Capítulo 20 - Você Ganha Um Pouco, Você Perde Um Pouco

Abby mal falou enquando nós arrumavamos as malas, e ainda menos no caminho para o aeroporto. Ela olhava para o nada na maior parte do tempo, a menos que um de nós lhe fizesse uma pergunta. Eu não tinha erteza se ela estava se afogando em desespero, ou apenas focada no desafio iminente à frente.
No check-in do hotel, America resolveu tudo, sacodindo sua identidade falsa, como se ela já tivesse feito isso umas mil vezes antes.
Ocorreu-me, então, que ela provavelmente já tinha feito isso antes. Vegas era o lugar onde elas haviam conseguido as tais identidades falsas perfeitas, e o porquê de America nunca ter parecido se preocupar com o que Abby poderia lidar. Elas tinham visto tudo isso antes, nas entranhas da cidade do pecado.
Shepley era um turista inconfundível, sua cabeça se inclinou para trás, olhando feito um idiota para o ostentoso teto. Nós colocamos nossa bagagem no elevador, e eu puxei Abby para o meu lado.
"Você está bem?" Eu perguntei, tocando meus lábios em sua têmpora.
"Eu não quero estar aqui", ela disse de forma abafada.
As portas se abriram, revelando o complexo padrão do tapete que se alinhava no corredor. America e Shepley foram para um lado, Abby e eu para o outro. Nosso quarto era no final do corredor.
Abby colocou a chave cartão na abertura da porta e, em seguida, a abriu. O quarto era grande, fazendo com que a cama king-size no meio dele parecesse pequena.
Deixei a mala encostada na parede, apertando todos os botões até que a cortina mais grossa abrisse, revelando as luzes agitadas e brilhantes e o transito da Las Vegas Strip. Outro botão fez abrir um segundo conjunto de cortinas.
Abby não prestou atenção na janela. Ela nem mesmo se preocupou em olhar para cima. O brilho e o dourado tinham perdido o seu encanto anos atrás.
Eu ajeitei nossa bagagem de mão no chão e olhei ao redor do quarto. "Isso aqui é legal, hein?" Abby me encarou. "O que?"
Ela abriu a mala em um movimento, e balançou a cabeça. "Não estamos de férias, Travis. Você nem deveria estar aqui."
Em dois passos, eu estava atrás dela, cruzando os braços ao redor de sua cintura. Ela estava diferente aqui, mas eu não estava. Eu ainda podia ser alguém com quem ela podia contar, alguém que pudesse protegê-la dos fantasmas do seu passado.
"Vou para onde você for," eu disse em seu ouvido.
Ela inclinou a cabeça para trás contra o meu peito e suspirou. "Eu tenho que descer. Você pode ficar aqui ou dar uma volta pela Strip. Te vejo mais tarde, ok?"
"Eu vou com você."
Ela se virou para mim. "Eu não quero você lá, Trav."
Eu não esperava isso dela, especialmente o tom frio em sua voz.
Abby tocou meu braço. "Se eu vou ganhar catorze mil dólares em um fim de semana, eu tenho que me concentrar. Eu não gosto de quem eu vou me tornar quando eu estiver naquelas mesas, e eu não quero que você veja isso,ok?"
Eu tirei os cabelos de seus olhos, e depois beijei sua bochecha. "Ok, Flor." Eu não podia fingir entender o que ela quis dizer, mas eu iria respeitá-la.
América bateu na porta e, em seguida, entrou usando o mesmo vestido nude que ela usou na festa de casais. Os saltos eram muito altos, e ela tinha passado duas camadas extras de maquiagem. Ela aprentava dez anos mais velha.
Acenei para a America e, em seguida, peguei a chave extra na mesa. America já estava montando Abby para sua noite, lembrando-me de um treinador oferecendo uma conversa estimulante a seu lutador antes de uma grande luta de boxe.
Shepley estava em pé no corredor, olhando para três bandejas com sobras de comida deixadas no chão por hospedes.
