Capítulo 3 - Sortudo

Abby

Quando as rodas do avião tocaram o chão da pista do Aeroporto Internacional McCarran, Travis tinha finalmente relaxado inclinando-se sobre o meu ombro. As luzes brilhantes de Las Vegas estavam visíveis nos últimos dez minutos, sinalizando como um farol em direção a tudo o que eu odiava – e tudo o que eu queria.
Travis despertou lentamente, olhando rapidamente para fora da janela antes de beijar a curva do meu ombro. "Nós estamos aqui?"
"Viva! Pensei que talvez você devesse voltar a dormir. Vai ser um longo dia."
"Não há nenhuma maneira de eu voltar a dormir após esse sonho", disse ele, esticando-se. "Eu não tenho certeza se quero dormir outra vez."
Meus dedos apertaram os seus. Eu odiava vê-lo tão abalado. Ele não iria falar sobre seu sonho, mas não demorou muito para descobrir onde ele estava enquanto ele dormia. Gostaria de saber se alguém que tinha escapado de Keaton seria capaz de fechar os olhos sem ver a fumaça e os rostos em pânico. O avião chegou ao portão, o aviso CINTO DE SEGURANÇA soou, e as luzes da cabine se acenderam, sinalizando para todos levantarem e procurarem por suas bagagens de mão. Todo mundo estava com pressa, embora ninguém fosse sair de lá antes das pessoas sentadas à frente delas.
Sentei-me, fingindo paciência, observando Travis levantar para puxar nossa bagagem. Sua camiseta subiu quando ele estendeu a mão, revelando seus músculos abdominais se movendo e depois contraindo quando ele puxou para baixo as bolsas.
"Você tem um vestido aqui?"
Eu balancei minha cabeça. "Eu pensei que eu encontraria um aqui."
Ele acenou com a cabeça uma vez. "Sim, eu aposto que tem deles em abundância para escolher. Uma variedade melhor para um casamento em Vegas do que em casa."
"Exatamente a minha linha de raciocínio."
Travis estendeu a mão e me ajudou a dar dois passos para o corredor. "Você vai estar fantástica, não importa o que você colocar."
Eu beijei seu rosto e peguei minha bolsa assim que a fila começou a se mover. Seguimos os outros passageiros para a porta de entrada e para o terminal.
"Déjà vu", Travis sussurrou.
Eu senti o mesmo. As máquinas caça-níqueis com suas canções de alerta e luzes coloridas piscando, falsamente prometendo sorte e muito dinheiro. Da última vez em que Travis e eu estivemos aqui, foi fácil identificar os casais que estavam se casando, e eu me perguntava se éramos tão óbvios.
Travis pegou minha mão quando passamos pela esteira de bagagens, e seguimos as placas sinalizadas TAXI. As portas automáticas se abriram e nós caminhamos para o ar noturno do deserto. Ainda estava um calor sufocante, e seco. Eu respirei no calor, deixando Las Vegas saturar cada parte de mim.
Casar com Travis seria a coisa mais difícil e mais fácil que eu já tinha feito. Eu precisava despertar as partes de mim que foram moldadas nos cantos mais escuros desta cidade para fazer o meu plano funcionar. Se Travis imaginasse que eu estava fazendo isso por qualquer outra razão que não apenas querer me comprometer com ele, ele nunca me deixaria continuar com isso e Travis não era exatamente ingênuo, e pior, ele me conhecia melhor do que ninguém; ele sabia do que eu era capaz. Se eu conseguisse o casamento, e mantivesse Travis fora da prisão sem ele saber por que, este seria o meu melhor blefe até agora.
Apesar de nós termos desviado da multidão à espera de bagagem, havia uma longa fila para os táxis. Eu suspirei. Deveríamos já estar nos casando. Ainda estava escuro, mas fazia mais de cinco horas desde o incêndio. Não podíamos perder mais tempo em filas.
"Beija-flor?" Travis apertou minha mão. "Você está bem?"
"Sim", eu disse, balançando a cabeça e sorrindo. "Por quê?"
"Você parece... um pouco tensa"
Eu fiz um balanço do meu corpo, como eu estava parada, a minha expressão facial, qualquer coisa que pudesse avisá-lo. Meus ombros estavam tão apertados que estavam pendendo em torno dos meus ouvidos, então eu os forcei a relaxar. "Estou pronta."
"Para acabar logo com isso?", ele perguntou, suas sobrancelhas se apertando infinitamente. Se eu não o tivesse conhecido melhor, eu nunca teria pego ele.
"Trav," eu disse, passando os braços ao redor da sua cintura. "Esta ideia foi minha, lembra?"
"Assim como foi da última vez que viemos para Las Vegas. Você se lembra como aquilo acabou?"
Eu ri, e então eu me senti péssima. A linha vertical entre suas sobrancelhas formada quando ele apertou-as juntas se aprofundou. Isto era tão importante para ele. O quanto ele me amava era esmagador na maioria das vezes, mas esta noite era diferente. "Eu estou com pressa, sim. Você não está?"
"Sim, mas algo está errado."
"Você só está nervoso. Pare de se preocupar."
Seu rosto suavizou e ele me abraçou. "Tudo bem. Se você diz que está tudo bem, então eu acredito em você."
Quinze longos minutos depois, e nós estávamos na frente da fila. Um táxi puxou para o meio-fio e parou. Travis abriu a porta para mim, e eu me inclinei no banco de trás e deslizei, esperando para ele entrar.
O taxista olhou por cima do ombro. "Viagem curta?"
Travis colocou nossa única bagagem de mão na frente dele no piso. "Nós viajamos leve."
"Bellagio, por favor", eu disse calmamente, mantendo a urgência fora da minha voz.
Com letras que eu não entendia, uma alegre melodia circense zumbia pelos alto-falantes enquanto nos dirigíamos do aeroporto para a Strip2. As luzes eram visíveis quilômetros antes de chegarmos ao hotel.

