Capítulo 37

HAVIA UMA DÚZIA DE CARROS estacionados em frente à loja quando Katie levou as crianças pela escada em direção à casa. Josh e Kristen haviam reclamado durante todo o trajeto, queixando-se de que suas pernas estavam cansadas, mas Alex ignorou aquilo, lembrando-os periodicamente de que estavam chegando perto. Quando a estratégia deixou de funcionar, ele simplesmente comentou que estava ficando cansado também e que não queria ouvir mais nenhuma palavra sobre aquilo.
As reclamações terminaram quando chegaram à loja. Alex deixou que pegassem picolés e garrafas de Gatorade antes de subirem para casa e o jato de ar frio do ar-condicionado, que sentiram logo que a porta se abriu, era incrivelmente refrescante. Alex levou Katie até a cozinha e ela o observou encharcar o rosto e o pescoço na torneira da pia. Na sala, as crianças já estavam deitadas no sofá, com a televisão ligada.
— Desculpe — disse ele. — dez minutos atrás, achava que ia morrer.
— Você não disse nada.
— É porque eu sou durão — disse ele, fingindo estufar o peito. Pegou dois copos no armário e colocou cubos de gelo neles antes de servir-se com a água que estava em uma jarra dentro da geladeira.
— Você também é uma ótima atriz — disse ele, entregando-lhe um dos copos. — Parece uma sauna, lá fora.
— Não consigo acreditar que ainda tem tanta gente no parque de diversões — disse ela, tomando um gole.
— Sempre me perguntei por que eles não trocam a data para maio ou outubro, quando está mais fresco. Mesmo assim, parece que as pessoas vão até o parque independentemente da temperatura.
Katie olhou para o relógio da parede.
— A que horas você tem que sair?
— Dentro de uma hora, mais ou menos. Mas provavelmente estarei de volta antes das 11.
“Cinco horas”, pensou ela.
— Quer que eu prepare algo especial para o jantar das crianças?
— Elas gostam de comer massa. Kristen gosta que tenha manteiga e Josh gosta de molho marinara. Tem um vidro de molho na geladeira. Eles passaram o dia todo comendo doces e salgados no parque, então provavelmente não comerão muito.
— A que horas eles vão dormir?
— A hora que você disser. Sempre antes das 10, mas, às vezes, por volta das 8. Coloque-os na cama quando achar melhor.
Ela segurou o copo de água gelada contra o rosto e deu uma olhada ao redor da cozinha. Não passara muito tempo na casa de Alex, mas, agora que estava aqui, percebia os resquícios de um toque feminino. Coisas pequenas — as costuras da cortina feitas com linha vermelha, os pratos e as xícaras de porcelana exibidos dentro de um armário envidraçado e os versos da Bíblia pintados em azulejos de cerâmica perto do fogo. A casa estava cheia de evidências da vida de Alex com outra mulher, mas, para sua surpresa, aquilo não a incomodava.
— Vou tomar um banho. Se importa em ficar sozinha por alguns minutos? — perguntou Alex.
— É claro que não — respondeu ela. — Posso bisbilhotar sua cozinha e pensar no que vou fazer para o jantar?
— O macarrão está naquele armário — disse ele, apontando para o lugar. — Olhe, quando eu sair, se você quiser que eu a leve até sua casa para que você possa tomar banho e se trocar, podemos fazer isso. Ou você pode tomar um banho aqui mesmo. Faça como preferir.
Ela fez uma pose sensual. — Isso é um convite?
Os olhos de Alex se arregalaram e ele olhou rapidamente em direção às crianças.
— Eu estava brincando — disse ela, rindo. — Vou tomar banho depois que você sair.
— Quer ir buscar uma muda de roupas antes? Caso contrário, pode pegar uma das minhas camisetas ou uma calça de moletom... A calça provavelmente vai ficar larga para você, mas é só ajustar o cordão da cintura.
De algum modo, a ideia de vestir as roupas dele parecia extremamente sexy para Katie.
— Não se preocupe, não sou tão seletiva quando preciso escolher o que vou vestir. Vou apenas assistir a filmes com as crianças, lembra-se?
Alex bebeu toda a sua água antes de colocar o copo na pia. Ele se inclinou e a beijou e depois foi para o quarto.
Quando ele se foi, Katie se virou em direção à janela da cozinha. Ela observou a estrada que passava em frente à casa, sentindo uma ansiedade indefinível tomar conta de si. Havia sentido a mesma coisa naquela manhã e imaginava que fosse um resquício da discussão que tivera com Alex na noite anterior. Entretanto, apanhou-se pensando nos Feldmans novamente. E em Kevin.
