Capítulo 4
Os órfãos Baudelaire olharam para a tirinha de papel, depois para
Hector, e depois de novo para a tirinha de papel. Eles então olharam de novo
para Hector, depois para a tirinha de papel mais uma vez, e depois para Hector
mais uma vez, e depois para a tirinha de papel uma vez mais, e depois para
Hector uma vez mais, e depois para a tirinha de papel mais uma vez. As bocas
deles estavam abertas como se estivessem prestes a falar, mas as três crianças
não conseguiam encontrar as palavras que expressassem o que queriam dizer.
A expressão ‘’um raio em dia de céu claro’’ descreve alguma coisa
tão surpreendente que faz a sua cabeça girar, as suas pernas bambearem, e o seu
corpo zunir de perplexidade — como se um raio tivesse caído de um céu
totalmente azul em um dia de sol, atingindo você com toda a força. A não ser
que você seja uma lâmpada, um eletrodoméstico ou uma árvore que se cansou de
ficar em pé, ser atingido por um raio em dia de céu claro não é uma experiência
agradável, e durante alguns minutos os Baudelaire ficaram parados nos degraus
da casa de Hector e sentiram as desagradáveis sensações de cabeças girando,
pernas bambeando e corpos zunindo.
— Meu Deus, Baudelaires —
disse Hector. — Nunca vi ninguém ficar
tão surpreso. Venham, entrem na casa e sentem-se. Até parece que vocês foram
atingidos com toda a força por um raio.
Os Baudelaire seguiram Hector para dentro da casa e por um
corredor até a sala de estar, onde sentaram-se em um sofá sem dizer palavra.
— Vocês podem ficar aqui sentados
por alguns minutos — disse ele, — enquanto preparo um pouco de chá quente. Quem
sabe quando estiver pronto vocês consigam falar. — Ele se inclinou para baixo, entregou a tirinha
de papel a Violet e deu uma palmadinha na cabeça de Sunny antes de sair da sala
deixando as crianças sozinhas. Sem falar, Violet desenrolou o papel para que os
irmãos pudessem ler o dístico mais uma vez.
Cá, por
safiras, cativos estamos.
Hora após
hora, em terror aguardamos.
— É ela — disse Klaus,
falando baixinho para Hector não ouvir. — Tenho certeza. Isadora Quagmire escreveu
este poema.
— Eu também acho — disse
Violet. — Estou segura de que é a letra
dela.
— Blake! — disse Sunny, o
que queria dizer ‘’E o poema foi escrito no inconfundível estilo literário de
Isadora!’’.
— O poema fala de safiras —
disse Violet, — e os pais dos trigêmeos, ao morrer, deixaram para eles as
famosas safiras Quagmire.
— Olaf os raptou para pôr
as mãos naquelas safiras — disse Klaus. —
Deve ser a isto que o poema se refere quando diz 'Cá, por safiras, cativos
estamos.
— Peng? — perguntou Sunny.
— Não sei como isto foi
parar nas mãos de Hector — respondeu Violet. — Vamos perguntar a ele.
— Não tão depressa — disse
Klaus. Ele tirou o papel da mão de Violet e olhou para ele de novo. — Talvez Hector esteja envolvido no rapto, de
algum modo.
— Eu não tinha pensado
nisso — disse Violet. — Você acha mesmo?
—
— Não sei — disse Klaus. — Ele não se parece com um dos parceiros do
conde Olaf, mas às vezes não conseguimos reconhecê-los.
— Urib — disse Sunny
pensativa, o que queria dizer ‘’É verdade’’.
— Ele parece ser uma pessoa
em quem podemos confiar — disse Violet. — Ficou entusiasmado em nos mostrar a migração
dos corvos, e queria ouvir tudo sobre tudo o que nos aconteceu. Isso não parece
coisa de sequestrador, mas imagino que não dá para saber com certeza.
— Exatamente — disse Klaus.
— Não dá para saber com certeza.
