Capítulo 8 – Show Business
Sexta-Feira, 15 de Julho de 1994
Leytonstone
e Isle of Dogs
Emma Morley come bem e bebe com moderação. Dorme oito boas horas
por noite e acorda prontamente e por iniciativa própria pouco antes das 6h30 e
toma um copo grande de água, os primeiros 250 mililitros do 1,5 litro diário,
que despeja da moringa, com copos combinando, que fica numa prateleira banhada
pelo sol fresco matinal perto da cama de casal.
O rádio-relógio segue tiquetaqueando, mas ela se permite continuar
na cama ouvindo as manchetes do noticiário. O líder do Partido Trabalhista,
John Smith, morreu, e a reportagem é sobre o funeral na Abadia de Westminster,
com respeitosas homenagens dos dois partidos ao “melhor primeiro-ministro que
já tivemos”, além de uma discreta especulação sobre quem o substituirá. Mais uma
vez, pensa na possibilidade de se filiar ao Partido Trabalhista, agora que seu
registro na CND já expirou faz algum tempo.
Mais notícias sobre a interminável Copa do Mundo fazem com que
saia da cama. Afasta o edredom de verão, põe seus velhos óculos de aros
grossos, espreme-se pelo estreito corredor entre a cama e as paredes, vai até o
banheiro e abre a porta.
— Um minuto!!
Fecha a porta imediatamente, mas mesmo assim não pode deixar de
ver Ian Whitehead debruçado na privada.
— Por que você não tranca a porta, Ian? — grita em frente ao
banheiro.
— Desculpe!
Emma volta para a cama meio impaciente e ouve a previsão do tempo
para as lavouras. Ao fundo, o som de uma descarga, outra descarga, um som de
buzina que indica que Ian assoa o nariz, depois outra descarga. Afinal ele
aparece na porta, o rosto vermelho e sofrido. Está sem cueca e veste uma
camiseta que mal chega ao quadril. Nenhum homem no mundo ficaria bem num traje
daquele, mas Emma faz um esforço consciente para manter os olhos focados no
rosto. Ian exala lentamente pela boca.
— Puxa. Foi uma experiência e tanto.
— Está se sentindo melhor? — Tira os óculos, só para se garantir.
— Não muito. — Faz uma expressão amuada, as mãos esfregando o
estômago. — Agora estou com dor de barriga. — Ele fala com uma voz lenta, cheia
de dor, e, apesar de achar Ian incrível, alguma coisa na expressão “dor de
barriga” faz com que Emma tenha vontade de bater a porta na cara dele.
— Eu disse que aquele bacon estava estragado, mas você não
acreditou...
— Não foi isso...
— Ah, sim, você acha que bacon não estraga. Que bacon é defumado.
— Acho que é algum vírus...
— É, pode ser essa virose que está circulando por aí. Todo mundo
na escola pegou, talvez eu tenha passado para você.
Ian não nega.
— Eu não dormi a noite toda. Estou me sentindo péssimo.
— Eu sei, querido.
— Diarréia misturada com catarro...
— É uma combinação imbatível. Como música à luz do luar.
— E eu odeio esses resfriados de verão.
— Não é culpa sua — comenta Emma, sentando-se.
— Imagino que seja uma virose gástrica — diz Ian, deliciando-se
com a sonoridade das palavras.
— Soa bem, virose gástrica.
— Estou me sentindo tão... — Punhos cerrados, procura uma palavra
que resuma a injustiça daquilo tudo. — Tão... entupido! Não posso ir trabalhar
desse jeito.
— Então não vá.
— Mas eu tenho que ir.
— Então vá.
— Mas não dá para ir desse jeito, dá? É como se eu tivesse um litro
de muco bem aqui — passa a mão pela testa. — Um litro de catarro puro.
— Bom, eis aí uma imagem que vai me inspirar o resto do dia.
— Desculpe, mas é como eu me sinto. — Espreme-se do seu lado da
cama e entra embaixo do edredom com outro suspiro de agonia.
***
Emma se prepara para levantar. Hoje é um grande dia para Emma
Morley, um dia monumental, e ela poderia passar sem aquilo.
É a noite de estréia da produção do musical Oliver! na
escola onde ensina, em Cromwell Road, e o potencial para um grande desastre é
quase infinito.
É um grande dia para Dexter Mayhew também. Deitado num amontoado
de lençóis úmidos, os olhos arregalados, ele imagina todas as coisas que podem
dar errado. Esta é a noite em que vai aparecer ao vivo em cadeia nacional em
seu próprio programa de TV. Um veículo. É um veículo para os seus talentos, e
de repente ele não sabe ao certo se tem algum talento.
Na noite anterior Dexter foi para a cama cedo, como um garotinho
solitário e sóbrio enquanto ainda era dia claro do lado de fora, com a
esperança de acordar com o rosto fresco e o intelecto afiado esta manhã. Mas
ficou acordado sete das nove horas que passou na cama, e agora sentia-se
exausto e nauseado de ansiedade. O telefone toca, Dexter senta bruscamente e
ouve a própria voz na secretária eletrônica.
— Olá... pode falar! — diz a voz, educada e confiante, fazendo
Dexter pensar: “Idiota. Você precisa mudar essa mensagem.”
A secretária emite um bipe.
— Ah. Tudo bem. Oi. Sou eu. — Sente o alívio familiar ao ouvir a
voz de Emma, e está quase atendendo quando lembra que os dois andaram
discutindo e que ele deveria estar magoado. — Desculpe ligar tão cedo e tudo o
mais, mas alguns têm empregos normais e precisam chegar na hora certa. Só
queria falar sobre a grande noite de hoje. Então, boa sorte. Sério, boa sorte
mesmo. Você vai se sair bem, mais do que bem, você vai estar ótimo. É só vestir
uma roupa bacana e não falar com aquela voz estranha. Sei que está chateado por
eu não poder ir, mas vou estar assistindo pela TV e aplaudindo, como qualquer
outro imbecil...
Agora Dexter está fora da cama, nu, olhando para a secretária.
Pensa se deve ou não atender.
— Não sei a que horas eu vou voltar, você sabe como são essas
peças de escola. Esse negócio maluco que chamamos de espetáculo. Eu ligo mais
tarde. Boa sorte, Dex. Montes de beijos. A propósito, você tem que mudar
a mensagem da sua secretária eletrônica.
Desliga. Dexter pondera se deveria ligar de volta agora mesmo, mas
conclui que em termos táticos deve ficar magoado por mais algum tempo. Os dois
voltaram a discutir. Emma acha que ele não gosta do namorado dela, mas, apesar
de sua enfática negação, não consegue mesmo gostar do tal namorado.
Bem que tentou, tentou mesmo. Os três chegaram a ir juntos a
cinemas, esticando depois em restaurantes baratos e bebendo em algumas
espeluncas, com Dexter olhando nos olhos de Emma com um sorriso de aprovação
enquanto Ian fungava no pescoço dela; sonhos de amor juvenil em meio a canecas
de cerveja. Jogou Trivial Pursuit na minúscula mesa da cozinha do minúsculo
apartamento dela em Earls Court, de modo tão selvagem e competitivo que parecia
uma luta de boxe sem luvas. Chegou a ir junto com outros sujeitos da
Sonicotronics ao The Laughter Lab em Motlake, assistir a uma stand-up de
Ian sobre comportamento e costumes, com Emma sorrindo nervosa ao seu lado e
cutucando seu braço para indicar a hora certa de rir.
