Capítulo 17 - Clayton
Keith Clayton olhou para Beth saindo da casa, sabendo
exatamente o que tinha acontecido lá dentro. Quanto mais pensava naquilo, mais
queria segui-la e ter uma conversinha com ela assim que chegasse em casa.
Explicar a situação de uma forma que ela entendesse, para que ela percebesse
que esse tipo de comportamento não era aceitável. Daria um tapa ou dois, não
tão forte para machucar, mas o suficiente para que soubesse que ele não estava
de brincadeira. Não que isso fosse adiantar alguma coisa. E não que realmente
fosse bater. Nunca tinha batido nela. Não era o tipo de homem.
Que diabos estava acontecendo? Será que as coisas
poderiam piorar ainda mais?
Primeiro, descobre que o cara trabalha no canil.
Depois, passa alguns dias jantando na casa dela, trocando aqueles olhares
melosos que se vê naquela por-caria de filmes de Hollywood. E depois — e essa
foi a pior — eles saem para dançar em uma espelunca para fracassados e, ainda,
mesmo não dando para ver o que estava acontecendo por detrás das cortinas, não
tinha dúvida de que ela estava transando como uma prostituta. Provavelmente no
sofá. Provavelmente porque tinha bebido demais.
Lembrou-se de dias como aqueles. Dava à mulher algumas
taças de vinho e continuava enchendo quando ela não estava prestando atenção,
ou temperava sua cerveja com um pouco de vodca, esperava suas frases ficarem
desconexas e acabava conseguindo uma ótima sessão de sexo bem ali, na sala de
estar. A bebida era uma maravilha nessas situações. Deixe-a bêbada, e a mulher
não apenas não recusa o sexo, como torna-se uma leoa na cama. Enquanto
espreitava a casa, ficou imaginando seu corpo nu ao se despir. Se não estivesse
com tanta raiva, teria ficado excitado, sabendo que ela estava lá, fazendo
sexo, ficando toda excitada e suada. Mas a questão era a seguinte: ela não
estava agindo como uma mãe deve agir, estava? Sabia como as coisas aconteciam.
Uma vez que começasse a fazer sexo com os caras com quem saísse, isso se
tornaria normal e aceitável. Tornando-se normal e aceitável, faria o mesmo toda
vez que saísse com alguém. Muito simples. Um cara levaria a dois caras, que
levariam a quatro, cinco, dez, vinte, e a última coisa que queria era um
desfile de caras na vida de Ben piscando para ele ao
saírem da casa como se dissessem: "Sua mãe é bem gostosa".
Não ia deixar isso acontecer. Beth era tonta da mesma
forma que a maioria das mulheres eram tontas, e por isso ele a vinha protegendo
por todos esses anos. E tudo vinha correndo muito bem, até o Thibault aparecer
na cidade.
O cara era um pesadelo ambulante. Como se o seu único
propósito fosse destruir a vida de Clayton. Bem, isso também não iria
acontecer, certo? Tinha aprendido algumas coisas sobre Thibault na última
semana. Ele não apenas trabalhava no canil — quais eram as chances de isso
acontecer, a propósito? —, mas morava em uma espelunca caindo aos pedaços perto
da floresta. E, depois de fazer algumas chamadas oficiais às autoridades do
Colorado, a cortesia profissional fez o resto. Thibault tinha se formado na
Universidade do Colorado. E tinha sido fuzileiro naval, servido no Iraque e
recebido algumas recomendações. Mas o mais interessante é que alguns caras do
pelotão dele falavam sobre ele como se tivesse algum tipo de pacto com o diabo
para continuar vivo. Imaginou o que Beth iria pensar disso. Ele não acreditava
em nada disso. Já tinha conhecido fuzileiros suficientes para saber que a
maioria era tão esperta quanto uma pedra. Mas tinha algo estranho com esse cara
para que seus colegas não confiassem nele.
E por que ele tinha atravessado o país indo parar bem
ali? O cara não conhecia ninguém na cidade e, pelo visto, nunca tinha estado lá
antes. Isso tam-bém era estranho. Mais do que isso, tinha a sensação de que a
resposta estava bem a sua frente, só que não conseguia descobrir o que era. Mas
ia descobrir. Sempre descobria.
Clayton continuou olhando para a casa, pensando que
finalmente tinha chegado a hora de dar um jeito naquele cara. Mas não agora.
Não hoje. Não com o cachorro por perto. Talvez na semana seguinte. Quando
Thibault estivesse trabalhando.
Aquela era a diferença entre ele e as demais pessoas.
A maioria das pessoas vive a vida como criminosos: agem primeiro, preocupam-se
com as consequências depois. Não Keith Clayton. Ele pensava nas coisas com
antecedência. Planejava. Prevenia-se. E essa era a razão principal por não ter
feito nada até o momento, mesmo depois de ver o que os dois tinham aprontado à
noite, mesmo depois de saber o que estava acontecendo dentro da casa, mesmo ao
observar Beth sair da casa com o rosto corado e o cabelo todo selvagem. No fim,
sabia, isso era uma questão de poder, e, nesse momento, Thibault tinha o poder.
Por causa do cartão de
memória. O cartão com as fotos que poderia cortar a mesada de Clayton.
Mas o poder não significa nada quando não é usado.
Thibault não tinha feito uso dele. Isso significava que ele não tinha percebido
o que tinha em mãos, ou já não tinha mais o cartão, ou era o tipo de pessoa que
cuidava da sua própria vida. Ou talvez as três alternativas.
Clayton tinha de ter certeza. Uma coisa de cada vez,
por assim dizer. O que significava que tinha de procurar pelo cartão. Se ainda
o tivesse ele o encontraria e o destruiria. O poder voltaria para as mãos de
Clayton, e Thibault teria o que estava guardado para ele. E se Thibault tivesse
dado um fim no cartão logo depois de achá-lo? Melhor ainda. Daria um jeito em
Thibault, e as coisas iam começar a voltar ao normal entre ele e Beth. E isso
era o mais importante.
Droga, ela estava linda saindo daquela casa. Tinha
algo quente e sexy ao vê-la saindo, sabendo o que ela tinha feito, mesmo tendo
sido com Thibault. Fazia muito tempo que ela não ficava com um homem, e ela
pareceu... diferente. Mais que isso, sabia que, depois de desse dia, com
certeza estaria pronta para mais.
Aquele
esquema de amigos com benefícios parecia-lhe cada vez mais apetitoso.
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