Capítulo 5 – Em que Jared e Simon despertam a Bela Adormecida
Jared mal reparou no caminho que tomaram em direção
à sala do tesouro. Fechou os olhos para impedir a explosão de lágrimas.
— Chegamos — disse o anão que os conduzia. A barba
dele era branca, na cintura, ele carregava um molho de chaves. O anão
dirigiu-se ao grupo que carregava a caixa contendo Mallory.
— Coloquem essa caixa bem aqui.
A sala do tesouro estava iluminada por um único candelabro,
mas as pilhas de ouro brilhante refletiam a luz, de modo que ela não era tão
escura quanto poderia ser. Um pavão prateado com uma cauda cor de coral bicava
um rato de cobre sentado no topo de um vaso com um jeito que mais parecia tédio
do que maldade. O anão de barba branca os fitou enquanto os outros iam passando.
Ele lhes sorriu, carinhoso.
— Vou tentar encontrar um brinquedo para vocês, meninos.
Que tal umas pedrinhas? Elas até saltam sozinhas.
— Estou com fome — disse Simon. — Nós não somos
mecânicos. Se você quiser nos manter aqui, precisa nos alimentar.
O anão estreitou os olhos.
— É verdade. Vou preparar um mingau de aranhas e
nabos. Isso os alimentará muito bem.
— Como é que você vai dar esse mingau para a gente?
— perguntou Jared subitamente. — Aqui não tem porta nenhuma.
— Tem uma porta, sim senhor — disse o anão. — Fui
eu quem construiu essa gaiola. Ela é firme, não é?
— É sim — concordou Jared. — Muito firme.
O garoto revirou os olhos. Será que já não era o
suficiente terem sido enganados e agora tinham que ser presos em uma gaiola? E
o anão tinha ainda que ficar esfregando isso na cara deles?
— Olhe, a tranca fica dentro dessa barra. — O anão
bateu de leve numa barra com o dedo. — Tive que construir uma tranca delicada,
usei um martelo que era do tamanho de um alfinete. Se você reparar, dá para ver
a emenda na porta. Bem aqui. Está vendo?
— Você consegue abri-la? — perguntou Simon.
Jared o olhou surpreso. Será que Simon estivera planejando
aquilo o tempo inteiro, enquanto Jared tinha perdido o tempo com sua raiva?
— Você quer ver como funciona? — quis saber o anão.
— Quero — disse Jared, quase sem acreditar que estavam
começando a ter sorte.
— Bem, está certo, menino. Agora, afastem-se um pouco.
Isso. Só uma vez, e depois vou pegar a comida. Ainda bem que finalmente eu
posso usar essas coisas que inventei.
Jared sorriu encorajando-o. O anão escolheu uma chave
minúscula no molho que trazia na cintura. Ela tinha o tamanho e formato de um
apito, com um padrãode arestas bem complicado. Ele a inseriu dentro da barra, embora
Jared não conseguisse ver o buraco da fechadura do lado de dentro da gaiola.
Virando o pulso levemente, o anão produziu estalidos, zumbidos e outros ruídos
que vieram da fechadura.
— Pronto. — O anão empurrou a barra e a parte da
frente da gaiola se abriu revelando dobradiças ocultas. Mas, quando os meninos estavam
se deslocando para a frente, o anão rapidamente fechou a gaiola. — Não teria
sido tão divertido se vocês não tivessem tentado fugir. — Ele riu, recolocando
a chave no cinto.
Jared esticou a mão e agarrou a chave ao mesmo tempo.
Todas as chaves caíram no chão. Simon as apanhou antes que o anão fizesse o mesmo.
— Ei! Isso não é justo! — disse o anão. — Devolvam
as chaves!
Simon fez que não com a cabeça.
— Mas vocês precisam obedecer. Vocês são prisioneiros.
Vocês não podem ficar com as chaves.
— Nós não vamos devolvê-las — disse Jared.
O anão entrou em pânico. Caminhou até a ponta do
corredor e gritou:
— Rápido! Alguém me ajude! Guardas! Os prisioneiros
estão escapando! — E quando ninguém veio, ele olhou fixamente para Jared e
Simon. — Vocês tratem de ficar bem aqui! — ele disse e saiu pelo corredor,
chamando os guardas.
Simon enfiou a chave na fechadura e eles
escaparam da gaiola.
— Ande, eles estão vindo!
— Nós temos que levar a Mallory! — disse Jared apontando
para a gaiola dela.
— Não temos tempo — alertou Simon. — Nós voltaremos.
— Espere! — disse Jared. — Vamos nos esconder aqui!
Eles vão pensar que fugimos!
Simon parecia em pânico.
— Onde?
— Em cima da gaiola! — Jared apontou para a tampa
da gaiola feita de prata sólida. Subiu numa pilha de metal para alcançar a
tampa. — Venha!
Simon subiu até a metade e Jared o puxou até o
fim. Mal tiveram tempo de agachar-se e os anões entraram correndo na sala.
— Eles não estão aqui — disse um anão. — Nem no
corredor, nem nas salas.
Jared sorriu escondendo o rosto no metal frio.
— Tragam os cachorros. Eles os encontrarão.
— Cachorros? — sussurrou Simon a Jared assim que
os anões saíram da sala.
— Qual é o problema? — sorriu Jared, contente com
o sucesso de seu plano. — Você adora cachorro.
Simon revirou os olhos e saltou no chão,
chutando o candelabro e espalhando algumas peças de hematita.
Ele apanhou uma pedra e a enfiou no bolso.
— Pare de fazer tanto barulho — disse Jared, tentando
descer da caixa de vidro com cuidado e quase despencando em cima de um arbusto
de rosas de cobre.
Eles se ajoelharam ao lado da caixa de vidro, e
Jared a abriu. Quando a porta se levantou, fez um ruído, como se um gás
invisível estivesse escapando dela. Dentro da caixa, Mallory permanecia imóvel.
— Mallory — chamou Jared. — Levante!
O garoto puxou o braço da irmã, mas estava mole
e caiu de volta no peito dela quando ele o soltou.
— Você não acha que alguém precisa beijá-la, não
é? — perguntou Simon. — Igual à Branca de Neve?
— Que nojo!
Jared não conseguia lembrar-se de nenhuma informação
a respeito de beijos no Guia de Campo, e nem sobre caixões de vidro. Ele se
debruçou sobre a irmã e lhe deu um beijo rápido na bochecha. Ela não reagiu.
— Precisamos fazer alguma coisa — disse Simon.
— Não temos muito tempo.
Jared arrancou um cacho de cabelo de Mallory e o
apertou com força. Ela se moveu levemente e entreabriu os olhos. Jared suspirou
aliviado.
— Me larga — murmurou ela tentando virar de lado.
— Me ajude a levantá-la, Simon — disse Jared retirando
a espada dela do fundo da caixa.
O garoto ergueu o corpo da irmã um pouco mais antes
que ela despencasse outra vez dentro da caixa.
— Vamos, Má — disse Jared no ouvido dela. — Levante!
Simon lhe deu um tapa no rosto. Ela se mexeu outra
vez, abrindo os olhos, tonta.
— O que está...? — ela conseguiu dizer.
— Você precisa sair daí de dentro — disse Simon.
— Levante.
— Use a espada como se fosse uma bengala — sugeriu
Jared.
Com a ajuda dos irmãos, Mallory conseguiu ficar
de pé e arrastou-se até o corredor. Ele estava vazio.
— Finalmente — disse Simon. — As coisas estão começando
a melhorar para o nosso lado.
Foi então que ele ouviu o som distante de um
latido oco, metálico.
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