— O chá está pronto —
Hector gritou da cozinha. — Venham até
aqui, se estiverem com vontade. Vocês podem sentar-se à mesa enquanto faço as
enchiladas.
Os Baudelaire se entreolharam e balançaram a cabeça.
— Quei! — gritou Sunny e, seguida
pelos irmãos, entrou em uma grande e confortável cozinha. As crianças sentaram-se
em volta de uma mesa redonda de madeira, onde Hector colocara três canecas
fumegantes de chá, e ficaram em silêncio enquanto Hector começava a preparar o
jantar. É verdade, sem dúvida, que não dá para saber com certeza se é possível
ou não confiar em alguém, pela simples razão de que as circunstâncias mudam o
tempo todo.
Você pode conhecer alguém há vários anos, por exemplo, e confiar
totalmente nele como amigo, mas as circunstâncias podem mudar e ele pode ficar
com muita fome, e antes que você perceba poderá estar sendo cozido em um
caldeirão de sopa, porque não dá para saber com certeza. Eu mesmo me apaixonei
por uma mulher maravilhosa, que era tão encantadora e inteligente que eu me
sentia confiante de que ela seria minha noiva, mas não tinha como saber com
certeza e, cedo demais, as circunstâncias mudaram e ela acabou se casando com
outra pessoa, tudo por causa de alguma coisa que ela leu O Pundonor Diário. E
ninguém precisava dizer aos órfãos Baudelaire que não havia como saber com
certeza porque, antes de se tornar órfãos, eles viveram por muitos anos sob os cuidados
dos pais, e confiavam nos pais para continuar cuidando deles, mas as circunstâncias
mudaram, e agora seus pais haviam morrido e as crianças estavam vivendo com um
factótum em uma cidade cheia de corvos. Embora não haja como saber com certeza,
muitas vezes há maneiras de saber com bastante certeza, e, enquanto os três
irmãos observavam Hector trabalhando na cozinha, eles reconheceram algumas dessas
maneiras. A melodia que ele cantarolava enquanto picava os ingredientes, por exemplo,
era reconfortante, e os Baudelaire não podiam nem imaginar como alguém poderia
cantarolar daquele jeito se fosse um seqüestrador. Quando viu que o chá dos Baudelaire
ainda estava quente demais para beber, ele atravessou a cozinha e foi soprar nas
canecas deles, uma por uma, e era difícil acreditar que alguém pudesse estar escondendo
dois trigêmeos e esfriando o chá de três crianças ao mesmo tempo. E o mais reconfortante
de tudo era que Hector não os importunava com montes de perguntas sobre por que
eles estavam tão surpresos e calados. Ele simplesmente ficou quieto e deixou que
os Baudelaire esperassem até estar prontos para falar sobre a tirinha de papel
que lhes dera, e as crianças não podiam nem imaginar que uma pessoa tão gentil
e atenciosa estivesse envolvida com o conde Olaf de qualquer modo que fosse.
Não havia como saber com certeza, é claro, mas enquanto os Baudelaire
observavam o factótum pôr as enchiladas no forno para assar, eles sentiram como
se soubessem com uma certeza considerável, e quando ele sentou-se à mesa com
eles, os Baudelaire estavam prontos para contar-lhe sobre o dístico que tinham
lido.
— Este poema foi escrito
por Isadora Quagmire — disse Klaus sem preâmbulos, uma expressão que aqui
significa — quase imediatamente assim
que Hector sentou-se.
— Uau — disse Hector. — Não admira que vocês tenham ficado tão
surpresos. Mas como podem ter certeza? Uma porção de poetas escrevem dísticos.
Ogden Nash, por exemplo.
— Ogden Nash não escreve
sobre safiras — disse Klaus, que ganhara uma biografia de Ogden Nash quando fez
sete anos. — Isadora, sim. Quando os
Quagmire pais morreram, deixaram uma fortuna em safiras. É a isto que ela se
refere quando diz ‘’Cá, por safiras, cativos estamos’’.
— Além disso — disse Violet,
— é a letra de Isadora, e o seu inconfundível estilo literário.
