Capítulo 10
— O espetáculo começa agora
mesmo!
O homem das espinhas e sua mãe viraram-se para ver quem tinha
falado, mas os Baudelaire não precisaram olhar para saber que se tratava do
conde Olaf. O vilão estava junto à entrada da Barraca do Destino com um chicote
na mão e um brilho perverso nos olhos. Os irmãos reconheceram ambas as coisas.
O chicote era o mesmo que Olaf usara para deixar os leões ferozes, cena que os
Baudelaire tinham visto no dia anterior, e o brilho nos olhos era algo que eles
já tinham visto tantas vezes que nem podiam contar. Era o tipo de brilho que
alguém poderia exibir ao contar uma piada, mas, quando Olaf olhava para as
pessoas daquele jeito, significava que seus planos estavam funcionando
brilhantemente.
— O espetáculo começa agora
mesmo! — anunciou de novo. — Minha sorte já foi lida, portanto podemos começar.
— O conde Olaf apontou para a Barraça do Destino com o chicote, e depois
virou-se para apontar os Baudelaire disfarçados. Olaf sorria para a multidão
que se formava a seu redor. — E agora, senhoras e senhores, é chegada a hora de
ir até o fosso dos leões para dar a vocês o que vocês querem.
— Eu vou para perto do
fosso agora mesmo! — gritou uma mulher na multidão. — Quero ter uma boa visão
do espetáculo!
— Eu também — disse um
homem ao lado dela. — Não tem sentido fazer os leões comerem alguém se você não
consegue ver.
— É melhor andar logo —
disse o homem das espinhas. — Tem uma multidão por aqui.
Os órfãos Baudelaire olharam em volta e comprovaram o que o homem
das espinhas estava dizendo. As notícias da nova atração do Parque Caligari se espalharam
para além do sertão, pois havia muito mais visitantes do que na véspera, e a
cada instante chegavam mais.
— Vou levá-los até o fosso
— anunciou Olaf. — Afinal, a atração dos leões foi idéia minha, portanto é
normal que eu siga na frente.
— Ideia sua? — perguntou a
mulher de quem as crianças se lembravam do Hospital Heimlich. Ela usava um
tailleur cinza e mascava chiclete enquanto falava num pequeno microfone, e os
órfãos se lembraram de que ela era a repórter de O Pundonor Diário. — Eu
adoraria escrever sobre isso no jornal. Qual é o seu nome?
— Conde Olaf! — disse o
conde Olaf.
— Já posso ver a manchete: ‘’CONDE
OLAF IDEALIZA ESPETÁCULO COM LEÕES’’ — disse a repórter. — Aguardem só até os
leitores de O Pundonor Diário verem isso!
— Espere um minuto — disse
alguém. — Eu pensei que o conde Olaf tinha sido assassinado por aquelas
crianças.
— Aquele era o conde Omar —
retrucou a repórter. Eu conheço o assunto. Escrevi sobre os Baudelaire para O
Pundonor Diário. O conde Omar foi assassinado pelos Baudelaire, aquelas
crianças homicidas que ainda estão à solta.
— Bem, se as encontrarmos —
disse alguém na multidão, — elas é que vão para o fosso dos leões.
— Excelente ideia — concordou
o conde Olaf, — mas enquanto isso, os leões vão ganhar uma deliciosa aberração
para o almoço. Sigam-me, e darei a vocês uma tarde de violência e comilança
porca!
— Viva! — celebrou a
multidão. Olaf fez uma mesura e começou a encaminhar o público na direção da
montanha-russa, onde os leões aguardavam.
— Venham comigo, aberrações
— ordenou, apontando para os Baudelaire. — Meus assistentes vão trazer as
outras. Quero todas as aberrações reunidas para a cerimônia da escolha.
— Eu leva elas, meu Olaf —
disse madame Lulu com seu sotaque disfarçado, ao sair da Barraca do Destino.
Quando ela viu os Baudelaire, seus olhos se arregalaram e ela escondeu as mãos
atrás das costas. — Você leva multidón para fossa, faz favor, e dá entrevista
para jornal na caminho.
