu estava tremendo, e nos padrões de qualquer pessoa parecia louco, mas o controle estava tão longe do meu alcance nesse momento. Eu recuei e bati o punho no espelho. Fragmentos esfaquearam meus dedos, deixando para trás um círculo sangrento.
"Travis, pare!", Disse Shepley no quarto.”Pare com isso, Deus, caramba!"
Me afastei dele, empurrando-o de volta, e em seguida, bati fechando a minha porta. Eu pressionei minhas mãos firmes contra a madeira, e em seguida, tomei um passo para trás, chutando-a até meu pé fazer um buraco na parte inferior. Eu puxei-a para os lados, até que as dobradiças saíram, e então eu a joguei no quarto. Os braços de Shepley me seguraram novamente.”Eu disse para parar", ele gritou.”Você está assustando a América!" A veia na sua testa pulava para fora, o que só aparecia quando ele estava enfurecido.
Eu o empurrei, e ele me empurrou para trás. Tomei outro balanço, mas ele se esquivou.
"Eu vou vê-la!" América disse.”Eu vou descobrir se ela está bem, e eu vou fazer ela te ligar!"
Eu deixei minhas mãos caírem ao meu lado. Apesar do ar frio enchendo o apartamento pela porta da frente aberta, o suor estava escorrendo nas minhas têmporas. Meu peito arfava como se tivesse corrido uma maratona. América correu para o quarto de Shepley. Em cinco minutos, ela estava vestida, prendendo o cabelo em um coque.
Shepley a ajudou a colocar o casaco e em seguida deu um beijo de despedida, acenando. Ela pegou as chaves e deixou a porta bater atrás de si.
"Sente-se. Foda. Senta", Shepley disse, apontando para a cadeira.
Fechei os olhos, então fiz o que ele mandou. Minhas mãos tremiam quando eu as trouxe para o meu rosto.
"Você tem sorte. Eu estava a dois segundos de chamar Jim. E cada irmão que você tem."
Eu balancei a cabeça.”Não chame meu pai", eu disse.”Não ligue para ele." Lágrimas salgadas queimaram meus olhos.
"Fale".
"Eu tracei ela. Quer dizer, não tracei, nós...”
Shepley assentiu.”A noite passada foi difícil para ambos. De quem foi a ideia?"
"Dela." Eu pisquei.”Eu tentei sair fora. Sugeri esperar, mas ela praticamente me implorou.”
Shepley parecia tão confuso quanto eu. Eu joguei as minhas mãos e as deixei cair em meu colo.”Talvez eu a tenha machucado, eu não sei."
"Como ela agiu depois? Ela disse alguma coisa?"
Eu pensei por um momento.”Ela disse que foi um primeiro beijo e tanto."
"Hein?"
"Ela deixou escapar algumas semanas atrás que um primeiro beijo faz com que ela fique nervosa, e eu zombava dela."
As sobrancelhas Shepley se juntaram.”Isso não soa como se ela estivesse chateada."
"Eu disse que era o seu último primeiro beijo." Eu ri uma vez e usando a minha camiseta para secar a umidade do meu nariz.”Eu pensei que estava tudo bem, Shep. Que ela finalmente tinha deixado eu me aproximar. Por que ela me pediu... e depois me deixou?"
Shepley balançou a cabeça lentamente, tão confuso quanto eu.”Eu não sei, primo. América vai descobrir. Vamos saber algo em breve."
Eu olhava para o chão, pensando no que poderia acontecer a seguir.”O que eu vou fazer?" Eu
perguntei, olhando para ele. Shepley agarrou meu braço.”Você vai limpar sua bagunça para mantê-lo ocupado até ela ligar".
Eu entrei no meu quarto. A porta estava caída no meu colchão nu, pedaços de espelho e vidros quebrados no chão. Parecia que uma bomba tinha explodido. Shepley apareceu na porta com uma vassoura, uma pá e uma chave de fenda.
