Capítulo 28
Com as sobrancelhas franzidas, Celaena mirava o taco na bola
branca. O objeto deslizou com facilidade por seus dedos enquanto ela firmava a
mão sobre a superfície de feltro da mesa. Com um movimento esquisito do braço,
Celaena impulsionou o taco para a frente. Errou feio.
Depois de xingar, a assassina tentou mais uma vez. Ela acertou a
bola branca de tal forma que o objeto deu uma meia-volta patética para o lado
e, gentilmente, acertou uma bola colorida com um leve clique. Bem, pelo menos acertara
alguma coisa. Foi mais bem-sucedido do que a pesquisa sobre as marcas de Wyrd.
Eram mais de 22 horas e, necessitando de um descanso depois de
horas de treino e pesquisa e de preocupações sobre Cain e Elena, Celaena
entrara na sala de jogos. Estava cansada demais para música, não podia jogar
cartas sozinha e, bem, bilhar parecia ser a única atividade plausível. Ela
pegou o taco com esperanças de que o jogo não fosse difícil demais de aprender.
A assassina caminhou ao redor da mesa e mirou mais uma vez. Ela
errou.
Trincando os dentes, Celaena considerou partir o taco ao meio
sobre o joelho. Mas estava tentando jogar havia apenas uma hora. Estaria incrível
à meia-noite! Dominaria aquele jogo ridículo ou transformaria a mesa em
lareira. E a usaria para queimar Cain vivo.
Celaena agitou o taco e acertou a bola com tanta força que ela
saiu zunindo pela borda dos fundos da mesa, acertou três bolas coloridas no
caminho antes de colidir com a bola número três e mandá-la em disparada para
uma caçapa.
A bola parou de rolar na beira do buraco.
Um gritinho de ódio irrompeu da garganta de Celaena, e a assassina
correu até a caçapa. Primeiro, ela gritou com a bola, então pegou o taco nas mãos
e o mordeu, ainda gritando entredentes. Finalmente, a assassina parou e deu um tapa
para que a bola três entrasse.
***
– Para a maior assassina do mundo, isso é patético – disse Dorian,
passando pelo portal.
Celaena deu um grito e se precipitou na direção dele. Ela vestia
uma túnica e calça e estava com os cabelos soltos. O príncipe recostou-se
contra a mesa e sorriu quando a assassina ficou ainda mais vermelha.
– Se vai me insultar, pode enfiar este... – Celaena ergueu o taco
e fez um gesto obsceno, que terminou a frase para ela.
Dorian revirou os olhos antes de pegar um taco na estante da
parede.
– Está planejando morder o taco de novo? Porque se estiver, eu
gostaria de convidar o pintor da corte, para que possa sempre me lembrar dessa
visão.
– Não ouse debochar de mim!
– Não seja tão séria. – Dorian mirou a bola e a mandou,
graciosamente, contra uma bola verde, a qual caiu em uma caçapa. – Você é
imensamente divertida quando está saltitando de ódio.
Para a surpresa e o prazer do príncipe, Celaena sorriu.
– Engraçada para você – disse ela –, irritante para mim. – A jovem
se moveu e tentou mais uma vez. E errou.
– Deixe-me mostrar como se faz. – Dorian caminhou até onde Celaena
estava e abaixou o taco, pegando o dela. Depois de cutucar Celaena para que saísse
do caminho, com o coração um pouco acelerado, ele se posicionou onde ela
estava. – Está vendo como meu dedão e meu indicador estão sempre segurando a
ponta superior do taco? Você só precisa...
Celaena o empurrou para fora do caminho com um movimento de
quadril e pegou o taco das mãos de Dorian.
– Sei como segurar, seu palhaço. – Ela tentou acertar a bola e
errou de novo.
– Não está movendo o corpo do jeito certo. Aqui, apenas deixe-me
mostrar.
Embora fosse o truque mais antigo e mais calhorda do mundo, Dorian
passou o braço por cima dela e apoiou a mão sobre aquela de Celaena que segurava
a ponta do taco. Então, ele posicionou os dedos da outra mão dela sobre a parte
de cima, antes de, vagarosamente, segurar o punho da assassina.
Para o descontento de Dorian, o rosto dele ficou mais quente. Os
olhos do príncipe se voltaram para ela e, para seu alívio, ele viu que
Celaena estava tão vermelha quanto ele, ou até mais.
– Se não parar de apalpar e começar a ensinar, vou arrancar seus
olhos e colocar essas bolas de bilhar no lugar.
