Capítulo 13
— Um horror, um horror, um
horror — disse Senhor, sacudindo a nuvem de fumaça que cobria sua cabeça. — Que horror, que horror, que horror.
— Concordo plenamente — disse
o Sr. Poe, tossindo no seu lenço. — Quando
o senhor me telefonou esta manhã descrevendo a situação, fiquei tão horrorizado
que cancelei vários compromissos importantes e peguei o primeiro trem para Paltry
ville, a fim de cuidar pessoalmente desse assunto.
— Ficamos muito agradecidos
— disse Charles.
— Um horror, um horror, um
horror — Senhor voltou a dizer. Os órfãos Baudelaire estavam sentados no chão
do escritório de Senhor e erguiam os olhos para acompanhar a discussão dos
adultos, admirados de como eles podiam falar do acidente com tanta calma. A
palavra ‘’horror’’, mesmo com a repetição em série, não parecia suficiente para
transmitir em toda a plenitude o que havia de literalmente horroroso no
acontecimento. Violet ainda tremia só de lembrar da aparência de Klaus
hipnotizado. Klaus ainda tremia só de lembrar como Charles esteve por um triz
para ser cortado em fatias. Sunny ainda tremia só de lembrar como quase fora
morta na luta de espadas com a Dra. Orwell. E, naturalmente, todos os três
órfãos ainda tremiam só de lembrar como a Dra. Orwell chegara ao fim, expressão
que aqui significa ‘’entrou na serra giratória’’.. As crianças sentiam-se
incapazes até mesmo de falar, quanto mais de participar de uma conversa.
— É inacreditável — disse
Senhor, — que a Dra. Orwell fosse
hipnotizadora e que tenha hipnotizado Klaus para apoderar-se da fortuna dos
Baudelaire. Por sorte, Violet descobriu como anular a hipnose do irmão, e ele
não tornou a provocar acidentes.
— É inacreditável — disse
Charles, — que o capataz Flacutono tenha
me agarrado no meio da noite e me amarrado àquela tora para se apoderar da
fortuna dos Baudelaire. Por sorte, no último momento Klaus inventou um meio de
deslocar a tora, e eu saí com apenas um pequeno corte na sola do pé.
— É inacreditável — disse o
Sr. Poe, depois de uma curta tosse, — que
Shirley quisesse adotar as crianças para se apoderar da fortuna dos Baudelaire.
Por sorte, descobrimos o plano, e agora ela terá de voltar a ser recepcionista.
Ao ouvir isso, Violet rompeu o seu silêncio.
— Shirley não é
recepcionista! — exclamou. — Ela não é
nem mesmo Shirley ! Ela é o conde Olaf!
— Bom, isso aí — disse
Senhor, — é a parte da história que é
tão inacreditável que eu não acredito. Conheci essa jovem, e ela não é nem um
pouco parecida com o conde Olaf! Tem uma única sobrancelha comprida, não resta
dúvida, mas muitas pessoas maravilhosas têm essa característica.
— O senhor tem que
desculpar as crianças — disse o Sr. Poe. — Elas tendem a ver o conde Olaf em toda
parte.
— Isso porque ele está em
toda parte — corrigiu Klaus com amargura.
— Bem — disse Senhor, — ele não esteve aqui em Paltry ville. Bem que
procuramos por ele, lembram-se?
— Uilife! — exclamou Sunny
. Ela queria dizer: ‘’Estava disfarçado, como de costume!’’, ou algo do gênero.
— Podemos ir ver essa tal
de Shirley ? — perguntou Charles timidamente. — As crianças parecem estar bem seguras do que
afirmam. Talvez, se o Sr. Poe pudesse ver essa recepcionista, o assunto ficaria
esclarecido...
— Deixei Shirley e o
capataz Flacutono na biblioteca, e pedi a Phil que os vigiasse — disse Senhor. — Enfim, a biblioteca de Charles revelou-se
útil — como uma cadeia provisória, até esclarecermos o assunto.