— Ah, sim — disse a
repórter. — Já posso ver a manchete: ‘’ENTREVISTA EXCLUSIVA COM CONDE OLAF, QUE
NÃO É CONDE OMAR, QUE ESTÁ MORTO’’. Aguardem só até os leitores de O Pundonor
Diário verem isso!
— Será emocionante para as
pessoas ler uma matéria sobre mim — disse Olaf. — Tudo bem, vou com a repórter,
Lulu. Mas ande logo com as aberrações.
— Sim, meu Olaf — disse
Lulu. — Vem comigo vocês, aberraçóns, faz favor. — Lulu estendeu as mãos para
os Baudelaire como se fosse a mãe deles ajudando-os a atravessar a rua, e não
uma falsa vidente levando-os para um fosso de leões. As crianças repararam que
uma de suas mãos estava estranhamente suja e a outra estava fechada. Os
Baudelaire não queriam segurar aquelas mãos e caminhar para o espetáculo dos leões,
mas havia tanta gente reunida em volta, aguardando avidamente pela violência,
que não havia outra escolha. Sunny agarrou a mão direita de Lulu e Violet a
esquerda, e elas seguiram juntas numa espécie de nó desajeitado em direção à
montanha-russa.
— Oliv... — Klaus começou a
dizer, mas se deu conta de que seria perigoso usar o verdadeiro nome dela. — Quero
dizer, madame Lulu — corrigiu, e depois se inclinou na frente de Violet para
falar o mais baixo possível com a falsa vidente. — Vamos andar bem devagar.
Talvez possamos dar um jeito de voltar sorrateiramente à barraca e desmontar o
dispositivo de relâmpagos.
Madame Lulu não respondeu, apenas sacudiu a cabeça de leve para
indicar que aquele não era um bom momento para tratar desses assuntos.
— Correia — lembrou Sunny o
mais baixinho que podia, mas madame Lulu apenas sacudiu a cabeça.
— Você cumpriu a promessa,
não cumpriu? — murmurou Klaus, pouco mais alto que um sussurro, mas Lulu
continuou em frente como se não tivesse ouvido. Ele cutucou a irmã mais velha
por dentro da camisa. — Violet — disse, usando com medo seu nome verdadeiro. — Peça
à madame Lulu para andar mais devagar.
Violet deu uma olhada rápida para Klaus e depois voltou a cabeça
para encontrar os olhos de Sunny . A mais jovem dos Baudelaire olhou de volta
para a irmã e viu quando ela sacudiu a cabeça de leve, exatamente como madame
Lulu tinha feito, e depois olhou para baixo, para indicar sua mão entrelaçada
com a da vidente. Entre dois dos dedos de Violet, Klaus e Sunny viram a ponta
de uma tira de borracha que eles reconheceram imediatamente. Era a parte do
dispositivo de relâmpagos que se parecia com uma correia de ventilador,
exatamente o que Violet precisava para transformar os carrinhos da
montanha-russa em veículos capazes de viajar sertão afora e levar os Baudelaire
até o topo das Montanhas de Mão-Morta. Mas em vez de se sentirem esperançosos
ao ver o objeto crucial na mão de Violet, os três Baudelaire sentiram algo bem
menos agradável.
Se você já vivenciou alguma experiência que parecesse
estranhamente familiar, como se aquela mesma coisa já tivesse acontecido antes,
então você teve aquilo que os franceses chamam de ‘’déjà-vu’’. Como a maioria
das expressões francesas — ‘’ennui’’ por exemplo, que é um termo elegante para
designar tédio profundo, ou ‘’Ia petite mort’’ expressão que descreve a
sensação de que uma parte sua morreu —, ‘’déjà-vu’’ se refere a algo que
normalmente não é muito agradável, e não foi agradável para os órfãos
Baudelaire chegar ao fosso dos leões e vivenciar a nauseante sensação de
déjà-vu. Quando estiveram no Hospital Heimlich, as crianças viram-se cercadas
por uma grande multidão ávida por ver alguma coisa violenta, tal como alguém
sendo submetido a uma operação. Quando moraram na cidade de C.S.C, as crianças
viram-se cercadas por uma grande multidão ávida por ver alguma coisa violenta,
tal como alguém sendo queimado na fogueira. E agora, quando madame Lulu soltou
suas mãos, as crianças olharam para a enorme e estranhamente familiar multidão
que assomava junto à montanha-russa. Mais uma vez, as pessoas estavam ávidas
por ver alguma coisa violenta. Mais uma vez, os Baudelaire temiam por suas
vidas. E mais uma vez, era tudo culpa do conde Olaf. Os órfãos olharam para os
dois carrinhos que Violet adaptara. Tudo o que faltava para funcionarem era a correia
de ventilador, e então as crianças poderiam continuar sua busca pelos pais;
porém, olhando a partir do fosso para os dois diminutos carrinhos de montanha-russa
engatados com hera e recondicionados para viajar através do sertão, os
Baudelaire experimentaram a nauseante sensação de déjà-vu e se perguntaram se
não haveria mais um final infeliz à sua espera.