"O que você quer fazer primeiro?" Eu perguntei.
"Eu definitivamente não vou me casar com você."
"Você é tão engraçado. Vamos descer."
A porta do elevador se abriu, e o hotel ganhou vida. Era como se os corredores fossem as veias e as pessoas o sangue. Grupos de mulheres vestidas como estrelas pornôs, famílias, estrangeiros, as despedidas de solteiro tradicionais, e os funcionários do hotel seguiam uns aos outros em um caos organizado.
Levou um tempo para conseguir passar pelas lojas que cercavam as saídas e alcançar a avenida, mas conseguimos chegar na rua e caminhamos até avistarmos uma multidão reunida na frente de um dos cassinos. As fontes estavam funcionando,
fazendo uma apresentação de alguma canção patriótica. Shepley estava hipnotizado, aparentemente incapaz de se mover enquanto ele observava o bale das águas.
Devemos de ter pegado os últimos dois minutos da apresentação, porque as luzes logo se dissiparam, a água parou, e a multidão imediatamente dispersou.
"O que foi aquilo?" Eu perguntei.
Shepley ainda olhava para o lago agora calmo. "Eu não sei, mas foi legal."
As ruas estavam cheias com Elvis, Michael Jackson, dançarinas e personagens de desenhos animados, todos prontamente disponíveis para tirar uma foto por um preço. Em um certo momento, eu continei ouvindo um barulho de batidas, e então eu localizei de onde estava vindo. Homens estavam em pé na calçada, balançando uma pilha de cartões em suas mãos. Eles entregaram um para Shepley. Era uma foto de uma mulher de seios ridiculamente grandes em uma pose sedutora. Eles estavam vendendo prostitutas e clubes de strip. Shepley jogou o cartão no chão. A calçada estava coberta deles.
Uma menina passou, olhando-me com um sorriso bêbado. Ela carregava seus saltos na mão. Conforme ela andou por mim, notei seus pés enegrecidos. O chão estava imundo, a base para o brilho e o glamour dos altos edificos.
"Nós estamos salvos", disse Shepley, caminhando até um vendedor de rua vendendo Red Bull e qualquer licor que você possa imaginar. Shepley pediu dois com vodka, e sorriu quando ele tomou seu primeiro gole. "Eu posso querer nunca ir embora."
Eu chequei a hora no meu celular. "Já passou uma hora. Vamos voltar."
"Você se lembra de onde nós estávamos? Porque eu não."
"Sim. Por aqui."
Nós refizemos nossos passos. Fiquei feliz quando finalmente chegamos no nosso hotel, porque na verdade eu não estava exatamente certo de como voltar também. Não era difícil de andar pela Strip, mas havia um monte dedistrações ao longo do caminho, e Shepley estava definitivamente em modo férias.
Eu procurei nas mesas de poker por Abby, sabendo que era onde ela deveria estar. Eu tive um vislumbre do seu cabelo caramelo, ela estava sentada de forma ereta e confiante em uma mesa cheia de homens velhos, e America; as meninas eram um contraste gritante do resto daqueles que estavam na área de poker.
Shepley acenou para mim para uma mesa de blackjack, e nós jogamos um pouco para passar o tempo.
Meia hora depois, Shepley cutucou meu braço. Abby estava de pé, conversando com um cara com a pele oliva e cabelo escuro, em um terno e gravata. Ele a tinha pelo braço, e eu imediatamente me levantei.
Shepley agarrou minha camisa. "Espera, Travis. Ele trabalha aqui. Dê um minuto apenas. Você pode nos levar todos chutou para fora se você não manter sua cabeça."
Eu os observei. Ele estava sorrindo, mas Abby era toda profissional. Então, ele reconheceu a America.
"Elas conhecem ele," eu disse, tentando ler os lábios deles para descobrir a conversa. A única coisa que eu consegui ler foi jante comigo do idiota de terno, e Abby dizendo que eu estou aqui com uma pessoa.
