Capítulo 14 - Clayton
De todos os lugares do mundo, tinha de encontrar o
cara na casa da Beth. Quais eram as chances de isso acontecer? Com certeza,
muito poucas.
Odiava aquele cara. Não. Era mais que isso. Queria
destruir aquele cara. Não só por causa daquela história toda de roubar a
máquina fotográfica e furar os pneus do carro, apesar de que aquilo
definitivamente fazia com que ele merecesse passar um tempo na cadeia junto com
uns viciados em anfetaminas bem violentos. E não era só porque Thibault tinha
pego o cartão de memória da máquina. Era porque o mesmo cara que tinha tirado
uma com a cara dele tinha feito com que ele parecesse um panaca na frente da
Beth.
"Se eu fosse você, soltaria o braço dela"
já tinha sido ruim o suficiente. Mas, e depois? Ah, foi aí que o cara errou
feio. "Agora... acho que é melhor ir embora...", falando com
aquele tom sério, calmo, do tipo "não mexa comigo" que o próprio
Clayton usava com os criminosos. E ele realmente fez o que o cara mandou,
saindo de mansinho de lá como um cachorro, com o rabo entre as pernas, o que só
piorou as coisas.
Normalmente, não iria tolerar uma situação dessas nem
por um segundo, mesmo com Beth e Ben por perto. Ninguém dava ordens a ele e se
safava, e ele teria deixado bem claro que o cara tinha acabado de cometer o
maior erro da vida dele. Mas não podia. Esse era o problema. Não com o
"supercão" ao seu lado, de olho na sua genitália como se fosse um
tira-gosto para o almoço de domingo. No escuro, aquela coisa até parecia com um
lobo raivoso, o que o fazia se lembrar das histórias que Kenny Moore lhe
contava sobre Panther. Que diabos ele estava fazendo com Beth? Como é que
aquilo tinha acontecido? Era como se existisse algum plano cósmico maligno para
arruinar o que já tinha sido, em grande parte, um péssimo dia, começando pelo
deprimido, mal-humorado Ben, que havia chegado ao meio-dia já reclamando logo
de cara por ter de colocar o lixo para fora.
Ele era uma pessoa paciente, mas estava cansado dessa
postura do menino. Estava bem cansado, por isso deu outras tarefas a ele depois
do lixo. Fez o menino limpar a cozinha e os banheiros também, pensando em
demonstrar a ele como o mundo real funcionava, onde o que importava realmente
era uma postura decente. O poder do
pensamento positivo e coisas do tipo. E, além disso, todo mundo sabia que as
mães mimavam demais os filhos e eram os pais quem deviam ensinar que nada na
vida vem de graça, certo? E ele se saiu muito bem em suas tarefas, como sempre,
então, para Clayton, aquilo era um assunto re-solvido e concluído. Que criança
não iria querer jogar beisebol com seu pai em uma bela tarde de sábado? Só Ben.
"Estou cansado. Está muito calor, papai. Temos
de jogar mesmo?" Uma reclamação idiota atrás da outra até finalmente
conseguir fazê-lo sair de casa, e aí o menino se fechou mais do que uma ostra e
ficou mudo. E o pior, por mais que Clayton falasse para ele prestar atenção na
maldita bola, ele não conseguia pegá-la, porque não estava nem tentando. Não
havia dúvida de que estava fazendo de propósito. E ele ia correr para pegar a
bola depois? Claro que não. Não o seu filho. Seu filho estava muito ocupado
ficando de mau humor ao mesmo tempo em que jogava beisebol como um cego.
Isso tudo só serviu para deixá-lo com raiva. Estava
tentando passar um tempo agradável com seu filho, mas ele não estava
facilitando as coisas, tudo bem, talvez tenha jogado a bola um pouco mais forte
da última vez. Mas o que aconteceu depois não foi culpa dele. Se o menino
tivesse prestado atenção, a bola não teria ricocheteado na luva, e Ben não
acabaria chorando como um bebê, como se estivesse morrendo ou algo do tipo.
Como se fosse a única criança no mundo a ganhar um olho roxo jogando beisebol.
Mas isso tudo eram elucubrações. O menino tinha se
machucado. Não tinha sido sério, e a mancha roxa desapareceria em algumas
semanas. Em um ano, Ben teria se esquecido completamente, ou ficaria se gabando
para os amigos de ter conseguido um olho roxo jogando beisebol.
Beth, por outro lado, jamais esqueceria. Guardaria
esse rancor dentro dela por muito, muito tempo, mesmo sabendo que a culpa foi
mais de Ben do que dele. Ela não entendia o simples fato de que todos os
meninos sempre se lembravam com orgulho dos seus machucados feitos durante a
prática de esportes. Sabia que Beth iria exagerar hoje à noite, mas não
necessariamente a culpava por isso. Mães sempre exageram, e Clayton já estava
preparado para isso. Sentiu que deu conta de tudo muito bem, até mesmo no fim,
quando avistou o cara com o cachorro sentado na varanda como se fosse o dono do
lugar. Logan Thibault.
É claro que na mesma hora se lembrou do nome. Tinha
procurado pelo cara por alguns dias sem ter tido sorte e já tinha deixado para
lá, pois achou que o cara tinha saído da cidade. Não tinha como aquele cara e
seu cachorro não serem notados, certo? Foi por
isso que havia desistido de perguntar às pessoas se o tinham visto. Idiota. Mas
o que fazer agora? O que ele ia fazer com essa... mudança nos fatos?
Ia cuidar de Logan Thibault, disso tinha certeza, e
não ia ser pego de surpresa de novo. O que significava que precisava de
informações antes de fazer qualquer coisa. Precisava saber onde o cara morava,
onde trabalhava, onde gostava de passar o tempo. Onde poderia encontrar o cara
sozinho.
Era mais difícil do que parecia, especialmente por
causa do cachorro. Tinha a sensação engraçada de que Thibault e o cachorro
raramente se separavam. Mas ele ia descobrir como lidar com isso também.
Obviamente, precisava saber o que estava acontecendo
entre Beth e Thibault. Não tivera notícias de ela ter saído com mais ninguém
desde o tonto do Adam. Era difícil acreditar que Beth pudesse se envolver com
Thibault, levando em consideração que ele sempre sabia o que estava acontecendo
na vida da Beth. Francamente, não conseguia imaginar o que ela poderia ter
visto em alguém como Thibault, em primeiro lugar. Ela tinha formação
universitária; a última coisa que ia querer em sua vida era um vagabundo que
tinha caído de paraquedas na cidade. O cara nem tinha carro.
Mas
Thibault estava com ela em um sábado à noite, e obviamente isso significava
alguma coisa. Em algum lugar, alguma coisa não fazia sentido. Ficou pensando
sobre isso, imaginando se o cara poderia trabalhar lá... De qualquer forma, ia
descobrir, e, quando descobrisse, ia dar um jeito nisso, e o Sr. Logan Thibault
ia acabar detestando o dia em que resolveu colocar os pés na cidade de Clayton.
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