— Bem-vindos, senhoras e
senhores, à tarde mais emocionante de suas vidas! — anunciou Olaf, e estalou o
chicote dentro do fosso. O chicote era suficientemente comprido para atingir os
leões, que rangeram os dentes. — Os leões estão prontos para comer uma
aberração — disse ele.
— Mas qual aberração será
essa?
A multidão se abriu, e o homem de mãos de gancho entrou,
conduzindo os colegas dos Baudelaire para a beira do fosso, onde eles já os
aguardavam. Como era de esperar, tinham ordenado a Hugo, Colette e Kevin que
usassem as roupas aberrantes para o espetáculo, e não os presentes de Esmé, e
quando chegaram à beira do fosso, deram um sorrisinho para os Baudelaire e uma
olhada nervosa para os leões famintos. Assim que os colegas de trabalho das
crianças tomaram seus lugares, os outros camaradas do conde Olaf emergiram do
meio da multidão. Esmé Squalor usava um terno risca de giz e segurava uma
sombrinha, que é um pequeno guarda-chuva usado para proteger-se do sol; ela
sorriu para a multidão e sentou-se numa pequena cadeira trazida pelo capanga
careca de Olaf, que trazia na outra mão um pedaço de madeira chato e comprido,
que usou para fazer uma espécie de trampolim sobre o fosso dos leões. E por
fim, as duas mulheres de cara branca deram um passo à frente e exibiram uma
pequena caixa de madeira com um buraco em cima.
— Estou tão contente por
hoje ser o último dia que uso estas roupas — murmurou Hugo para os Baudelaire,
apontando para o seu casaco mal ajustado. — Imaginem só, logo serei integrante
da trupe do conde Olaf e nunca mais vou parecer uma aberração.
— A não ser que seja jogado
aos leões — Klaus não pôde deixar de dizer.
— Está brincando? —
sussurrou Hugo. — Se eu for escolhido, atiro madame Lulu no meu lugar,
exatamente como Esmé nos pediu.
— Olhem atentamente para
essas aberrações — disse o conde Olaf sob as risadas do público. — Observem as
costas de Hugo. Pensem na esquisitice que é Colette dobrar seu corpo em
posições inimagináveis. Caçoem dos absurdos braços e pernas ambidestros de
Kevin. Debochem de Beverly -Elliot, a aberração de duas cabeças. E riam até
perder o ar de Chabo, o Bebê-Lobo. — A multidão irrompeu em gargalhadas,
apontando e rindo para as pessoas que achavam mais hilárias.
— Olhem os ridículos dentes
de Chabo! — gritou uma mulher que tingira o cabelo de várias cores ao mesmo
tempo. — São decididamente idiotas!
— Eu acho que Kevin é mais
engraçado! — retrucou seu marido, que tingira o cabelo para combinar com o
dela. — Espero que ele seja jogado no fosso. Vai ser divertido vê-lo se
defender com as duas mãos e os dois pés!
— Eu espero que seja a
aberração de mãos de gancho! — disse uma mulher que estava atrás dos
Baudelaire. — Assim vai ficar ainda mais violento!
— Eu não sou uma aberração
— rosnou impaciente o homem de mãos de gancho. — Sou um empregado do conde
Olaf.
— Oh, desculpe — disse a
mulher. — Nesse caso, torço para que seja o homem com o queixo cheio de
espinhas.
— Eu sou do público! —
gritou ele. — Não sou uma aberração. Só tenho alguns problemas de pele.
