Capítulo 35 - Thibault
Depois de se despedir de Elizabeth com um beijo,
Thibault jogou-se no sofá, sentindo-se ao mesmo tempo esgotado e aliviado.
Estava feliz com o fato de Elizabeth tê-lo perdoado, de ter tentado entender
que a intrincada viagem que havia realizado para chegar até lá não era nada
além de um milagre. Ela o aceitava, com todos os seus defeitos, algo que nunca
pensou ser possível.
Antes de ir para casa, tinha-o convidado para jantar,
e, apesar de ter aceitado de imediato, tinha planejado descansar antes de ir.
Senão, duvidava ter forças para conseguir conversar.
Antes de dormir, sabia que tinha de levar Zeus para
passear, mesmo que por pouco tempo. Foi até a varanda dos fundos e pegou uma
capa de chuva. Zeus atrás dele, interessado.
— Sim, vamos sair. Só vou trocar de roupa primeiro.
Zeus latiu de alegria, correndo para a porta e
voltando para Thibault.
— Estou indo o mais rápido que posso. Calma!
Zeus continuou a andar e pular ao seu redor.
— Calma! — Zeus olhou suplicantemente para ele, mas
acabou sentando, mesmo relutante.
Thibault vestiu a capa de chuva, calçou as botas e
abriu a porta de tela. Zeus saiu correndo porta afora, no meio da chuva, e, de
imediato, ficou atolado na lama. Diferente da casa de Nana, a casa de Thibault
ficava em um terreno mais elevado, a água juntava-se a cerca de meio quilômetro
de distância. Mais à frente, Zeus entrou na floresta e depois voltou ao
descampado, andou pela rua de cascalho, correndo e saltando de alegria.
Thibault sorria, sabendo exatamente como ele se sentia.
Ficaram alguns minutos lá fora, andando no meio da
tempestade. O vento estava mais forte; Thibault sentia a chuva caindo em seu
rosto. Não fazia mal. Era a primeira vez em vários anos que se sentia
inteiramente livre.
Percebeu que mal dava para
ver as marcas dos pneus do carro de Elizabeth no começo da rua. Mais um pouco
de chuva e elas iam desaparecer por completo. Mas algo chamou sua atenção e
tentou interpretar o que via. A primeira coisa que lhe ocorreu é que os pneus
que haviam deixado marcas eram largos demais.
Aproximou-se para examinar melhor e concluiu que os
pneus da saída haviam se sobreposto aos da chegada. Foi só quando chegou bem
perto que notou seu erro. Eram dois conjuntos de pneus, os dois com saída e
chegada. Dois carros. No começo, não viu sentido algum.
Sua mente começou a dar vários cliques rapidamente
conforme as peças do quebra-cabeça iam se encaixando. Mais alguém havia estado
ali. O que não fazia sentido, a menos que...
Olhou
para a floresta que levava até o canil. Naquele momento, o vento e a chuva
estavam no auge da sua fúria, semicerrou os olhos antes de prender o fôlego.
Sua mente corria junto com seu corpo, calculando em quanto tempo conseguiria
chegar lá. Esperava conseguir chegar em tempo.
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