Capítulo 8
É mais uma das peculiaridades da vida que as pessoas digam coisas
ridículas quando sabem que são ridículas. Se alguém perguntar: ‘’Como vai?’’ por
exemplo, você pode dizer sem pensar: ‘’Bem, obrigado ‘’ quando de fato acabou de
ser reprovado em um exame ou foi pisoteado por uma vaca. Um amigo pode dizer:
‘’Procurei as minhas chaves em todos os lugares possíveis e imagináveis’’, mas
você sabe que ele só procurou em alguns lugares ali por perto. Uma vez eu disse
a uma mulher que amava muito: ‘’Tenho certeza de que esses problemas logo irão
acabar e de que você e eu iremos ser felizes para sempre’’, quando na verdade
já suspeitava que as coisas ficariam muito piores. E foi assim com os dois
Baudelaire mais velhos, quando se viram cara a cara com Quigley Quagmire e
começaram a dizer coisas que sabiam ser absurdas.
— Você está morto — disse
Violet, e tirou sua máscara para se certificar de que enxergava com clareza.
Mas não havia como confundir Quigley, apesar de os Baudelaire nunca o terem
visto antes. Era tão parecido com Duncan e Isadora que só podia ser o terceiro
trigêmeo Quagmire.
— Você e seus pais morreram
num incêndio — disse Klaus, mas quando tirou a máscara sabia que isso não era
verdade. Até o modo como Quigley sorria para os dois Baudelaire era exatamente
igual ao dos seus irmãos.
— Não — disse Quigley. — Eu
sobrevivi e estou procurando pelos meus irmãos.
— Mas como você sobreviveu?
— perguntou Violet. — Duncan e Isadora disseram que a casa foi totalmente
destruída pelo incêndio.
— E foi — disse Quigley de
um jeito triste. Ele ergueu os olhos para a queda d'água congelada e suspirou.
— Vou começar do começo. Eu estava na biblioteca da minha família, estudando um
mapa da Floresta Finita, quando ouvi o ruído de vidros estilhaçando e pessoas
gritando. Minha mãe entrou correndo na sala e disse que era um incêndio.
Tentamos sair pela porta da frente, mas o Vestíbulo estava cheio de fumaça,
então ela me levou de volta à biblioteca e levantou um canto do tapete. Embaixo
havia um alçapão secreto. Ela me disse para aguardar lá embaixo enquanto ia
buscar meus irmãos. Lembro-me de ter ouvido a casa desmoronar acima de mim, do
som de passos frenéticos e dos meus irmãos gritando. — Quigley pôs a máscara no
chão e encarou os Baudelaire. — Mas ela nunca voltou — disse. — Ninguém voltou,
e quando tentei abrir o alçapão, alguma coisa que tinha caído sobre ele não me
deixava abri-lo.
— Como você conseguiu sair?
— perguntou Klaus.
— Andando — disse Quigley.
— Quando percebi que ninguém ia me salvar, tateei no escuro e notei que estava
numa espécie de corredor. Não havia mais para onde ir, portanto comecei a
andar. Nunca senti tanto medo na vida, percorrendo sozinho um corredor escuro
que meus pais mantinham em segredo. Não tinha ideia de onde iria chegar.
Os dois Baudelaire se entreolharam. Estavam pensando na passagem
secreta que descobriram debaixo da casa deles, quando estavam sob os cuidados
de Esmé Squalor e seu marido.
— E aonde conduzia? —
perguntou Violet.
— A casa de um
herpetologista — disse Quigley. — No final do corredor havia uma porta secreta
que levava a um salão enorme, todo de vidro. O salão estava cheio de jaulas
vazias, mas era evidente que tinha sido usado para abrigar uma coleção de
répteis.
— Nós também estivemos lá!
— exclamou Klaus, surpreso. — É a casa do tio Monty !
Ele foi nosso tutor até o conde Olaf chegar, disfarçado de...
— Assistente de laboratório
— completou Quigley. — Eu sei. A mala dele ainda estava lá.
— Também havia uma passagem
secreta embaixo da nossa casa — disse Violet, — mas só descobrimos quando fomos
morar com Esmé Squalor.
— Há segredos por toda
parte — disse Quigley. — Acho que todos os pais têm segredos. Você só precisa
saber onde procurar.