— Então, que tal a mulher
com o terno cretino? — perguntou ela. — Ou aquele sujeito com uma sobrancelha
só?
— Eu sou a namorada do
conde Olaf — disse Esmé, — e o meu terno é in, e não cretino.
— Bom, tanto faz quem é
aberração ou deixa de ser — disse outra pessoa. — Eu só quero ver os leões
comerem alguém.
— E você vai ver — prometeu
o conde Olaf. — A cerimônia da escolha vai começar agora mesmo. Os nomes das
aberrações foram escritos em pedaços de papel e colocados na caixa que as duas
adoráveis damas aqui estão segurando.
As duas mulheres de cara branca ergueram a caixa de madeira e
fizeram uma cortesia para o público. Esmé fechou a cara para elas.
— Não acho que sejam adoráveis
— disse, mas poucas pessoas ouviram, por causa dos aplausos.
— Vou enfiar a mão na caixa
— disse o conde Olaf, — e sortear o nome de um dos monstros aberrantes. Então o
monstro vai caminhar por aquela prancha e pular para dentro do fosso, e todos
nós vamos assistir enquanto os leões o devoram.
— Ou a devoram — disse
Esmé. Ela deu uma olhada para madame Lulu, e depois para os Baudelaire e. seus
colegas de trabalho. Pondo a sombrinha de lado por um momento, ela levantou as
duas mãos de unhas compridas e fez um pequeno gesto de empurrar, só para
lembrá-los do seu plano.
— Ou a devoram — repetiu o
conde Olaf com um olhar curioso para o gesto de Esmé. — Alguém tem alguma
pergunta?
— Por que é você quem
escolhe o nome? — perguntou o homem das espinhas.
— Porque foi tudo ideia
minha — disse Olaf.
— Eu tenho uma pergunta —
disse a mulher do cabelo tingido. — Isso está dentro da lei?
— Ora, não seja desmancha-prazeres
— disse o marido. — Você queria ver pessoas serem comidas por leões, então nós
viemos. Mas se vai começar a fazer um monte de perguntas complicadas, pode
esperar no carro.
— Por favor continue, vossa
condecência! — disse a repórter de O Pundonor Diário.
— Vou continuar — disse o
conde Olaf, e chicoteou os leões mais uma vez antes de enfiar a mão na caixa de
madeira. Com um sorriso cruel para os possíveis sorteados, Olaf se demorou
bastante remexendo o interior da caixa antes de retirar um pedacinho de papel
dobrado várias vezes. A multidão se inclinou para ver melhor, e os Baudelaire
se esticaram para enxergar por cima das cabeças dos adultos. Mas o conde Olaf
fazia mistério. Em vez de desdobrar o papel de uma vez, o ergueu o mais alto
que pôde e abriu um largo sorriso.
— Vou desdobrar este pedaço
de papel bem devagarinho — anunciou, — para aumentar o suspense.
— Brrrilhante! — disse a
repórter, vibrando a língua contra o céu da boca de tanto entusiasmo. — Já
posso ver a manchete: ‘’CONDE OLAF FAZ SUSPENSE’’.
— Como ator famoso que sou,
sei como deixar extasiada uma platéia — disse ele, sorrindo para a repórter
enquanto ainda segurava o papel. — Não deixe de anotar isso.
— É claro — disse a
ofegante repórter, e segurou o microfone mais perto da boca de Olaf.
— Senhoras e senhores —
bradou ele. — Estou prestes a desfazer a primeira dobra do papel!
— Oba! — gritaram. — Viva a
primeira dobra!
— Agora só restam cinco —
disse Olaf. — Só cinco dobras, e saberemos qual aberração será jogada aos
leões.
— É tudo tão emocionante! —
exclamou o homem do cabelo tingido. — Sou capaz até de desmaiar!
— Só não desmaie para
dentro do fosso — disse a mulher.
— Estou agora desfazendo a
segunda dobra! — anunciou o conde Olaf. — Agora só restam quatro!