Pensou nele quando estava na roda-gigante. Enquanto observava as pessoas, ela sabia que não estava procurando por clientes habituais do restaurante. Realmente não estava. Estava procurando por Kevin. Acreditando, por alguma razão inexplicável, que ele poderia estar no meio da multidão. Pensando que ele estava lá.
Mas aquilo era apenas sua paranoia aflorando novamente. Não havia qualquer possibilidade de que ele soubesse onde ela estava, nenhuma chance de que pudesse saber sua identidade. Era impossível, disse ela a si mesma. Kevin nunca conseguiria ligá-la à filha dos Feldmans; ele nem mesmo conversava com eles. Mesmo assim, por que ela passara o dia inteiro sentindo-se como se alguém a estivesse seguindo, mesmo quando saíram do parque de diversões?
Ela não tinha poderes paranormais e também não acreditava nessas coisas. Mas acreditava que o subconsciente tinha a capacidade de juntar peças quando a mente consciente as deixava passar. Entretanto, enquanto se perdia em pensamentos na cozinha de Alex, as peças ainda estavam misturadas, sem qualquer tipo de forma definida ou ordem; e, depois de observar uma dúzia de carros passarem na estrada em frente à casa, ela finalmente se virou. Provavelmente eram apenas seus velhos medos insistindo em aparecer.
Balançou a cabeça e pensou em Alex no chuveiro. A ideia de tomar banho com ele fez com que sentisse uma onda de calor por dentro de si. E, mesmo assim, não era tão simples, mesmo que as crianças não estivessem por perto. Mesmo que Alex pensasse nela como Katie, Erin ainda era casada com Kevin. Desejou poder ser outra mulher, uma mulher que pudesse simplesmente se entregar nos braços do seu amado sem qualquer hesitação. Afinal, foi Kevin quem quebrou todas as regras do casamento quando levantou seus punhos para lhe agredir pela primeira vez. Quando Deus olhasse dentro do seu coração, Katie sabia que Ele concordaria que o que ela estava fazendo não era um pecado. Não é mesmo?
Ela suspirou. "Alex..." Ele era a única coisa em que ela conseguia pensar agora. Mais tarde, era no que ela conseguia pensar. Ele a amava e a queria. E, mais do que qualquer coisa, ela queria lhe mostrar que sentia o mesmo por ele. Queria sentir seu corpo contra o dela, queria-o por inteiro, pelo tempo que ele a quisesse. Para sempre.
Katie se obrigou a parar de visualizar a si mesma com Alex, a parar de pensar no que iria acontecer. Balançou a cabeça para espantar aqueles pensamentos e foi até a sala de estar, sentando-se no sofá ao lado de Josh. Eles estavam assistindo a algum programa do canal Disney que ela não reconhecia. Depois de alguns momentos, ela olhou para o relógio e percebeu que apenas dez minutos haviam passado. A sensação era de que uma hora já havia transcorrido.
Depois de sair do banho, Alex fez um sanduíche e sentou-se ao lado dela no sofá para comer. Ele cheirava a limpeza e as pontas do seu cabelo ainda estavam úmidas, aderindo à sua pele de uma maneira que fazia com que Katie sentisse vontade de deslizar seus lábios ali. As crianças, com os olhos grudados na tela, os ignoravam completamente, mesmo depois de Alex ter pousado o prato na mesa de canto e começado a tocar a coxa dela com a ponta dos dedos.
— Você está linda — sussurrou Alex em seu ouvido.
— Estou horrível — retrucou ela, tentando ignorar a linha de fogo que fazia a pele de sua coxa queimar. — Nem tomei banho ainda.
Quando chegou a hora de Alex ir embora, ele beijou as crianças na sala de estar. Ela o seguiu até a porta. Quando a beijou em despedida, deixou que sua mão percorresse o corpo dela, bem abaixo da linha de cintura, sentindo os lábios macios dela nos seus. Obviamente apaixonado, obviamente desejando-a, certificando-se de que ela soubesse o quanto. Estava levando-a à loucura e parecia aproveitar cada momento.
— Vejo você daqui a pouco — disse ele, afastando-se.
— Dirija com cuidado — sussurrou ela. — As crianças vão ficar bem.
Quando ouviu os passos de Alex descendo as escadas, ela se encostou contra a porta para inspirar fundo, recobrando o fôlego. “Meu Deus”, pensou ela. Com ou sem votos de matrimônio, com ou sem culpa, decidiu que, mesmo que ele não estivesse no clima para o que aconteceria mais tarde, ela certamente estaria.
Ela voltou a olhar para o relógio, com a certeza de que aquelas seriam as cinco horas mais longas de sua vida.

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