Capítulo 13
OS DIAS SEGUINTES se passaram sem muitas
novidades, o que apenas fez com que parecessem mais longos do que o habitual
para Alex. Ele não conversava com Katie desde que a havia deixado em casa na
noite de domingo. Não era algo completamente inesperado, pois ele sabia que ela
iria trabalhar bastante naquela semana; entretanto, mais de uma vez ele se
apanhou saindo da loja e olhando pela estrada na direção da casa dela,
sentindo-se vagamente decepcionado quando não a via.
Foi o bastante para esmagar a ilusão de que ele a
havia encantado de tal maneira que ela não conseguiria resistir à tentação de
vir à loja para vê-lo. Mesmo assim, ficou surpreso pelo entusiasmo quase adolescente que sentia ao pensar em revê-la, mesmo que Katie não tivesse o mesmo
sentimento. Ele a imaginava na praia, com seu cabelo castanho balançando com
a brisa, as feições delicadas do seu rosto e olhos que pareciam mudar de cor
toda vez que a via. Pouco a pouco, ela conseguiu relaxar conforme o dia avançou
e Alex teve a sensação de que o passeio na praia havia, de algum modo,
suavizado a resistência que ela tinha.
Não era apenas o passado
de Katie que o intrigava, mas também todas as outras coisas que ele não sabia a
seu respeito. Tentou imaginar, por exemplo, que tipo de música ela gostava ou
qual a primeira coisa que pensava quando acordava pela manhã, ou se ela já
havia ido até um estádio de beisebol para assistir a uma partida. Ele se perguntava se ela dormia de costas ou de lado e, se tivesse a oportunidade de
escolher, se preferiria tomar banho em um chuveiro ou em uma banheira. Quanto
mais pensava nela, mais curioso ficava.
Na quinta-feira, Alex estava decidindo se deveria ir
até a casa de Katie ou não. Ele queria fazer isso e já havia até pegado as
chaves do carro, mas acabou desistindo da ideia porque não sabia o que diria
quando chegasse lá. Também não sabia qual seria a reação de Katie. Será que
iria sorrir? Ou seria tomada pelo nervosismo? Ela o convidaria para entrar ou
o mandaria embora? Por mais que ele tentasse imaginar o que aconteceria, não
conseguiu, então acabou deixando as chaves do carro de lado.
Era complicado. Mas acabou se lembrando, mais uma vez,
de que ela era uma mulher misteriosa.
***
NÃO DEMOROU MUITO para que Katie admitisse
que a bicicleta fora um presente que caiu dos céus. Além de poder voltar para
casa nos dias em que trabalhava por dois períodos no restaurante, ela sentiu
que, pela primeira vez, poderia realmente começar a explorar a cidade. E foi
exatamente o que fez. Na terça-feira, visitou duas lojas de antiguidades,
apreciou as paisagens marítimas pintadas em aquarela que estavam expostas em
uma galeria de artes e pedalou por entre alguns dos bairros de Southport,
admirando as amplas varandas e os pórticos que adornavam as casas perto da orla
marinha. Na quarta, foi até a biblioteca e passou algumas horas examinando as prateleiras, lendo as
orelhas dos livros do acervo e enchendo a cestinha da bicicleta com os romances
que despertaram seu interesse.
Durante a noite, entretanto, enquanto lia os livros
que havia tomado emprestado deitada em sua cama, ela às vezes percebia que
perdia a concentração e deixava a imagem de Alex povoar seus pensamentos. Com
as memórias da época em que vivia em Altoona, ela percebeu que Alex fazia com
que se lembrasse do pai de sua amiga Callie. Durante o segundo ano do ensino
médio, Callie morava na mesma rua que ela e, embora não se conhecessem tão bem
— Callie era dois anos mais nova — Katie se lembrava de sentar nos degraus
da sua varanda nas manhãs de sábado. Como um relógio, o pai de Callie abria a
porta da garagem, assobiando uma música enquanto tirava o cortador de grama e o
posicionava em um dos cantos do jardim. Ele tinha orgulho do seu jardim — era provavelmente
o mais bem cuidado de todo o bairro — e ela o observava enquanto ele passava
o aparelho sobre o gramado com uma precisão militar. De vez em quando, ele
parava para tirar um galho caído no caminho do cortador e, naqueles momentos,
esfregava o rosto com um lenço que deixava guardado no bolso de trás do seu
short. Quando terminava, apoiava-se no capô do carro que deixava estacionado em
frente à sua garagem, degustando um copo de limonada que sua esposa sempre
vinha lhe trazer. Às vezes, ela se recostava no carro ao lado do marido, e
Katie sorria enquanto o observava tocar o quadril da esposa quando queria que
ela lhe desse atenção.