— Mas por que os nossos
pais haveriam de ter túneis embaixo de casa que levavam a um prédio de
apartamentos elegante e à casa de um herpetologista? — disse Klaus. — Não faz
nenhum sentido.
Quigley suspirou e pôs a mochila no chão, ao lado da máscara.
— Há muita coisa que não
faz sentido — disse. — Eu esperava encontrar as respostas aqui, mas agora duvido
que algum dia vá encontrá-las. — Ele pegou seu caderno roxo e abriu na primeira
página. — Tudo o que posso contar é o que tenho aqui neste livro de
lugar-comum.
Klaus deu um sorrisinho para Quigley e enfiou a mão no bolso para
pegar os papéis que guardara.
— Conte para nós o que você
sabe — disse Klaus, — e nós contaremos a você o que sabemos. Talvez juntos
possamos responder às nossas perguntas.
Quigley assentiu, e as três crianças sentaram-se em círculo sobre
o que antes fora o piso da cozinha. Quigley abriu a mochila e tirou um saquinho
de amêndoas salgadas, que ele ofereceu aos irmãos.
— Vocês devem estar com
fome depois de escalar o Caminho Secundário das Chamas — disse. — Eu, pelo
menos, estou. Vejamos, onde eu estava?
— Na Sala dos Répteis —
disse Violet, — no fim do corredor.
— Por algum tempo nada
aconteceu — disse Quigley. — Na soleira da porta havia um exemplar d'O Pundonor
Diário, que trazia uma reportagem sobre o incêndio. Foi assim que fiquei
sabendo da morte dos meus pais. Passei muitos dias sozinho. Estava tão triste e
assustado que não sabia o que fazer. Esperava que o herpetologista fosse amigo
dos meus pais e que aparecesse para trabalhar. Talvez ele pudesse me ajudar. A
cozinha estava cheia de comida, por isso não passei fome, mas todas as noites
dormia ao pé da escada para ouvir se alguém entrasse.
Os Baudelaire balançaram a cabeça, compreensivos, e Violet pôs a
mão no ombro de Quigley para reconfortá-lo.
— Foi a mesma coisa com a
gente, desde que tivemos notícia sobre os nossos pais — disse Violet. — Nem me
lembro do que dissemos ou fizemos.
— Mas ninguém veio
procurá-lo? — perguntou Klaus.
— O Pundonor Diário
noticiou que eu tinha morrido no incêndio — disse Quigley. — A matéria afirmava
que minha irmã e meu irmão tinham sido mandados para a Escola Preparatória
Prufrock e o espólio estava a cargo da sexta consultora financeira mais
importante.
— Esmé Squalor — disseram
Violet e Klaus simultaneamente, uma palavra que aqui significa ‘’ao mesmo tempo
e com o mesmo tom de nojo’’ .
— Exato — disse Quigley. — Mas
eu não estava interessado nisso. Queria encontrar meus irmãos. Achei um atlas
na biblioteca do Dr. Montgomery e o estudei até encontrar a localização da
Escola Preparatória Prufrock. Não ficava muito longe, portanto comecei a juntar
os suprimentos que pude para a expedição.
— Você não pensou em chamar
as autoridades? — perguntou Klaus.
— Acho que não estava
pensando com clareza — admitiu Quigley. — Meu único intuito era encontrar meus
irmãos.
— É claro — disse Violet. —
E depois, o que aconteceu?
— Fui interrompido — disse Quigley.
— Bem na hora que eu estava enfiando o atlas numa grande sacola, entrou alguém.
Era Jacques Snicket, mas eu ainda não sabia de quem se tratava. Mas ele sabia
quem eu era, e ficou feliz por eu estar vivo.
— Como você sabia que podia
confiar nele? — perguntou Klaus.
— Ele conhecia a passagem
secreta — disse Quigley. — Ele sabia um bocado de coisas sobre a minha família,
ainda que tivesse passado anos sem ver os meus pais. E...
— E...? — disse Violet.
Quigley deu um sorrisinho.
— Ele era muito lido —
disse. — Estava na casa do Dr. Montgomery para ler. Disse que havia um arquivo
importante escondido em algum lugar por ali e teria de ficar por alguns dias
para encerrar sua investigação.
— Então ele não levou você
para a escola? — perguntou Violet.
— Disse que não era seguro
que eu fosse visto — explicou Quigley. — Contou que fazia parte de uma
organização secreta, assim como os meus pais.