Shepley não poderia me segurar desta vez, mas eu parei a poucos metros de distância, quando eu vi o cara de terno beijar a bochecha de Abby.
"Foi bom ver você de novo. Até amanhã... às cinco, ok? Preciso estar aqui embaixo às oito", ele disse.
Meu estômago afundou, e meu rosto parecia que estava pegando fogo. America puxou o braço de Abby, observando minha presença.
"Quem era aquele?" Eu perguntei.
Abby assentiu na direção do cara de terno. "Aquele é Jesse Viveros. Eu o conheço há muito tempo. "
"Quanto tempo?"
Ela olhou para a cadeira vazia na mesa de poker. "Travis, eu não tenho tempo para isso."
"Eu acho que ele desistiu da idéia de ser ministro de jovens", disse America, enviando um sorriso malicioso na direção de Jesse.
"Esse é o seu ex-namorado?" Eu perguntei, imediatamente com raiva. "Eu pensei que você tivesse dito que ele era do Kansas?"
Abby mandou um olhar impaciente para America, e depois pegou meu queixo em suas mãoa. " Ele sabe que não tenho idade para estar aqui, Trav. Ele me deu até meia-noite. Eu te explico tudo depois, mas agora tenho que voltar para o jogo, tudo bem?
Meus dentes cerraram e eu fechei os olhos. Minha namorada tinha acabado de concordar em sair com o ex-namorado dela. Tudo dentro de mim queria por para fora um típico ataque de cólera Maddox, mas Abby precisava que eu fosse maduro e homem agora. Agindo contra os meus instintos, decidi deixar passar, e me inclinei para beijá-la. "Tudo bem. Vejo você à meia-noite. Boa sorte."
Eu me virei, fazendo meu caminho através da multidão, ouvindo a voz de Abby aumnetar pelo menos duas oitavas. "Cavalheiros?"
Isso me lembrou daquelas meninas que falavam como crianças quando elas tentavam chamar a minha atenção, com a esperança de parecerem inocentes.
"Eu não entendo por que ela teve que fazer qualquer tipo de acordo com aquele Jesse," eu rosnei.
"Para que ela pudesse ficar, eu acho?" Shepley perguntou, olhando para o teto novamente.
"Existem outros cassinos. Nós podemos ir para outro."
"Ela conhece as pessoas aqui, Travis. Ela provavelmente veio para cá porque sabia que, se fosse pega, eles não a delatariam para a polícia. Ela tem uma identidade falsa, mas eu aposto que não iria demorar muito para a segurança reconhecer ela. Estes casinos pagam alto para que as pessoas apontem os trapaceiros, certo?"
"É," eu disse, franzindo a testa.
Nós encontramos Abby e America na mesa, observando como America reunia os ganhos de Abby.
Abby olhou para o relógio. "Preciso de mais tempo."
"Quer tentar as mesas de blackjack?"
"Eu não posso perder dinheiro, Trav."
Eu sorri. "Você não pode perder, Flor".
America balançou a cabeça. "Blackjack não é o jogo dela."
"Eu ganhei um pouco," eu disse, cavando em meus bolsos. "Ganhei 600 dólares. Você pode ficar com eles."
Shepley entregou a Abby suas fichas. "Eu só consegui trezentos. É seu."
Abby suspirou. "Obrigada pessoal, mas eu ainda preciso de cinco mil." Ela olhou para o relógio de novo e, em seguida, olhou para cima para ver Jesse se aproximando.
"Como se saiu?", ele perguntou, sorrindo.
"Ainda faltam cinco mil, Jess. Preciso de mais tempo."
"Fiz tudo que eu podia, Abby."
"Obrigado por me deixar ficar."
Jesse ofereceu um sorriso desconfortável. Ele estava obviamente com tanto medo dessas pessoas quanto Abby. "Talvez eu consiga fazer meu pai conversar com o Benny para você."
"Essa bagunça é do Mick. Vou pedir a ele uma extensão do prazo."