Mesmo nesses melhores momentos, sua hostilidade parece tangível, e
também recíproca. Ian aproveita todas as oportunidades para insinuar que Dexter
é uma farsa, que só é famoso por acaso, que é um esnobe, um janota que prefere
andar de táxi a viajar em ônibus noturnos, que frequenta clubes privados e não
bares temáticos, bons restaurantes e não refeições compradas prontas para “viagem”.
E o pior de tudo é que Emma concorda com todas aquelas críticas, com as
lembranças de seus fracassos. Será que não entendem como é difícil se manter
íntegro e com a cabeça no lugar quando tanta coisa acontece com a gente e a
vida é tão intensa e agitada? Quando Dexter quer pagar a conta de um jantar, ou
se oferece para pagar um táxi em vez de tomarem um ônibus, os dois cochicham e
reclamam como se estivessem sendo de alguma forma insultados. Por que as
pessoas não ficam contentes por ele estar sendo tão bom, não agradecem sua generosidade?
Aquela última e torturante noite — uma “noite de vídeo” num sofá decrépito assistindo
a Star Trek: a ira de Khan e tomando cerveja em lata, quando sua calça
da Dries van Noten ficou manchada de molho de manteiga indiana fluorescente —
foi a gota-d’água. Dali em diante, quando se encontrasse com Emma, ela teria de
estar sozinha.
De uma forma irracional, e nada razoável, Dexter sentiu... o quê?
Ciúme? Não, ciúme não, talvez só uma certa mágoa. Sempre imaginou que Emma
estaria por perto, alguém a quem poderia recorrer a qualquer momento, como um
serviço de emergência. Desde o cataclismo da morte de sua mãe no último Natal,
Dexter se viu cada vez mais dependente de Emma, exatamente num momento em que
ela se tornava menos disponível. Ela costumava retornar suas ligações
imediatamente, mas agora se passavam dias sem uma palavra. Tinha “saído com
Ian”, dizia, mas aonde eles vão? O que fazem? Compram móveis juntos? Assistem a
vídeos? Vão a quizz em pubs? Ian já foi apresentado aos pais de
Emma, Jim e Sue. Os dois o adoram, diz Emma. Por que Dexter nunca conheceu Jim
e Sue? Será que eles não iriam gostar dele até um pouco mais?
O mais irritante de tudo é que Emma parece estar se deliciando com
essa recém-adquirida independência de Dexter. É como se ele estivesse
aprendendo uma lição, como se estivesse sendo esbofeteado por aquela alegria
recém-descoberta por Emma.
— Você não pode esperar que as pessoas construam suas vidas em
torno de você, Dexter — ela disse, tripudiando, e eles discutiram de novo, tudo
porque Emma não estaria no estúdio para a transmissão ao vivo do programa dele.
— O que você quer que eu faça, que cancele Oliver! só
porque você vai estar na televisão?
— Você não pode vir depois?
— Não! É longe demais!
— Eu mando um carro!
— Eu preciso falar com as crianças depois, com os pais...
— Por que você?
— Dexter, seja razoável, é o meu trabalho!
Dexter sabe que está sendo egoísta, mas seria bom ver Emma na
platéia. Sente-se uma pessoa melhor quando ela está por perto. E não é para
isso que servem os amigos, para animar e fazer o melhor uns pelos outros? Emma
é o talismã dele, seu amuleto da sorte, mas não vai estar lá, nem a mãe dele, e
se pergunta por que afinal está fazendo aquilo tudo.
Depois de um longo tempo debaixo do chuveiro ele se sente um pouco
melhor. Veste um suéter de caxemira com gola em “v”, leve e bem surrado, sem
camisa por baixo, calça de linho listrada, sem cueca; calça um par de
Birkenstocks e vai até a lojinha de jornais e revistas para ler as notícias da
TV e conferir se sua assessoria de imprensa está fazendo um bom trabalho. O
jornaleiro sorri para seu famoso cliente com uma reverência casual, e Dexter
volta para casa com os braços cheios de jornais. Sente-se melhor agora, ainda
trêmulo, mas um pouco mais animado, e assim que liga a máquina de café expresso
o telefone toca outra vez.
Mesmo antes de a secretária eletrônica atender, algo lhe diz que é
o pai, e prefere não atender. Desde a morte da mãe, as ligações dele se
tornaram mais frequentes e mais aflitivas: gaguejantes, circulares e
distraídas. O pai — um self-made man — agora parece um homem ameaçado
pelas tarefas mais simples. O luto o enfraquecera e em uma das raras visitas à
casa da família, Dexter viu o pai olhando desolado para a chaleira elétrica,
como se fosse parte de uma tecnologia alienígena.
— Olá... pode falar! — diz o idiota na secretária eletrônica.
— Oi, Dexter, aqui é o seu pai — usando sua poderosa voz de
telefone. — Só estou ligando para desejar boa sorte em seu programa na TV hoje
à noite. Estarei assistindo. É uma coisa muito boa. Alison estaria muito
orgulhosa. — Faz-se uma pequena pausa, durante a qual pai e filho percebem que
provavelmente aquilo não era verdade. — É tudo o que eu queria dizer. Só mais
uma coisa: não ligue para o que os jornais dizem. Simplesmente divirta-se.
Tchau. Tchau...
Não ligue para o quê? Dexter pega o telefone.
— ...Tchau!
Mas o pai desligou. Acionou a bomba-relógio e desligou, e Dexter
olha para a pilha de jornais, agora cheios de ameaças. Aperta o cadarço da
calça de linho e folheia as páginas da programação da TV.
***
Quando Emma sai do banheiro, Ian está ao telefone e ela já sabe,
pelo tom afetuoso e brincalhão de sua voz, que está falando com a mãe dela.
Desde que se conheceram em Leeds no Natal, a mãe e o namorado estão tendo uma
espécie de caso de amor limítrofe: “Que delícia de legumes”, “Como esse peru
está suculento”. A afeição entre os dois é elétrica, e tudo o que Emma e o pai
podem fazer é estalar a língua e revirar os olhos.
Espera pacientemente até que Ian se despeça.
— Até a próxima, sra. M. Sim, também espero que sim. É só um
resfriado de verão, vai passar logo. Até a próxima. — Emma pega o fone enquanto
Ian, mortalmente enfermo outra vez, volta para a cama.
A mãe está toda animada.
— Que rapaz adorável. Ele não é mesmo uma graça?
— É, sim, mãe.
— Espero que esteja cuidando bem dele.
— Eu preciso sair para trabalhar, mãe.
— Bem, mas por que foi mesmo que eu liguei? Esqueci completamente.
Ela tinha ligado para falar com Ian.
— Não foi para me desejar boa sorte?
— Boa sorte por quê?
— A peça da escola.
— Ah, sim, boa sorte. Sinto muito não podermos ir até aí assistir.
Mas Londres é tão cara...
Emma finge que a torrada está queimando e encerra a conversa.