"Eu vou pegar o vidro. Você fica com a porta."
Eu balancei a cabeça, puxando a porta de madeira da cama. Só depois de fazer a última curva na chave de fenda, meu celular tocou. Eu saí do chão para agarrá-lo de cima da mesa de cabeceira.
Era América.
"Mare", eu falei.
"Sou eu." A voz de Abby era baixa e nervosa.
Eu queria implorar para ela voltar, implorar por seu perdão, mas eu não tinha certeza do que eu tinha feito de errado. Então eu fiquei com raiva.
"O que diabos aconteceu com você na noite passada? Eu acordei esta manhã, e você se foi e você... você saiu e não disse adeus? Por quê?"
"Eu sinto muito. Eu-"
"Você sente muito? Eu fiquei louco! Você não atendia ao telefone, você fugiu e porquê? Eu pensei que finalmente tínhamos nos acertado!"
"Eu precisava de um tempo para pensar."
"Sobre o quê?" Fiz uma pausa, com medo de como ela poderia responder a pergunta que eu ia perguntar.”Será que eu... Eu machuquei você?"
"Não! Não é nada disso! Estou sinto muito, muito mesmo. Tenho certeza de que a América te disse. Eu não gosto de despedidas."
"Eu preciso ver você," eu disse, desesperado.
Abby suspirou.”Eu tenho muita coisa para fazer hoje, Trav. Eu tenho que desfazer as malas e eu tenho pilhas de roupa pra lavar."
"Você se arrependeu."
"Não é... isso não é o que aconteceu. Nós somos amigos. Isso não vai mudar."
"Amigos? Então o que diabos aconteceu na noite passada? "
Eu podia ouvir sua respiração parar.”Eu sei o que você quer. Eu apenas não posso fazer isso agora."
"Então, você só precisa de algum tempo? Você poderia ter me dito isso. Você não tem que fugir de mim."
"Parecia que era o caminho mais fácil."
"Mais fácil para quem?"
"Eu não conseguia dormir. Fiquei pensando como seria pela manhã, colocando as malas no carro da Mare... e eu não consegui continuar, Trav."
"Já é ruim o suficiente que você não vai mais ficar aqui. Você não pode simplesmente sair da minha vida."
"Vejo você amanhã", disse ela, tentando soar casual.”Eu não quero que as coisas fiquem estranhas, ok? Eu só preciso resolver algumas coisas aqui. Isso é tudo."
"Tudo bem", eu disse.”Eu posso fazer isso."
A linha ficou em silêncio, e Shepley me observava, cauteloso.”Travis... você acabou de arrumar a porta. Não bagunce mais, ok?"
Meu rosto todo amassado, e eu balancei a cabeça. Eu tentei ficar irritado, o que era muito mais fácil de controlar do que a dor física esmagadora no meu peito, mas tudo o que eu sentia era onda após onda de tristeza. Eu estava muito cansado para lutar contra isso.
"O que ela disse?"
"Ela precisa de tempo."
"Tudo bem. Então, isso não é o fim. Você pode lidar com isso, certo?"
Eu respirei profundamente.Ӄ. Eu posso lidar com isso."
A pá tilintava com os cacos de vidro quando Shepley andou com ele no corredor. Deixando-me sozinho no quarto, cercado por fotos de mim e Abby, e me deu vontade de quebrar alguma coisa de novo, então eu fui pra sala esperar pela América.
Felizmente, ela não demorou muito para voltar. Imaginei que ela provavelmente estava preocupada com Shepley.
A porta se abriu, e eu levantei.”Ela está com você?"
"Não. Ela não está."
"Ela disse alguma coisa?"
América engoliu, hesitando em responder.”Ela disse que vai manter sua promessa, e que por esta altura amanhã, você não vai mais sentir sua falta."
Meus olhos se para o chão.”Ela não vai voltar", eu disse ao cair no sofá.
América avançou.”O que significa isso, Travis?"
