Capítulo 11
Existe um escritor que, como eu, é considerado por muitos como
falecido. Seu nome é William Shakespeare. Ele escreveu peças teatrais de quatro
tipos: cômicas, românticas, históricas e trágicas. As comédias são histórias em
que as pessoas contam piadas e tropeçam nas coisas, peças românticas são
histórias em que as pessoas se apaixonam e quase sempre se casam. As peças
históricas são reproduções de fatos que aconteceram de verdade, como a história
dos órfãos Baudelaire, e as tragédias são histórias que normalmente começam bem
e depois vão piorando gradualmente, até que todas as personagens estejam
mortas, feridas ou, de algum modo, incomodadas. Normalmente, uma tragédia não é
uma experiência muito divertida nem para o espectador nem para as personagens
e, entre todas as tragédias de Shakespeare, é possível que a menos divertida
seja O rei Lear, a história de um rei que enlouquece enquanto suas filhas
tramam assassinar várias pessoas, inclusive uma à outra. No final da peça, uma
das personagens diz:
— Vão devorar-se os homens
uns aos outros como os monstros do abismo — uma frase que aqui significa ‘’como
é triste as pessoas se ferirem umas às outras como monstros ferozes do mar’’ e
quando a personagem termina de pronunciar essas funestas palavras, as pessoas
do público freqüentemente choram, ou suspiram, ou prometem a si mesmas assistir
a uma comédia da próxima vez.
Lamento relatar que a história dos órfãos Baudelaire chegou a um
ponto em que é adequado emprestar do Sr. Shakespeare sua frase e descrever como
os órfãos Baudelaire se sentiram quando se dirigiram à multidão à beira do
fosso dos leões e tentaram continuar a história dentro da qual se encontravam
sem transformá-la numa tragédia. Mas parecia que todos estavam ansiosos por
ferir uns aos outros.
O conde Olaf e seus comparsas queriam ver Violet e Klaus pularem
para suas mortes carnívoras, pois assim o Parque Caligari voltaria a ser mais
popular e madame Lulu poderia ler a sorte de Olaf. Esmé Squalor queria ver
madame Lulu ser atirada no fosso, pois assim ela não precisaria mais dividir as
atenções de Olaf, e os colegas de trabalho dos Baudelaire queriam ajudá-la no
plano, pois como pagamento ingressariam na trupe de Olaf. A repórter de O
Pundonor Diário e o público queriam assistir a um espetáculo de violência e
comilança porca, pois assim a visita ao parque teria valido a pena. E os leões
só queriam saborear uma refeição, pois tinham sido chicoteados e privados de
comida por muito tempo. Parecia que todos os seres humanos reunidos junto à
montanharussa naquela tarde queriam ver alguma coisa horrível acontecer, e as
crianças se sentiram horrivelmente mal quando Violet e Klaus caminharam na
direção da prancha e fingiram estar ansiosos por pular.
— Obrigado, conde Olaf, por
escolher minha outra cabeça e eu como as primeiras vítimas — disse Klaus,
solenemente.
— Hmm, não há de quê —
replicou o conde Olaf um pouco surpreso. — E agora, pule para que possamos
assistir à sua devoração.
— E depressa! — gritou o
homem das espinhas. — Quero que a minha visita ao parque valha a pena!
— Em vez de uma aberração
pular por si própria no fosso — disse Violet, pensando depressa, — vocês não
prefeririam que alguém a empurrasse? Seria muito mais violento.
— Grr! — rosnou Sunny,
concordando.
— Bem colocado — disse
pensativa uma das mulheres de cara branca.
— Ah, sim! — exclamou a
mulher do cabelo tingido. — Quero ver o monstro de duas cabeças ser jogado aos
leões!
— Concordo — disse Esmé,
lançando um olhar feroz para os dois Baudelaire e depois para madame Lulu. — Eu
gostaria que alguém fosse atirado no fosso.
