Capítulo 8

Quando os Baudelaire voltaram para o trailer das aberrações, Hugo, Colette e Kevin terminavam uma partida de dominó e se preparavam para tomar uma sopa tailandesa chamada tom ka gai, que Hugo tinha acabado de preparar. Mas quando se sentaram à mesa, não tiveram disposição para digerir a mistura de frango, legumes, cogumelos, gengibre, leite de coco e castanhas-d'água que o corcunda preparara. Eles estavam mais preocupados em digerir informações, uma expressão que aqui significa ‘’pensar em tudo o que madame Lulu lhes havia contado’’. Violet tomou uma colherada do caldo quente, mas estava tão concentrada pensando na biblioteca de arquivos históricos que mal notou o sabor adocicado da sopa. Klaus mascou uma castanha-d'água, mas estava tão absorto em pensamentos sobre a base de operações nas Montanhas de Mão-Morta que nem saboreou sua textura sedutora e crocante. E Sunny inclinou a tigela para tomar um gole, mas estava tão curiosa a respeito do kit de disfarces que não percebeu que sua barba estava ficando empapada de sopa. Todos tomaram o caldo até o fim, mas estavam tão ansiosos para saber mais a respeito de C.S.C, que pareciam estar com mais fome do que antes.
 — Todo mundo está tão calado — disse Colette, passando a cabeça por baixo da axila para olhar em volta da mesa. — Hugo e Kevin, vocês não falaram muito, e me parece que Chabo não rosnou uma única vez, nem ouvi nenhuma das cabeças abrir a boca.
 — Não estamos com disposição para conversar — disse Violet, lembrando-se de falar com a voz grave. — Temos muito em que pensar.
 — E como — disse Hugo. — Não estou muito entusiasmado com a ideia de ser devorado por um leão.
 — Nem eu — disse Colette. — Mas hoje os visitantes ficaram muito excitados com o anúncio do espetáculo. Parece que todo mundo adora violência.
 — E comilança porca — disse Hugo, passando um guardanapo na boca. — É um dilema interessante.
 — Não acho que seja interessante — disse Klaus, apertando os olhos para enxergar seus colegas de trabalho. — Acho que é um dilema horrível. Amanhã à tarde, alguém vai pular para a morte. — Mas ele não disse que, àquela altura, os Baudelaire já estariam muito longe do Parque Caligari, a caminho das Montanhas de Mão-Morta, no carrinho que Violet planejava construir pela manhã.
 — Não sei o que podemos fazer — disse Kevin. — Por um lado, eu prefiro continuar trabalhando na Casa dos Monstros a ser comido pelos leões. Mas por outro lado..., e no meu caso ambos são iguais, existe o lema da madame Lulu, ‘’dê às pessoas o que elas querem’’, e elas querem que este parque seja carnívoro.
 — Acho que é um péssimo lema — disse Violet, e Sunny rosnou, concordando. — Existem coisas melhores do que fazer algo humilhante e perigoso só para dar às pessoas o que elas querem.
 — Como o quê? — perguntou Colette.
Os Baudelaire se entreolharam. Estavam com medo de revelar seu plano de fuga aos colegas de trabalho e a notícia acabar nos ouvidos do conde Olaf. Mas também não podiam ficar de braços cruzados, sabendo que algo de terrível estava para acontecer só porque Hugo, Colette e Kevin se sentiam obrigados a ser aberrações e fazer jus ao lema de madame Lulu.
 — Você nunca sabe quando vai surgir algo novo para fazer — disse Violet. — Pode acontecer a qualquer momento.
 — Você acha mesmo? — perguntou Hugo, esperançoso.
 — Sim — disse Klaus. — Você nunca sabe quando a oportunidade vai bater à sua porta. — Kevin mirou os Baudelaire com um brilho nos olhos. — Com que mão você acha que ela vai bater?
 — A oportunidade pode bater com qualquer mão — disse Klaus, e naquele momento bateram à porta.
 — Abram, aberrações. — A voz impaciente fez as crianças pularem. Como você certamente já sabe, quando Klaus usou a expressão — a oportunidade vai bater à sua porta — queria dizer que os seus colegas de trabalho poderiam encontrar algum destino melhor para suas vidas do que pular dentro de um fosso cheio de leões famintos só para dar a algumas pessoas o que elas queriam, e não que a namorada de um notório vilão iria realmente bater à porta e lhes dar uma idéia que era ainda pior. Mas lamento dizer que era Esmé Squalor quem estava batendo as unhas compridas contra a porta. — Abram de uma vez. Quero falar com vocês.
 — Só um momento, sra. Squalor — gritou Hugo, e foi até a porta. — Vamos nos comportar o melhor possível — disse ele aos colegas de trabalho. — Não é sempre que uma pessoa normal vem falar conosco, e acho que devemos aproveitar ao máximo essa oportunidade.