— C.S.C. — disse Klaus, e
Quigley assentiu.
— Duncan e Isadora tentaram
nos contar sobre C.S.C. — disse Violet, — mas nunca tiveram chance de fazer
isso. Não sabemos nem o que a sigla quer dizer.
— Quer dizer uma porção de coisas
— disse Quigley, folheando o seu caderno. — Quase tudo o que a organização usa
tem as mesmas iniciais. Desde os detetives felinos voluntários, os Caçadores de
Segredos Criminais, até a porta com Cerramento Supravernacular Complexo.
— Mas o que a organização
faz? — perguntou Violet. — O que é C.S.C.?
— Jacques não quis me
contar — disse Quigley, — mas acho que as iniciais representam Corporação pelo
Salvamento das Chamas.
— Corporação pelo
Salvamento das Chamas? — repetiu Violet, e olhou para o irmão. — O que quer
dizer isso?
— Em algumas comunidades —
disse Klaus, — não existe um corpo de bombeiros oficial, portanto elas dependem
de voluntários para apagar os incêndios e salvar as vítimas.
— Disso eu sei — ponderou
Violet, — mas o que isso tem a ver com os nossos pais, o conde Olaf e tudo o
que nos aconteceu? Sempre achei que se descobríssemos o que significam as
iniciais, teríamos resolvido o mistério, mas continuo tão confusa quanto antes.
— Você acha que os nossos
pais estavam combatendo incêndios em segredo? — perguntou Klaus.
— Mas por que manteriam
segredo? — perguntou Violet. — E por que precisavam de uma passagem secreta
embaixo da casa?
— Jacques disse que as
passagens foram construídas por membros da organização — disse Quigley. — Em
caso de emergência, poderiam escapar para um lugar seguro.
— Mas o túnel que
encontramos liga a nossa casa à de Esmé Squalor — disse Klaus. — Aquele não é
um lugar seguro.
— Alguma coisa aconteceu —
disse Quigley. — Alguma coisa mudou tudo. — Ele folheou algumas páginas do seu
livro de lugar-comum até encontrar o que estava procurando. — Jacques Snicket
chamou aquilo de ‘’cisão’’ — explicou, — mas eu não sei o que quer dizer essa
palavra.
— Uma cisão — disse Klaus,
— é a divisão de um grupo de pessoas antes unidas. É como uma grande briga em
que cada qual escolhe o seu lado.
— Faz sentido — disse Quigley.
— Do jeito que Jacques falou parece que a organização inteira estava um caos.
Voluntários que antes trabalhavam juntos agora eram inimigos; lugares que antes
eram seguros agora eram perigosos. Ambos os lados empregavam os mesmos códigos
e os mesmos disfarces. E até mesmo o símbolo de C.S.C., que era usado para
representar os nobres ideais compartilhados por todos, virou fumaça.
— Mas como aconteceu a
cisão? — perguntou Violet. — O que desencadeou a luta?
— Não sei — disse Quigley.
— Jacques não teve tempo de me explicar.
— O que ele estava fazendo?
— perguntou Klaus.
— Procurando vocês —
respondeu Quigley. — Ele mostrou uma fotografia em que vocês três estão no cais
de algum lago, e me perguntou se eu os tinha visto ultimamente. Ele sabia que o
conde Olaf era o tutor de vocês e sabia também de todas as coisas horríveis que
aconteceram lá. Sabia que vocês tinham ido morar com o Dr. Montgomery . Sabia
até de algumas invenções que você fez, Violet, e das pesquisas de Klaus, e até
de algumas das façanhas odontológicas de Sunny . Ele queria encontrá-los antes
que fosse tarde demais.
— Tarde demais para o quê?
— perguntou Violet.
— Não sei — disse Quigley
com um suspiro. — Jacques passou muito tempo na casa do Dr. Montgomery , mas
estava ocupado com a investigação, não teve tempo de me explicar tudo. Ficava
acordado a noite inteira lendo e copiando informações, e depois dormia o dia
inteiro, às vezes desaparecia por horas seguidas. Um dia me disse que precisava
sair para entrevistar alguém na cidade de Paltry ville, e nunca mais voltou.