Eu coloquei minhas duas mão em cima da cabeça.
"O que houve ontem à noite não era sua maneira de dizer que ela queria ficar comigo. Ela estava dizendo adeus."
"Você não sabe disso."
"Eu a conheço."
"Abby se preocupa com você."
"Ela não me ama."
América respirou, e as reservas que ela tinha sobre o meu temperamento desapareceram com uma simpática expressão suavizando seu rosto.”Você não sabe disso, também. Ouça, apenas lhe dê um espaço. Abby não é como as garotas que você está acostumado, Trav. Ela fica apavorada fácil. A última vez que alguém mencionou ficar sério ela mudou de estado. Isso não é tão ruim quanto parece."
Eu olhei para a América, sentindo um pouquinho esperança.”Você não acha?"
"Travis, ela saiu porque seus sentimentos por você a assustam. Se você soubesse de tudo, seria mais fácil de explicar, mas eu não posso te dizer."
"Por que não?"
"Porque eu prometi a Abby, e ela é minha melhor amiga."
"Ela não confia em mim?"
"Ela não confia em si mesma. Você, no entanto, precisa confiar em mim." América segurou minhas mãos e puxou para levantar.”Vai tomar um banho longo e quente, e depois nós vamos sair para comer. Shepley me disse que é noite de poker na casa de seu pai."
Eu balancei a cabeça.”Eu não posso ir à noite de poker. Eles vão perguntar sobre a Flor. Talvez pudéssemos ir vê-la?"
América empalideceu.”Ela não vai estar em casa."
"Vocês vão sair?"
"Ela vai."
"Com quem?" Só me levou alguns segundos para descobrir.”Parker".
América assentiu.
"É por isso que ela pensa que eu não vou sentir falta dela," eu disse, minha voz se quebrando. Eu não conseguia acreditar que ela ia fazer isso comigo. Era apenas cruel. América não hesitou para interceptar outra raiva.”Nós vamos ver um filme
então, uma comédia, é claro, e depois vamos ver se o lugar do kart ainda está aberto, e você pode jogar-me para fora da pista novamente."
América era inteligente. Ela sabia que a pista de kart foi um dos poucos lugares que eu não tinha estado com Abby.
"Eu não joguei você para fora da pista. Você que não dirige nada."
"Vamos ver", disse América, empurrando-me em direção ao banheiro.”Chore se for preciso. Grite. Tire tudo para fora de seu sistema, e então vamos nos divertir. Não vai durar para sempre, mas vai mantê-lo ocupado por hoje à noite."
Virei-me na porta do banheiro.”Obrigada, Mare,".
"Sim, sim...", Disse ela, voltando a Shepley.
Liguei a água, deixando o vapor aquecer a sala antes de entrar. O reflexo no espelho me assustou. Círculos escuros sob meus olhos cansados, minha postura que uma vez foi confiante agora estava flácida. Eu estava horrível.
Uma vez no chuveiro, deixei a água correr sobre meu rosto, mantendo os olhos fechados. Os delicados contornos de Abby estavam queimados por trás de minhas pálpebras. Não era a primeira vez, eu a via toda vez que meus olhos fechavam. Agora que ela se foi, era como estar preso em um pesadelo. Engasguei de volta com algo brotando em meu peito. Em poucos minutos, a dor renovou-se. Eu sentia falta dela. Deus, eu sentia falta dela, e tudo o que tinha acontecido rodava mais e mais dentro da minha cabeça.
Minhas mãos pairavam sobre a parede do box, eu fechei meus olhos.”Por favor volte", eu disse em voz baixa. Ela não podia ouvir-me, mas não me impedia de desejar que ele voltasse e me salvasse da terrível dor que eu sentia sem ela.
