Capítulo 1
Não importa quem você seja, não importa onde você more, e não
importa quantas pessoas o estejam perseguindo, o que você não lê é muitas vezes
tão importante quanto o que você realmente lê. Por exemplo, se você está
caminhando nas montanhas e não lê a placa que diz ‘‘‘‘Cuidado com o
Despenhadeiro’‘‘‘ porque está ocupado lendo, em vez disso, um livro de piadas,
pode de repente se dar conta de que está caminhando no ar em vez de andar sobre
uma sólida base rochosa. Se você está assando uma torta para os seus amigos e
lê um artigo intitulado ‘‘‘‘Como
construir uma cadeira’‘‘‘ no lugar do livro de receitas, a sua torta
provavelmente acabará ficando com gosto de madeira e pregos em vez de crosta
crocante e recheio de frutas. E se você insistir em ler este livro em vez de ler
alguma coisa mais alegre, muito certamente ficará gemendo de desespero em vez
de se contorcer de prazer e, portanto, se tiver um pingo de juízo, porá de lado
este livro e irá pegar um outro. Por exemplo, eu sei de um livro chamado O
menorzinho dos elfos, que conta a história de um homenzinho minúsculo que fica
correndo de um lado para outro no País das Fadas, vivendo toda sorte de
aventuras adoráveis, e você logo irá perceber que, provavelmente, faria melhor
em ler O menorzinho dos elfos e se contorcer de prazer com as coisas adoráveis
que aconteceram com essa criatura imaginária em um lugar de faz-de-conta, em
vez de ler este livro e ficar gemendo com as coisas terríveis que aconteceram
com os três órfãos Baudelaire na pequena cidade onde estou agora batendo à
máquina estas mesmas palavras. Os tormentos, desgraças e perfídias contidos nas
páginas deste livro são tão pavorosos que é importante que você não leia mais
nada além do que já leu.
Os órfãos Baudelaire, na época em que começa esta história,
certamente desejariam não estar lendo o jornal que tinham diante dos olhos. Um
jornal, como estou certo de que vocês já sabem, é uma coleção de histórias
supostamente verdadeiras, escritas por autores que, ou as viram acontecer, ou
falaram com pessoas que viram.
Esses autores são chamados jornalistas e, do mesmo modo que
telefonistas, açougueiros, bailarinas e pessoas que ficam limpando a sujeira
dos cavalos, os jornalistas podem às vezes cometer erros. Este foi certamente o
caso com a primeira página da edição matutina d’‘O Pundonor Diário, que as
crianças Baudelaire estavam lendo no escritório do Sr. Poe. — GÊMEOS CAPTURADOS PELO CONDE OMAR — dizia a
manchete, e os três irmãos se entreolharam, perplexos com os erros que os
jornalistas d’‘O Pundonor Diário tinham cometido.
— ‘‘Duncan e Isadora
Quagmire’‘ — leu Violet em voz alta, — os gêmeos que são os únicos
sobreviventes conhecidos da família Quagmire, foram raptados pelo notório conde
Omar. Omar é procurado pela polícia por uma grande variedade de crimes
escabrosos, e é facilmente reconhecível por sua única e longa sobrancelha e
pelo olho tatuado no tornozelo esquerdo. Omar também raptou Esmé Squalor, a
sexta consultora financeira mais importante da cidade, por razões desconhecidas.
Eca! A palavra ‘‘‘‘Eca!’‘‘‘ não estava no jornal, é claro, mas foi algo que
Violet pronunciou ela mesma, como um modo de dizer que estava enojada demais
para prosseguir com a leitura. — Se eu
inventasse alguma coisa de um jeito tão desleixado quanto este jornal escreve
as suas matérias — disse ela, — o invento se desmancharia sozinho
imediatamente. — Violet, que aos catorze anos era a mais velha das crianças
Baudelaire, era também uma excelente inventora e passava um bocado de tempo com
o cabelo amarrado com uma fita, para impedir que caísse nos olhos enquanto
pensava em novos dispositivos mecânicos.
