Capítulo 30 - Beth
Beth tinha acabado de tomar um banho e estava de pé em
seu quarto, usando uma enorme camiseta quando Nana colocou a cabeça na porta.
— Você quer conversar? A escola me ligou dizendo que
você estava vindo para casa. O diretor disse que estava um pouco preocupado com
você, e depois vi quando estacionou no escritório. Achei que vocês dois estavam
tendo uma briguinha.
— É mais do que uma briguinha, Nana — disse Beth, em
um tom de cansaço.
— Isso eu concluí pelo fato de ele ter ido embora e
você ter ficado tanto tempo na varanda depois disso.
Beth concordou com a cabeça.
— Tem algo a ver com o Ben? Ele não o machucou, não é?
Ou a você?
— Não, não é nada disso.
— Bom, porque isso é a única coisa que não pode ser
perdoada.
— Não sei se essa pode.
Nana olhou para a janela antes de dar um longo
suspiro.
— Acho que vou ter de dar comida aos cães hoje, certo?
Beth olhou para ela com irritação.
— Obrigada por ser tão compreensiva.
— Gatinhos e florzinhas — disse, erguendo as mãos.
Beth refletiu sobre as palavras dela e acabou soltando
um murmúrio de frustração.
— O que você quer dizer com isso?
— Não quer dizer nada,
mas, por um segundo, consegui fazer você ficar tão irritada que parou de sentir
pena de si mesma.
—Você não entende...
— Então, me faça entender.
— Ele me perseguiu, Nana. Por cinco anos, e depois
atravessou o país para me procurar. Ele ficou obcecado.
Nana ficou surpreendentemente em silêncio.
— Por que você não começa do começo? — sugeriu,
sentando-se na cama de Ben.
Beth não tinha certeza se queria falar sobre isso, mas
achou que seria melhor falar logo de uma vez. Começou recontando a visita de
Keith em sua sala de aula, e, por vinte minutos, contou a Nana sobre sua
partida abrupta da escola, sua insegurança agonizante, e concluiu com o
confronto com Logan. Ao terminar, Nana juntou as mãos no colo.
— Então, Thibault admitiu ter a fotografia? E, de
acordo com você, disse que era um amuleto da sorte e decidiu vir até aqui
porque sentia ter uma dívida com você?
Beth concordou.
— É isso aí.
— O que ele quis dizer com amuleto da sorte?
— Não sei.
— Você não perguntou?
— Nem me importei... Nana. A coisa toda é...
assustadora e estranha. Quem faria uma coisa dessas?
Nana franziu as sobrancelhas.
— Admito que pareça estranho, mas acho que ia querer
saber por que ele acreditava ser um amuleto da sorte.
— Por que isso importaria?
— Porque você não estava lá — enfatizou. — Você não
viveu as coisas que ele viveu. Talvez ele esteja falando a verdade.
— A fotografia não é um
amuleto. Isso é loucura.
— Talvez. Mas já vivo há muitos anos para saber das
coisas estranhas que acontecem na guerra. Os soldados acreditam em certas
coisas, e se acham que algo os mantêm em segurança, que mal há nisso?
Beth suspirou.
— Uma coisa é acreditar. Outra totalmente diferente é
ficar obcecado pela fotografia e perseguir a pessoa.
Nana colocou a mão no joelho de Beth.
— Todo mundo dá uma de louco às vezes.
— Não dessa forma. Há uma coisa assustadora nessa
história.
Nana ficou quieta antes de deixar escapar um suspiro.
— Pode ser que você esteja certa — deu de ombros.
Beth analisou o rosto de Nana, subitamente deixou-se
vencer pela exaustão.
— Você pode me fazer um favor?
— O quê?
—
Você pode ligar para o diretor e pedir para ele trazer Ben para casa depois da
escola? Não quero que você dirija com esse tempo, mas também não estou em
condições de dirigir.
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