2 Rua com várias possibilidades de compras e entretenimento.
3 Arrogante, vaidoso, pessoa que pensa que é melhor que as outras.

Quando chegamos à Strip, notei um rio de pessoas caminhando para cima e para baixo nas margens da estrada. Mesmo nas primeiras horas da manhã, as calçadas estavam cheias de solteiros, mulheres empurrando carrinhos com bebês dormindo, pessoas fantasiadas tirando fotos por gorjetas e empresários – aparentemente procurando relaxar.
Travis colocou o braço em volta dos meus ombros. Eu me inclinei contra ele, tentando não olhar para o relógio pela décima vez.
O táxi parou no passeio de carro circular do Bellagio, e Travis se inclinou para frente com o dinheiro para pagar o motorista. Ele então retirou a nossa bagagem de mão, e esperou por mim. Eu deslizei para fora, pegando sua mão e saindo para o concreto. Como se não fosse o início da manhã, pessoas estavam de pé na fila de táxi para ir a um cassino diferente, e outras estavam voltando, incapazes de andar em linha reta e rindo depois de uma longa noite de bebedeira.
Travis apertou minha mão. "Nós estamos aqui realmente."
"Sim", eu disse, puxando-o para dentro. O teto era distrativamente ornamentado. Todo mundo no saguão estava em pé ao redor com seus ‘narizes no ar’3.
"O que você –?" Eu disse, virando para Travis. Ele estava me deixando puxá-lo enquanto ele focava no teto.
"Olha, Beija-flor! É... uau", ele disse, admirado com as enormes flores multicoloridas beijando o teto.
"Sim", eu disse, puxando-o para a recepção.
"Check-in", eu disse. "E nós precisamos agendar um casamento em uma capela local."
"Qual?", Perguntou o homem.
"Qualquer uma. Agradável. Vinte e quatro horas por dia."
"Nós podemos arranjar isso. Eu só vou dar a entrada de vocês aqui, e, em seguida, o concierge pode ajudá-los com uma capela para casamentos, espetáculos, qualquer coisa que vocês quiserem."

4 O concierge é um profissional que tem um balcão na entrada do hotel, responsável por assistir os hóspedes em qualquer pedido que estes tenham, dos mais extravagantes ao mais simples como chamar um táxi, dar informações sobre o próprio hotel e seus serviços ou sobre a cidade e seus pontos turísticos, venda de passeios na região, locação de carros, reservas e indicações de restaurantes, ligar para farmácia, floricultura ou tabacaria.

