Capítulo 19 - June
Metias sempre me disse que, toda vez que eu passasse mal, deveria me
esforçar ao máximo para não desistir.
Sei que está frio, mas não consigo saber a temperatura. Sei que é noite,
mas não consigo saber a hora. Sei que Day e eu conseguimos atravessar a
fronteira e entrar nas Colônias, mas estou cansada demais para determinar por
que estados passamos.
O braço de Day está rodeando firmemente minha cintura, para me sustentar,
embora eu possa sentir que ele está trêmulo por estar me carregando há tanto
tempo. Ele não para de me incentivar, sussurrando ao meu ouvido: Só um
pouquinho mais. Deve haver hospitais perto de onde estamos na frente de
batalha. Minhas pernas tremem com o esforço de me manter de pé, mas me
recuso a desmaiar agora. Nossos pés esmigalham a leve camada de neve, enquanto
continuamos a admirar a cidade reluzente à nossa frente.
Os edifícios têm uma altura que varia entre cinco e centenas de
andares; alguns deles até desaparecem nas nuvens baixas. Essa visão é bem
conhecida sob alguns aspectos, e totalmente nova sob outros.
As paredes são enfileiradas com bandeiras estrangeiras em formato
de rabo de andorinha e suas cores são azul-marinho e dourado; os edifícios têm
desenhos de arcadas esculpidos nas laterais e jatos de combate se alinham em
todos os topos de telhados. São modelos muito diferentes dos da República, com
uma estranha estrutura alada invertida que os faz parecer com tridentes. As
asas dos jatos são todas pintadas com ferozes pássaros dourados e com um
símbolo que não reconheço. Não me admira sempre ter ouvido dizer que a Força
Aérea das Colônias era melhor que a da República: esses jatos são mais novos do
que aqueles aos quais estou acostumada e, considerando seu posicionamento no topo
dos telhados, todos devem ser capazes de realizar decolagens verticais e
aterrissagens com facilidade. Esta cidade na zona de combate parece mais
preparada a se defender.
E as pessoas. Elas estão em todos os lugares; são multidões de
soldados e civis nas ruas, enroladas em casacos com capuz para se proteger da
neve. Quando passam sob o brilho das luzes de neon, seus rostos se tingem de
tons de verde, laranja e roxo. Estou cansada demais para analisá-las
adequadamente, mas uma coisa em que reparo é que todas as suas roupas - botas,
calças, camisas e casacos - têm uma variedade de emblemas e palavras. Fico
atônita com a espantosa quantidade de anúncios nos muros - estendem-se o mais
longe que a vista pode alcançar, às vezes agrupados tão juntos que escondem
completamente os muros atrás deles. Parece que anunciam tudo e qualquer coisa
na face da Terra, coisas que nunca vi nem das quais ouvi falar. Escolas financiadas
por corporações? Natal?
Passamos por uma janela onde um montão de telas em miniatura está
exposto; cada uma transmite notícias e vídeos.
LIQUIDAÇÃO! - está escrito na vitrine. 30% DE DESCONTO
ATÉ SEGUNDA-FEIRA!
Os programas de alguns canais são conhecidos: manchetes da frente de
batalha, conferências políticas:
A DESCON CORP CONQUISTA MAIS UMA VITÓRIA
PARA AS COLÔNIAS
NA DIVISA ENTRE DAKOTA E MINNESOTA. ESCOMBROS DA REPÚBLICA
DISPONÍVEIS PARA COMPRA COMO SUVENIRES!
Outros canais transmitem filmes, algo que a República só exibe nos
cinemas dos bairros ricos. A maioria das telas está mostrando comerciais.
Ao contrário dos comerciais de propaganda da República, é como se esses
anúncios estivessem induzindo a população a comprar coisas. Eu me pergunto que
tipo de governo dirige um lugar como este. Talvez eles não tenham governo
algum.
- Uma vez meu pai me disse que as cidades das Colônias parecem
brilhar à distância - Day comenta. Seus olhos pulam de uni anúncio vivamente colorido
para outro, enquanto ele me ajuda a caminhar desajeitadamente em meio à
multidão. - E exatamente como ele descreveu, mas não consigo identificar todos
esses anúncios. Você não acha que eles são esquisitos?