A multidão deu vivas e aplaudiu, e Sunny ficou olhando enquanto
seus irmãos caminhavam na direção da prancha suspensa sobre o fosso onde os
leões aguardavam com fome. Algumas pessoas maçantes dizem que quando você está numa
situação difícil, deve parar e determinar qual a coisa certa a fazer, mas os três
irmãos já sabiam que a coisa certa era correr para os carrinhos da montanha-russa,
instalar a correia de ventilador e fugir com madame Lulu e a sua biblioteca de
arquivos históricos para o sertão, isso depois de explicar para a multidão que
o derramamento de sangue não era uma forma respeitável de entretenimento e que
o conde Olaf e sua trupe deveriam ser presos. Mas há ocasiões em que determinar
a coisa certa a fazer é bastante simples, porém fazer a coisa certa é
simplesmente impossível, e então você precisa fazer alguma outra coisa. Os três
Baudelaire, no meio da multidão ávida por violência e comilança porca, sabiam
que era simplesmente impossível fazer a coisa certa, mas acharam que poderiam
tentar deixar a multidão agitada e aproveitar a confusão para escapulir.
Violet, Klaus e Sunny não sabiam se usar técnicas de controle de multidões e
psicologia de massas era a coisa certa a fazer, mas os Baudelaire não conseguiam
pensar em mais nada e, fosse ou não a coisa certa, seu plano parecia estar
funcionando.
— Isso é absolutamente
sensacional! — exclamou a excitada repórter. — Já posso ver a manchete: ‘’ABERRAÇÕES
SÃO EMPURRADAS PARA FOSSO DE LEÕES!’’. Aguardem só até os leitores de O
Pundonor Diário verem isso!
Sunny rosnou o mais alto que conseguiu e apontou para o conde
Olaf.
— O que Chabo está tentando
comunicar em sua linguagem semilobal — disse Klaus, — é que o próprio conde
Olaf deveria nos empurrar para dentro do fosso, afinal o espetáculo dos leões
foi ideia dele.
— É verdade! — disse o
homem das espinhas. — Queremos que o conde Olaf atire Beverly -Elliot no fosso!
Olaf fechou uma carranca para os Baudelaire, depois abriu um
sorriso de dentes imundos para a multidão.
— Sinto-me profundamente
honrado com o convite — disse, inclinando-se de leve, — mas receio que não seja
apropriado.
— Por que não? — perguntou
a mulher do cabelo tingido.
O conde Olaf pensou por um instante, depois emitiu um som breve e
muito agudo, tão falso quanto o rosnar de Sunny.
— Sou alérgico a gatos —
explicou. — Estão vendo? Já comecei a espirrar, e ainda nem estou em cima da
prancha
— A sua alergia não o
incomodou quando chicoteou os leões — disse Violet.
— É verdade — disse o homem
de mãos de gancho. — Eu nem sabia que você era alérgico. — O conde Olaf
fulminou o capanga com os olhos. — Senhoras e senhores — começou ele, mas a
multidão estava cansada dos discursos do vilão.
— Olaf, empurre logo o
monstro! — gritou alguém, e todos aplaudiram. Olaf fechou a cara, mas agarrou a
mão de Klaus e levou os dois Baudelaire para cima da prancha. Porém, sob os
urros da multidão e os rugidos dos leões, os Baudelaire perceberam que o conde
Olaf tinha tanto medo de se aproximar dos leões quanto eles próprios.
— Atirar pessoas em fossos
não é exatamente o meu serviço — disse nervoso à multidão. — Eu sou ator.
— Tenho uma ideia — disse
Esmé de repente, com uma falsa voz doce. — Madame Lulu, por que não anda por
aquela prancha e empurra a sua aberração para a morte?
— Esta também nón é serviço
meu, faz favor — protestou Lulu, olhando nervosa para as crianças. — Eu é
vidente, nón é lança-aberraçón.
— Não seja modesta, madame
Lulu — disse Olaf com um sorriso perverso. — Apesar de o espetáculo dos leões
ter sido ideia minha, você é a pessoa mais importante do parque. Tome o meu
lugar, e nos propicie o prazer de ver alguém ser empurrado para a morte.
— Que oferta delicada! —
exclamou a repórter. — É uma pessoa muito generosa, conde Olaf!
