Capítulo 24 - Day

Kaede não perde tempo. Ela aponta para o avião de combate mais próximo de nós e dá uma corridinha na rampa que leva à cabine. Começo a ouvir tiros. June se encosta pesadamente em mim. Sinto que ela está perdendo as forças, e então a seguro nos braços e a carregojunto ao peito. Os soldados que chegaram ao telhado se movimentam com mais rapidez ao perceberem o que a Kaede quer fazer. Ela, porém, está muito à frente deles. Corremos em direção à rampa.
O motor do avião ganha vida quando alcançamos o primeiro degrau da rampa e, bem embaixo da aeronave, dois grandes escapes dos gases de combustão lentamente se inclinam para baixo, e se voltam para o solo. Estamos nos preparando para nos projetarmos diretamente para o céu.
- Porra! Andem logo! - grita Kaede da cabine. Depois ela some de vista e solta uma série de impropérios.
- Pode me soltar - pede June. Ela salta para o chão com os próprios pés, tropeça e se endireita para dar os dois primeiros passos. Fico atrás dela, com os olhos fixos nos soldados. Eles estão quase chegando até nós. June consegue alcançar o topo da rampa e subir na cabine. Subo correndo até a metade da rampa, quando um soldado agarra a perna da minha calça e me puxa para baixo com um safanão. Lembre-se do equilíbrio. Espalhe seu peso pelas plantas do pés. Pegue esse cara nos lugares certos. As lições de luta que June me deu percorrem minha cabeça rapidamente. Quando o soldado balança o corpo para me alcançar, eu me esquivo, vou para o lado dele e o atinjo o mais forte que posso, bem debaixo da caixa torácica. Ele cai em cima de um joelho. Golpe no fígado.
Outros dois soldados me alcançam, e eu me preparo, mas aí um deles solta um grito estridente e cai para fora da rampa, com um ferimento a bala no ombro. Olho de relance para a cabine. June segura a arma de Kaede e está mirando os soldados. Volto a subir os degraus e dou um salto até o topo, onde June já está com cinto de segurança afivelado no assento do meio, logo atrás de Kaede.
- Anda logo com isso! - diz Kaede bruscamente. Os motores emitem mais um estrondo agudo. Atrás de mim, vários guardas começaram a subir os primeiros degraus.
Dou um pulo para a grade de metal demarcando o topo da rampa, agarro a lateral da cabine e empurro a rampa com os pés com toda minha força. A rampa oscila por um instante e depois começa a tombar. Os soldados gritam advertências e se esquivam da queda, jogando-se no chão. Quando a rampa se espatifa no telhado, eu já estou no avião, afivelando o cinto no último assento. Kaede desliza a porta da cabine e a fecha. Sinto um arrepio no estômago quando nos elevamos acima do telhado e dos edifícios. Através do vidro da cabine, vejo pilotos se apressando para entrar nos jatos nos prédios próximos, assim como o segundo avião no telhado do hospital.
- Merda! - exclama Kaede lá na frente. - Eu vou acabar com a raça deles. Eles me acertaram. - Sinto que houve um deslocamento do escape. - Agarrem- se aí! Vai ser uma viagem turbulenta!
Paramos de subir. Os motores emitem um rugido ensurdecedor e depois nos arremessamos para frente. O mundo passa correndo por nós e sinto formar- se uma pressão no meu peito à medida que Kaede aumenta a velocidade do jato. Ela solta um grito eufórico. Quase imediatamente escuto uma voz estalando na cabine:
- Piloto, esta é uma ordem para que você aterrisse sua aeronave imediatamente.
Quem fala está nervoso. Deve ser o piloto do jato que nos segue.
-Vamos abrir fogo. Repito: aterrisse imediatamente ou vamos abrir fogo.
- Só tem um jato nos perseguindo. Molezinho de resolver. Segura firme, galera!
Kaede faz uma curva abrupta e quase desmaio com a mudança de pressão.
-Você está bem? - pergunto à June, em voz bem alta.
Ela responde alguma coisa, mas não consigo ouvi-la, devido ao barulho dos motores.
De repente, Kaede aciona com força um botão de controle e empurra uma alavanca para frente, em toda a sua extensão. Minha cabeça bate na lateral da cabine. Giramos cento e oitenta graus em menos de um segundo.
Vejo um jato voando à nossa frente a uma velocidade aterradora. Instintivamente, levanto as mãos.
Até June grita.
- Kaede, o que você...
Kaede abre fogo. Uma saraivada de luzes brilhantes sai como um raio do nosso jato para atingir o que está à nossa frente. Os motores nos arremessam para frente e para cima. Ouvimos uma explosão atrás de nós - o tanque de combustível do outro jato ou sua cabine deve ter sido atingida.
Kaede grita:
- Eles vão ficar com pouco espaço para nos seguir agora. Estamos muito à frente, e eles não vão querer atravessar a frente de batalha. Vou fazer este brinquedinho dar o máximo que puder. Vamos chegar à República em alguns minutos.
Não pergunto de que maneira ela planeja passar pelo soldados da República sem que nos derrubem a tiros.
Quando olho pela cabine para os gigantescos edifícios das Colônias, solto o ar e me deixo cair repentinamente no meu assento. Luzes brilhantes, arranha-céus reluzentes, tudo que meu pai me descrevia nas poucas noites por ano em que conseguíamos estar com ele. A distância, é tudo encantador.
- E aí? - diz Kaede. - Eu não estou queimando combustível à toa, não, né, Day? Vamos mesmo para Denver?
- Vamos - respondo.
- Qual é o plano? - a voz de June ainda soa débil, mas percebo um desejo candente nela, a sensação de que estamos na iminência de fazer algo fundamental.
Ela sabe que alguma coisa mudou dentro de mim. E estranho como me sinto calmo.
- Estamos indo para a Capitol Tower. Vou anunciar para a República meu apoio a Anden.

Comentários

  1. É eita atrás de eita,kkkkk.
    Mal dá para respirar de tanta tensão, adrenalina...Amando!

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Nada de spoilers! :)

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