Capítulo 32 - Beth
Beth não dormiu e acordou exausta. A tempestade havia
atingido sua fúria total na noite anterior, trazendo ventos fortes e
quantidades massivas de chuva, igualando-se ao dia anterior.
Não dava para imaginar que desse para a água ficar
ainda mais profunda, mas, ao olhar para a janela, o escritório parecia uma ilha
isolada no meio do oceano. Na noite anterior, tinha estacionado o carro em uma
parte mais alta do terreno, perto da árvore de magnólia; percebia agora que
havia feito uma boa coisa. Ele também estava em sua própria ilha, ao passo que
a água estava quase atingindo o piso do caminhão de Nana. O caminhão sempre
trafegava bem no meio das enchentes, mas o fato de os breques terem sido
trocados era uma boa coisa. Senão, não teriam funcionado.
Na noite anterior, havia ido até a cidade para comprar
leite e outros itens de necessidade básica, mas a viagem havia sido inútil.
Tudo estava fechado, e os outros carros eram utilitários e SUVs, dirigidos pelo
departamento de polícia. Metade da cidade estava sem luz, mas até agora sua
casa não tinha sido atingida. Entretanto, havia uma esperança, a TV e o rádio
anunciavam o fim dos temporais para aquele dia; no dia seguinte, felizmente, o
nível da água começaria a baixar.
Sentou-se na cadeira de balanço na varanda enquanto
Nana e Ben jogavam baralho na cozinha. Era o único jogo em que tinham
habilidades iguais, o que evitava Ben de ficar entediado. Mais tarde, pensou em
deixá-lo correr pelo quintal na hora que fosse dar uma olhada nos cães.
Provavelmente ia desistir de fazer qualquer esforço para mantê-lo seco e ia
deixá-lo molhar toda a roupa; quando deu comida aos cães pela manhã, a capa de
chuva não havia servido para nada.
Ao ouvir o som da chuva batendo constantemente no
telhado, sentiu seus pensamentos divagarem para Drake. Desejou pela milésima
vez poder falar com ele e perguntou-se o que ele teria dito sobre a fotografia.
Será que ele também acreditava em seu poder? Drake nunca havia sido uma pessoa
supersticiosa, mas seu coração batia mais forte toda vez que se lembrava do
pânico inexplicável que sentiu ao perder a fotografia.
Nana estava certa. Ela não
sabia o que Drake tinha vivido lá, como também não sabia qual fora a
experiência de Logan. Por mais informada que fosse, nada daquilo era real para
ela. Ficou imaginando o estresse que eles sentiram, a milhares de quilômetros
de distância, usando coletes à prova de bala, vivendo no meio de pessoas que
não falavam sua língua, tentando sobreviver. Era impossível acreditar que
alguém ia se apegar a algo que acreditava mantê-lo a salvo?
Não, decidiu. Não era diferente de levar consigo uma
medalha de São Cristóvão ou um pé de coelho. Não importava o fato de não haver
lógica nenhuma nisso, a própria lógica não importava. Nem mesmo a crença
absoluta em poderes místicos poderia fazer com que ele se mantivesse a salvo.
Mas ir atrás dela? Assediá-la?
Era aí que não conseguia mais entender. Por mais
cética que fosse em relação às intenções de Keith — ou até mesmo seus esforços
em parecer genuinamente preocupado com seu bem-estar —, tinha de admitir que a
situação a havia deixado extremamente vulnerável.
O que Logan havia dito? Algo sobre ter uma dívida com
ela? Por ter salvo sua vida, supôs, mas como?
Balançou a cabeça negativamente, esgotada pelos
pensamentos que não paravam de passar por sua cabeça. Olhou para cima quando
viu a porta abrir.
— Oi, mamãe!
— Oi, querido.
Ben aproximou-se e sentou-se ao lado dela.
— Onde está Thibault? Eu ainda não o vi.
— Ele não virá.
— Por causa da tempestade?
Ela não havia contado a ele ainda e não estava pronta
para fazê-lo agora.
— Ele tinha umas coisas para fazer.
— Tudo bem — olhando para o quintal, disse: — Não dá
nem para ver o quintal.
— Eu sei. Mas a chuva deve parar muito em breve.
— Já ficou assim antes?
Quando você era pequena?
— Algumas vezes. Mas sempre com furacões.
Ele concordou com a cabeça e ajeitou os óculos. Ela
passou as mãos pelos cabelos dele.
— Ouvi dizer que Logan deu uma coisa para você.
— Não posso falar sobre isso. É segredo — fez em um
tom sério.
— Você pode contar para sua mãe. Sou boa em guardar
segredos.
— Boa tentativa. Não vou cair nessa.
Ela sorriu e se inclinou, colocando o balanço em
movimento com os pés.
— Tudo bem. Já sei da foto.
Ben olhou para ela, imaginando o quanto sabia.
— Eu sei — ela continuou. — É para te proteger.
— Ele te falou?
— Claro.
— Ah — seu desapontamento era evidente — ele disse que
era para que ficasse entre nós dois.
— Está com você? Gostaria de vê-la, se estiver com
você.
Ben hesitou e levou a mão ao bolso. Tirou a fotografia
dobrada e entregou a ela. Beth a abriu e olhou para ela, sentindo uma
necessidade de relembrar os momentos que a antecederam: seu último fim de
semana com Drake e a conversa que tiveram, a roda-gigante, a estrela cadente.
— Ele falou mais alguma coisa quando lhe deu? —
perguntou ao devolver a foto a ele. — Além do fato de ser um segredo, quero
dizer.
— Disse que seu amigo Victor dizia que era um amuleto
da sorte, e que isso o manteve em segurança no Iraque.
Sentiu seu coração acelerar e aproximou seu rosto do
de Ben.
— Você disse que Victor chamava de amuleto da sorte?
— Ah-hã. Foi isso que ele disse.
— Tem certeza?
— Claro que tenho.
Beth
ficou olhando para seu filho, sentindo-se em guerra consigo mesma.
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