— A biblioteca foi da maior
utilidade, Senhor — disse Violet. — Se
eu não tivesse lido Ciência ocular avançada, seu sócio, Charles, estaria morto.
— Com toda a certeza você é
uma criança esperta — disse Charles.
— Sim — concordou Senhor. — Vai se sair maravilhosamente bem no colégio interno.
— Colégio interno? — perguntou
o Sr. Poe.
— Claro — respondeu Senhor,
balançando de modo assertivo sua nuvem de fumaça. — O senhor não espera que eu
fique com eles, imagine só, depois de toda a encrenca que causaram na minha
serraria, não é?
— Mas a culpa não foi
nossa! — exclamou Klaus.
— Isso não interessa — disse
Senhor. — Fizemos um trato. Eu tentaria
manter o conde Olaf à distância, e vocês não provocariam mais acidentes. Vocês
não cumpriram a sua parte do trato.
— Etch! — Sunny gritou
estridentemente, o que significava: ‘’Tampouco você
cumpriu a sua parte no trato!’’. Senhor não lhe deu atenção.
— Bem, vamos ver essa
mulher — disse o Sr. Poe, — e esclarecer
de uma vez por todas se o conde Olaf esteve ou não aqui.
Os três adultos concordaram e as três crianças os seguiram pelo
corredor até a porta da biblioteca, onde Phil se achava sentado numa cadeira
com um livro nas mãos.
— Olá, Phil — disse Violet.
— Como está sua perna?
— Está melhorando — disse
ele e apontou para o gesso. — Estive
montando guarda na porta, Senhor. Nem Shirley nem o capataz Flacutono
escaparam. Ah, sim, eu queria dizer também que andei lendo este livro, A
Constituição de Paltry ville. Não entendo todas as palavras, mas, pelo que diz
aqui, parece que é ilegal pagar somente tíquetes aos empregados.
— Sobre isso a gente
conversa mais tarde — apressou-se em dizer Senhor. — Precisamos falar com
Shirley .
Senhor estendeu o braço para a frente e abriu a porta, revelando
Shirley e o capataz Flacutono sentados tranqüilos diante de duas mesas perto da
janela. Shirley tinha o livro da Dra. Orwell numa das mãos, e com a outra
acenou para as crianças.
— Olá, crianças! — cumprimentou
com sua artifi-cialíssima voz de falsete. — Estava tão preocupada com vocês!
— E eu também! — disse o
capataz Flacutono. — Graças a Deus não
estou mais hipnotizado e não vou mais maltratar vocês!
— Então vocês também foram
hipnotizados? — perguntou Senhor.
— Claro que sim! — exclamou
Shirley . Ela abaixou-se e acariciou a cabeça das três crianças. — Do contrário jamais teríamos agido de modo
tão horroroso, ainda mais com essas três crianças tão maravilhosas e delicadas!
— Por detrás dos cílios postiços, os
olhos brilhantes de Shirley fixavam os Baudelaire como se ela fosse comê-los
assim que tivesse uma oportunidade.
— Está vendo? — disse
Senhor ao Sr. Poe. — Não é de admirar
que o capataz Flacutono e Shirley tenham agido de modo tão horrível. Está claro
que ela não é o conde Olaf!
— Conde quem? — perguntou o
capataz Flacutono. — Nunca ouvi falar
desse homem.
— Nem eu — disse Shirley , — sou apenas uma recepcionista.
— Talvez você não seja
apenas uma recepcionista — disse Senhor. — Talvez você seja também uma mãe. O que o
senhor me diz, Sr. Poe? Shirley quer realmente criar essas crianças, e elas
constituem um problema grande demais para mim.
— Não! — exclamou Klaus. — Ela é o conde Olaf, não é Shirley! — O Sr. Poe tossiu longamente no seu lenço
branco, e os três Baudelaire esperaram, tensos, que ele parasse de tossir e
dissesse alguma coisa.
Enfim, afastou o lenço e disse para Shirley:
— Lamento dizer isto, minha
senhora, mas as crianças estão convencidas de que a senhora é um homem chamado
conde Olaf disfarçado em recepcionista.