— Bem — disse Hector, — se
vocês dizem que este poema é de Isadora Quagmire, eu acredito.
— Devíamos ligar para o Sr.
Poe e contar para ele — disse Klaus.
— Não podemos ligar para
ele — disse Hector. — Não há telefones
em C.S.C., porque os telefones são dispositivos mecânicos. O Conselho dos
Anciãos pode mandar uma mensagem para ele. Eu fico desassossegado demais para
pedir a eles, mas vocês podem fazer isso, se quiserem.
— Antes de falarmos com o
Conselho, devíamos procurar saber um pouco mais sobre o dístico — disse Violet.
— Onde você apanhou este pedacinho de
papel?
— Eu o encontrei hoje —
disse Hector, — sob os galhos da Árvore do Nunca Mais.
Acordei esta manhã e estava de saída para ir andando até a cidade
baixa fazer as tarefas matinais, quando notei alguma coisa branca entre as
penas pretas que os corvos tinham deixado para trás. Era esta tirinha de papel,
toda enroladinha. Não entendi o que estava escrito, então pus no bolso do
macacão e não pensei nela de novo até agora há pouco, quando estávamos falando
sobre dísticos. Com certeza é muito misterioso. Como se explica que um dos
poemas de Isa-dora tenha ido parar no meu quintal?
— Bem, poemas não costumam
levantar e sair andando por aí sozinhos — disse Violet. — Isadora deve ter posto este poema aqui. Ela
deve estar em algum lugar aqui por perto.
Hector sacudiu a cabeça.
— Eu acho que não — disse
ele. — Você mesma viu como é tudo
descampado e plano por aqui. Dá para enxergar tudo em volta por quilômetros, e
as únicas coisas aqui nos arredores da cidade são a casa, o celeiro e a Árvore
do Nunca Mais. Sintam-se à vontade para vasculhar a casa, mas não vão encontrar
Isadora Quagmire ou qualquer outra pessoa, e eu sempre mantenho o celeiro
trancado, pois não quero que o Conselho dos Anciãos descubra que estou
quebrando as regras.
— Talvez ela esteja na
árvore — disse Klaus. — Certamente é
grande o bastante para Olaf escondê-la no meio dos galhos.
— É verdade — disse Violet.
— Na última vez, Olaf os escondeu muito abaixo
de nós. Talvez desta vez eles estejam muito acima de nós. — Ela estremeceu só de pensar em como seria
desagradável estar presa nos galhos enormes da Árvore do Nunca Mais, empurrou a
cadeira para trás e levantou-se. — Só há
uma coisa a fazer — disse ela. — Teremos de trepar na árvore e procurá-los.
— Você tem razão — disse
Klaus, e pôs-se em pé ao lado dela. — Vamos.
— Guerit! — concordou
Sunny.
— Esperem um minuto — disse
Hector. — Não podemos simplesmente ir
trepando na Árvore do Nunca Mais.
— Por que não? — disse
Violet. — Já subimos em uma torre e já
descemos por um poço de elevador. Trepar em uma árvore não deve ser problema.
— Tenho certeza de que
vocês três são excelentes para trepar em árvores — disse Hector, — mas não foi
isso o que eu quis dizer. — Ele
levantou-se e foi até a janela da cozinha. — Dêem uma olhada lá fora — disse ele. — O sol já se pôs completamente. Não há luz
suficiente para enxergar os seus amigos em cima da Árvore do Nunca Mais. Além disso,
a árvore está coberta de corvos empoleirados. Vocês nunca conseguirão encontrá-los
no meio de todos esses corvos — será como procurar agulha em palheiro.
Os Baudelaire olharam pela janela e viram que Hector estava certo.