— Vamos ver madame Lulu
jogar Beverly -Elliot no fosso! — gritou o homem das espinhas, e todos
aplaudiram. À medida que a psicologia de massas começava a funcionar, a
multidão ficava mais manipulável e agitada, e bateu palmas calorosamente quando
Lulu subiu na prancha. O pedaço de madeira deu uma balançada com o peso de
tanta gente, e os Baudelaire precisaram se esforçar para manter o equilíbrio. A
multidão engasgou de emoção, e depois soltou um — ah... — de decepção quando as
duas crianças disfarçadas conseguiram evitar a queda.
— Isso é tão emocionante! —
guinchou a repórter. — Talvez madame Lulu também caia lá dentro!
— Sim — rosnou Esmé. — Talvez
ela caia.
— Tanto faz quem vai cair!
— anunciou o homem das espinhas. Frustrado com a demora da violência e da comilança
porca, ele atirou seu refresco no fosso, respingando suco nos leões irritados,
que rugiram. — Para mim, uma mulher de turbante é tão aberrante quanto uma
pessoa de duas cabeças. Não tenho preconceito!
— Nem eu! — concordou
alguém com PARQUE CALIGARI impresso no chapéu. — Só não aguento mais esperar!
Espero que madame Lulu tenha coragem de empurrar aquela aberração para dentro
do fosso!
— Tanto faz se ela tem
coragem ou não — replicou o careca com uma risadinha. — Cada um faz o que tem
de fazer. Não tem outra escolha, tem?
Violet e Klaus tinham chegado ao fim da prancha, e tentaram com
todo o afinco achar uma resposta para a pergunta do careca. Abaixo dos
Baudelaire estava a ensurdecedora massa de leões famintos que mais parecia uma
massa de garras e bocas abertas, tamanha era a falta de espaço, e em volta, a
ensurdecedora multidão que os observava com sorrisos de expectativa. Tinham
conseguido deixar a multidão cada vez mais agitada, mas não tinham encontrado
uma oportunidade para escapar, e agora parecia que essa oportunidade nunca chegaria.
Com dificuldade, Violet virou a cabeça de frente para o irmão, ao que Klaus
respondeu apertando os olhos, e Sunny pôde notar que seus irmãos estavam
prestes a chorar.
— Nossa sorte pode ter se
acabado — disse ela.
— Parem de cochichar nos
seus quatro ouvidos! — ordenou o conde Olaf com uma voz terrível. — Madame
Lulu, empurre-os já!
— Estamos aumentando o
suspense! — gritou Klaus, desesperado.
— O suspense já aumentou o
suficiente — retrucou o impaciente homem das espinhas. — Estou cansado dessa
enrolação.
— Eu também! — gritou a
mulher do cabelo tingido.
— Eu também! — gritou outra
pessoa. — Olaf, dê uma chicotada na Lulu! Isso vai acabar com a enrolação!
— Só um momenta, faz favor
— pediu madame Lulu, e deu mais um passo na direção de Violet e Klaus. A
prancha balançou de novo, e os leões rugiram na esperança de que seu almoço
estivesse chegando. Madame Lulu olhou em pânico para os Baudelaire mais velhos,
e as crianças viram seus ombros se encolherem sob a túnica reluzente.
— Ora, já basta! — disse o
homem de mãos de gancho, e deu um passo à frente. — Vou empurrá-los eu mesmo.
Acho que sou a única pessoa aqui com coragem
suficiente para fazer isso!
— Ah, não — disse Hugo. — Eu
também sou corajoso, assim como Colette e Kevin.
— Aberrações corajosas? —
disse com desdém o homem das mãos de gancho. — Não seja ridículo!
— Nós somos corajosos —
insistiu Hugo. — Conde Olaf, deixe-nos provar isso, e então Poderá nos
empregar!
— Empregar vocês? —
perguntou o conde Olaf com uma carranca.
— Que ideia maravilhosa! —
exclamou Esmé, como se a ideia não fosse dela.
— Sim — disse Colette. — Gostaríamos
de encontrar alguma outra coisa para fazer, e essa me parece ser uma
oportunidade maravilhosa.
Kevin deu um passo à frente e estendeu as duas mãos.