— Se quiser — disse Shirley,
— posso levá-lo até o consultório da Dra.
Orwell — da falecida Dra. Orwell — e mostrar-lhe minha mesa, onde há uma placa
com meu nome. Está escrito claramente: 'Shirley '.
— Não me parece que isso
seria suficiente — disse o Sr. Poe. — A
senhora não nos
faria a cortesia de mostrar seu tornozelo esquerdo?
— Bem, não me parece
educado olhar para as pernas de uma senhora — disse Shirley. — O senhor sabe disso, claro.
— Se o seu tornozelo
esquerdo não tiver a tatuagem de um olho — disse o Sr. Poe, — então com toda a certeza a senhora não é o
conde Olaf.
Os olhos de Shirley emitiram um brilho muito, muito intenso, e ela
lançou um grande sorriso com os dentes todos à mostra.
— E se tiver? — perguntou,
levantando ligeiramente a saia. — E se
tiver a tatuagem de um olho? — Os olhos de todos voltaram-se para o tornozelo de
Shirley , onde um olho único e isolado fixava os seus observadores. Ele se parecia
com a casa em forma de olho da Dra. Orwell, que observava os órfãos Baudelaire
desde a chegada a Paltry ville. Ele se parecia com o olho na capa do livro da Dra.
Orwell, que os encarava desde que começaram a trabalhar na Serraria Alto-Astral.
E, é claro, se parecia bastante com a tatuagem do conde Olaf, que estava no
encalço dos órfãos Baudelaire desde que seus pais morreram.
— Neste caso — disse o Sr.
Poe depois de uma pausa, — você não é Shirley . Você é o conde Olaf, e
considere-se preso. Ordeno-lhe que se desfaça desse ridículo disfarce!
— Devo me desfazer do meu
ridículo disfarce, eu também? — perguntou o capataz Flacutono, e arrancou sua
peruca branca com um gesto ágil e decidido. Não causou espanto às crianças que
ele fosse careca — sempre souberam que aquela cabeleira absurda era uma peruca,
desde o primeiro momento em que puseram os olhos nela — mas havia algo na forma
de sua cabeça calva que de repente lhes trouxe lembranças. Encarando os órfãos
com seus olhos miúdos e redondos, ele retirou também a máscara cirúrgica sobre
seu rosto. Um nariz comprido se revelou do achatamento a que fora forçado sob a
máscara, e os irmãos perceberam imediatamente que se tratava de um dos
auxiliares do conde Olaf.
— É o careca! — exclamou Violet.
— De nariz comprido! — exclamou
Klaus.
— Plemo! — exclamou Sunny ,
querendo dizer: ‘’Que trabalha para o conde Olaf!’’.
— Acho que tivemos muita
sorte de pegar dois criminosos hoje! — disse o Sr. Poe.
— Bem, três, se incluir a Dra.
Orwell — disse o conde Olaf (Que alívio é chamá-lo assim e não de Shirley !).
— Basta de tantos absurdos
— disse o Sr. Poe. — Você, conde Olaf,
está preso por vários assassinatos e tentativas de assassinatos, várias fraudes
e tentativas de fraudes, vários atos abjetos e tentativas de atos abjetos.
Quanto a você, meu caro careca e narigudo, está preso por ter prestado ajuda a
ele.
O conde Olaf deu de ombros, atirando sua peruca ao chão, e sorriu
para os Baudelaire de um jeito que eles reconheceram com aflição. Era um certo
sorriso que aparecia no conde Olaf exatamente quando tudo levava a crer que ele
não tinha saída. Um sorriso que dava a entender que o conde Olaf estava
contando uma piada, um sorriso acompanhado pelo brilho intenso de seus olhos e
por um trabalho acelerado, furioso, de seu cérebro perverso.
— Este livro, sem dúvida,
foi de grande ajuda para vocês, órfãos — disse o conde Olaf, erguendo para o
alto o Ciência ocular avançada da Dra. Orwell, — e agora é a mim que ele vai ajudar.