Aguardei semanas e semanas pela sua volta. Li uma porção de livros e comecei a
escrever o meu próprio livro de lugar-comum. De início foi difícil achar alguma
informação sobre C.S.C, mas tomei notas sobre tudo o que encontrei. Devo ter
lido centenas de livros. Jacques nunca mais voltou. Certa manhã aconteceram
duas coisas que me fizeram decidir não esperar mais. A primeira foi um artigo
n'O Pundonor Diário dizendo que os meus irmãos tinham sido raptados da escola.
Sabia que precisava fazer algo coisa. Não podia esperar por Jacques Snicket nem
por ninguém.
Os Baudelaire balançaram a cabeça, concordando.
— Qual era a segunda coisa?
— perguntou Violet.
Quigley fez silêncio e revirou um punhado de cinzas no chão,
deixando-as cair de suas mãos enluvadas.
— Senti cheiro de fumaça —
disse, — e quando abri a porta da Sala dos Répteis, vi que alguém atirara uma
tocha acesa através do vidro do teto. Em minutos, a casa inteira, inclusive a
biblioteca, estava em chamas.
— Oh — disse Violet
baixinho. ‘’Oh’’ é uma palavra que usualmente significa algo na linha de: ‘’Ouvi
o que você disse e não estou interessada’’, mas nesse caso, é claro, a mais velha
dos Baudelaire queria dizer algo bem diferente, algo difícil de definir. Ela queria
dizer: ‘’Estou triste por ouvir que a casa do tio Monty foi incendiada’’, mas não
só isso. Com ‘’Oh’’ Violet estava também tentando descrever sua tristeza com relação
a todos os incêndios que trouxeram Quigley, Klaus e ela até as Montanhas de
Mão-Morta, para se sentar em círculo e tentar resolver o mistério que os
envolvia. Quando Violet disse ‘’Oh’’ não pensava apenas no incêndio da Sala dos
Répteis, mas nos incêndios que destruíram a casa dos Baudelaire e a casa dos
Quagmire, o Hospital Heimlich, o Parque Caligari e a base de operações de
C.S.C, onde o cheiro da fumaça permanecia no ar. Ao pensar em todos esses incêndios,
Violet se sentiu como se o mundo inteiro ardesse em chamas e ela e seus irmãos,
e todas as outras pessoas decentes do mundo, jamais pudessem encontrar um lugar
seguro.
— Outro incêndio — murmurou
Klaus, e Violet percebeu que ele estava pensando na mesma coisa. — Aonde você
poderia ir, Quigley?
— O único lugar em que
consegui pensar foi Paltry ville — disse Quigley. — Na última vez em que vi
Jacques ele disse que estava indo para lá. Se eu conseguisse encontrá-lo,
talvez ele me ajudasse a resgatar Duncan e Isadora. O atlas do Dr. Montgomery
mostrava como chegar lá, mas fui a pé, pois tinha medo de pegar carona, afinal
qualquer um poderia ser inimigo. Demorei bastante para chegar, mas assim que
pisei na cidade vi um grande edifício que combinava com a tatuagem no tornozelo
de Jacques Snicket. Achei que devia ser um lugar seguro.
— O consultório da Dra.
Orwell! — exclamou Klaus. — Não é um lugar seguro!
— Klaus foi hipnotizado lá
— explicou Violet, — e o conde Olaf estava disfarçado de...
— De recepcionista —
concluiu Quigley. — Eu sei. A placa falsa com o nome dele ainda estava sobre a
mesa. O consultório estava abandonado, mas eu sabia que Jacques estivera lá
porque havia algumas anotações com a letra dele. Com essas anotações e as informações
extraídas da biblioteca do Dr. Montgomery , tomei conhecimento da base de
operações de C.S.C. E em vez de esperar por Jacques, parti para encontrar a
organização. Achei que era a chance de resgatar meus irmãos.
— Então você partiu para as
Montanhas de Mão-Morta sozinho? — perguntou Violet.
— Não exatamente — disse Quigley.
— Eu tinha essa mochila que Jacques deixou para trás, com Cilindros
Sempre-verdes Combustíveis e outras coisas, e tinha o meu livro de lugar-comum.
Por fim encontrei os Escoteiros da Neve e me dei conta de que me esconder entre
eles seria a melhor maneira de chegar ao Monte Fraught. — Ele virou uma página
do seu livro de lugar-comum e examinou as anotações. — Fenômenos notáveis das
Montanhas de Mão-Morta, que li na biblioteca do Dr. Montgomery , tinha um
capítulo escondido que me revelou tudo sobre o Caminho Secundário das Chamas e
a porta com Cerramento Supravernacular Complexo.