Jesse balançou a cabeça. "Você sabe que isso não vai acontecer, Docinho, não importa com quanto dinheiro você apareça. Se for menos do que ele deve, o Benny vai mandar alguém atrás dele. E você, fique o mais longe possível.”
"Eu tenho que tentar", disse Abby, sua voz quebrada.
Jesse deu um passo a frente, inclinando-se para manter a voz baixa. "Entre em um avião, Abby. Você está me ouvindo?"
"Estou", ela disparou.
Jesse suspirou, e seus olhos ficaram pesados com simpatia. Ele passou os braços em torno de Abby e depois beijou seu cabelo. "Eu sinto muito. Se o meu trabalho não estivesse em jogo, você sabe que eu ia tentar pensar em alguma coisa."
Os cabelos na parte de trás do meu pescoço ficaram em pé, algo que acontecia somente quando eu me sentia ameaçado e estava prestes a soltar minha ira completa contra alguém.
Pouco antes de eu atacá-lo, Abby se afastou.
"Eu sei", ela disse. "Você fez o que podia."
Jesse levantou o queixo dela com o dedo. "Vejo você amanhã às cinco." Ele se abaixou para beijar o canto da boca dela e depois foi embora.
Foi então que eu notei que meu corpo estava inclinado para a frente, e Shepley estava mais uma vez segurando minha camisa, os nós dos dedos dele brancos.
Os olhos de Abby estavam fixos no chão.
"O que é que tem às cinco?" Eu fervia.
"Ela concordou em jantar com Jesse se ele a deixasse ficar. Ela não teve escolha, Trav," America disse.
Abby olhou para mim com seus grandes olhos se desculpando.
"Você tinha escolha", eu disse.
"Alguma vez você já lidou com a máfia, Travis? Sinto muito se seus sentimentos estão feridos, mas um jantar de graça com um velho amigo não é um preço alto a se pagar para manter o Mick vivo."
Eu apertei meu maxilar, recusando me a deixá-lo aberto para que eu dissesse palavras das quais mais tarde eu iria me arrepender.
"Vamos lá pessoal, temos que encontrar o Benny," America disse, puxando Abby pelo braço.
Shepley andou ao meu lado enquanto seguimos as meninas pela Strip até o prédio de Benny. Era a um quarteirão das luzes brilhantes, mas era um lugar onde o dourado nunca tinha tocado – e não era destinado a ser. Abby fez uma pausa, e então andou alguns passos em direção a uma porta grande e verde. Ela bateu, e eu segurei sua outra mão para evitar que ela tremesse.
O porteiro apareceu na porta aberta. Ele era enorme - negro, intimidante, e tão largo quanto alto - com o esteriotipo desprezível de Vegas em pé ao lado dele. Correntes de ouro, olhos suspeitos, e uma pança causada por tanta comida da mamãe.
"Benny", Abby respirou.
"Ora, ora... Você não é mais a Lucky Thirteen, não é? O Mick não me contou que você tinha ficado tão bonita. Eu estava esperando por você, Docinho. Ouvi dizer que tem um pagamento para mim."
Abby assentiu, e Benny apontou para o resto de nós. "Eles estão comigo", ela disse, com a voz surpreendentemente firme.
"Eu receio que seus companheiros terão que esperar do lado de fora", o porteiro disse em um tom grave incomum.
Tomei Abby pelo braço, virando meu ombro em uma postura protetora. "Ela não vai entrar aí sozinha. Eu vou com ela."
Benny me olhou por um momento, e então sorriu para o seu porteiro. "É justo. O Mick ficará feliz em saber que você tem um amigo tão bom."
Nós o seguimos para dentro. Eu me mantive segurando firme o braço de Abby, me certificando de estar entre ela e a maior ameaça - o porteiro. Nós andamos atrás de Benny, seguindo-o até um elevador, e depois subimos quatro andares.