Com todo o ímpeto que lhe dava a sua força extraordinária, o conde
Olaf virou-se e jogou o pesado volume contra uma das janelas envidraçadas da
biblioteca. Ouviu-se o impacto sobre a vidraça, que deixou um buraco
considerável na janela, suficiente para que uma pessoa pudesse passar — e foi
exatamente isso o que o careca fez, franzindo o longo nariz para as crianças
como se elas exalassem mau cheiro. O conde Olaf soltou uma gargalhada horrível
e brutal, e seguiu seu camarada, fugindo pela janela para bem longe de Paltry
ville.
— Voltarei para apanhá-los,
órfãos! — ameaçou. — Voltarei para
acabar com suas vidas!
— Egad! — disse Sunny ,
usando uma expressão que aqui significa: ‘’Ah, não! Ele está fugindo!’’.
Senhor avançou às pressas para a janela, e acompanhou a fuga do
conde Olaf e do careca, que corriam o mais rápido que suas pernas magrelas
permitiam.
— Não voltem aqui! — berrou
Senhor para que o ouvissem. — Não
voltem, porque os órfãos não estarão aqui!
— O que o senhor quer dizer
com isto: os órfãos não estarão aqui? — perguntou o Sr. Poe energicamente. — O senhor fez um trato, e não cumpriu a sua
parte! O conde Olaf afinal de contas estava aqui!
— Isso não interessa — disse
Senhor, movendo a mão num gesto de pouco-caso. — Para onde esses Baudelaire
vão, eles chamam desgraças, e eu já estou farto disso!
— Mas, Senhor — disse
Charles, — eles são umas crianças tão
boas!
— Não vou mais discutir o
assunto — disse Senhor. — Na placa sobre
minha mesa está escrito 'Chefe', e é isso que eu sou. O chefe tem a última
palavra, e a última palavra é: As crianças já não são bem-vindas na
Alto-Astral!
Violet, Klaus e Sunny se entreolharam. Está claro que — As
crianças já não são bem-vindas na Alto-Astral — não é a última palavra, é um
monte de palavras, e eles sabiam, é claro, que quando Senhor disse — a última palavra — não estava se referindo a uma palavra que
fosse necessariamente uma só, mas à opinião final sobre a situação. A
experiência deles na serraria, entretanto, tinha sido tão horrorosa que não se
importaram muito de deixar Paltry ville. Até mesmo um colégio interno prometia
ser melhor do que os dias passados com o capataz Flacutono, a Dra. Orwell e a
pérfida Shirley . Lamento dizer a vocês, leitores, que os órfãos estavam
enganados ao pensar que o colégio interno seria melhor, porém naquele momento
não sabiam o que teriam pela frente, sabiam apenas dos problemas que tinham
ficado para trás e dos problemas que haviam fugido pela janela.
— Podemos, por favor,
discutir esse assunto mais tarde — perguntou Violet, — e chamar a polícia? Talvez o conde Olaf
ainda possa ser apanhado.
— Excelente ideia, Violet —
disse o Sr. Poe, se bem que o mais natural seria ele próprio ter tido essa
idéia antes. — Senhor, me dê o telefone
para que possamos chamar as autoridades.
— Pois não — disse Senhor,
mal-humorado. — Mas lembre-se: esta é
minha última palavra sobre o assunto. Charles, faça um milk-shake para mim.
Estou morrendo de vontade.
— Sim, Senhor — disse
Charles; mancando, seguiu os passos de seu sócio e do Sr. Poe, que já haviam
saído da biblioteca. Quando transpunha a porta, parou e sorriu para os
Baudelaire, desculpando-se.
— Sinto muito — disse-lhes.
— Sinto muito que não tornarei a vê-los.
Mas Senhor deve saber o que faz, acho.
— Também sentimos muito,
Charles — disse Klaus. — E sinto muito
ter trazido tanto aborrecimento para você.