— E se eu lesse livros de
um jeito tão desleixado — disse Klaus, — não conseguiria me lembrar de um só
fato que fosse. — Klaus, o Baudelaire do meio, tinha lido mais livros que
qualquer pessoa da sua idade, que era quase treze anos. Em muitos momentos cruciais,
suas irmãs já tinham contado com ele para se lembrar de algum fato útil de um livro
que tinha lido anos antes.
— Krechin! — disse Sunny.
Sunny, a mais jovem dos Baudelaire, era um bebê pouco maior que uma melancia.
Como muitas criancinhas, Sunny muitas vezes dizia palavras que eram difíceis de
entender, como — Krechin! — que
significava algo na linha de ‘‘‘‘E se eu usasse os meus quatro dentões para
morder alguma coisa de um jeito tão desleixado, não deixaria nem marca da
mordida!’‘‘‘.
Violet trouxe o jornal mais para perto de uma das luzes de leitura
que o Sr. Poe tinha no seu escritório, e começou a contar os erros que
apareciam nas primeiras sentenças que tinha lido.
— Para começar — disse ela,
— os Quagmire não são gêmeos. Eles são trigêmeos. O fato de que o irmão deles
pereceu no incêndio que matou os seus pais não muda a sua identidade de
nascença.
— É claro que não —
concordou Klaus. — E eles foram raptados
pelo conde Olaf, não Ornar. Já dificulta bastante as coisas o fato de que Olaf
está sempre disfarçado, mas agora o jornal disfarçou o nome dele também!
— Esmé! — acrescentou
Sunny, e seus irmãos concordaram, balançando a cabeça.
A mais jovem dos Baudelaire estava falando da parte do artigo que
mencionava Esmé Squalor. Esmé e seu marido, Jerome, tinham sido recentemente os
tutores dos Baudelaire, e as crianças viram com seus próprios olhos que Esmé não
fora raptada pelo Conde Olaf. Esmé ajudara Olaf em segredo com o seu pérfido
esquema, e fugira com ele no último minuto.
— E ‘‘‘‘por razões
desconhecidas’‘‘‘ é o maior erro de todos — disse Violet, sombria. — As razões não são desconhecidas. Nós as
conhecemos. Nós sabemos as razões por que Esmé, o conde Olaf e todos os seus
cúmplices fizeram tantas coisas horríveis. É porque são pessoas horríveis. — Violet
pôs de lado O Pundonor Diário, correu os olhos pelo escritório do Sr. Poe e
uniu-se aos irmãos em um triste e profundo suspiro.
Os órfãos Baudelaire estavam suspirando não só pelas coisas que
tinham lido, como pelas coisas que não tinham lido. O artigo não mencionava que
tanto os Quagmire como os Baudelaire tinham perdido os pais em incêndios
terríveis, e que ambos os casais de pais tinham deixado enormes fortunas, e que
o conde Olaf tinha maquinado todos os seus planos maléficos só para
apropriar-se daquelas fortunas. O jornal deixara de observar que os trigêmeos
Quagmire tinham sido raptados enquanto tentavam ajudar os Baudelaire a escapar
das garras do conde Olaf, e que os Baudelaire quase conseguiram salvar os Quagmire,
para em seguida vê-los arrebatados mais uma vez. Os jornalistas que escreveram
a matéria não tinham incluído o fato de que Duncan Quagmire, que era ele mesmo
um jornalista, e Isadora Quagmire, que era uma poeta, levavam sempre consigo um
caderno cada um, aonde quer que fossem, e que em seus cadernos eles tinham anotado
um segredo terrível que descobriram sobre o conde Olaf, porém tudo o que os Baudelaire
sabiam a respeito desse segredo eram as iniciais C.S.C. , e que Violet, Klaus e
Sunny estavam sempre pensando naquelas três letras e na coisa horripilante que poderiam
significar. Chocante, mais que tudo, entretanto, era os órfãos Baudelaire não terem
lido nem uma palavra sobre o fato de que os trigêmeos Quagmire eram bons amigos
deles, e que os três irmãos estavam muito preocupados com os Quagmire, e que todas
as noites, quando tentavam dormir, suas cabeças se enchiam de imagens horríveis
do que poderia estar acontecendo com seus amigos, que eram praticamente a única
coisa feliz ocorrida nas vidas dos Baudelaire desde que receberam a notícia do
incêndio que matara seus pais e dera início à série de desventuras que parecia
segui-los aonde quer que fossem. O artigo n’‘O Pundonor Diário provavelmente
não mencionou esses detalhes porque o jornalista que escrevera a matéria nada
sabia a respeito deles, ou não pensou que fossem importantes, mas os Baudelaire
sabiam tudo a respeito deles, e as três crianças ficaram sentadas juntas por
alguns momentos e pensaram em silêncio sobre aqueles detalhes muito, muito
importantes.
