Capítulo 29

O MÊS DE AGOSTO CHEGOU E, embora Alex e Katie estivessem apreciando os dias quentes e morosos que passavam juntos naquele verão, as crianças estavam começando a ficar entediadas. Pretendendo fazer algo diferente, Alex levou Katie e as crianças para ver o rodeio dos macacos em Wilmington. Katie não acreditou quando percebeu que o espetáculo fazia jus ao nome: macacos, vestidos com roupas de cowboy, cavalgavam cachorros e arrebanhavam carneiros por quase uma hora antes de um show de fogos de artifícios quase tão exuberante quanto os que aconteciam durante o feriado de 4 de julho. Ao saírem, Katie se virou para ele com um sorriso.
— Acho que isso foi a coisa mais louca que já vi — disse ela, balançando a cabeça.
— Provavelmente você achava que nós aqui dos estados do sul não tínhamos cultura.
Ela riu. 
— De onde as pessoas tiram essas ideias?
— Eu nem imagino. Mas foi bom saber que esse tipo de coisa existe. Eles vão ficar na cidade apenas por alguns dias — disse ele, procurando por seu carro no estacionamento.
— É difícil imaginar como minha vida seria vazia se eu nunca tivesse visto macacos montados em cachorros.
— As crianças gostaram! — protestou Alex.
— As crianças adoraram — concordou Katie. — Mas não sei se os macacos gostaram. Eles não me pareceram muito felizes.
Alex apertou os olhos. 
— Não sei se consigo identificar o quanto um macaco está feliz ou não.
— É exatamente o que quero dizer — retrucou ela.
— Ei, não é minha culpa ainda haver mais um mês até as aulas de Josh e Kristen começarem. E estou sem ideias sobre atividades que eu poderia fazer com eles.
— Eles não precisam fazer algo especial todos os dias.
— Eu sei. E não fazem. Mas também não quero que eles passem o dia inteiro assistindo à televisão.
— Seus filhos não assistem tanto à TV.
— Isso acontece porque eu os trago para ver o rodeio dos macacos.
— E na semana que vem?
— Vai ser fácil. Um daqueles parques de diversões que atravessam o país vai chegar à cidade.
Ela sorriu. 
— Os brinquedos desses parques sempre me causam enjoo.
— Mesmo assim, as crianças os adoram. Mas isso me lembra outra coisa. Você vai ter que trabalhar no próximo sábado?
— Não sei ainda. Por quê?
— Gostaria que você pudesse vir ao parque conosco.
— Você quer que eu fique enjoada?
— Você não vai ter que andar nos brinquedos se não quiser. Mas queria pedir um favor.
— E o que seria?
— Que você cuidasse das crianças na noite do sábado. A filha de Joyce vai chegar ao aeroporto de Raleigh e ela perguntou se eu poderia levá-la ao aeroporto para receber sua filha. Joyce não gosta de dirigir à noite.
— Será um prazer cuidar deles.
— Você terá que ficar na minha casa, para que eles durmam em um horário adequado.
Katie olhou para ele. 
— Na sua casa? Eu nunca passo muito tempo na sua casa.
— Bem, eu...
Alex não sabia o que dizer em seguida e ela sorriu.
— Não se preocupe. Vai ser divertido. Talvez possamos assistir a um filme e fazer pipocas.
Ele caminhou em silêncio por alguns momentos até que perguntou: 
— Você pretende ter filhos?
Katie hesitou. 
— Não tenho certeza — disse ela, finalmente. — Nunca pensei muito nisso.
— Nunca?
Ela balançou a cabeça. 
— Quando morava em Atlantic City, eu era jovem demais. Quando estava com Kevin, não suportava a ideia de ter filhos e, nos últimos meses, estou com a cabeça ocupada com outras coisas.
— Mas e se você pensasse a respeito? — insistiu ele.
— Mesmo assim, ainda não sei. Acho que dependeria de muitas coisas.