 — Vou me comportar — prometeu Colette. — Não vou me contorcer em nenhuma posição estranha.
 — E eu vou usar só a mão direita — disse Kevin. — Ou só a esquerda.
 — Boa idéia — disse Hugo, e abriu a porta. Esmé Squalor estava encostada no batente, com um sorriso maldoso nos lábios.
 — Sou Esmé Gigi Geniveve Squalor — disse ela, como freqüentemente se anunciava, mesmo que todos ao redor já soubessem seu nome. Ela deu um passo para dentro do trailer, e os Baudelaire viram que estava especialmente ataviada para a ocasião, uma frase que aqui significa ‘’vestida com uma roupa escolhida para impressioná-los’’. Era um vestido branco, longo, tão longo que ultrapassava seus pés e se espalhava pelo chão à sua volta, como se ela estivesse plantada no meio de uma grande poça de leite. Na parte da frente do vestido, as palavras EU AMO ABERRAÇÕES tinham sido bordadas com fios brilhantes, só que no lugar da palavra ‘’amo’’ havia um enorme coração, um símbolo que às vezes é usado por quem tem dificuldade de distinguir palavras de formas. Esmé amarrara um saco marrom numa das alças do vestido e usava um estranho chapéu redondo, com tufos de linha preta saindo pelo topo e uma grande careta desenhada na frente.
As crianças sabiam que aquele tipo de roupa devia ser muito in, caso contrário Esmé não usaria, mas não podiam imaginar quem no mundo admirava um traje tão estranho.
 — Que lindo vestido! — disse Hugo.
 — Obrigada — disse Esmé. Ela cutucou Colette com uma de suas unhas compridas, e a contorcionista se levantou da cadeira para que Esmé tomasse seu lugar. — Como vocês podem ler no meu vestido, eu amo aberrações.
 — É mesmo? — disse Kevin. — Muito gentil da sua parte.
 — Sim, é verdade — concordou Esmé. — Mandei fazer este vestido especialmente para demonstrar o quanto amo as aberrações. Vejam, tem uma almofada no ombro para lembrar uma giba, e o meu chapéu faz com que eu pareça ter duas cabeças, como Beverly -Elliot.
 — Certamente a sua aparência é um tanto aberrante — disse Colette.
Esmé fechou a cara; não era exatamente aquilo que pretendia ouvir.
 — Naturalmente, eu não sou uma aberração de verdade — disse. — Sou uma pessoa normal, mas queria mostrar a vocês o quanto os admiro. Agora me tragam, por favor, um leite desnatado em caixinha. É muito in.
 — Infelizmente não temos — disse Hugo, — mas acho que temos um pouco de suco de uva-do-monte ou, se preferir, posso preparar um chocolate quente delicioso.
 — Tom ka gai! — disse Sunny.
 — E também temos sopa — disse Hugo.
Esmé olhou para Sunny e franziu o cenho.
 — Não, obrigada — disse, — mas é muita gentileza. Vocês aberrações são tão gentis que já os considero mais do que meros empregados de um parque de diversões que por acaso esteja visitando. São como que amigos íntimos. — As crianças sabiam, é claro, que aquela ridícula declaração era tão falsa quanto a segunda cabeça de Esmé, mas seus colegas vibraram.
Hugo abriu um grande sorriso para Esmé e pôs-se em pé de um jeito que quase escondia a corcunda. Kevin corou e baixou os olhos para as mãos. E Colette ficou tão excitada que não pôde deixar de contorcer o corpo todo até ficar parecida com a letra K e com a letra S ao mesmo tempo.
 — Oh, Esmé — disse. — Você está falando sério?
 — É claro que sim — disse Esmé, apontando para os dizeres do vestido. — Prefiro vocês às pessoas mais refinadas do mundo.
 — Puxa — disse Kevin. — Nunca uma pessoa normal me chamou de amigo.
 — Mas é o que vocês são — disse Esmé, e se inclinou para beijar Kevin no nariz. — Vocês são meus amigos aberrantes. E fico muito triste em pensar que um de vocês será comido pelos leões. — Os Baudelaire repararam quando ela tirou do bolso um lenço branco que trazia bordada a mesma frase do vestido e em seguida enxugou os olhos com a palavra ‘’aberrações’’. — Fiquei com lágrimas nos olhos — explicou.
 — Vamos, vamos, amigona — disse Kevin, e acariciou a mão dela. — Não fique triste.
 — Não posso evitar — disse Esmé, e puxou a mão depressa, como se a ambidestria fosse contagiosa. — Mas tenho uma oportunidade que nos tornará muito, muito felizes.
 — Oportunidade? — perguntou Hugo. — Que coincidência, Beverly e Elliot estavam justamente nos dizendo que uma oportunidade poderia surgir a qualquer momento.