— Sei que sou uma aberração
— disse ele, — mas acho que posso ser tão útil quanto o homem de mãos de
gancho, ou o seu capanga careca.
— O quê? — bradou o careca.
— Uma aberração como você, tão útil quanto eu? Não seja ridículo!
— Eu posso ser útil —
insistiu Kevin. — Observe.
— Parem com essas
briguinhas! — disse o homem das espinhas, mal-humorado.
— Não vim aqui para ouvir
as pessoas discutirem seus problemas de trabalho.
— Vocês estão perturbando a
mim e à minha outra cabeça — disse Violet com sua voz grave. — Vamos sair dessa
prancha e discutir o assunto com calma.
— Eu não quero discutir o
assunto com calma! — gritou a mulher do cabelo tingido. — Isso eu posso fazer
em casa!
— Sim! — concordou a
repórter de O Pundonor Diário. — ‘’PESSOAS DISCUTEM COISAS COM CALMA’’ é uma
manchete chata! Joguem logo alguém no fosso dos leões, e nós vamos ter o que
queremos!
— Madame Lulu vai fazer
isso, faz favor! — anunciou madame Lulu com uma voz estrondosa, e agarrou
Violet e Klaus pela camisa. Os Baudelaire ergueram os olhos para ela e viram
uma lágrima aparecer, então ela se inclinou. — Sinto muito, jovens Baudelaire —
murmurou baixinho, sem sinal de sotaque, e abaixando-se até alcançar a mão de
Violet, tirou dela a correia de ventilador.
Sunny ficou tão perturbada que se esqueceu de rosnar.
— Trenceth! — gritou ela, o
que queria dizer alguma coisa do tipo: ‘’Você devia ter vergonha de sua existência!’’,
mas se a falsa vidente estava com vergonha de sua existência, ela não se comportava
de acordo.
— Madame Lulu sempre diz,
você precisa sempre dar para pessoas o que pessoas quer — disse, solenemente,
com a voz disfarçada. — Ela faz lançamento na fossa, faz favor, e ela faz isso
agora!
— Não seja ridícula — disse
Hugo, avançando impaciente. — Eu farei isso!
— Você é que está sendo
ridículo! — disse Colette, contorcendo o corpo na direção de Lulu. — Eu farei
isso!
— Não, eu farei isso! —
gritou Kevin. — Com as duas mãos!
— Eu farei isso! — gritou o
careca, impedindo a passagem de Kevin. — Não quero uma aberração do seu tipo
como colega de trabalho!
— Eu farei! — gritou o
homem de mãos de gancho.
— Eu farei! — gritou uma
das mulheres de cara branca.
— Eu farei! — gritou a
outra.
— Vou mandar outra pessoa
fazer! — gritou Esmé Squalor.
O conde Olaf desenrolou o seu chicote e o fez estalar por cima das
cabeças da multidão com um violento pléc! que fez todo mundo se retrair, uma
palavra que aqui significa ‘’se encolher, se esquivar e rezar para não levar
uma chicotada’’.
— Silêncio! — ordenou com
um bramido terrível. — Vocês deviam se envergonhar. Parecem um bando de
crianças! Quero ver aqueles leões devorando alguém neste exato momento, e quem
tiver coragem para cumprir as minhas ordens vai ganhar uma recompensa especial!
Esse discurso, é claro, foi apenas o último exemplo da tediosa
filosofia do conde Olaf envolvendo uma mula teimosa que anda na direção certa
se houver uma cenoura pendurada na frente dela, mas a oferta de uma recompensa
especial deixou a multidão ainda mais agitada. Num instante, a multidão se
transformou numa horda de voluntários que, como um enxame, avançaram ávidos por
finalmente atirar alguém aos leões. Hugo jogou-se para a frente na intenção de empurrar
madame Lulu, mas colidiu com a caixa que as mulheres de cara branca estavam
segurando, e os três caíram amontoados à beira do fosso. O homem de mãos de
gancho tentou agarrar Violet e Klaus, mas o cabo do microfone da repórter
enroscou-se num dos ganchos, e ele acabou detido. Colette contorceu os braços
para agarrar os tornozelos de Lulu, mas agarrou o tornozelo de Esmé Squalor por
acidente, e acabou com as mãos retorcidas em volta de sapatos na última moda. A
mulher do cabelo tingido decidiu fazer uma tentativa e inclinou-se para os
Baudelaire na intenção de empurrá-los, mas eles deram um passo para o lado, e a
mulher caiu em cima do marido, que acidentalmente estapeou o homem das
espinhas, e os três visitantes do parque começaram a discutir a altos brados.