— Não foi culpa sua — disse
Charles carinhosamente, e nesse momento Phil surgiu mancando atrás dele.
— O que aconteceu? — perguntou
Phil. — Ouvi barulho de vidro quebrado.
— O conde Olaf fugiu — disse
Violet, e sentiu um peso no coração só de pensar que aquilo havia acontecido
mesmo. — Shirley era na verdade o conde
Olaf disfarçado, e ele fugiu, como sempre.
— Bem, se olharem a coisa
pelo melhor ângulo, até que podem se considerar com muita sorte — disse Phil, e
os órfãos dirigiram a seu amigo otimista um olhar intrigado; em seguida os três
entreolharam-se intrigados. Noutros tempos haviam sido crianças felizes, tão
contentes e satisfeitas com a vida que nem sequer haviam percebido o quanto
eram felizes. Então veio o terrível incêndio, e a impressão que tinham era que
dali por diante a vida deles teve raros momentos favoráveis. O que dizer então
de um melhor ângulo!
Mudando de uma casa para outra, só encontraram sofrimento e
desgraça para onde quer que fossem, e agora o homem que causara aquela
desgraceira toda fugira mais uma vez. Na verdade, não se consideravam nem um
pouco com sorte.
— O que você quer dizer? — perguntou
Klaus.
— Bem, deixe-me pensar — disse
Phil, e ficou pensando por um momento. Ao fundo, os órfãos podiam ouvir, entre
sons confusos, o Sr. Poe descrevendo o conde Olaf para alguém; provavelmente
estava no telefone. — Vocês estão vivos
— disse Phil finalmente.
— Isso é uma sorte. E tenho
certeza de que podem pensar em alguma outra coisa.
Os três pequenos Baudelaire entreolharam-se, em seguida olharam
para Charles e para Phil, as únicas pessoas em Paltry ville que tinham sido
boas com eles. Ainda que não fossem sentir saudades do dormitório, ou dos
chicletes do almoço e dos bifes do tipo sola de sapato do jantar, ou do
trabalho duro e cansativo na serraria, os órfãos sentiriam saudades daquelas
duas pessoas tão gentis. Ao pensar em quem lhes inspiraria saudades, eles foram
levados a pensar em como se sentiriam caso algo ainda pior lhes tivesse
acontecido. E se Sunny tivesse perdido a luta de espada? E se Klaus houvesse
permanecido hipnotizado para sempre? E se Violet, e não a Dra. Orwell, tivesse
dado um passo em falso e entrado na serra giratória? Os Baudelaire observavam o
sol entrando pela vidraça partida por onde o conde Olaf escapara, e tremeram só
de pensar no que poderia ter acontecido. Nunca lhes parecera que estar vivo pudesse
ser considerado sorte, mas quando as crianças repassaram em suas mentes o
período terrível que viveram sob a guarda de Senhor, espantaram-se com os
muitos lances de sorte que de fato ocorreram.
— Foi mesmo uma sorte — admitiu
Violet, — Klaus ter inventado o que
inventou tão depressa, apesar de não ser um inventor.
— Foi mesmo uma sorte — admitiu
Klaus, — Violet ter descoberto como me
tirar da hipnose, apesar de não ser uma pesquisadora.
— Croif — , admitiu Sunny ,
o que provavelmente significava: ‘’Foi mesmo uma sorte eu ter conseguido nos
defender da espada da Dra. Orwell, e não importa se sou eu quem está dizendo
isso’’.
Os jovens Baudelaire suspiraram e trocaram pequenos sorrisos de
esperança. O conde Olaf estava à solta, e faria uma nova tentativa de se
apoderar da fortuna deles, mas o importante era que dessa vez não tinha
conseguido. Eles estavam vivos, e ali, juntos diante da janela partida, parecia
que a palavra final para definir a situação deles seria ‘’sortudos’’, justamente
aquela que desencadeara tantos problemas para eles. Os órfãos Baudelaire
estavam vivos, e, se pensarmos bem, na verdade a sorte que tiveram talvez tenha
sido mesmo exorbitante.
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