Depois vai ver o paciente, que está quase sufocando embaixo do edredom numa
tentativa de “suar a febre”. Parte dela tem uma vaga noção de estar deixando a
desejar como namorada. É um papel novo, e às vezes ela se surpreende como que
plagiando um “comportamento de namorada”: de mãos dadas, abraçada em frente à televisão,
esse tipo de coisa. Ian a ama muito, diz isso o tempo todo, talvez até com uma
frequência exagerada, e Emma acha que também poderia amá-lo, mas isso vai
requerer certa prática. Ela quer tentar realmente, e agora, num gesto
constrangido de solidariedade,
Emma se enrosca com ele na cama.
— Se você achar que não vai conseguir ir ao espetáculo hoje à
noite...
Ian senta-se, alarmado.
— Não! Não, não, não, eu vou de qualquer jeito...
— Eu vou entender...
— Nem que seja de ambulância.
— É só uma peça boba de escola, vai ser até meio constrangedor.
— Emma! — Ela levanta a cabeça para olhar para ele. — É a sua
grande noite! Eu não perderia isso por nada no mundo.
Ela sorri.
— Que bom. Fico contente. — Abaixa-se e o beija de forma
antisséptica, com os lábios fechados, depois pega a bolsa e sai do apartamento,
pronta para o seu grande dia.
***
A manchete diz:
SERÁ QUE ESTE É O HOMEM MAIS DETESTÁVEL DA TELEVISÃO?
...e por um instante Dexter acha que deve haver um engano, porque
embaixo do título eles acidentalmente imprimiram a sua fotografia, e abaixo da
foto está escrita a palavra “Presunçoso”, como se Presunçoso fosse o seu
sobrenome. Dexter Presunçoso.
Continua a leitura, com a pequena xícara de expresso crispada
entre o polegar e o indicador.
Esta noite na TV
Será que existe atualmente na TV alguém mais presunçoso, mais
complacente e espertalhão do que Dexter Mayhew? Um lampejo subliminar de seu
rosto arrogante e bonitinho já faz a gente querer chutar a tela do aparelho. Na
escola tínhamos uma frase para isso: eis aí um homem que realmente pensa que é
o TAL. É estranho, mas alguém no mundo televisivo deve adorá-lo tanto quanto
ele adora a si mesmo, pois, depois de três anos de curtindo todas (você
não odeia essa caixa-baixa? É tão anos 1990), ele agora vai ter seu próprio
programa musical tarde da noite, o Madrugada adentro. Então...
Dexter deveria parar de ler por aqui, fechar o jornal e seguir em
frente, mas sua visão periférica já captou mais uma ou duas palavras. “Inépcia”
é uma delas. Continua lendo...
Então, se você quiser ver um garoto que estudou em escola
particular cara tentando ser um novo homem, enrolando a língua e flertando com
a moçaaada, tentando parecer maneiro com os garotos sem saber que estão rindo
da cara dele, chegou a sua vez. E ainda por cima é ao vivo, o que pode até
proporcionar algum prazer em conferir sua famosa inépcia como entrevistador, ou,
se preferir, pode fazer uma marca no rosto com um ferro de passar regulado para
“linho”. A co-apresentadora é a “efervescente” Suki Meadows, com música de Shed
Seven, Echobelly e The Lemonheads. Só não diga que não avisei.
Dexter guarda uma caixa de recortes de jornal no fundo de um
armário, uma caixa de sapatos da Patrick Cox, mas resolve deixar aquele de
lado. Com muito barulho e fazendo muita bagunça, prepara outro expresso.
“Isso é que é síndrome da conversa fiada, uma doença britânica”,
pensa Dexter. “Um pouco de sucesso e eles já querem derrubar a gente, mas eu
não ligo, eu gosto do meu trabalho e sou muito bom no que faço. E é muito mais
difícil do que as pessoas imaginam, é preciso ter colhões de aço para ser um
apresentador de TV, e uma cabeça que pense rápido de qualquer jeito, e, além do
mais, não se pode levar as críticas para o lado pessoal. Quem precisa de um
crítico? Ninguém acorda um dia e resolve ser crítico; por isso prefiro estar lá
fazendo as coisas e dando a cara a tapa a ser um eunuco odioso qualquer para
ganhar doze mil por ano. Ninguém nunca fez uma estátua para um crítico. Eu vou
mostrar para eles, vou mostrar para todos eles.”
Variações desse monólogo passam pela cabeça de Dexter ao longo de
todo o seu grande dia: em seu percurso até o escritório da produção, no trajeto
com motorista na limusine até o estúdio na Isle of Dogs, durante o ensaio do
guarda-roupa à tarde, na reunião da produção, nas sessões com o cabeleireiro e
o maquiador, até o momento de ficar sozinho em seu camarim e finalmente poder
abrir a mala, retirar a garrafa que tinha guardado lá de manhã, servir um copo
grande de vodca, completar com suco de laranja morno e começar a beber.
***
— Porrada, porrada, porrada, porrada, porrada...
Quarenta e cinco minutos antes de abrir as cortinas, aquele canto
de guerra pode ser ouvido por todo o quarteirão.
— Porrada, porrada, porrada...
Andando apressada pelo corredor, Emma vê a professora Grainger
cambaleando na saída do camarim como se estivesse fugindo de um incêndio.
— Eu tentei fazer com que parassem, mas eles não me atendem.
— Obrigada, professora Grainger, eu vou cuidar disso.
— Devo chamar o senhor Godalming?
— Não é necessário, eu cuido de tudo. Pode ir ensaiando a banda.
— Eu disse que isso ia dar problemas. — Sai andando depressa, a
mão no peito. — Avisei que não ia dar certo.
Emma respira fundo, entra e vê a multidão, trinta adolescentes
usando cartolas, saias armadas e barbas postiças eriçadas, gritando e
gesticulando enquanto Raposa Esperta apoia os joelhos nos braços de Oliver
Twist e pressiona seu rosto contra o chão empoeirado.
— O que está ACONTECENDO aqui, pessoal?
A multidão vitoriana olha para ela.
— Tira essa garota de cima de mim, professora — geme Oliver contra
o linóleo.
— Eles estão brigando, professora — diz Samir Chaudhari, de doze
anos, com costeletas de algodão.
— Eu já percebi, Samir, muito obrigada — e se mete entre a
multidão para separar os dois. Sonya Richards, a garota negra magricela que faz
o papel do Raposa, ainda está com os dedos enfiados nas madeixas louras
desgrenhadas do cabelo de Oliver. Emma a segura pelos ombros e olha em seus
olhos.
— Pode soltar, Sonya. Agora pode soltar, certo? Tudo bem? —
Finalmente Sonya desiste e dá um passo atrás, os olhos úmidos agora que a raiva
diminuiu, substituída por seu orgulho ferido.
Martin Dawson, o órfão Oliver, está atônito. Encorpado, com um
1,50 de altura, chega a ser mais alto que o senhor Bumble, e ainda assim o
corpulento andarilho está quase chorando.
— Foi ela que começou! — exclama entre o grave e o esganiçado,
limpando com a palma da mão o rosto manchado.
— Já chega, Martin.
— É, cala a boca, Dawson...
— Eu falei para parar, Sonya. Chega! — Agora Emma está no centro
do círculo, segurando os adversários pelos cotovelos como um árbitro de luta de
boxe, e percebe que se quiser salvar o espetáculo deverá improvisar um discurso
motivador, um dos muitos momentos que moldam a carreira de Henrique V.