Um acesso de tosse vindo da porta do escritório tirou-os de seus
pensamentos, e os Baudelaire se voltaram para ver o Sr. Poe tossindo para
dentro de um lenço branco. O Sr. Poe era um banqueiro que fora encarregado de
cuidar dos órfãos depois do incêndio, e lamento dizer que ele era extremamente
propenso a erros, uma expressão que aqui significa ‘‘‘‘estava sempre com tosse
e pusera as três crianças Baudelaire em um grande número de situações perigosas’‘‘‘.
O primeiro tutor que o Sr. Poe encontrou para os jovens foi o próprio conde
Olaf, e a tutora mais recente que encontrou para eles foi Esmé Squalor e, entre
os dois, pusera as crianças em uma variedade de circunstâncias que provaram ser
igualmente desagradáveis. Nessa manhã eles deveriam ficar sabendo acerca do seu
novo lar, mas até agora tudo o que o Sr. Poe fizera fora ter diversos ataques
de tosse e deixá-los às voltas com um jornal mal escrito.
— Bom dia, crianças — disse
o Sr. Poe. — Sinto por tê-las deixado
esperando, mas desde que fui promovido a Vice-Presidente Encarregado dos
Assuntos de Órfãos tenho andado muito, muito ocupado. Além disso, encontrar um
novo lar para vocês foi uma tarefa um tanto aborrecida. — Ele foi até a sua escrivaninha, que estava
coberta por pilhas de papéis, e sentou-se em uma grande cadeira. — Fiz telefonemas para uma porção de parentes
distantes de vocês, mas todos eles ouviram falar das coisas terríveis que tendem
a acontecer onde quer que vocês se encontrem. É compreensível, eles ficam desassossegados
demais por causa do conde Olaf para concordar em tomar conta de vocês. ‘‘Desassossegado’‘,
aliás, quer dizer ‘‘nervoso’‘. Há mais uma... — Um dos três telefones em cima da mesa do Sr.
Poe interrompeu-o com um toque estridente e feio. — Com licença — disse o banqueiro às crianças,
e começou a falar ao telefone. — Aqui é
Poe. O. K. O. K. O. K. Foi o que eu pensei. O. K. O. K. Obrigado, Sr. Fagin. — O Sr.
Poe desligou o telefone e fez uma marca em um dos papéis sobre a sua escrivaninha.
— Era um primo de vocês em décimo nono
grau — disse o Sr. Poe, — e a minha última esperança. Achei que poderia
persuadi-lo a ficar com vocês, só por uns poucos meses, mas ele recusou. Não
posso culpá-lo. Receio que a reputação de vocês como encrenqueiros esteja
arruinando até mesmo a reputação do meu banco.
— Mas nós não somos
encrenqueiros — disse Klaus. — O
encrenqueiro é o conde Olaf.
O Sr. Poe tirou o jornal das crianças e examinou-o atentamente.
— Bem, tenho certeza de que
a matéria n’‘O Pundonor Diário vai ajudar as autoridades a finalmente capturarem
Olaf, e então os seus parentes vão ficar menos desassossegados.
— Mas a matéria está cheia
de erros — disse Violet.
— As autoridades não vão
saber nem qual é o verdadeiro nome dele. O jornal o chama de Ornar.