Havia um quê de satisfação na maneira como ele bebia a
limonada e tocava a esposa que fazia Katie pensar. Aquele homem estava
satisfeito com a vida que tinha e todos os seus sonhos, de alguma forma, haviam
se realizado. Frequentemente, enquanto Katie o observava, ela se
perguntava como seria sua vida se ela tivesse nascido naquela família.
Alex tinha aquele mesmo ar de satisfação quando seus
filhos estavam por perto. De certa maneira, ele não somente havia conseguido superar a tragédia de perder a esposa, mas havia conseguido fazê-lo com
força suficiente para ajudar seus filhos a superarem aquela perda também.
Quando ele falava sobre a esposa falecida, Katie havia tentado perceber se
havia tristeza ou autopiedade em sua voz, mas não detectou nenhum desses
sentimentos. É claro que havia ressentimento e um toque de solidão. Entretanto,
mesmo quando Alex falava sobre sua esposa, ele não fazia comparações entre ela
e Katie. Ele parecia aceitá-la e, mesmo que ela não soubesse exatamente
quando aquilo havia acontecido, percebeu que estava se sentindo atraída.
Mesmo assim, seus sentimentos eram bastante complicados.
Katie não baixava a guarda para deixar alguém se aproximar desde o tempo em que
tinha morado em Atlantic City, e a experiência acabara sendo um pesadelo.
Entretanto, por mais que ela tentasse permanecer distante, parecia que toda vez
que ela via Alex algo acontecia para fazer com que os dois se aproximassem. Às
vezes por acidente, como o dia em que Josh caiu no rio e ela ficou com Kristen.
Outras vezes, parecia até mesmo que era obra do destino. Como no dia em que a
tempestade caiu. Ou quando Kristen saiu da loja e implorou a ela para que
fosse à praia com a família. Quanto mais tempo ela passava ao lado de Alex,
mais sentia que ele sabia muito mais do que deixava transparecer e aquilo a
assustava. Fazia com que se sentisse nua e vulnerável e aquele era um dos
motivos pelo qual ela evitara ir até a loja dele durante a semana inteira. Ela
precisava de tempo para pensar, tempo para decidir o que faria a respeito
daquela situação, se é que faria alguma coisa.
Infelizmente, ela havia
passado tempo demais se lembrando da maneira como as linhas de expressão ao
lado dos olhos de Alex se juntavam quando ele sorria, ou dos movimentos
graciosos que ele fizera ao sair do mar. Pensou em Kristen buscando a mão do
pai e a total confiança que Katie via naquele simples gesto. No início, Jo
havia dito algo sobre Alex ser um bom homem, o tipo de homem que faz a coisa
certa e, embora Katie não pudesse dizer que o conhecesse bem, seus instintos
lhe diziam que ele era um homem em quem ela podia confiar. Que, não importava o
que lhe dissesse, ele a apoiaria, guardaria seus segredos e nunca usaria o que
sabia para magoá-la.
Eram
ideias irracionais e ilógicas, que iam contra tudo o que ela tinha prometido a
si mesma quando se mudou para Southport. Mas Katie percebeu que queria que ele
a conhecesse melhor. Ela queria que ele a entendesse, porque tinha a estranha
sensação de que ele era o tipo de homem pelo qual ela poderia se apaixonar,
mesmo que não quisesse.
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