— Olhem só para vocês mesmos! Vejam como todos estão bonitos
nesses trajes! Vejam o pequeno Samir aqui, com essas costeletas enormes! — A
turma dá risada e Samir faz o seu papel, cofiando os pelos postiços. — Os seus
pais e os seus amigos lá fora vão assistir a uma grande peça teatral, uma
verdadeira performance. Ou pelo menos eu pensei que iam. — Cruza os braços, dá
um suspiro.
— Porque acho que vamos ter de cancelar o espetáculo...
Emma está blefando, claro, mas o resultado é perfeito, um grande
gemido de protesto comunitário.
— Mas nós não fizemos nada, professora! — protesta Fagin.
— Então quem estava gritando “porrada, porrada, porrada”, Rodney?
— É que ela ficou completamente louca, professora — gorjeia Martin
Dawson, e Sonya volta a ameaçar avançar contra ele.
— Ei, Oliver, você quer mais?
Todos dão risada, mas Emma tira o velho trunfo da manga contra as
adversidades.
— Chega! Vocês são uma companhia teatral, não uma gentinha! Devo
avisar que tem gente lá fora esta noite que acha que vocês não vão conseguir
fazer esse espetáculo! Eles acham que vocês não têm competência, que tudo isso
é complicado demais para vocês.
“Afinal, trata-se de um Charles Dickens, Emma!”, eles alertam,
“esses garotos não são tão inteligentes assim, não têm disciplina para trabalhar
em equipe, não estão à altura de Oliver! Arranje algo mais fácil para
eles”.
— Quem disse isso, professora? — pergunta Samir, pronto para dar a
partida nos motores.
— Não faz diferença quem disse o quê, é o que eles pensam. E
talvez tenham razão! Talvez seja melhor cancelar tudo! — Por um instante se
pergunta se não está exigindo demais, mas é difícil superestimar o apetite dos
adolescentes para o dramático, e de repente todos estão gemendo e protestando,
agitando seus gorros e cartolas. Mesmo se souberem que Emma está blefando, eles
estão se deliciando com o risco. Faz uma pausa para aumentar o efeito. — Agora,
Sonya, Martin e eu vamos ter uma conversinha, e quero que vocês continuem se
preparando, que fiquem tranquilos e pensem nos seus papéis, depois decidimos o
que vamos fazer. Tudo bem? Perguntei se está tudo bem.
— Sim, professora!
O camarim fica em silêncio enquanto ela sai com os dois
adversários, mas explode num grande alarido quando a porta se fecha.
Emma conduz Oliver e o Raposa pelo corredor, passando pelo ginásio
onde a senhora Graiger rege a banda num “Consider Yourself” tremendamente
dissonante, e ela mais uma vez se pergunta onde está se metendo.
Emma fala primeiro com Sonya.
— Então, o que aconteceu?
A luz noturna permeia as grandes janelas reforçadas do salão
enquanto Sonya olha em direção ao departamento de ciências lá fora, fingindo
indiferença.
— Eu só quero conversar um pouco com vocês, só isso.
Sonya está sentada na beira de uma carteira, balançando as longas
pernas cobertas por calças velhas intencionalmente esfarrapadas, apliques de
papel-alumínio enfeitando os tênis pretos. Com uma das mãos belisca a cicatriz
de sua vacina BCG, o rosto pequeno, severo e bonito crispado como um punho,
como se alertasse Emma para não tentar nenhuma bobagem do tipo salvar o mundo.
Os outros garotos têm medo de Sonya Richards, e até Emma às vezes sente-se um
pouco apreensiva. É o olhar direto, a expressão de fúria.
— Eu não vou pedir desculpas — declara.
— Por que não? E, por favor, não diga que “foi ele que começou”.
O rosto dela assume uma expressão indignada.
— Mas foi ele que começou!
— Sonya!
— É que ele disse... — e não fala mais nada.
— O que ele disse? Sonya?
Sonya faz um cálculo, pesando a desonra de contar a história e seu
sentimento de injustiça.
— Ele disse que só estou fazendo esse papel porque não preciso
representar, pois sou uma caipira de verdade na vida real.
— Uma caipira.
— É.
— Foi isso que o Martin disse?
— Foi isso mesmo, daí eu bati nele.
— Bem... — Emma suspira e olha para o chão. — Em primeiro lugar,
não importa o que digam, você não pode sair por aí batendo nos outros. — Sonya
Richards é o seu projeto particular. Emma sabe que não deveria ter projetos
particulares, mas Sonya é tão inteligente, talvez a mais inteligente da turma,
mas é também muito agressiva, uma figurinha que irradia ressentimento e orgulho
ferido.
— Ele é muito babaca, professora!
— Sonya, por favor, não comece! — adverte Emma, embora em parte
ache que Sonya tem uma certa razão a respeito de Martin Dawson. O garoto trata
os outros alunos, os professores e todo o sistema educacional como se ele fosse
um missionário fazendo o favor de estar entre eles. Na noite anterior, durante
o ensaio geral, tinha chorado lágrimas verdadeiras na execução de “Where is Love?”,
esganiçando as notas agudas como se estivesse expelindo pedras dos rins, e Emma
teve vontade de subir no palco, espalmar uma das mãos na cara dele e empurrá-lo
para trás. Chamar a garota de caipira cabia perfeitamente no caráter de Martin,
mas ainda assim...
— Se foi o que ele disse...
— Foi, professora...
— Vou conversar com ele e averiguar, mas, se Martin disse isso
mesmo, só mostra o quanto ele é ignorante, e como você é ousada por ter
reagido. — Emma tropeça no termo “ousada”, uma palavra meio pedante. “Rua, seja
mais rua”, diz para si mesma. — Escuta, se nós não conseguirmos resolver
esse... desentendimento, acho que não dá para fazer o espetáculo.
A expressão de Sonya se fecha outra vez, Emma chega a pensar que
ela poderia começar a chorar.
— A senhora não faria isso.
— Talvez eu precise fazer.
— Professora!
— Não dá para fazer o espetáculo desse jeito, Sonya.
— Claro que dá!
— Como? E se você começar a estapear o Martin no meio de “Who Will
Buy”? — Sonya dá risada, mesmo sem querer. — Você é esperta, Sonya, muito
inteligente, mas as pessoas põem essas armadilhas no seu caminho e você cai
direitinho nelas. — Sonya dá um suspiro, estabiliza a expressão e olha para o
pequeno retângulo de grama perto do departamento de ciências. — Você está indo
tão bem, não só na peça, mas também nas aulas. O seu trabalho desse semestre
está ótimo, sensato e reflexivo. — Sem saber como lidar com aquele elogio,
Sonya funga e faz uma careta. — Você pode se sair melhor ainda no próximo
semestre, mas precisa controlar esse gênio, Sonya, precisa mostrar às outras
pessoas que você é melhor do que isso. — Mais um discurso. Às vezes Emma acha
que gasta energia demais fazendo esse tipo de discurso. Tinha a esperança de
poder servir como inspiração, mas o olhar de Sonya agora passa por cima do
ombro dela e aponta na direção da porta da sala. — Sonya, você está me ouvindo?
— O Barba chegou.
Emma se vira e vê um rosto coberto de pelos escuros perto da
porta, espiando de longe como um urso curioso.
— Não chame o senhor Godalming de Barba. Ele é o diretor — Emma
repreende Sonya, antes de fazer sinal para ele se aproximar.