— A matéria foi um
desapontamento para mim também — disse o Sr. Poe. — O jornalista disse que o jornal publicaria
uma fotografia minha com o artigo, e uma legenda sobre a minha promoção. Mandei
cortar o cabelo especialmente para isso. Ver o meu nome nos jornais teria
deixado minha mulher e meus filhos muito orgulhosos, por isso entendo por que
vocês ficaram desapontados com o fato de o artigo ser sobre os gêmeos Quagmire,
e não sobre vocês.
— Não ligamos para ver os
nossos nomes saindo nos jornais — disse Klaus, — e além disso, os Quagmire são
trigêmeos, e não gêmeos.
— A morte do irmão deles
muda a sua identidade de nascença — explicou o Sr. Poe severamente, — mas não
tenho tempo para falar sobre isso. Precisamos descobrir... — Tocou outro telefone e o Sr. Poe desculpou-se
de novo. — Aqui é Poe — disse ele ao
telefone. — Não. Não. Não. Sim. Sim. Não
importa. Até logo. — Ele desligou o
telefone e tossiu no seu lenço branco antes de enxugar a boca e voltar-se de
novo para as crianças. — Bem, esse telefonema resolveu todos os seus problemas —
disse ele simplesmente. Os Baudelaire se entreolharam. Teriam prendido o conde
Olaf? Os Quagmire teriam sido salvos? Alguém teria inventado um jeito de voltar
no tempo e salvar seus pais do terrível incêndio? Como poderiam todos os seus
problemas ter sido resolvidos com um telefonema a um banqueiro?
— Plinn? — perguntou Sunny.
O Sr. Poe sorriu.
— Vocês já ouviram o
aforismo — disse ele, — ‘‘É preciso uma cidade para educar uma criança?
As crianças se entreolharam de novo, desta vez um pouco menos
esperançosas. A citação de um aforismo, como os latidos zangados de um cão ou o
cheiro de brócolis cozido demais, raramente é sinal de que algo de proveitoso
está para acontecer. Um aforismo é apenas um pequeno grupo de palavras
dispostas em uma certa ordem porque soam bem assim, porém muitas vezes as
pessoas tendem a dize-las como se estivessem dizendo algo muito misterioso e
sábio.
— Sei que isto provavelmente
soa misterioso para vocês — continuou o Sr. Poe, — mas na verdade o aforismo é
muito sério. ‘‘É preciso uma cidade para educar uma criança’‘ significa que a
responsabilidade por cuidar dos jovens cabe a todos na comunidade
— Acho que li alguma coisa
a respeito desse aforismo em um livro sobre os pigmeus Mbuti — disse Klaus. — O senhor está nos mandando para viver na
África?
— Não seja bobo — disse o Sr.
Poe, como se os milhões de pessoas que vivem na África fossem todos ridículos. — Era a Prefeitura ao telefone. Diversas
cidadezinhas dos arredores se inscreveram em um novo programa de tutoria
baseado no aforismo ‘‘É preciso uma cidade para educar uma criança. Órfãos são
enviados a essas cidades e todas as pessoas que vivem lá os educam em conjunto.
Normalmente, eu sou a favor de estruturas familiares mais tradicionais, mas
isto é realmente muito conveniente, e o testamento dos seus pais determina que
vocês sejam educados do modo mais conveniente possível.
— Quer dizer que a
cidadezinha inteira vai tomar conta de nós? — perguntou Violet. — É um bocado
de gente.
— Bem, imagino que eles
devem se revezar — disse o Sr. Poe, coçando o queixo. — Não é como se vocês
fossem postos na cama por três mil pessoas ao mesmo tempo.
— Snoita! — gritou Sunny.
Ela queria dizer alguma coisa como ‘’Prefiro ser posta na cama pelos meus
irmãos, e não por estranhos!’’, mas o Sr. Poe estava ocupado examinando os
papéis em cima da sua mesa e não respondeu.
— Tenho a impressão de que
recebi um folheto sobre esse programa pelo correio algumas semanas atrás —
disse ele, — mas acho que se perdeu em algum lugar nesta mesa. Ah, aqui está.
Dêem uma olhada vocês mesmos.