Os leões rugiram impacientes, como se estivessem cansados daquelas
baboseiras com o pedaço de papel, mas o público deu vivas ao suspense e nem se incomodou
com as bestas-feras, mantendo-se atentos ao conde Olaf, que sorria e jogava
beijos para a platéia. Os Baudelaire, contudo, não tentavam mais assistir por
cima da multidão ao número de Olaf, uma expressão que aqui significa ‘’tentativa
de aumentar o suspense desdobrando lentamente um pedaço de papel onde está
escrito o nome de alguém que supostamente vai pular para dentro de um fosso
cheio de leões’’. Eles se aproveitaram do fato de que ninguém estava olhando e
se juntaram para conversar sem despertar suspeitas.
— Você acha que
conseguiríamos nos esgueirar até os carrinhos da montanha-russa? — murmurou
Klaus para a irmã.
— Acho que tem gente demais
— respondeu Violet. — Você acha que poderíamos impedir que os leões comessem
alguém?
— Acho que não — disse
Klaus, apertando os olhos para enxergar as feras esfomeadas. — Li num livro que
quando os grandes felinos estão com muita fome, são capazes de comer qualquer
coisa.
— Existe mais alguma coisa
que você tenha lido que possa nos ajudar? — perguntou Violet.
— Suponho que não —
respondeu Klaus. — Existe mais alguma coisa que você possa construir com aquela
correia de ventilador que possa nos ajudar?
— Suponho que não —
respondeu Violet com a voz fraca de tanto medo.
— Déjà-vu! — gritou Sunny
para os irmãos. Ela queria dizer alguma coisa no gênero de: ‘’Temos de pensar
em alguma coisa que nos ajude. Já escapamos de multidões sanguinárias outras
vezes’’.
— Sunny está certa — disse
Klaus. — Na época em que estávamos no Hospital Heimlich, aprendemos a controlar
uma multidão quando protelamos a cirurgia a que Olaf pretendia submeter Violet.
— E na época em que
morávamos na cidade de Cultores Solidários de Corvídeos — disse Violet, — aprendemos
um pouco de psicologia de massas quando vimos que todos os cidadãos estavam tão
perturbados que não conseguiam pensar com clareza. Mas o que podemos fazer com
esta multidão? O que podemos fazer agora?
— Ambos! — murmurou Sunny ,
e depois rosnou depressa para o caso de alguém ter suspeitado de sua condição
lobal.
— Desdobrei o papel de
novo! — bradou o conde Olaf, e não preciso dizer que ele explicou que só
restavam três dobras, nem que a multidão o aplaudiu mais uma vez, como se ele
tivesse feito alguma coisa muito nobre ou corajosa. E não preciso contar que
ele anunciou as três dobras remanescentes como se fossem eventos emocionantes,
e que a multidão continuou a aplaudir, ávida pela violência e a comilança porca
que se seguiriam, e também não preciso contar o que estava escrito naquele
pedaço de papel porque, se você leu até agora este livro deplorável, então está
bem familiarizado com os órfãos Baudelaire e com o tipo de sorte aberrante que
eles têm. Uma pessoa com sorte normal chegaria a um parque de diversões em
circunstâncias confortáveis, tais como um ônibus de dois andares ou um lombo de
elefante, e provavelmente se divertiria muito com todas as coisas que um parque
de diversões oferece, e se sentiria feliz e satisfeito quando o passeio
chegasse ao fim. Mas os Baudelaire chegaram ao Parque Caligari num porta-malas,
e foram forçados a se disfarçar, a participar de um espetáculo humilhante, a
arriscar suas vidas e, como se essa série de desventuras ainda fosse pouco, não
encontraram as informações que esperavam encontrar.
Portanto, não será surpreendente saber que o nome de Hugo não
estava escrito no papel, e nem o nome de Colette, e nem o nome de Kevin, que de
puro nervoso torcia as duas mãos quando Olaf terminou de desdobrar o papel.
Também não será surpreendente saber que, quando o conde Olaf anunciou o que
dizia o papel, os olhos da multidão inteira recaíram sobre as três crianças. E
muito embora você não se surpreenda com o que o conde Olaf anunciou, ficará
surpreso com o que anunciou um dos Baudelaire imediatamente depois.
— Senhoras e senhores —
anunciou o conde Olaf. — Beverly -Elliot, a aberração de duas cabeças, é a sorteada
de hoje.
— Senhoras e senhores —
anunciou Violet Baudelaire, — é um enorme prazer ter sido a escolhida.
Comentários
Postar um comentário
Nada de spoilers! :)