Mas é verdade: a primeira e a segunda palavras que passam pela sua
cabeça sempre que vê o senhor Godalming são “barba”. Tratase de uma daquelas
barbas assustadoras, que cobrem o rosto inteiro: não muito cerrada, aparada
rente e bem-cuidada, mas muito, muito preta, como a de um conquistador das
Américas, os olhos azuis aparecendo como buracos num tapete. Por isso ele é o
Barba.
Quando ele se aproxima, Sonya começa a coçar o queixo e Emma
arregala os olhos num sinal de alerta.
— Boa noite a todos — diz, com a voz animada de quem já encerrou o
expediente. — Como vão as coisas? Está tudo bem, Sonya?
— Um pouco cabeludas, senhor, mas acho que vai dar tudo certo —
responde.
Emma solta a respiração com um ruído e o senhor Godalming vira-se
para ela.
— Está tudo bem, Emma?
— Eu e Sonya estamos tendo uma pequena conversa antes do
espetáculo. Você quer continuar os preparativos, Sonya? — Sonya sorri aliviada,
pula da carteira e saracoteia em direção à porta. — Diga a Martin que estou
indo em dois minutos.
Emma e o senhor Godalming ficam sozinhos.
— Então! — ele sorri.
— Então.
Num arroubo de informalidade, o senhor Godalming começa a se
sentar ao contrário numa cadeira, como um diretor de cinema.
Ainda tenta mudar de ideia no meio do ato, mas logo percebe que
não há como voltar atrás.
— Meio problemática essa Sonya.
— Ah, foi só um rompante.
— Ouvi relatos de uma briga.
— Não foi nada. É a tensão da pré-estréia.
Com as pernas abertas ao redor do encosto da cadeira, ele parece
extremamente desconfortável.
— Ouvi dizer que sua protegida andou atacando o nosso futuro
líder.
— Coisas da idade. E não acho que Martin é tão inocente.
— Agredido por uma pequena fera, foi a frase que ouvi.
— O senhor parece muito bem-informado.
— Bem, eu sou o diretor. — O senhor Godalming sorri atrás de sua
touca estilo esquiador enquanto Emma se pergunta se seria possível ver o cabelo
crescer se alguém ficar observando com bastante atenção. O que haveria debaixo de
tudo aquilo? Será que o senhor Godalming era bonito? Ele faz um sinal com a
cabeça em direção à porta. — Eu vi Martin no corredor. Ele está muito... emocionado.
— É que ele está encarnando o personagem há seis semanas. É um
método de interpretação. Acho que, se pudesse, teria até ficado raquítico.
— E ele é bom nisso?
— Não, meu Deus, ele é péssimo. O lugar mais indicado para ele
seria um orfanato. Fique à vontade para tapar os ouvidos com o programa durante
“Where Is Love?”. — O senhor Godalming sorri. — Mas Sonya é ótima. — O diretor
não parece convencido.
— O senhor vai ver.
Ele se mexe na cadeira, desconfortável.
— E o que podemos esperar desta noite, Emma?
— Não faço ideia. Pode acontecer qualquer coisa.
— Eu, particularmente, preferia Sweet Charity. Refresque
minha memória, por que nós não montamos Sweet Charity?
— Bem, é um musical sobre prostituição...
O senhor Godalming ri mais uma vez. Ele costuma rir muito com
Emma, os outros também perceberam. Fofocas correm pela sala dos professores,
cochichos sobre favoritismos, e sem dúvida ele está olhando-a com muito
interesse esta noite. Passa-se um momento e Emma olha outra vez para a porta,
onde Martin Dawson espia lacrimoso pela janela de vidro.
— É melhor eu dar uma palavrinha com a Edith Piaf lá fora, antes
que ele saia dos trilhos.
— É claro, é claro. — O senhor Godalming parece satisfeito ao
desmontar da cadeira. — Boa sorte esta noite. Eu e minha esposa aguardamos com
muito interesse essa peça a semana toda.
— Duvido.
— É verdade! Você vai conhecer Fiona depois do espetáculo. Quem
sabe a gente pode tomar alguma coisa com o seu... noivo?
— Puxa, não, é só namorado. Ian...
— Nos vemos no coquetel depois do espetáculo...
— Com jarras de suco de laranja diluído...
— A comida foi comprada fora...
— Ouvi dizer que vai ter nuggets de frango à Kiev...
— É bom ser professor, não é...?
— E as pessoas ainda dizem que a nossa profissão não tem
glamour...
— Aliás, você está muito bonita, Emma.
Emma deixa os braços caírem pela lateral do corpo. Está maquiada,
usando um pouco de batom para combinar com o antigo vestido púrpura estampado,
talvez um pouco justo demais. Olha para baixo como se surpreendesse com o
vestido, mas na verdade foi o comentário que a pegou de surpresa.
— Muito obrigada! — responde, mas ele notou sua hesitação.
Passa-se um momento e ele olha para a porta.
— Vou mandar Martin entrar, tudo bem?
— Por favor.
Começa a andar em direção à porta, mas logo para e se vira.
— Desculpe, será que quebrei algum tipo de protocolo profissional?
Posso dizer isso a um membro da minha equipe? Que ele está bem?
— Claro que pode — responde Emma, mas os dois sabem que a palavra
que ele usou não foi “bem”. A palavra foi “bonita”.
***
— Com licença, estou procurando o homem mais detestável da
televisão? — diz Toby Moray da porta, naquela voz chorosa e em falsete bem
característica. Veste um terno xadrez e já está maquiado para as câmeras, o
cabelo liso e oleoso penteado num topete, e
Dexter tem vontade de atirar uma garrafa nele.
— Acho que vai descobrir que está procurando a si mesmo, não a mim
— retruca Dexter, subitamente incapaz de um discurso conciso.
— Bem-vindo, super-astro — diz seu colega de palco. — Então, você
leu as críticas?
— Não.
— Eu posso te mostrar algumas fotocópias...
— É apenas uma crítica negativa, Toby.
— Então você não leu o Mirror. Nem o Express, nem The
Times...
Dexter finge estar estudando o roteiro.
— Ninguém nunca construiu uma estátua em homenagem a um crítico.
— É verdade, mas ninguém nunca construiu uma estátua em homenagem
a um apresentador de TV também.
— Vai se foder, Toby.
— Ah, le mot juste!
— Afinal o que você está fazendo aqui?
— Vim desejar boa sorte. — Atravessa a sala e põe as mãos nos
ombros de Dexter. Rotundo e indelicado, o papel de Toby no programa é o de um
bobo da corte irreverente e desbocado. Dexter despreza aquele homenzinho
saltitante e caloroso, mas também o inveja. No programa piloto e nos ensaios,
Toby tocou campainhas ao redor de Dexter, zombando e caçoando dele com muita malícia,
fazendo com que se sentisse com a língua presa, lento, pateta, um garotão
bonito incapaz de pensar. Dexter afasta as mãos de Toby. Dizem que esse tipo de
antagonismo é a essência da grande televisão, mas Dexter se sente paranoico,
perseguido. Precisa de outra vodca para recuperar o bom humor, mas agora não
dá, não enquanto Toby o estiver observando no espelho com sua carinha de
coruja.
— Se não se incomoda, eu gostaria de meditar um pouco.
— Entendo. Manter essa sua mente em foco.