Concordo com a cabeça. Na República, os anúncios têm displays organizados
com o estilo característico e uniforme do governo, que permanecem sempre os
mesmos, não importa em que lugar do país você esteja. Aqui, os comerciais não
seguem nenhuma palheta de cor.
Eles são misturados, numa miscelânea de néon e luzes
intermitentes. Como se não fossem feitos por um governo central, mas por vários
grupos menores independentes.
Um dos anúncios mostra o vídeo de um sorridente agente policial uniformizado.
A voz diz: "Departamento de Polícia de Tribune. Precisa comunicar um
crime? Basta depositar uma nota de 500!" Sob a imagem do policial, em
letras miúdas, estão as palavras: O DEPARTAMENTO DE POLÍCIA DE
TRIBUNE É UMA SUBSIDIÁRIA DA DESCON CORP.
Outro anúncio diz: "A PRÓXIMA VERIFICAÇÃO NACIONAL DO NFE
SERÁ PATROCINADA PELA CLOUD EM 27 DE JANEIRO. PRECISA DE AJUDA PARA PASSAR? OS
NOVOS COMPRIMIDOS JOYENCE DA MEDITECH JÁ ESTÃO DISPONÍVEIS NAS LOJAS!"
Abaixo desses dizeres, outro pequeno asterisco é seguido
pelo texto: NFE, NÍVEL DE FELICIDADE DO EMPREGADO.
Um terceiro comercial me deixa de queixo caído. Ele mostra um vídeo
de filas de crianças pequenas, todas vestindo exatamente as mesmas roupas,
sorrindo euforicamente. A seguir, o texto diz: "ENCONTRE O
FILHO, A FILHA OU O EMPREGADO PERFEITO. A FRANQUIA DE LOJAS DE PERMUTA É
UMA SUBSIDIÁRIA DA EVERCREEN ENT." Franzo a testa, intrigada.
Talvez seja dessa maneira que as Colônias dirigem orfanatos e similares.
Ou não?
A medida que caminhamos, observo que há uma imagem imutável no
canto inferior à direita de todos os anúncios. E um círculo dividido em quatro
quadrantes, com um símbolo menor no interior de cada um deles. Sob esse
círculo, escrito em letras maiúsculas, está o seguinte texto:
AS COLÔNIAS DA AMÉRICA
CLOUD.MEDITECH.DESCON.EVERCREEN
UM ESTADO LIVRE É UM ESTADO CORPORATIVO
Abruptamente, sinto a respiração quente do Day junto à minha
orelha.
- June
- O que foi?
-Alguém está nos seguindo.
Esse é mais um detalhe que eu já deveria ter notado. Perdi a conta
do número de coisas que estou deixando de perceber.
-Você conseguiu ver o rosto dele?
- Não, mas a julgar pelo vulto, é uma garota - ele responde.
Espero mais alguns segundos, e aí me arrisco a olhar para trás. Vejo apenas uma
multidão de colonianos. Fosse quem fosse, ela já desapareceu entre o povo.
- Provavelmente foi só um alarme falso. Uma garota das Colônias.
Os olhos de Day examinam, perplexos, a rua, e depois ele dá de ombros.
Eu não me surpreenderia se estivéssemos começando a ver coisas, especialmente
com todas essas novas luzes estranhas reluzindo e anúncios fluorescentes.
Uma pessoa nos aborda, logo que voltamos mais uma vez nossa
atenção para a rua. Ela tem um metro e setenta e dois centímetros, rosto
flácido, pele rosa bronzeada, alguns fios de cabelos brancos que saem de um grosso
boné para proteger da neve e segura um tablet fininho. Um cachecol envolve
firmemente o pescoço dela (lã sintética, a julgar pela uniformidade da
textura), e pequenos cristais de gelo estão presos ao tecido sob seu queixo,
onde sua respiração os congelou. Sua manga tem as palavras Inspetora de Ruas
costuradas bem acima de outro estranho símbolo.