Depois de curtir meu desespero sob a água, dei respirações profundas, e consegui me recuperar. O fato de Abby ir embora não deveria ter sido uma surpresa, mesmo depois do que aconteceu na noite anterior. O que a América disse fazia sentido. Abby era tão nova para isso e tão assustada quanto eu era. Nós dois tinhamos uma maneira terrível de lidar com nossas emoções, e eu sabia, no segundo em que eu percebi que tinha me apaixonado por ela, que ela iria me destruir.
A água quente lavou a raiva e o medo, e um novo otimismo tomou conta de mim. Eu não era um perdedor que não tinha ideia de como obter uma menina. Em algum lugar em meus sentimentos por Abby, eu tinha esquecido deste fato. Era hora de
acreditar em mim de novo, e lembrar que Abby não era apenas uma menina que poderia partir meu coração, ela também era minha melhor amiga. Eu sabia como fazê-la sorrir, e suas coisas favoritas. Eu ainda tinha um cão nesta luta.
Nossos humores eram tranquilos quando voltamos da pista de kart. América ainda estava rindo sobre Shepley bater quatro vezes seguidas, e Shepley estava fingindo estar de mau humor. Shepley atrapalhou com a chave, no escuro.
Eu segurei meu celular em minhas mãos, lutando contra o desejo de ligar para Abby pela décima terceira vez.”Por que você não liga já?" América perguntou.
"Ela ainda está no encontro, provavelmente. É melhor eu não... interromper" eu disse, tentando empurrar o pensamento do que poderia estar acontecendo da minha mente.
"Você não deveria?" América perguntou, genuinamente surpresa.”Você não disse que queria pedir a ela para ir ao boliche amanhã? É rude deixar para convidar uma garota para um encontro no dia."
Shepley finalmente encontrou o buraco da fechadura e abriu a porta, deixando-nos entrar. Sentei-me no sofá, olhando para o nome de Abby na minha lista de chamada.
"Foda-se", eu disse, tocando seu nome.
O telefone tocou uma vez e depois novamente. Meu coração batia forte contra minhas costelas, mais do que já fez antes de uma luta.
Abby atendeu.
"Como o encontro está indo, Flor?"
"O que você quer, Travis?", Ela sussurrou. Pelo menos ela não estava respirando com dificuldade.
"Eu quero ir amanhã no boliche. Eu preciso da minha parceira."
"Boliche? Você não poderia ter me ligado mais tarde?" Ela quis dizer de um jeito forte, mas o tom em sua voz era o oposto. Eu poderia dizer que ela estava feliz por ter ligado. Minha confiança aumentou para um novo nível. Ela não queria estar lá com Parker.
"Como é que eu vou saber quando você vai estar pronta? Oh. Isso não saiu certo..." Eu brinquei.
"Eu te ligo amanhã e podemos falar sobre isso depois, ok?"
"Não, não está ok. Você disse que queria que fossemos amigos, mas não podemos sair?" Ela fez uma pausa, e eu imaginei rolando aqueles lindos olhos cinzentos. Eu estava com ciúmes que Parker poderia vê-los ao vivo.
"Não revira os olhos para mim. Você vem ou não?"
"Como é que você sabe que eu revirei os olhos? Você está me seguindo?"
"Você sempre revira os olhos. Sim? Não? Você está perdendo tempo precioso do seu encontro."
"Sim", ela disse em um sussurro alto, um sorriso em sua voz.”Eu vou".
"Eu te pego às sete."
O telefone fez um baque abafado quando eu joguei até o fim do sofá, e então meus olhos viajaram para a América.
"Você tem um encontro?"
"Eu tenho", eu disse, inclinando-se para trás contra a almofada.
América jogou as pernas para fora de Shepley, para provocá-lo sobre a sua última corrida, enquanto ele surfava nos canais da tv. Não demorou muito tempo para ficar entediada.
"Eu vou voltar para o dormitório." Shepley franziu a testa, nunca ficava feliz com a sua partida.”Mande-me uma mensagem."
"Eu vou," América disse, sorrindo.”Vejo você, Trav."