— A gente se vê lá fora, tá?
— É isso aí, bonitão. Boa sorte. — Bate a porta, mas logo a abre
de novo. — É verdade. Sério. Boa sorte.
Quando tem certeza de que está só, Dexter serve outra dose e se
olha no espelho. Camiseta vermelha brilhante por baixo de um paletó de smoking,
calça jeans desbotada e sapatos pretos de bico fino, o cabelo cortado curto e
meio espetado, Dexter quer passar a imagem de um jovem macho cosmopolita, mas
de repente se sente velho e muito cansado, com uma tristeza inacreditável.
Pressiona dois dedos em cada olho e tenta entender aquela melancolia
paralisante, mas não consegue pensar direito. É como se alguém tivesse chacoalhado
sua cabeça. As palavras estão virando mingau, e Dexter não consegue enxergar
uma forma plausível de superar aquele estado. “Não desmorone”, diz a si mesmo,
“não aqui, não agora. Segure essa barra”.
No entanto, uma hora é tempo demais para apresentar um programa ao
vivo na TV, por isso decide que talvez precise de uma força. Esvazia a
garrafinha de água do camarim na pia e em seguida, de olho na porta, tira a
garrafa de vodca da gaveta e despeja sete... não, nove centímetros do líquido
viscoso na garrafa de plástico e tampa de novo. Observa o líquido contra a luz.
Ninguém poderia notar a diferença, e é claro que ele não vai beber tudo, mas
aquilo vai estar lá, na mão dele, para ajudar a passar por aquela situação.
Todo esse preparativo faz com que se sinta animado e confiante outra vez,
pronto para mostrar à plateia, a Emma e ao pai em casa o que é capaz de fazer.
Que não é um simples apresentador. É um comunicador.
A porta se abre.
— UHU! — diz Suki Meadows, a garota que vai apresentar o programa
com ele. Suki é a namoradinha ideal do país, uma mulher para quem ser
efervescente é uma forma de vida, no limite da doença. Suki seria capaz de
começar uma carta de pêsames com a palavra “UHU!” e Dexter poderia considerar
essa incansável exuberância um tanto cansativa se ela não fosse tão atraente,
popular e tão louca por ele.
— COMO VAI, MEU QUERIDO? SE CAGANDO DE MEDO, IMAGINO! — e esse é o
outro grande talento de Suki como apresentadora de TV, manter toda comunicação
como se estivesse se dirigindo ao público de alguma colônia de férias de uma
praia de veraneio bem popular.
— É, confesso que estou um pouco nervoso, sim.
— ÓÓÓÓÓ! VEM CÁ! — Abraça a cabeça dele como se fosse uma bola de
futebol. Suki Meadows é bonita, no estilo que se costumava chamar de mignon,
crepitante e efervescente como um aquecedor elétrico jogado numa banheira. Há
algum tempo paira no ar certo flerte entre os dois, se é que se pode chamar de
flerte, com Suki apertando o rosto dele contra o peito daquele jeito. Como ambos
são ícones juvenis, tem havido alguma pressão para que as duas estrelas fiquem
juntas, o que faz algum sentido do ponto de vista profissional, se não do
emocional. Suki espreme a cabeça dele debaixo do braço. — VOCÊ VAI ARREBENTAR!
— Segura Dexter pelas orelhas e puxa o rosto dele na sua direção. — ESCUTE O
QUE ESTOU FALANDO. VOCÊ É LINDO, SABE DISSO, E NÓS VAMOS FORMAR UMA GRANDE
DUPLA, EU E VOCÊ. MINHA MÃE VEIO ME VER E QUER TE CONHECER DEPOIS. CÁ ENTRE
NÓS, ACHO QUE ELA ESTÁ A FIM DE VOCÊ. EU ESTOU A FIM DE VOCÊ, ENTÃO ACHO QUE
ELA TAMBÉM ESTÁ. MINHA MÃE QUER O SEU AUTÓGRAFO, MAS VOCÊ PRECISA ME PROMETER
QUE NÃO VAI TRANSAR COM ELA!
— Vou fazer o possível, Suki.
— TEM ALGUM PARENTE SEU NA PLATEIA?
— Não...
— ALGUM AMIGO?
— Não...
— O QUE VOCÊ ACHA DA MINHA ROUPA? — Está usando uma blusa tomara
que caia e uma saia minúscula, segurando a indefectível garrafa de água na mão.
— DÁ PARA VER MEUS MAMILOS?
Será que isso é um flerte? Dexter corresponde automaticamente:
— Só se a gente estiver procurando — diz com um sorriso hesitante,
e Suki sente alguma coisa. Segura as mãos dele ao lado do corpo e grita
baixinho: — QUAL É O PROBLEMA, QUERIDO?
Dexter dá de ombros.
— Toby esteve aqui, me provocando...
Antes de terminar a frase, Suki ergue o corpo dele e o abraça pela
cintura, as mãos puxando o elástico da cueca em sinal de solidariedade.
— IGNORE ESSE CARA, ISSO É INVEJA POR VOCÊ SER MELHOR DO QUE ELE.
— Olha para Dexter, o queixo cutucando seu peito. — VOCÊ TEM UM TALENTO INATO,
VOCÊ SABE DISSO.
O diretor de cena aparece na porta.
— Tudo pronto, gente.
— NÓS SOMOS ÓTIMOS JUNTOS, NÃO SOMOS, EU E VOCÊ? SUKI E DEX, DEX E
SUKI? NÓS VAMOS ARRASAR. — De repente ela o beija uma vez, muito forte, como se
carimbasse um documento. — MAIS TARDE TEM MAIS, GAROTO DE OURO — fala no ouvido
dele, pegando a garrafa de água e tomando o rumo do estúdio.
Dexter faz uma pausa para olhar seu reflexo no espelho. Garoto
de Ouro. Dá um suspiro, aperta o crânio com os dez dedos e tenta não pensar
na mãe. “Fique firme, não vá estragar tudo. Seja bom. Faça algo de bom.” Abre o
sorriso que guarda especialmente para a televisão, pega a garrafa de água
batizada e sai em direção ao estúdio.
Suki está esperando na extremidade do imenso cenário, segura na
mão dele e aperta. A equipe está zanzando pelo palco, dando-lhe tapinhas
solidários no ombro ou soquinhos no braço ao passar perto de Dexter, enquanto
lá em cima dançarinas exóticas de biquíni e botas de caubói esticam as pernas
em suas gaiolas exóticas. Toby Moray está aquecendo a plateia, aliás arrancando
boas risadas, e de repente apresenta a dupla: música, por favor, para os
anfitriões desta noite, Suki Meadows e Dexter Mayhew!
Dexter não quer se mover. A música martela nos alto-falantes:
“Start the Dance”, com The Prodigy. Quer continuar ali na coxia, mas Suki está
puxando a mão dele, e de repente ela está sob as luzes brilhantes do palco,
bradando:
— ÉISSOAÍÍÍÍÍ!