-Vocês não estão aparecendo para mim. São de alguma corporação?
Seus olhos permanecem fixos no tablet, que tem uma imagem
semelhante à de um mapa e bolhas que se movem na tela. Cada bolha corresponde a
uma pessoa na rua. Ela deve ter querido dizer que nós não estamos aparecendo no
tablet. Então me dou conta de que há muitas pessoas iguais a ela pontilhando a
rua, todas usando o mesmo casaco azul-marinho.
- De que corporação? - repete, impaciente.
Day vai responder quando o interrompo.
- Meditech - um dos quatro nomes que vi nos anúncios.
A mulher para e examina, com ares de desaprovação, nosso vestuário
(golas sujas, calças pretas e botas).
- Vocês devem ser novos - ela acrescenta para si mesma,
tamborilando os dedos no tablet. - Estão muito longe de onde deveriam estar.
Não sei se já receberam suas instruções, mas a Meditech vai castigar vocês com
rigor se vocês se atrasarem. - Ela então nos dá um sorriso falso e se lança a
recitar um texto, estranhamente animada. - Sou patrocinada pela Cloud Corp.
Passem na Praça Central de Tribune para comprar nossa mais recente linha de
pães! - Sua boca volta de repente à taciturna expressão de antes, e ela vai
embora rapidamente. Eu a observo falar com uma pessoa na rua, agindo da mesma
forma que agiu conosco.
- Existe alguma coisa estranha sobre esta cidade - murmuro para Day,
quando voltamos a caminhar com dificuldade entre o povo.
Day me segura com força, tenso.
- Por isso não perguntei a ela onde ficava o hospital mais próximo
- ele esclarece.
- Estou tonta de novo.
- Aguente firme. A gente vai dar um jeito.
Tento responder, mas já não consigo ver aonde estou indo. Day me diz
alguma coisa, mas não consigo entender nenhuma palavra - ele soa como se
estivesse debaixo d'água.
- O que foi que você disse?
O mundo está girando. Meus joelhos cedem.
- Eu disse talvez a gente... ir agora... hospital...
Eu me sinto cair; meus braços e pernas me circundam numa bola protetora
e, lá de cima, os lindos olhos azuis de Day me contemplam.Ele põe as mãos nos
meus ombros, mas sinto como se estivesse a um milhão de quilômetros de
distância. Tento falar, mas minha boca parece estar cheia de areia. Mergulho na
mais completa escuridão.
***
Um lampejo dourado e cinzento. A mão fria de alguém na minha testa.
Eu me esforço para tocá-la, mas no instante em que meus dedos roçam contra a
pele, a mão derrete. Não consigo parar de tremer: aqui dentro é incrivelmente
frio.
Quando finalmente abro os olhos, vejo que estou deitada num
beliche simples e branco, com a cabeça no colo de Day, e ele está com um de seus
braços sobre minha cintura. Um momento depois, me dou conta de que ele está
vigiando outra pessoa - aliás, mais três outras pessoas – que estão no
cômodo conosco. Elas usam os uniformes característicos dos soldados das
Colônias da frente de batalha: japonas militares azul-marinho, guarnecidas de
botões e ombreiras dourados, listras douradas e brancas até a extremidade mais
baixa e o falcão dourado característico bordado nas mangas. Sacudo a cabeça.
Uma pane geral bastante genérica.
Estou me sentindo tão lerda.
- Pelos túneis - diz o Day. Luzes no teto me cegam. Eu não as
notara antes.
- Há quanto tempo vocês estão nas Colônias? - pergunta um dos homens.
Seu sotaque é estranho. Ele tem um bigode descorado e flácido, cabelo oleoso e
a iluminação dá à sua pele um aspecto doentio. – E melhor você dizer a verdade,
garoto. A DesCon não tolera mentiras.
- A gente só chegou aqui esta noite - Day responde.
- E de onde vocês vieram? Vocês trabalham para os Patriotas?
Mesmo atordoada, sei que essa pergunta é perigosa. Eles não vão ficar
satisfeitos se descobrirem que fomos nós que estragamos seus planos para o
Eleitor. Talvez ainda não saibam o que aconteceu. Razor disse que eles só
atualizam as Colônias esporadicamente.