Quando as portas se abriram, uma grande mesa de mogno surgiu. Benny mancou até sua cadeira de pelúcia e se sentou, apontando para nós sentarmos nas duas cadeiras vazias em frente da mesa dele. Sentei, mas a adrenalina estava fluindo pelas minhas veias, me fazendo contrair e inquietar. Eu podia ouvir e ver tudo na sala, incluindo os dois bandidos em pé nas sombras atrás da mesa de Benny.
Abby estendeu a mão para pegar a minha, e eu apertei sua mão, tentando tranquilizá-la.
"Mick me deve 25 mil. Eu acredito que você tenha o valor total ", disse Benny, rabiscando algo em um bloco de notas.
"Na verdade," Abby fez uma pausa, limpando a garganta, "faltam cinco mil, Benny. Mas eu tenho o dia todo amanhã para conseguir isso. E cinco mil não é problema, certo? Você sabe que eu sou boa nisso."
"Abigail", Benny disse, franzindo a testa: "Assim você me decepciona. Você conhece muito bem as minhas regras."
"Por... por favor, Benny. Eu estou pedindo para você pegar os dezenove mil e novecentos, e eu terei o resto amanhã."
Os olhos redondos de Benny se moviam entre Abby e eu. Os bandidos saíram dos cantos escuros e os cabelos na parte de trás do meu pescoço estavam em pé novamente.
" Você sabe que não aceito nada além do valor total. O fato de você estar tentando me entregar menos que isso me diz algo. Sabe o quê? Que você não tem certeza se vai conseguir tudo."
Os bandidos deram mais um passo para a frente. Eu olhei em seus bolsos e em suas roupas buscando por qualquer forma que gritasse arma. Ambos tinham algum tipo de faca, mas eu não vi nenhuma arma. Isso não significava que eles não tinham uma enfiada em uma bota, mas eu duvidava que qualquer um fosse tão rápido quanto eu. Se precisasse, eu poderia tirá-la deles e nos tirar de lá o mais rápido possível.
"Eu posso conseguir o seu dinheiro, Benny," Abby riu de forma nervosa. "Eu ganhei oito mil e novecentos em seis horas."
"Então você está me dizendo que vai me trazer oito mil e novecentos em mais seis horas?" Benny sorriu seu sorriso diabólico.
"O prazo é até amanhã à meia-noite," eu disse, olhando para trás e vendo a sombra de um homem se aproximando.
"O... o que você está fazendo, Benny?" Abby perguntou, sua postura rígida.
"Mick me ligou hoje à noite. Ele disse que você está cuidando da dívida dele."
"Eu estou fazendo um favor para ele. Eu não te devo nenhum dinheiro ", ela disse com firmeza.
Benny inclinou seus cotovelos gordos e curtos sobre a mesa. "Estou pensando em ensinar uma lição ao Mick, e estou curioso para saber até onde vai a sua sorte, criança."
Instintivamente, eu pulo da minha cadeira, puxando Abby comigo. Eu coloco ela atrás de mim, andando de costas em direção a porta.
"Josiah está do lado de fora, meu jovem. Para onde exatamente você acha que vai fugir?"
“Travis", Abby advertiu.
Não tinha mais conversa. Se eu deixasse qualquer um destes capangas passarem por mim, eles iriam machucar Abby. Eu movi Abby para trás de mim.
"Espero que você saiba, Benny, que, quando eu derrubar os seus homens, não é com a intenção de te desrespeitar. Mas eu estou apaixonado por essa garota e eu não posso permitir que você a machuque."
Benny explodiu em uma gargalhada alta. "Eu tenho que te dar crédito, filho. Você é o cara mais corajoso que já passou por essa porta. Vou te preparar para o que você está prestes a enfrentar. O camarada mais alto à sua direita é o David. Se ele não conseguir derrubar você com os punhos dele, ele vai usar a faca que ele tem no coldre. O homem à sua esquerda é o Dane, e ele é meu melhor lutador. Aliás, ele tem uma luta amanhã, e nunca perdeu uma. Tome cuidado para não machucar as mãos, Dane. Apostei alto em você."
Dane sorriu para mim com olhos selvagens e divertidos. "Sim, senhor".