Klaus tentou ler as
anotações por cima do ombro de Quigley.
— Eu devia ter lido aquele
livro quando tive a oportunidade — disse ele, balançando a cabeça. — Se soubéssemos
a respeito de C.S.C, quando morávamos com o tio Monty poderíamos ter evitado
muitos problemas.
— Quando morávamos com o
tio Monty — lembrou Violet, — estávamos preocupados em escapar das garras do
conde Olaf, não pensávamos em fazer qualquer pesquisa adicional.
— Eu tive tempo à vontade
para pesquisar — disse Quigley, — mas ainda não encontrei todas as respostas
que procuro. Não encontrei Duncan e Isadora e não sei onde está Jacques
Snicket.
— Ele está morto — disse
Klaus com muita calma. — O conde Olaf o assassinou.
— Achei que vocês me diriam
isso — disse Quigley. — Quando ele não voltou imaginei que alguma coisa estava
muito errada. Mas e os meus irmãos? Vocês sabem o que aconteceu com eles?
— Eles estão em segurança,
Quigley — disse Violet. — Pelo menos é o que pensamos. Nós os salvamos das
garras de Olaf, e eles escaparam com um homem chamado Hector.
— Escaparam? — repetiu Quigley.
— Para onde foram?
— Não sabemos — admitiu
Klaus. — Hector construiu uma casa móvel auto-sustentável a ar quente. Era uma
casa voadora, mantida no ar por uma porção de balões. Hector disse que poderia
flutuar para sempre.
— Nós tentamos embarcar —
disse Violet, — mas o Olaf conseguiu nos impedir.
— Então vocês não sabem
onde eles estão? — perguntou Quigley.
— Receio que não — disse
Violet, e afagou sua mão. — Mas Duncan e Isadora são pessoas intrépidas.
Sobreviveram nas garras de Olaf por bastante tempo, recolhendo e anotando
informações sobre os esquemas dele.
— Violet está certa — disse
Klaus. — Tenho certeza de que, onde quer que estejam, continuam a pesquisar.
Acabarão descobrindo que você está vivo e virão procurá-lo, assim como você foi
procurá-los.
Os dois Baudelaire estremeceram. Eles estavam falando sobre a
família de Quigley, é claro, mas se sentiam como se estivessem falando sobre a
deles.
— Tenho certeza de que os
seus pais também estão vivos e procurando por vocês — disse Quigley, como se
tivesse lido os pensamentos deles. — E Sunny também. Vocês sabem onde ela está?
— Em algum lugar aqui perto
— disse Violet. — Com o conde Olaf. Ele também queria encontrar a base de
operações.
— Talvez Olaf já tenha
passado aqui — disse Quigley, correndo os olhos pelos destroços. — Talvez tenha
sido ele quem ateou fogo nesse lugar.
— Acho que não — disse
Klaus. — Ele não teria tido tempo para atear fogo nesse lugar inteiro.
Estávamos bem atrás dele. E tem mais, eu não acho que o lugar tenha sido
incendiado de uma só vez.
— Por que não? — perguntou Quigley.
— É grande demais —
respondeu Klaus. — Se a base de operações inteira estivesse queimando, o céu
teria sido coberto de fumaça.
— É verdade — disse Violet.
— Toda essa fumaça iria levantar muitas suspeitas.
— Onde há fumaça — disse Quigley,
— há fogo.
Violet e Klaus se voltaram para o amigo concordando, mas Quigley
olhava para a lagoa e os dois afluentes congelados, onde antes ficavam as
janelas da cozinha de C.S.C, e onde eu, certa vez, piquei brócolis enquanto a
mulher que eu amava preparava um molho picante de amendoim. Ele apontava para o
céu, onde eu e meus associados costumávamos observar as águias voluntárias
capazes de localizar fumaça a grandes distâncias.
Mas naquela tarde não havia águias nos céus das Montanhas de
Mão-Morta, e quando Violet e Klaus olharam na direção em que Quigley apontava,
outra coisa chamou a sua atenção. Pois quando Quigley falou ‘’Onde há fumaça,
há fogo’’ ele não estava se referindo à teoria de Klaus sobre a destruição da
base de C.S.C, mas à fumaça verde que se elevava no céu do Cume das Aflições,
no topo do escorregador de gelo.
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