Eu tinha inveja que ela estava indo embora, que ela tinha algo para fazer. Eu já tinha terminado dias antes os dois únicos trabalhos que tinha pra fazer.
O relógio acima da televisão chamou minha atenção. Minutos rolavam lentamente, e quanto mais eu disse a mim mesmo para parar de prestar atenção, mais olhava para os números digitais na caixa. Depois de uma eternidade, apenas meia hora tinha passado. Minhas mãos se mexeram. Eu me senti mais entediado e inquieto e até mesmo segundos eram uma tortura. Tirar os pensamentos de Abby e Parker da minha cabeça se tornou uma luta constante. Finalmente eu fiquei de pé.
"Saindo?" Shepley perguntou com um esboço de sorriso.
"Eu não posso ficar aqui. Você sabe como Parker está espumando pela boca por ela. Isso está me deixando louco.”
"Você acha que eles...? Não. Abby não. América disse que ela era... não importa. Minha boca vai me causar problemas."
"Virgem?"
"Você sabe?"
Eu dei de ombros.”Abby me disse. Você acha que porque nós... que ela faria...?"
"Não."
Eu esfreguei a parte de trás do meu pescoço.”Você está certo. Eu acho que você está certo. Quer dizer, eu espero. Se eu fizer alguma merda é capaz dela me empurrar para longe."
"Será? Empurrá-lo para longe, eu quero dizer?"
Eu olhei nos olhos de Shepley.”Eu a amo, Shep. Eu sei o que eu faria para Parker se ele tirasse vantagem dela, no entanto."
Shepley balançou a cabeça.”É a sua escolha, Trav. Se é isso que ela decidiu, você vai ter que
deixá-la ir."
Peguei as chaves da minha moto e apertei meus dedos em torno delas, sentindo as bordas afiadas do metal escavando em minha palma.
Antes de subir na Harley, liguei para Abby.
"Já está em casa?"
"Sim, ele me largou cerca de cinco minutos atrás."
"Eu estarei aí em mais cinco."
Eu desliguei antes que ela pudesse protestar. O ar frio que corria contra o meu rosto enquanto eu dirigia ajudou a anestesiar a raiva que os pensamentos de Parker despertavam, mas uma sensação de mal estar ainda descia sobre meu intestino quanto mais perto eu chegava do campus. O motor da moto parecia alto quando o barulho ricocheteou o tijolo de Morgan Hall. Em comparação com as janelas escuras e o estacionamento abandonado, eu e minha Harley fizemos a noite parecer anormalmente tranquila, e a espera excepcionalmente longa. Finalmente Abby apareceu na porta. Cada músculo do meu corpo ficou tenso enquanto esperava para ela sorrir ou surtar. Ela não fez nenhum dos dois.”Você não está com frio?", Ela perguntou, puxando o casaco apertado.
"Você está bonita", eu disse, observando que ela não estava em um vestido. Ela, obviamente, não estava tentando parecer sexy para ele, o que foi um alívio.”Você se divertiu?"
"Uh... sim, obrigada. O que você está fazendo aqui?"
Eu liguei o motor.”Eu ia fazer um passeio para limpar a minha cabeça. Eu quero que você venha comigo."
"Está frio, Trav."
"Você quer que eu vá pegar o carro de Shep?"
"Nós vamos jogar boliche amanhã. Você não pode esperar até lá?"
"Passei de ficar com você a cada segundo do dia para vê-la por dez minutos, se eu tiver sorte."
Ela sorriu e balançou a cabeça.”Faz apenas dois dias, Trav."
"Eu sinto sua falta. Coloque sua bunda no banco e vamos embora."
Ela contemplou a minha oferta, e depois fechou o zíper de sua jaqueta e subiu no banco de trás de mim. Eu puxei seus braços em volta de mim sem desculpas, tão apertado que era difícil expandir meu peito o suficiente para inspirar totalmente, mas pela primeira vez em toda a noite, eu senti como se pudesse respirar.

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