Dexter a acompanha, a metade mais cosmopolita e delicada da dupla
de apresentadores. Como sempre o palco contém um monte de andaimes, e os dois
precisam subir rampas para se situar acima da plateia, com Suki tagarelando o
tempo todo:
— OLHEM QUE MARAVILHA, VOCÊS SÃO LINDOS! ESTÃO PRONTOS PARA SE
DIVERTIR? FAÇAM ALGUM
BARULHO! — Dexter fica em silêncio ao lado de Suki na passarela, o
microfone inerte na mão, e percebe que está bêbado. Sua grande oportunidade em
rede nacional ao vivo e ele está encharcado de vodca, embriagado. A passarela
parece alta demais, bem mais alta do que nos ensaios, e Dexter só quer deitar,
mas se fizer isso existe a possibilidade de dois milhões de pessoas perceberem,
por isso resolve assumir seu papel e dispara:
— Olátodomundovocêstãonumaboa?
Uma voz masculina, nítida e solitária, chega até a passarela:
— Babaca!
Dexter procura o intrometido, um bobão magricela e sorridente, com
o cabelo ao estilo da banda Wonder Stuff, mas todos riem muito da piada. Até os
câmeras estão rindo.
— Senhoras e senhores, esse é o meu agente — replica Dexter, e a platéia
acha graça, mas só isso. Eles devem ter lido os jornais.
Será esse o homem mais detestável da televisão? “Meu Deus, é
verdade”, pensa. “Eles me odeiam.”
— Atenção, um minuto — grita o diretor de cena, e Dexter de
repente percebe que está em pé num andaime. Observa a multidão em busca de um
rosto amigo, mas não encontra nenhum, e mais uma vez deseja que Emma estivesse
ali. Ele poderia se mostrar para Emma, dar o melhor de si se Emma ou a mãe
estivessem ali, mas elas não estão, só aquela platéia sarcástica e desconfiada,
composta de gente muito, muito mais jovem que ele. Precisa tirar um pouco de
força de algum lugar, uma certa atitude e, com a lógica ágil de um bêbado,
decide que o álcool pode ajudar; por que não? Já está no prejuízo mesmo. As
dançarinas estão em posição nas gaiolas, as câmeras deslizam para seus lugares.
Dexter desatarraxa a tampa de sua garrafa ilícita, dá um gole e faz uma careta.
Água. A garrafa de água contém água. Alguém substituiu a vodca de sua garrafa
de água por...
Suki está com a garrafa dele.
Trinta segundos para entrar no ar. Suki pegou a garrafa errada.
Está com ela na mão, um pequeno acessório sofisticado.
Vinte segundos para ir ao ar. Suki está abrindo a tampa da
garrafa.
— Onde você pegou essa garrafa? — grita Dexter.
— ESTÁ TUDO BEM, NÃO É? — Ela pula na ponta dos pés como um
pugilista.
— Eu peguei sua garrafa por engano.
— E DAÍ? É SÓ LIMPAR O GARGALO!
Dez segundos para entrar no ar. A plateia começa a urrar com
entusiasmo, as dançarinas seguram-se nas barras das gaiolas e começam a girar.
Suki leva a garrafa aos lábios.
Sete, seis, cinco...
Dexter tenta pegar a garrafa, mas Suki empurra a mão dele, dando
risada.
— SEM ESSA, DEXTER, VOCÊ TEM A SUA!
Quatro, três, dois...
— Mas isso não é água — diz Dexter.
Suki dá um gole.
Rolam os títulos.
E de repente Suki está tossindo, engasgada, o rosto vermelho. As
guitarras irrompem pelos alto-falantes, soam os tambores, dançarinas se agitam
e uma câmera presa a um trilho desce do teto como uma ave de rapina planando
sobre a plateia em direção aos apresentadores, dando aos telespectadores em
casa a impressão de que trezentos jovens estão aplaudindo uma mulher bonita em cima
de um andaime.
A música para e o único som que se ouve é o de Suki tossindo.
Dexter está imóvel, seco, paralisado no ar e trombando bêbado com seu próprio
veículo. O avião está caindo, o chão cresce em sua direção.
— Diga alguma coisa, Dexter — fala uma voz no fone de ouvido. —
Alô? Dexter? Diga alguma coisa? — mas o cérebro dele não funciona, a boca não
funciona e ele não consegue se mover, totalmente entorpecido. Os segundos se
esticam.
Graças a Deus, Suki, uma verdadeira profissional, limpa a boca com
as costas da mão.
— ISSO AÍ, GENTE! ISSO É PROVA DE QUE ESTAMOS MESMO AO VIVO! — e a
plateia ruge em risadas e animação. — ESTÁ TUDO INDO MUITO BEM ATÉ AGORA, NÃO
É, DEX? — Cutuca as costelas dele com um dedo e ele volta à vida.
— Desculpem a Suki aqui... — diz. — É que a garrafa está com
vodca! — e faz o tradicional gesto cômico com o pulso que sugere alguém que
bebe escondido. As risadas aumentam e ele se sente melhor.
Suki também ri, dá uma cotovelada nele, ergue um punho, diz:
— Vejam vocês... — Ela imita o estilo dos Três Patetas, e só
Dexter percebe o lampejo de desprezo por trás daquela efervescência antes de
partir para a segurança do roteiro ensaiado.
— Sejam bem-vindos ao Madrugada adentro, eu sou Dexter
Mayhew...
— ...E EU SOU SUKI MEADOWS!
E os dois estão de volta aos trilhos, apresentando a grande festa
de música e humor de sexta-feira, sedutores e atraentes como os dois jovens
mais antenados da escola.
— Agora chega de abobrinha, vamos fazer um pouco de barulho, por
favor... — Dexter estende o braço para trás como um mestre de picadeiro — ...e
dar as boas-vindas do Madrugada adentro à banda Shed Seven!
A câmera se afasta como se tivesse perdido o interesse por eles, e
agora as vozes da galeria tagarelam na cabeça dele, por cima do som da banda.
— Está tudo bem aí, Suki? — pergunta o produtor. Dexter olha para
Suki com uma expressão suplicante. Suki devolve o olhar, os olhos apertados.
Poderia responder: Dexter é um alcoólatra, está bêbado, o cara está péssimo, é
um amador, não se pode confiar nele.
— Tudo bem — responde. — Eu engasguei, só isso.
— Vamos mandar alguém arrumar a sua maquiagem. Dois minutos,
gente. E, Dexter, segura a barra aí, tá?
“Sim, segurar a barra”, diz a si mesmo, mas os monitores informam
que ainda faltam cinquenta e seis minutos e vinte e dois segundos para o
programa terminar, e Dexter realmente não sabe se vai conseguir chegar até o
fim.
***
Aplausos! Aplausos como Emma nunca ouviu antes, ecoando pelas
paredes do ginásio. Sim, a banda estava em sustenido e os cantores em bemol,
claro que houve alguns problemas técnicos com acessórios que faltaram e
cenários que desmoronaram, e claro que seria difícil imaginar uma platéia mais
receptiva, mas ainda assim é um triunfo. A morte de Nancy faz até o professor
de química, o senhor Routledge, chorar, e a perseguição em cima dos telhados de
Londres, com o elenco em silhueta, é um coup de théâtre sensacional, que
provoca o mesmo tipo de sustos e reações que em geral se manifestam em
espetáculos de fogos de artifício. Sonya brilhou, como previsto, deixando
Martin Dawson rangendo os dentes ao perceber que ela recebe os aplausos mais
prolongados.