Várias pessoas que estavam por perto entraram também na discussão e começaram a
berrar insultos umas para as outras. Não muito tempo depois do último discurso
do conde Olaf, os Baudelaire estavam no meio de uma massa furiosa que se
avultava sobre eles, gritando, empurrando e devorando uns aos outros como
monstros do abismo, enquanto os leões rugiam no fosso. Mas um outro som emergiu
do fosso, um som horrível, muito pior que o rugido das bestas-feras; o som de
alguma coisa sendo triturada e picotada. A multidão parou de discutir para ver
o que estava acontecendo, mas os Baudelaire não estavam interessados em
assistir a mais nada, e se afastaram do terrível som, agarrando-se uns aos
outros com os olhos fechados.
E mesmo sob os risos e vivas da multidão à beira do fosso, os
Baudelaire ainda ouviam os terríveis sons quando viraram as costas para a turba
e, ainda de olhos fechados, foram tropeçando por entre as pessoas até se verem
desimpedidos, uma frase que aqui significa ‘’longe o bastante para não ver nem
ouvir mais nada’’. Mas os órfãos Baudelaire podiam imaginar o que estava
acontecendo no fosso, assim como eu posso imaginar, muito embora não estivesse
lá e só tenha lido descrições a respeito. A matéria em O Pundonor Diário diz
que foi madame Lulu quem caiu primeiro, mas matérias de jornais muitas vezes
são pouco acuradas, portanto é impossível afirmar se isso é mesmo verdade.
Talvez ela tenha caído primeiro, e o careca foi atrás dela, ou talvez Lulu
tenha conseguido empurrar o careca ao tentar escapar, mas tenha logo depois
escorregado e caído também. Ou quem sabe eles estivessem se engalfinhando
quando a prancha balançou mais uma vez e os leões pegaram os dois ao mesmo
tempo. É provável que eu jamais venha a saber, assim como talvez nunca descubra
onde foi parar a correia de ventilador, por mais que volte inúmeras vezes ao
Parque Caligari para procurá-la. De início, pensei que madame Lulu tivesse deixado
cair a tira de borracha perto do fosso, mas já vasculhei a área munido de pá e
lanterna e não encontrei nem sinal dela, nem nenhum dos visitantes do parque
cujas residências investiguei parece tê-la levado embora como suvenir.
Então pensei que talvez a correia de ventilador tivesse sido
jogada para o ar durante toda a confusão e, quem sabe, aterrissado nos trilhos
da montanha-russa, mas já a escalei centímetro por centímetro e nada. E existe,
é claro, a possibilidade de que ela tenha sido queimada, mas os dispositivos de
relâmpagos em geral são fabricados com um certo tipo de borracha bastante
resistente a fogo, portanto essa possibilidade parece ser remota. E assim devo
admitir que não sei com certeza onde está a correia de ventilador e, como no
caso de saber quem caiu primeiro no fosso, essa pode ser uma informação que
jamais chegará ao meu conhecimento. Mas imagino que a pequena tira de borracha
tenha acabado no mesmo lugar onde a mulher que a removeu do dispositivo de relâmpagos
e a entregou aos órfãos Baudelaire acabou caindo, no mesmo lugar onde também
foi parar o capanga de Olaf que estava ansioso por uma recompensa. Se eu fechar
os olhos, como os órfãos Baudelaire fecharam quando escapavam aos tropeções
dessa desventura, posso imaginar que a correia de ventilador, como o careca e a
minha ex-associada Olívia, caiu no fosso que Olaf e seus comparsas tinham
cavado, e acabou na barriga de uma besta-fera.
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