"Ótimo," eu disse, virando-me para Travis com um sorriso triunfante. Ele ainda estava olhando para o teto.
"Travis", eu disse, puxando o seu braço.
Ele virou-se, saindo de seu estado hipnótico. "Sim?"
"Você pode ir até o concierge e ter o casamento agendado?"
"Sim? Quero dizer sim. Eu posso fazer isso. Qual delas?"
Eu ri uma vez. "Fechada. Aberta a noite toda. Elegante".
"Entendi", disse ele. Deu um beijinho em minha bochecha antes de puxar a bagagem para o balcão do concierge.
"Estamos como Maddox," eu disse, pegando um pedaço de papel. "Este é o nosso número de confirmação."
"Ah, sim. Eu tenho uma suíte de lua de mel disponível caso você queira atualizar?"
Eu balancei minha cabeça. "Nós estamos bem." Travis estava do outro lado da sala, conversando com um homem atrás do balcão. Eles estavam olhando juntos para um catálogo, e ele tinha um enorme sorriso no rosto, enquanto o homem indicava diferentes locais.
"Por favor, permita que funcione", eu disse sob minha respiração.
"O que disse, minha senhora?"
"Oh. Nada", eu disse enquanto ele voltava a se afastar clicando em seu computador.

***

Travis

Abby inclinou-se com um sorriso quando eu beijei sua bochecha, e então continuou com o check-in enquanto eu fui até o concierge para decidir uma capela. Olhei para a ‘prestes-a-ser’ minha esposa, suas longas pernas apoiadas por aqueles sapatos de salto Anabela que fazem um belo par de pernas parecerem ainda mais belos. Sua delicada e fina camisa era transparente o suficiente para que eu me sentisse desapontado ao ver um top por baixo. Seus óculos de sol favoritos estavam empoleirados sobre a frente do seu chapéu de feltro favorito, e apenas algumas longas mechas de seu cabelo caramelo, um pouco ondulado por ter secado naturalmente depois do banho, estava escapando por debaixo do chapéu. Meu Deus, essa mulher era sexy pra caralho. Ela nem sequer tinha que tentar, e tudo que eu queria era estar todo dentro dela. Agora que estávamos noivos aquilo não soava como uma coisa tão canalha de se pensar.
"Senhor?", Disse o concierge.
"Oh, sim. Hey," eu disse, dando um último olhar para Abby antes de voltar a minha atenção para o indivíduo. "Eu preciso de uma capela. Aberta a noite toda. Elegante".
Ele sorriu. "Claro, senhor. Temos várias para você aqui mesmo no Bellagio. Elas são absolutamente lindas e -"
"Você não tem por acaso Elvis em uma capela aqui, tem? Acho que se nós estamos casando em Vegas, deveríamos também ser casados por Elvis, ou pelo menos convidá-lo, sabe?"
"Não, senhor, eu peço desculpas, as capelas Bellagio não oferecem um imitador de Elvis. No entanto, eu posso encontrar alguns números para você ligar e solicitar que um apareça em seu casamento. Há também, é claro, a famosa Capela Graceland, se você preferir. Eles têm pacotes que incluem um imitador de Elvis."
"Elegante?"
"Tenho certeza que você vai ficar muito contente."
"Ok, essa. Tão rapidamente quanto possível."
O concierge sorriu. "Estão com pressa, não é?"
Eu comecei a rir, mas eu percebi que eu já estava sorrindo, e provavelmente tinha sido, como um idiota, desde que cheguei a sua mesa. "Você vê aquela garota ali?"
Ele olhou para ela. Rapidamente. Respeitosamente. Eu gostava dele. "Sim, senhor. Você é um homem de sorte."
"Eu estou certo que sim. Agende o casamento para duas... talvez três horas a partir de agora? Ela vai precisar de tempo para pegar algumas coisas e se preparar."
"Muito atencioso de sua parte, senhor." Ele clicou alguns botões em seu teclado e em seguida pegou o mouse, movendo-o ao redor e clicando nele algumas vezes.
Seu sorriso desapareceu quando ele se concentrou, e em seguida iluminou seu rosto novamente quando ele terminou. A impressora zumbiu, e então ele me entregou um pedaço de papel.
"Aí está, senhor. Parabéns." Ele ergueu seu punho, e eu bati nele, sentindo-me como se ele tivesse acabado de me entregar um bilhete de loteria premiado.

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