"Benny, pare! Posso conseguir o dinheiro!" Abby gritou.
"Ah não... isso vai ficar interessante muito rápido." Benny riu, recostando-se em sua cadeira.
David veio para cima de mim. Ele era desajeitado e lento, e antes mesmo que ele tivesse a chance de alcançar a faca,eu incapacitei ele, empurrando o rosto dele para
baixo e dando-lhe uma joelhada certeira. Eu, então, dei dois socos no rosto dele. Sabendo que esta não era uma luta de porão, e que eu estava lutando para tirar eu e Abby dali vivos, eu coloquei tudo de mim em cada movimento. Eu me senti bem, como se cada pequena porção de raiva reprimida dentro de mim pudesse finalmenteser solta. Dois socos mais e uma cotovelada depois, David estava no chão, caído em uma poça de sangue.
Benny jogou a cabeça para trás, rindo histericamente e socando a mesa, com a mesma alegria de uma criança assistindo desenho animado no sábado de manhã. "Bom, vá em frente, Dane. Ele não assustou você, assustou?"
Dane se aproximou de mim com mais cautela, com o foco e a precisão de um lutador profissional. Seu punho voou em direção ao meu rosto, mas eu desviei para o lado, batendo meu ombro nele com força total. Nós cambaleamos para trás e caímos na mesa de Benny.
Dane agarrou-me com os dois braços, me jogando no chão. Ele era mais rápido do que eu tinha imaginado, mas não rápido o suficiente. Nós brigamos no chão por um momento, enquanto eu ganhava tempo para conseguir garrá-lo de forma firme, mas então Dane ganhou terreno, posicionando-se para dar alguns socos em mim enquanto eu estava preso debaixo dele no chão.
Agarrei as bolas de Dane e as torci. Isso o chocou e ele gritou, parando apenas tempo suficiente para que eu obter vantagem. Eu me ajoelhei sobre ele, segurando-o pelo seu longo cabelo, lançando soco após soco na lateral de sua cabeça. O rosto de Dane batia com força na mesa de Benny a cada, e então ele ficou de pé, desorientado e sangrando.
Eu o observei por um momento, e depois ataquei novamente, deixando minha raiva fluir por mim a cada golpe. Dane se esquivou uma vez e acertou meu maxilar com os nós dos dedos.
Ele pode ter sido um lutador, mas Thomas batia muito mais forte do que ele. Isso ia ser fácil.
Eu sorri e levantei meu dedo indicador. "Essa foi sua vez."
A risada desenfreada de Benny encheu a sala enquanto eu terminava com seu capanga. Meu cotovelo acertou o centro do rosto de Dane, nocauteando-o antes dele cair no chão.
"Que jovem incrível! Simplesmente incrível! " Benny disse, batendo palmas com prazer.
Imediatamente eu agarrei Abby, puxando-a para trás de mim quando Josiah encheu a porta com sua estrutura maciça.
"Devo cuidar disso, senhor?" Josiah perguntou. Sua voz era profunda, mas inocente, como se ele estivesse apenas fazendo o único trabalho em que ele era bom, e não desejasse realmente ferir qualquer um de nós de verdade.
"Não! Não, não..." Benny disse, ainda atordoado com o desempenho improvisado. "Qual é o seu nome?"
"Travis Maddox," eu disse ofegante. Eu limpei o sangue de Dane e Davi das minhas mãos em minha calça jeans.
"Travis Maddox, acredito que você possa ajudar a sua namoradinha aqui a sair dessa encrenca."
"Como?" eu perguntei, soltando o ar.
"Dane deveria lutar amanhã à noite. Eu apostei alto nele, mas não me parece que ele esteja em condições de lutar tão cedo. Sugiro que você assuma o lugar dele e ganhe uma grana pra mim, e eu perdoo os cinco mil e cem restantes da dívida do Mick."
Eu me virei para Abby. "Beija-flor?"