Day também compreende que a pergunta é perigosa, porque a evita.
- Nós viemos sozinhos para cá. - Ele faz uma pausa, e depois o
escuto dizer com um toque de impaciência: - Por favor, ela está ardendo em
febre.
Leve a gente para um hospital, e eu conto tudo que vocês quiserem.
Não percorri esse caminho todo para que ela morresse em uma delegacia.
- O hospital vai custar caro, menino - responde o homem.
Day apalpa um dos meus bolsos e pega nosso pequeno maço de Notas.
Reparo que sua arma desapareceu, provavelmente foi confiscada.
- Nós temos quatro mil Notas da República...
Os soldados o interrompem com risinhos debochados.
- Guri, quatro mil Notas da República não compram nem uma tigela de
sopa - responde um deles. - Além disso, vocês dois vão esperar aqui até nosso
comandante aparecer, e depois vão ser encaminhados para nosso campo de PDG para
o interrogatório de praxe.
Prisioneiro de guerra. Por uma razão qualquer, isso traz à tona a
lembrança de quando Metias me levou em uma missão há mais de um ano, quando
perseguimos um prisioneiro de guerra das Colônias por vários estados da
República, e o matamos em Yellowstone City. Lembro do sangue no solo, ensopando
o uniforme azul-marinho do soldado. Um momento de pânico se apossa de mim, e
estendo a mão para agarrar a gola de Day. Os outros homens no cômodo se agitam
alvoroçadamente.
Ouço vários cliques metálicos.
O braço de Day aperta meu corpo, protetoramente.
- Calminha - ele sussurra.
- Qual é o nome da garota?
Day encara os homens e mente:
- Sarah. Ela não é uma ameaça, só está muito doente.
Os homens dizem algo que enraivece Day, mas meu mundo está voltando
a se tornar um caos de cores, e me afundo de novo em um torpor delirante. Ouço
vozes altas, depois o som de uma pesada porta girando, e então... mais nada,
durante muito tempo. Às vezes, vejo Metias de pé no canto da instalação
militar, observando-me. Outras vezes, ele se transforma em Thomas, e não
consigo decidir se devo sentir raiva ou pesar ao vê-lo. Em alguns momentos,
reconheço as mãos de Day nas minhas. Ele me diz para eu me acalmar, que tudo
vai ficar bem.
As visões desaparecem.
Após o que parece horas, começo de novo a ouvir fragmentos débeis e
interrompidos de conversas.
- ... da República?
- É .
-Você é o Day?
- Eu mesmo.
Ouço pés se arrastando, e depois, expressões de incredulidade.
- Não acredito, sei quem ele é! - diz uma voz, que se repete. – Eu
reconheço ele, eu reconheço ele. É ele mesmo!
Mais arrastar de pés. Então sinto Day ser levantado e caio sozinha
nos lençóis frios do beliche embaixo de mim. Eles o levaram para algum lugar.
Eles o levaram embora.
Quero me agarrar a esse pensamento, mas meu delírio febril assume o
controle, e volto a submergir na escuridão.
***
Estou no meu apartamento no setor Ruby, com a cabeça num
travesseiro úmido de suor, o corpo coberto por um fino cobertor. A luz dourada do
sol vespertino invade o cômodo pelas janelas. Ollie está dormindo no chão a meu
lado, com as enormes patas de filhote apoiadas preguiçosamente nos frios
azulejos do chão. Percebo que isso não faz o menor sentido, porque estou com
quase dezesseis anos, e Ollie deveria estar com uns nove. Devo estar sonhando.
Uma toalha molhada toca minha testa; olho para cima e vejo Metias sentado
ao meu lado, passando a toalha cuidadosamente na minha cabeça para que a água
não respingue nos meus olhos.
- Ei, Joaninha - ele diz, sorridente.
- Você não vai se atrasar? - sussurro. Há uma sensação preocupante
na minha barriga: a de que Metias não devia estar ali comigo. Como se ele
estivesse atrasado para alguma coisa.