— Como o quê?
— Como a questão de me casar, por exemplo. E, como você sabe, não posso me casar.
— Erin não pode se casar — disse ele. — Mas Katie provavelmente poderia. Ela tem uma carteira de motorista, lembre-se.
Katie caminhou alguns passos em silêncio. 
— Talvez ela possa, mas não faria isso até encontrar o homem certo.
Alex riu e colocou seu braço ao redor dela. 
— Sei que trabalhar no Ivan’s era exatamente o que você precisava quando chegou a Southport, mas... Você já pensou em fazer alguma outra coisa?
— Como o quê?
— Não sei. Voltar para a faculdade, se formar, encontrar um emprego que você realmente ame.
— E o que lhe faz pensar que eu não amo servir mesas em um restaurante?
Ele deu de ombros. — Estava apenas curioso para saber outra coisa que poderia lhe interessar.
— Quando era mais nova, assim como todas as outras garotas que eu conhecia, adorava animais e imaginava que um dia seria veterinária. Mas não estou disposta a voltar a estudar para isso agora. Levaria tempo demais.
— Existem outras maneiras de trabalhar com animais. Você pode treinar os macacos de rodeio, por exemplo.
— Acho que não. Ainda não sei se os macacos gostaram de fazer isso.
— Você tem um carinho especial por aqueles macacos, não é?
— E quem não teria? Aliás, quem diabos teve essa ideia?
— Corrija-me se eu estiver errado, mas acho que ouvi você rir.
— Não queria fazer com que vocês se sentissem mal.
Ele riu novamente e puxou-a para mais perto de si. Mais à frente, Josh e Kristen já estavam encostados na lateral do jipe. Ela sabia que eles provavelmente cairiam no sono antes de voltarem a Southport.
— Você não respondeu à minha pergunta — disse Alex. — Quando perguntei o que você quer fazer com sua vida.
— Talvez meus sonhos não sejam tão complicados. Talvez eu ache que um emprego é simplesmente um emprego.
— E o que isso significa?
— Que talvez eu não queira ser definida por aquilo que faço. Que talvez eu queira ser definida por quem eu sou.
Ele considerou aquela resposta. 
— Certo. E quem você quer ser?
— Você realmente quer saber?
— Eu não perguntaria se não quisesse.
Ela parou e o olhou nos olhos dele. 
— Não quis dizer isso agora há pouco, mas, na verdade, eu gostaria de ser uma esposa e mãe — disse Katie, finalmente.
Alex franziu as sobrancelhas. 
— Você afirmou que não tinha certeza se queria ter filhos...
Inclinando a cabeça e parecendo ainda mais bonita do que ele já a tinha visto antes, perguntou: — E o que toda essa conversa tem a ver?

***

AS CRIANÇAS ADORMECERAM antes que Alex chegasse à rodovia. A viagem de volta para casa não demoraria muito, talvez meia hora. Mesmo assim, nem Alex nem Katie queriam arriscar acordar os men- inos com sua conversa. Em vez disso, eles se contentaram em ficar de mãos dadas, em silêncio, durante o percurso até Southport.
Quando Alex estacionou o carro em frente à casa de Katie, ela viu que Jo estava sentada nos degraus da varanda, como se estivesse esperando por ela. Alex a reconheceu, mas, naquele exato momento, Kristen se mexeu no banco traseiro e ele se virou em seu assento para ter certeza de que ela não havia acordado. Katie se inclinou e o beijou.
— Acho que é melhor eu ir e conversar com ela — sussurrou Katie.
— Com quem? Kristen?
— Com minha vizinha — disse Katie, com um sorriso, apontando com o dedo por cima de seu ombro. — Ou, melhor dizendo, talvez ela queira conversar comigo.
Alex assentiu. 
— Tudo bem — disse ele, olhando em direção à varanda de Jo e de volta para Katie. — Eu me diverti muito esta noite.
— Eu também.