"Você está bem", ela perguntou, limpando o sangue do meu rosto. Ela mordeu o lábio, seu rosto se enrugando em torno de sua boca. Seus olhos se encheram de lágrimas.
"Não é o meu sangue, baby. Não chore."
Benny se levantou. "Eu sou um homem ocupado, filho. Topa ou passa?"
"Topo", eu disse. "Me diga quando e onde e eu estarei lá."
"Você vai lutar com o Brock McMann. Ele não é nenhuma mocinha. Foi barrado do UFC no ano passado."
Eu conhecia o nome. "Apenas me diga onde eu preciso estar."
Benny me deu a informação, então um sorriso de tubarão se espalhou pelo seu rosto. "Eu gosto de você, Travis. Eu acho que vamos ser bons amigos. "
"Eu duvido", eu disse. Eu abri a porta para Abby e mantive uma postura protetora ao seu lado até que saímos pela porta da frente.
"Jesus Cristo!" America gritou ao ver o sangue cobrindo minha roupa. "Vocês estão bem?" Ela agarrou os ombros de Abby e examinou seu rosto.
"Eu estou bem. Apenas mais um dia no escritório. Para nós dois ", Abby disse, enxugando os olhos.
Com sua mão na minha, nós corremos para o hotel, com Shepley e America nos seguindo bem de perto.
A única pessoa que pareceu notar minhas roupas sujas de sangue foi o garoto no elevador.
Uma vez que estávamos todos de volta no meu quarto e de Abby, eu arranquei as roupas e entrei no banheiro para lavar toda a sordidez de mim.
"Que diabos aconteceu lá?" Shepley finalmente perguntou.
Eu podia ouvir as suas vozes murmurando enquanto eu ficava de pé embaixo da água, recordando a última hora. Tão assustador quanto foi ter Abby em tal perigo real, foi incrivelmente fantástico poder me soltar com os dois capangas de Benny, David e Dane. Era como a melhor droga que pudesse existir.
Eu me perguntei se eles já tinham acordado ou se Benny tinham apenas os arrastado para fora e os deixado no beco.
Uma estranha calma tomou conta de mim. Socar os homens de Benny foi uma válvula de escape para cada pequena porção de raiva e frustração que eu tinha acumulado ao longo dos anos, e agora eu me sentia quase normal.
"Eu vou matar ele! Eu vou matar aquele filho da puta!" America gritou.
Eu desliguei o chuveiro e enrolei uma toalha em volta da minha cintura.
"Um dos caras que eu nocauteei tinha uma luta amanhã à noite", disse a Shepley. "Vou assumir o lugar dele e, em troca, Benny vai perdoar os cinco mil que faltam da dívida do Mick."
America se levantou. "Isso é ridículo! Por que estamos ajudando Mick, Abby? Ele te jogou aos lobos! Eu vou matá-lo!"
"Não se eu matar ele primeiro", eu fervia de ódio.
"Entre na fila", disse Abby.
Shepley andava impacientemente. "Então você vai lutar amanhã?"
Eu balancei a cabeça uma vez. "Em um lugar chamado Zero’s. Às seis horas. É com o Brock McMann, Shep."
Shepley balançou a cabeça. "De jeito nenhum. Nem ferrando, Trav. O cara é um maníaco!"
"É", eu disse, "mas ele não está lutando por sua garota, está?" Eu tomei Abby em meus braços, beijando o topo de sua cabeça. Ela ainda estava tremendo. "Você está bem, Beija-flor?"
"Isso é errado. Isso é errado em tantos sentidos. Não sei com qual deles devo tentar te convencer a não fazer isso em primeiro lugar."
"Você não me viu hoje à noite? Eu vou ficar bem. Eu já vi o Brock lutar antes. Ele é duro na queda, mas não é imbatível."
"Eu não quero que você faça isso, Trav."

"Bem, eu não quero que você vá jantar com seu ex-namorado amanhã à noite. Acho que nós dois vamos ter que fazer algo desagradável para salvar a pele do seu pai imprestável."

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