O Sr. Poe estendeu a mão por cima da mesa para entregar-lhes um
folheto colorido, e os órfãos Baudelaire deram uma olhada eles mesmos. Na capa
estava o aforismo — É preciso uma cidade
para educar uma criança — escrito em
letras floreadas, e dentro havia fotos de crianças com sorrisos tão enormes que
os Baudelaire ficaram com dor na boca só de olhar para eles. Uns poucos
parágrafos explicavam que noventa e nove por cento dos órfãos que participavam
do programa estavam felicíssimos por ter cidades inteiras para cuidar deles, e
que todas as cidades listadas na contracapa estavam ansiosas por servir de
tutoras para quaisquer crianças interessadas que tivessem perdido os pais. Os
três Baudelaire olharam para as sorridentes fotografias e leram o floreado aforismo,
e sentiram um frio na barriga. Sentiram-se mais do que um pouco nervosos com a
ideia de ter uma cidade inteira como tutora. Já tinha sido suficientemente
estranho quando eles estiveram sob os cuidados de diversos parentes. Quão
estranho pareceria se centenas de pessoas estivessem tentando agir como
Baudelaire substitutos?
— O senhor acha que
estaríamos a salvo do conde Olaf — perguntou Violet, hesitante, — se vivêssemos
com uma cidade inteira?
— Acho que sim — disse o Sr.
Poe, e tossiu no seu lenço branco. — Com
uma cidade inteira cuidando de vocês, provavelmente estarão mais seguros do que
jamais estiveram. Além disso, graças à matéria ’‘O Pundonor Diário, tenho
certeza de que Omar será capturado em três tempos.
— Olaf — corrigiu Klaus.
— Sim, sim — disse o Sr.
Poe. — Eu queria dizer ‘‘Omar’‘. Vejamos
agora, que cidades estão listadas no folheto? Vocês, crianças, podem escolher o
lugar onde vão morar, se quiserem.
Klaus virou o folheto ao contrário e leu a lista de cidades.
— Paltryville — disse ele. —
É onde ficava a Serraria Alto-Astral. Passamos maus pedaços lá.
— Calten! — gritou Sunny, o
que queria dizer alguma coisa como ‘’Eu não voltaria para lá nem por todo o chá
da China!’’.
— A próxima cidade na lista
é Tédia — disse Klaus. — O nome me soa
familiar.
— É perto do lugar onde
vivia o tio Monty — disse Violet. — Não
vamos morar lá. Isso nos faria sentir ainda mais saudades do tio Monty do que
já sentimos.
Klaus assentiu com a cabeça.
— Além disso — disse ele, —
a cidade fica perto do Mau Caminho, portanto é provável que tenha cheiro de
raiz-forte. Aqui está um lugar de que nunca ouvi falar: Ophelia.
— Não, não — disse o Sr.
Poe. — Não quero que vocês morem na
cidade do Banco de Ophelia. É um dos meus bancos menos favoritos, e não quero
ter de passar por ele quando for visitá-los.
— Zounce! — disse Sunny, o
que significava ‘Isto é ridículo!’’, mas Klaus deu-lhe uma cutucada com o
cotovelo e apontou para a cidade seguinte na lista do folheto. Sunny rapidamente
mudou de tom, uma expressão que aqui quer dizer ‘’Em vez disso’’, imediatamente
disse ‘‘Gounce!’‘, o que queria dizer algo como ‘‘Vamos morar lá!’‘ ou coisa do
gênero.
— Gounce, sem dúvida —
concordou Klaus, e mostrou a Violet do que ele e Sunny estavam falando. Violet
engoliu em seco, os três irmãos se entreolharam e, mais uma vez, sentiram um
frio na barriga. Mas esse frio não era tanto de nervoso, e sim de esperança —
uma esperança de que o último telefonema do Sr. Poe tivesse realmente resolvido
todos os seus problemas, e de que, quem sabe, aquilo que tinham lido bem ali no
folheto revelasse ser mais importante do que o que não tinham lido no jornal.
Pois no fim da lista de cidades, abaixo de Paltryville, e Tédia, e Ophelia,
estava a coisa mais importante que leram na manhã inteira. Impressas na
contracapa do folheto que o Sr. Poe lhes dera, na mesma escrita floreada,
estavam as letras C.S.C.
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