Mas meu irmão apenas sacode a cabeça, fazendo com que várias mechas
de cabelo caiam em seu rosto. O sol ilumina seus olhos com lampejos dourados.
- Eu não posso simplesmente deixar você sozinha aqui, concorda? -
Ele ri, e o som de sua risada me enche de tanta felicidade que chego a pensar
que vou explodir. - Aceite o fato de que você está presa aqui comigo, e tome
logo sua sopa. Não me interessa se você acha que ela é totalmente nojenta.
Tomo um gole da sopa. Quase consigo sentir o gosto.
-Você vai mesmo ficar aqui comigo?
Metias se inclina e beija minha testa.
- Para todo o sempre, pequena, até você não agüentar mais olhar para
mim.
Meu coração se aquece e não consigo conter um sorriso.
- Você está sempre tomando conta de mim. Quando é que vai ter tempo
para o Thomas?
Ao ouvir minhas palavras, Metias dá uma risadinha.
- Não consigo guardar segredo de você, não é?
-Você podia ter me contado sobre vocês dois, Metias. - Essas
palavras são dolorosas para mim, mas não sei direito por quê. Sinto como se estivesse
esquecendo alguma coisa importante. - Eu jamais comentaria com ninguém. Você
tem medo de que a Comandante Jameson descubra e coloque você e Thomas em
patrulhas diferentes?
Metias inclina a cabeça e os ombros caem.
- Nunca vi motivo para tocar no assunto.
- Você o ama?
Lembro que estou dormindo, e seja lá o que o Metias diga, não
passa de meus próprios pensamentos projetados na imagem dele. Mesmo assim,
sofro quando ele olha para baixo e responde, com um ligeiro aceno da cabeça, e
tão baixinho que mal consigo ouvi-lo: 239
- Eu achava que sim.
- Lamento muito - sussurro. Ele me olha com os olhos cheios
d'água.
Tento estender os braços e passá-los em volta do seu pescoço, mas então
a cena se transforma, a luz diminui e, de repente, estou deitada num quarto
branco parcamente iluminado, numa cama que não é a minha. Metias desaparece
como um fogo-fátuo. Cuidando de mim no seu lugar está Day, o rosto emoldurado
pelo cabelo da cor da luz, as mãos arrumando a toalha na minha testa, e os
olhos analisando intensamente os meus.
- Olá, Sarah! - ele diz. Ele usou o nome falso que inventou para
mim. - Não se preocupe, você está a salvo.
A súbita mudança de cena me faz piscar.
- A salvo?
-A polícia das Colônias nos apanhou. Eles nos levaram a um pequeno
hospital depois que descobriram quem eu era. Acho que todos já ouviram falar de
mim aqui, e isso está funcionando em nosso benefício.
Day me dá um largo sorriso acanhado.
Mas, desta vez, fico tão desapontada de ver Day, tão amargamente triste
por ter perdido Metias para as superficialidades dos meus sonhos mais uma vez
que preciso morder o lábio para não chorar. Sinto meus braços muito fracos.
Provavelmente eu não conseguiria mesmo passá-los ao redor do pescoço do meu
irmão, e como não consegui, não pude impedir Metias de desaparecer.
O largo sorriso de Day desaparece. Ele percebe meu pesar. Estende
o braço e toca minha face com uma das mãos. Seu rosto está muito próximo e
radiante sob o brilho suave da tardinha. Eu me levanto com a pouca força que me
resta, e deixo que ele me puxe para mais perto ainda.
- Ah, Day! - sussurro no cabelo dele, com a voz amortecida pelos soluços
que venho retendo. - Sinto muita falta dele. Muita mesmo. E lamento tanto,
tanto por tudo... - Repito várias vezes as palavras que disse a Metias
no meu sonho, e as palavras que direi a Day pelo resto da vida.
Day me abraça mais forte. Sua mão acaricia meus cabelos e ele me embala
suavemente, como se eu fosse uma criança. Aferro-me desesperadamente a ele,
incapaz de recuperar o fôlego, sufocada pela febre, pelo sofrimento e pelo
vazio.
Metias foi
embora de novo. Ele se foi para sempre.
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