Houve ovações e pedidos de bis, agora a platéia bate nas cadeiras
e sobe nos aparelhos e Emma é arrastada para o palco por Sonya, que está
chorando, realmente chorando, agarrando a mão de Emma e dizendo parabéns,
professora, incrível, incrível. Uma produção escolar pode ser considerada o
menor triunfo que se pode imaginar, mas o coração de Emma está pulsando no
peito e ela não consegue parar de sorrir enquanto a banda executa uma
desafinada “Consider Yourself” e ela dá as mãos aos garotos de catorze anos de
idade e faz outra reverência. Sente o prazer de ter feito algo benfeito, e pela
primeira vez em dez semanas não quer mais dar um chute em Lionel Bart, o
compositor das músicas de Oliver!.
No coquetel depois do espetáculo, os refrigerantes circulam como
vinho, mas há também cinco garrafas de espumante para serem divididas entre os
adultos. Num canto do ginásio, com um prato de nuggets e um copo de plástico
com comprimidos antigripais que trouxe para a festa, Ian sorri e espera
pacientemente que Emma receba os elogios.
— Tão bom que poderia estar nos teatros! — alguém diz com certo
exagero, e Emma nem se importa quando Rodney Chance, o Fagin da peça,
embriagado de refrigerante batizado com álcool, diz que Emma “até que está em
forma para uma professora”.
O senhor Godalming (“por favor, me chame de Phil”) dá os parabéns
enquanto Fiona, de bochechas coradas como a esposa de um fazendeiro, olha ao
redor, entediada e de mau humor.
— Em setembro precisamos conversar sobre o seu futuro aqui — diz
Phil, abaixando-se para lhe dar um beijo de despedida, fazendo com que alguns
garotos e parte da equipe emitam um “hummmm”.
Diferentemente da maioria das festas artísticas, a comemoração
termina às 21h45, e, em vez de subirem numa limusine, Emma e Ian pegam o 55 e o
19 e embarcam no metrô na Piccadilly Line para casa.
— Estou muito orgulhoso de você... — diz Ian, a cabeça recostada
na dela —, mas acho que isso acabou com os meus pulmões.
Assim que entra em casa, Emma sente o cheiro de flores. Um enorme
buquê de rosas vermelhas sobressai numa caçarola na mesa da cozinha.
— Meu Deus, Ian, que lindas!
— Não fui eu — murmura Ian.
— Oh. Quem foi então?
— O Garoto de Ouro, imagino. Chegaram hoje de manhã. Um exagero
total, se quer saber. Eu vou tomar um banho quente, ver se melhoro um pouco.
Emma tira o casaco e abre o pequeno cartão. “Desculpe ter ficado
amuado. Espero que dê tudo certo esta noite. Muitos beijos. Dx.” Só isso. Ela
lê o cartão duas vezes, olha para o relógio e corre para ligar a TV e assistir
à grande estréia de Dexter.
Quarenta e cinco minutos depois, quando rolam os créditos finais,
Emma franze o cenho e tenta entender o que acabou de ver. Ela não entende muito
de televisão, mas tem certeza de que Dexter não brilhou. Parecia trêmulo, às
vezes até intimidado. Trocando falas, olhando para a câmera errada, parecia
quase um inepto amador. Como se sentissem sua insegurança, as pessoas que
entrevistou — o rapper de plantão, os quatro jovens metidos dos
Mancunians — responderam às perguntas com sarcasmo e desdém. A platéia também
se comportou de maneira estranha, como adolescentes emburrados numa pantomima,
braços cruzados no peito.
Pela primeira vez desde que o conheceu, Dexter pareceu pouco à
vontade. Será que ele estava... bêbado? Emma não entende muito de mídia, mas
sabe reconhecer um mico. Quando a última banda se apresenta, ela está cobrindo
o rosto com a mão, e já sabe o suficiente sobre TV para perceber que aquilo
estava longe do ideal. Existe muita ironia em torno de tudo hoje em dia, mas
não a ponto de transformar vaias em alguma coisa positiva.
Desliga a televisão. Do banheiro, ouve o som de Ian assoando o
nariz numa flanela. Fecha a porta e pega o telefone, moldando a boca num
sorriso de felicitação, e em um apartamento vazio em Belsize Park uma
secretária eletrônica atende a ligação.
— Olá... pode falar! — diz Dexter, e Emma faz o seu número.
— Ei, você! Oi! Sei que você está na festa, mas eu queria dizer,
bem, antes de mais nada, obrigada pelas flores. Muito lindas, Dex, não
precisava ter feito isso. Mas principalmente... Puxa! Finalmente! Viva! Você
estava fantástico, tão engraçado e relaxado, achei fantástico, realmente um
belo programa, mesmo. — Hesita um pouco: “Não diga ‘realmente’. Se disser
‘realmente’ muitas vezes, as palavras vão soar como ‘não realmente’. Continua:
— Ainda não sei bem se gostei da camiseta embaixo do terno, e é sempre animador
ver mulheres dançando em gaiolas, mas fora isso foi excelente, Dexter.
Realmente. Sinto-me orgulhosa de você, Dex. Se estiver interessado, Oliver!
também foi um sucesso.
Percebe que sua atuação está perdendo a convicção e resolve
encerrar.
— Então. Aqui estamos nós. Os dois temos algo a comemorar! Mais
uma vez, obrigada pelas rosas. Boa noite, a gente se fala amanhã. Vamos nos ver
na terça, certo? E parabéns. Sério. Parabéns. Tchau.
***
Na sua festa de comemoração, Dexter está sozinho no bar, braços
cruzados, ombros caídos. As pessoas passam para dar os parabéns, mas ninguém
fica muito tempo e os tapinhas nos ombros acabam parecendo mais um consolo ou,
na melhor das hipóteses, bem-feito por perder aquele pênalti. Está bebendo há
algum tempo, mas o champanhe tem um gosto azedo na boca e nada parece aliviar a
sensação de desapontamento, anticlímax e vergonha.
— Uhu! — diz Suki Meadows em um estado de espírito contemplativo.
Antes uma coadjuvante, agora certamente a estrela, ela se senta ao lado dele. —
Olha só como você está, todo triste e cabisbaixo.
— Oi, Suki.
— Então! Correu tudo bem, eu achei!
Dexter não está convencido, mas eles brindam assim mesmo.
— Desculpe aquele episódio... da bebida. Eu te devo desculpas.
— Deve mesmo.
— Era para relaxar um pouco, sabe?
— Mesmo assim a gente devia conversar a respeito. Alguma outra
hora.
— Tudo bem.
— Porque eu não vou entrar de novo em cena com você trocando as
pernas, Dex.
— Eu sei. Isso não vai acontecer. E eu vou compensar de alguma
forma.
Suki encosta-se nele e apoia o queixo em seu ombro.
— Semana que vem?
— Semana que vem?
— Você me convida para jantar. Num lugar caro, diga-se. Na próxima
terça.
A testa dela está encostada na dele, a mão sobre sua coxa. Tinha
marcado de jantar com Emma na terça-feira, mas sabe que pode cancelar, ela não
vai se importar.
— Tudo bem. Na próxima terça.
— Mal consigo esperar. — Belisca a coxa dele. — Então, agora você
vai se animar?
— Vou tentar.
Suki Meadows inclina-se para a frente e beija sua bochecha, depois
põe a boca perto, muito perto do ouvido dele.
—
AGORA VAMOS DAR UM ALÔ PARA MINHA MÃE!
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