– Olhe, tudo o que precisa fazer é... – Dorian relembrou os passos
com ela, e Celaena acertou a bola com sutileza. Ela foi para um canto e quicou
para dentro de uma caçapa. O príncipe se afastou de Celaena e deu um risinho. –
Está vendo? Se fizer direito, funcionará. Tente de novo. – Dorian pegou o taco.
Celaena deu uma risada de escárnio, mas, mesmo assim, se
posicionou, mirou e acertou a bola. A bola branca disparou pela mesa, criando
um caos generalizado.
Mas pelo menos fez algum contato. Dorian pegou o triângulo e o
ergueu no ar.
– Gostaria
de jogar?
***
O relógio bateu 2 horas antes que eles parassem. Dorian pedira
sobremesas no meio do jogo e, embora Celaena tenha protestado, engoliu o maior
pedaço de bolo de chocolate e depois comeu todo o pedaço dele também.
Dorian ganhou todos os jogos, mas Celaena mal reparara. Sempre que
acertava a bola, ela se vangloriava sem vergonha. Quando errava – bem, nem mesmo
os fogos do Inferno podiam se comparar ao ódio que irrompia da boca da jovem.
Dorian não conseguia se lembrar de ter rido tanto.
Quando Celaena não estava xingando e gritando, os dois conversavam
sobre os livros que liam e, conforme Celaena tagarelava, Dorian sentia como se
a garota não dissesse uma palavra há anos, e tinha medo de que ela de repente ficasse
muda de novo. A assassina era assustadoramente inteligente. Entendia o príncipe
quando ele falava sobre história ou política – embora alegasse odiar o assunto –
e até mesmo tinha muito a dizer sobre o teatro. Dorian, de alguma forma, acabou
prometendo levá-la a uma peça após a competição. Um silêncio desconfortável
surgiu depois disso, mas passou rapidamente.
O príncipe estava jogado em uma poltrona, descansando a cabeça em
uma das mãos. Celaena estava deitada, esparramada na poltrona diante da dele,
as pernas pendendo de um dos braços. Ela encarou o fogo com as pálpebras quase fechadas.
– O que está pensando? – perguntou Dorian.
– Não sei – respondeu ela. Celaena deixou a cabeça cair até o braço
da poltrona. – Acha que o assassinato de Xavier e dos outros campeões foi intencional?
– Talvez. Faz diferença?
– Não. – Celaena agitou a mão no ar de forma preguiçosa. – Deixe
para lá.
Antes que Dorian pudesse perguntar mais, a jovem caiu no sono.
Ele desejou saber mais sobre o passado dela. Chaol somente lhe
dissera que Celaena vinha de Terrasen e que a família dela estava morta. Não
tinha a mínima ideia de como fora a vida dela, como havia se tornado uma
assassina, como aprendera a tocar piano... Era tudo um mistério.
O príncipe queria saber tudo sobre ela. Desejava que Celaena
simplesmente lhe contasse. Dorian se levantou e se espreguiçou. Ele colocou os
tacos na estante, organizou as bolas e voltou para a assassina dorminhoca. O príncipe
a sacudiu com cuidado, e Celaena gemeu em protesto.
– Você pode querer dormir aí, mas vai se arrepender profundamente
pela manhã.
Mal abrindo os olhos, ela se levantou e se arrastou até a porta.
Quando Celaena havia quase atravessado o portal, Dorian decidiu que era necessário
um braço guia antes que a jovem quebrasse alguma coisa. Tentando não pensar no calor
da pele dela sob sua mão, o príncipe a guiou para o quarto e observou
Celaena cambalear até a cama, onde ela caiu sobre os cobertores.
– Seus livros estão ali – murmurou ela, e apontou para uma pilha
ao lado da cama. Dorian entrou no quarto devagar. Celaena ficou deitada, imóvel,
os olhos fechados. Três velas queimavam em diversas superfícies. Com um
suspiro, ele as apagou antes de se aproximar da cama. Ela estava dormindo?
– Boa noite, Celaena – disse Dorian. Era a primeira vez que a
chamava pelo nome. Saiu da língua dele de modo agradável. Celaena murmurou algo
que parecia “nonu” e não se moveu. Um colar interessante reluzia sobre a
garganta dela. Dorian achou que parecia familiar, de alguma forma, como se o
tivesse visto antes. Com um olhar final, ele pegou a pilha de livros e saiu do
quarto.
Se Celaena se tornasse a campeã do rei e mais tarde ganhasse
liberdade, será que continuaria a mesma? Ou era tudo aquilo uma fachada para
conseguir o que queria? Mas Dorian não conseguia imaginar que a jovem estivesse
fingindo. Não queria imaginar que ela estava fingindo.
O castelo estava silencioso e escuro conforme Dorian caminhava de
volta para o quarto.
dorian sendo gentil é tão fofo
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