A árvore não passava de uma sombra enorme, indistinta nas beiradas onde os
corvos estavam pousados. As crianças sabiam que se subissem naquela escuridão
atrás dos amigos seria, sem dúvida, como procurar agulha em palheiro, uma
expressão que aqui significa ‘’seria improvável
que isto revelasse a localização dos trigêmeos Quagmire’’. Klaus e Sunny olharam
para a irmã esperando que ela pudesse inventar uma solução, e ficaram aliviados
ao ouvir que ela pensara em alguma coisa antes até que pudesse prender o cabelo
com uma fita.
— Podíamos subir com
lanternas — disse Violet. — Se você
tiver um pouco de folha de alumínio, um velho cabo de vassoura e três
elásticos, eu mesma posso fazer uma lanterna em dez minutos.
Hector sacudiu a cabeça.
— Lanternas só iriam
perturbar os corvos — disse ele. — Se alguém
a acordasse no meio da noite e acendesse uma luz na sua cara, você ficaria muito
irritada, e ninguém gostaria de ficar cercado por milhares de corvos irritados.
É melhor esperar até de manhã, depois que os corvos migrarem para a cidade
alta.
— Não podemos esperar até
de manhã — disse Klaus. — Não podemos
esperar nem mais um segundo. Na última vez em que encontramos os Quagmire,
bastou deixá-los sozinhos por alguns minutos e, quando voltamos, já tinham
desaparecido de novo.
— Olawmuda! — gritou Sunny,
o que queria dizer ‘’Olaf pode mudá-los de lugar a qualquer minuto!’’.
— Bem, ele não pode
mudá-los agora — observou Hector. — Seria
igualmente difícil para ele trepar na árvore.
— Temos de fazer alguma
coisa — insistiu Violet. — Este poema
não é só um dístico — é um pedido de socorro. A própria Isadora diz ‘’Hora após
hora, em terror aguardamos’’. Nossos amigos estão apavorados, e cabe a nós
salvá-los.
Hector tirou um par de luvas térmicas do bolso do macacão e
usou-as para tirar as enchiladas do forno.
— Vou lhes dizer uma coisa —
disse ele. — Está uma noite linda e a nossas
enchiladas de galinha estão prontas. Podemos nos sentar na varanda e comer o nosso
jantar, enquanto ficamos de olho na Árvore do Nunca Mais. Esta área é tão descampada
que mesmo à noite dá para enxergar muito longe, e se o conde Olaf se aproximar —
ou qualquer outra pessoa, aliás — nós o veremos chegando.
— Mas o conde Olaf poderia
levar a cabo a sua traição depois do jantar — disse Klaus. O único jeito de ter
certeza de que ninguém vai chegar perto da árvore é ficar guardando a árvore a
noite inteira.
— Podemos nos revezar para
dormir — disse Violet, — assim um de nós estará sempre acordado para ficar
guardando a árvore.
Hector começou a sacudir a cabeça, mas então parou e olhou para as
crianças.
— Normalmente eu não aprovo
que crianças fiquem acordadas até tarde — disse ele afinal, — a não ser que
estejam lendo um bom livro, assistindo a um filme maravilhoso, ou participando
de um jantar com convivas fascinantes. Mas, desta vez, suponho que podemos
abrir uma exceção. Eu provavelmente vou cair no sono, mas vocês três podem ficar
de guarda a noite inteira se quiserem. Apenas, por favor, não tentem trepar na Árvore
do Nunca Mais no escuro. Entendo o quanto vocês estão frustrados, e sei que a única
coisa que podemos fazer é esperar até de manhã.
Os Baudelaire se entreolharam e suspiraram. Estavam tão ansiosos
por causa dos Quagmire que tinham vontade de sair correndo imediatamente e
trepar na Árvore do Nunca Mais, porém sabiam no fundo do coração que Hector
tinha razão.
— Acho que você tem razão,
Hector — disse Violet. — Podemos esperar
até de manhã.
— E a única coisa que
podemos fazer — concordou Klaus.
