Capítulo 7 – Em que acontece uma traição inesperada

Mallory olhou para si mesma, com desgosto.
— Eu detesto vestido. O que aconteceu? Por que fui acordar numa caixa de vidro?
Jared balançou a cabeça.
— Nós não sabemos direito... Acho que os anões agarraram você ou coisa parecida. Você se lembra de alguma coisa?
— Eu estava empacotando minhas coisas depois do jogo. — Ela deu de ombros. — Um menino me disse que você tinha se metido numa encrenca.
— Psiu — disse Simon, apontando para a mina. — Abaixem-se.
Eles se ajoelharam na grama e espiaram pela borda. Uma horda de goblins saía da caverna. Eles deslizavam e rolavam, rangendo os dentes e latindo depois de farejarem o ar. Atrás deles vinha um monstro maciço com ramos secos no lugar de cabelos. Ele vestia alguns farrapos escuros, de outros tempos, e chifres grandes, curvados, saíam da testa dele.
Korting e seus anões saíram da caverna. Atrás deles vieram mais goblins, puxando uma carroça cheia de armas brilhantes. No meio desse último bando, um prisioneiro vinha tropeçando. Ele era do tamanho de um humano adulto, um saco cobria-lhe a cabeça, tanto os pulsos quanto os tornozelos estavam amarrados com um pano sujo. Havia algo de familiar na figura dele. Os goblins empurravam o prisioneiro para dentro da mina, espetando-o com galhos pontudos, longe do lugar em que tinha parado o monstro.
— Quem é? — perguntou Mallory, apertando os olhos.
— Não consigo ver — respondeu Jared. — Por que será que eles precisam de um prisioneiro?
Korting limpou a garganta, nervoso, e um silêncio se espalhou pela multidão.
— Grande Senhor Mulgarath, nós lhe agradecemos pela honra de servi-lo.
Mulgarath parou. A imensa cabeça chifruda do ogro debruçou-se sobre o resto das criaturas e ele se virou em direção aos anões com um sorriso.
Jared engoliu em seco. Mulgarath. A palavra nunca tinha adquirido um significado para ele antes, mas agora o garoto estava com medo. Apesar de saber que o monstro não podia vêlo, ele sentiu aqueles olhos escuros passarem por perto e escondeu-se mais ainda.
— Estas são todas as armas que eu lhes pedi?
A voz vibrante de Mulgarath ecoava por toda a mina. Ele apontou para a carroça.
— Sim, claro — disse o senhor dos anões. — Uma prova de nossa lealdade e dedicação ao novo regime. Não poderíamos encontrar lâminas mais finas, ou mais bem-feitas. Juro pela minha vida!
— Jura mesmo? — perguntou o ogro.
Ele retirou o falso Guia de Campo de Jared de dentro de um bolso largo.
— E isso aqui. Você também jura por sua vida que esse é o livro que lhe pedi?
O senhor dos anões hesitou.
— Eu... Eu agi conforme suas ordens...
O ogro levantou o livro com uma gargalhada. Jared percebeu que era a mesma risada que o Não-Jared dera no corredor da escola.
Jared engasgou e Mallory o cutucou com força.
— Você foi enganado, senhor dos anões. Não faz mal. Eu tenho O Guia de Campo de Artur Spiderwick — disse Mulgarath. — A última peça que eu precisava para iniciar o meu reinado.
O anão fez uma reverência profunda.
— O senhor é realmente grandioso — disse Korting. — Um mestre valioso.
— Posso ser um mestre de valor, mas não tenho assim tanta certeza a respeito do valor dos meus servos — ele ergueu a mão e todos os goblins pararam de tossir e coçar-se. — Matem todos eles!
Tudo aconteceu tão rapidamente que Jared não pôde acompanhar. Os goblins pareciam formar um só grupo, alguns paravam para apanhar as armas forjadas por anões, mas a maioria partiu para o ataque na base das mordidas e unhadas. Os anões hesitaram, gritaram, e esse momento de pânico e confusão foi suficiente para que os goblins os atacassem.
Eles morderam, agarraram e cortaram até que não sobrasse um único anão de pé. Jared sentiu-se enjoado e tonto. Ele nunca tinha visto uma matança. Ao olhar para baixo, sentiu vontade de vomitar.
— Precisamos detê-los.
— Não podemos fazer isso sozinhos. Olhe só para todos eles — disse Mallory.
Jared olhou para a espada que ainda estava nas mãos de Mallory, a lâmina perfeita brilhando contra o sol nascente. Ela não seria suficiente para enfrentar todos os inimigos.
— Nós temos que contar para a mamãe o que está acontecendo — disse Simon.
— Ela não vai acreditar em nós! — disse Jared. Ele limpou as lágrimas dos olhos com a manga da camiseta e tentou desviar o olhar dos corpos estraçalhados na mina. — E se ela não acreditar em nós?
— Precisamos tentar — disse Mallory.

E assim, com os gritos dos anões ecoando em seus ouvidos, os três irmãos Grace correram de volta para casa.

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