Alex a beijou antes que ela abrisse a porta e, quando ligou o motor e partiu para a sua casa, Katie caminhou em direção à casa de sua vizinha. Jo sorriu e acenou e Katie sentiu a tensão se amenizar um pouco. Elas não conversavam desde aquela noite no bar e, quando ela se aproximou, Jo se levantou e veio até o beiral da varanda.
— Em primeiro lugar, queria me desculpar pela maneira como falei com você — disse ela, sem qualquer preâmbulo. — Fiz algo que não devia. Estava errada e isso não vai acontecer novamente.
Katie subiu as escadas até a varanda e se sentou, acenando para que Jo se sentasse ao seu lado, no último degrau. 
— Está tudo bem. Não fiquei brava.
— Ainda me sinto horrível por ter feito aquilo — disse Jo. O remorso que ela sentia era óbvio. — Não sei o que deu em mim.
— Eu sei — disse Katie. — É óbvio. Você se importa com eles. E você quer cuidar deles.
— Mesmo assim, não devia ter falado com você como fiz. É por isso que andei um pouco afastada. Aquilo me envergonhou e eu sabia que você nunca me perdoaria.
Katie lhe tocou o braço. — Eu agradeço o pedido de desculpas, mas não é necessário. Na verdade, você fez com que eu percebesse algumas coisas importantes sobre mim mesma.
— É mesmo?
Katie fez que sim com a cabeça. — E, para que você saiba, eu acho que vou continuar a morar em Southport por algum tempo.
— Eu vi você dirigindo há alguns dias.
— É difícil acreditar, não é? Ainda não me sinto totalmente confortável ao volante.
— Isso não vai demorar a acontecer. E é melhor do que andar de bicicleta.
— Eu ainda pedalo todos os dias — disse ela. — Não tenho condições de comprar um carro.
— Eu diria que você pode usar o meu se quiser, mas ele voltou para a oficina. Aquela coisa sempre tem um defeito ou outro. Eu provavelmente ficaria mais feliz com uma bicicleta.
— Cuidado com o que deseja.
— Agora você está falando as mesmas coisas que eu digo — disse Jo, olhando em direção à estrada. — Estou feliz por você e Alex. E pelas crianças também. Você faz bem a elas, sabia?
— Como você pode ter certeza?
— Porque eu vejo a maneira que ele olha para você. E a maneira que você olha para todos eles.
— Nós passamos bastante tempo juntos — disse Katie, saindo pela tangente.
Jo balançou a cabeça. 
— É mais do que isso. Vocês dois parecem estar apaixonados — disse ela, mudando de posição no degrau sob o olhar de constrangimento que Katie lhe deu. — Tudo bem, eu admito. Mesmo que você não tenha me visto, vamos dizer que eu vi como vocês dois se beijam quando se despedem.
— Você fica nos espionando?
— É claro — disse Jo, com uma careta. — Como você acha que vou conseguir me ocupar? Afinal, nada de interessante acontece por aqui — disse ela, antes de ficar em silêncio por um momento. — Você realmente o ama, não é?
Katie concordou com a cabeça. 
— E amo as crianças também.
— Isso me deixa muito feliz — disse Jo, unindo as mãos como se estivesse fazendo uma oração.
Katie também se deixou ficar em silêncio por um momento.
— Você conheceu a esposa dele?
— Sim — disse Jo.
Katie deixou seu olhar se perder na estrada. 
— E como ela era? Digo... Alex falou sobre ela e eu faço uma ideia de como ela podia ser, mas...
Jo não a deixou terminar a frase. 
— De acordo com o que vi, ela era muito parecida com você. E eu digo isso de forma positiva. Ela amava Alex e amava as crianças. Eles eram o que havia de mais importante em sua vida. E isso é tudo o que você precisa saber sobre ela.
— Você acha que ela gostaria de mim?
— Sim — disse Jo. — Tenho certeza de que ela a adoraria.

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