— Contráiro! — disse Sunny,
e ergueu os braços para que Klaus pudesse pegá-la. Ela queria dizer algo na
linha de — Posso pensar em uma outra coisa que podemos fazer — erga-me até o
ferrolho da janela! — e o irmão obedeceu. Os minúsculos dedinhos de Sunny
soltaram o ferrolho da janela e abriram-na com um empurrão, deixando entrar o
ar fresco da noite e os sons crocitantes dos corvos. Ela então se inclinou para
a frente o mais que pôde e enfiou a cabeça para dentro da noite. — Late! — gritou ela o mais alto que pôde. — Late!
Há muitas expressões para descrever alguém que está fazendo alguma
coisa do jeito errado. ‘’Cometendo um
erro’’, é um dos jeitos de descrever essa situação. ‘’Ferrando com tudo’’ é
outra, embora um pouco rude, e ‘’Tentando salvar Lemony Snicket por meio de
cartas escritas a um congressista em vez de escavar um túnel para a fuga’’ é um
terceiro jeito, embora um pouco específico demais. Porém o ‘’Late!’’ que Sunny
gritou traz à lembrança uma expressão que, lamentavelmente, descreve de modo
perfeito a situação.
Com ‘’Late!’’ Sunny queria dizer ‘’Se estão aí em cima, Quagmires,
fiquem firmes que, primeira coisa logo de manhã, vamos até vocês’’ e lamento
dizer que a expressão que melhor descreve as suas circunstâncias é ‘’Latindo
para a árvore errada’’. Foi um gesto bondoso da parte de Sunny tentar
tranqüilizar Isadora e Duncan dizendo que os Baudelaire iriam ajudá-los a
escapar das garras do conde Olaf, mas a Baudelaire mais jovem estava fazendo as
coisas do jeito errado. Ela gritou ‘’Late!’’ mais uma vez enquanto Hector punha
as enchiladas de galinha nos pratos e levava os Baudelaire à varanda da frente
para que pudessem comer sentados à mesa de piquenique enquanto ficavam de olho
na Árvore do Nunca Mais, mas Sunny estava cometendo um erro. Os Baudelaire não se
deram conta do erro quando terminaram o jantar e ficaram de olho na árvore
imensa e murmurante. Eles não se deram conta do erro quando se sentaram na
varanda para passar o resto da noite se revezando em apertar os olhos para o
horizonte árido, à procura de qualquer sinal de que alguém se aproximava, e
cochilando ao lado de Hector com a mesa de piquenique como travesseiro. Mas
quando o sol começou a subir, e um corvo de C.S.C. deixou a Árvore do Nunca
Mais e começou a voar em círculos, e mais três corvos se seguiram, e depois
mais sete, e depois mais doze, e o céu da manhã se encheu de sons de asas
batendo enquanto os milhares de corvos davam voltas e mais voltas acima das
cabeças das crianças, que se levantaram das cadeiras de madeira e foram em
passo rápido até a árvore para procurar algum sinal dos Quagmire, os Baudelaire
viram de repente o quanto estavam enganados.
Sem o bando de corvos empoleirados nos seus galhos, a Árvore do
Nunca Mais parecia nua como um esqueleto. Não havia uma só folha entre as
centenas e centenas de galhos da árvore. Em pé sobre as suas raízes descarnadas
e olhando para os galhos vazios lá em cima, os Baudelaire podiam enxergar até o
último detalhe da Árvore do Nunca Mais, e puderam ver imediatamente que não
iriam encontrar Duncan e Isadora Quagmire, não importa o quão alto trepassem.
Era uma árvore enorme, e uma árvore robusta, e parecia ser muito confortável
para se empoleirar, mas era a árvore errada. Klaus estivera latindo para a
árvore errada ao dizer que os seus amigos raptados provavelmente estavam lá em
cima, e Violet estivera latindo para a árvore errada ao dizer que eles tinham
de subir para procurá-los, e Sunny estivera latindo para a árvore errada ao
dizer ‘’Late!’’. Os órfãos Baudelaire estiveram latindo para a árvore errada a
noite toda, porque a única coisa que as crianças descobriram naquela manhã foi
mais uma tirinha de papel toda enroladinha no meio das penas pretas que os
corvos deixaram para trás.
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