Capítulo 6 – Em que eles acham coisas inesperadas na geladeira
Jared
levantou-se com o som da voz de sua mãe. Ela estava brava.
— Jared, é
melhor você levantar.
— O que
está acontecendo — perguntou Jared sonolento, livrando-se das cobertas. Por um
segundo, pensou que tinha faltado à escola, mas então lembrou que tinham se
mudado e que até agora ele nem tinha colocado um pé na escola nova.
— Em pé,
Jared! — ordenou sua mãe. — Você quer fingir que não sabe de nada? Certo vamos
descer as escadas e você vai ver o que está acontecendo.
A cozinha estava uma bagunça, Mallory com uma vassoura estava
varrendo os cacos de uma tigela de porcelana. As paredes estavam pintadas com
achocolatado e suco de laranja. Ovos crus escorriam pelas vidraças.
Simon estava sentado na mesa da cozinha. Seus braços estavam
cobertos com as mesmas manchas que Mallory exibira somente um dia antes, e seus
olhos estavam vermelhos, como se ele tivesse chorado.
— O que me diz? — sua mãe perguntou com expectativa.
— Eu... eu não fiz isso — disse Jared, olhando para eles. Eles não
acreditariam mesmo que tivesse feito uma coisa como aquela, acreditariam?
E lá, no chão da cozinha, perto de um monte de cereal e pedaços
espalhados de casca de laranja, Jared viu pequenos rastos na farinha. Eram do
tamanho de seu dedo mindinho, e ele podia claramente ver o sinal dos
calcanhares de um pé à frente daquilo que podia ser alguns dedinhos.
— Olhem — disse Jared, apontando.
— Vejam, umas pegadinhas.
Mallory olhou para ele e seus olhos estavam apertados de fúria.
— Fica quieto, Jared. A mamãe disse que te viu aqui de noite. Você
fez aquelas pegadas!
— Não fiz! — gritou Jared de volta.
— Por que você não olha dentro do congelador então?
— O quê? — perguntou Jared.
Simon deu um gemido especialmente alto.
A mãe deles pegou a vassoura das mãos de Mallory e começou a
varrer a farinha e os cereais.
— Mamãe, não, as pegadas — pediu Jared, mas a mãe não deu a menor
atenção para ele. Duas passadas de vassoura, e a única prova que ele tinha
estava varrida em uma pilha de lixo.
Mallory abriu a porta do congelador. Cada um dos girinos de Simon
estava congelado em um pequeno cubo na bandeja. Próximo a eles estava um
bilhete escrito em um pedaço de caixa de cereal:
Não é belo ato congelar os ratos.
— E Tomás e Jeferson desapareceram — disse Simon.
— Agora por que você não conta para a gente o que fez com os ratos
do seu irmão? — ordenou sua mãe.
— Mamãe, eu não fiz isso. Juro que não fiz.
Mallory agarrou Jared pelos ombros.
— Eu não sei o que você pensa que está fazendo, mas pode começar a
arrumar isso.
— Mallory — sua mãe interveio. A irmã saiu, mas a olhada que deu
continha a promessa de briga uma outra hora.
— Acho que Jared não fez isso — disse Simon, choramingando. — Acho
que foi o diabrete.
A mãe não respondeu. A expressão no seu rosto mostrava que
manipular Simon era a pior coisa que Jared podia ter feito.
— Jared — disse ela —, comece levando esse monte de lixo lá para
fora. Se você achou que isso seria engraçado, vamos ver como vai ser engraçado
passar o dia inteiro limpando tudo.
Jared baixou sua cabeça. Não havia jeito de fazê-la acreditar
nele. Silenciosamente ele se vestiu, depois apanhou três sacos de lixo pretos e
começou arrastando-os para a frente da casa.
Do lado de fora, o tempo estava quente e o céu, azul. O ar tinha
um cheiro de folhas de pinheiro e grama fresca cortada. Mas a luz do dia de
maneira nenhuma parecia ser um consolo.
Um dos sacos se prendeu em um galho, e quando Jared puxou, o
plástico rasgou. Suspirando, ele largou os sacos e observou o estrago. O buraco
era grande, e a maioria do lixo tinha caído para fora. Quando começou a recolher
as coisas, percebeu o que estava apanhando. Eram as coisas da casa do bicho!
Olhou para os pedaços de roupa rasgada, a cabeça da boneca, e os
alfinetes com a ponta perolada. A luz do dia, dava para ver outras coisas que
ele não tinha notado antes. Viu o ovo de um pintarroxo, mas estava esmagado.
Finos recortes de jornal estavam espalhados por toda parte, cada
um com uma palavra esquisita diferente escrita. “Entendido” em um. “Solilóquio”
no outro. Juntando todos os pedaços do ninho, Jared colocou- os cuidadosamente
ao lado do resto do lixo. Poderia fazer uma casa nova para o diabrete?
Funcionaria? Isso o pararia? Pensou em Simon chorando e nos pobres e estúpidos girinos
congelados em cubos de gelo. Ele não queria ajudar o diabrete. Queria agarrá-lo
e chutá-lo e fazê-lo lamentar ter saído de dentro da parede.
Arrastando o resto do lixo para a frente do campo, o menino olhou
para a pilha de coisas do diabrete. Ainda não tinha certeza se iria queimar
tudo aquilo ou trazer de volta; na dúvida, levou tudo para dentro.
Sua mãe estava na porta esperando por ele.
— Que negócio é esse? — perguntou ela.
— Nada — respondeu Jared.
Dessa vez, ela não o questionou. Pelo menos não sobre a pilha de
lixo nas mãos dele.
— Jared, eu sei que você está aborrecido porque seu pai foi
embora. Todos estamos aborrecidos.
Jared olhou para os
próprios pés incomodado. Não é porque ele estava aborrecido por seu pai ter ido
embora que ele bagunçaria sua nova casa ou pintaria seu irmão de preto e azul,
ou amarraria os cabelos da sua irmã à cabeceira da cama.
— E? — perguntou, achando que o silêncio da mãe significava que
ela estava esperando por uma resposta.
— E? — repetiu ela. — E você precisa parar de deixar sua
raiva dominar você, Jared Grace. Sua irmã cuida disso quando ela está
esgrimindo e seu irmão tem os animais dele, mas você...
— Não foi eu quem fez isso — disse Jared. — Por que você não
acredita em mim? Só por causa da briga na escola?
— Tenho que admitir que fiquei chocada ao saber que você quebrou o
nariz de um garoto — disse a mãe.
— É sobre isso que estou tentando falar. Simon não arranja brigas.
E nem você arranjava antes de seu pai nos deixar.
Ele olhava para os pés cada vez mais seriamente.
— Posso entrar agora?
Ela concordou com a cabeça, mas depois o segurou com a mão em seu
ombro.
— Se alguma outra coisa acontecer aqui, vou ter que levar você
para fazer uma consulta com alguém. Você me entende?
Jared fez que sim, mas se sentia estranho. Ele lembrou- se do que
tinha dito sobre tia Lúcia e a maluquice e de repente se sentiu muito, muito
arrependido.
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