 — E eles estavam certos — disse Esmé. — Esta noite ofereço a vocês a oportunidade de largar os seus empregos na Casa dos Monstros para se juntar à trupe do conde Olaf.
 — Qual seria o nosso trabalho? — perguntou Hugo.
Esmé sorriu e começou a salientar os aspectos positivos de trabalhar para o conde Olaf, uma frase que aqui significa ‘’fazer a oportunidade parecer melhor do que realmente era, dando destaque às partes boas e deixando de mencionar as ruins’’.
 — É uma trupe teatral — disse ela, — vocês vão usar fantasias, fazer exercícios dramáticos e, ocasionalmente, cometer crimes.
 — Exercícios dramáticos! — exclamou Kevin, levando as duas mãos ao coração. — Atuar sempre foi meu maior desejo!
 — E eu sempre quis usar uma fantasia! — disse Hugo.
 — Na verdade, você já atua, Kevin — disse Violet, — e você já usa uma fantasia mal ajustada todos os dias, Hugo.
 — Se vocês aceitarem, poderão viajar conosco para lugares excitantes — continuou Esmé, e lançou um olhar feroz para Violet. — Os empregados do conde Olaf já conheceram as árvores da Floresta Finita, as praias do Lago Lacrimoso e os corvos da Cidade de Cultores Solidários de Corvídeos, embora viajem sempre no banco de trás. Mas o melhor mesmo é trabalhar para o conde Olaf, um dos homens mais brilhantes e lindos que já caminharam sobre a face da Terra.
 — Você acha mesmo que um homem normal como ele trabalharia com aberrações como nós? — perguntou Colette.
 — É claro que sim — disse Esmé. — Para o conde Olaf, pouco importa se você é ou não é normal, desde que esteja disposta a cumprir suas ordens. Se trabalharem na trupe de Olaf ninguém vai achá-los nem um pouco aberrantes. E vão ganhar uma fortuna, pelo menos o conde Olaf vai.
 — Uau! — disse Hugo. — Que oportunidade!
 — Eu tinha um palpite de que vocês se entusiasmariam com a ideia — disse Esmé. — Agora, se estão interessados, há só uma coisa que precisam fazer.
 — Uma entrevista de emprego? — perguntou Colette, nervosa.
 — Não há necessidade de amigos meus passarem por algo tão desagradável quanto uma entrevista de emprego — disse Esmé. — Vocês só precisam cumprir uma tarefa simples. Amanhã à tarde, durante o número dos leões, o conde Olaf vai anunciar qual aberração deverá pular no fosso dos leões. Mas independentemente de quem seja o escolhido, quero que atirem em madame Lulu.
O trailer ficou em silêncio enquanto todos digeriam aquela informação.
 — Isso quer dizer — disse Hugo afinal, — que devemos assassinar madame Lulu?
 — Não pense nisso como assassinato — disse Esmé. — Pense que é um exercício dramático. É uma surpresa especial para o conde Olaf, vocês vão mostrar a ele que são corajosos o bastante para fazer parte de sua trupe.
 — Atirar Lulu no fosso não me parece um ato de grande bravura — disse Colette. — Apenas cruel e perverso.
 — Como poderia ser cruel e perverso dar às pessoas o que elas querem? — perguntou Esmé. — Vocês querem juntar-se à trupe do conde Olaf; a multidão quer ver alguém ser comido pelos leões; e eu quero que madame Lulu seja atirada no fosso. Amanhã, um de vocês terá a excitante oportunidade de dar a todos o que querem.
 — Grr — rosnou Sunny, mas só os seus irmãos entenderam que ela quis dizer: ‘’Todo mundo, menos a Lulu’’.
 — Quando você coloca as coisas desse modo — disse Hugo, pensativo, — não soa tão perverso.
 — É claro que não — disse Esmé, ajeitando sua cabeça postiça. — Além disso, madame Lulu queria vê-los sendo comidos por leões, portanto deviam ficar felizes por ter a oportunidade de atirá-la em seu lugar.
 — Mas por que você quer que madame Lulu seja atirada aos leões? — perguntou Colette. Esmé fez uma careta. — O conde Olaf acha que se este parque tornar-se mais popular, madame Lulu poderá nos ajudar com sua bola de cristal — disse ela, — mas eu não acho que precisamos da ajuda dela. Além disso, estou cansada de ver o meu namorado comprar presentes para ela.
 — Essa não me parece uma boa razão para alguém ser comido por leões — disse Violet com sua voz disfarçada.
 — Não me surpreende que uma pessoa de duas cabeças fique um pouco confusa — disse Esmé, e esticou as mãos de unhas compridas para afagar simultaneamente os rostos de Violet e Klaus. — Depois que vocês entrarem para a trupe de Olaf, não terão mais esse tipo de pensamento aberrante.
 — Imaginem só — disse Hugo, — amanhã passaremos de aberrações a homens de confiança do conde Olaf.
 — Eu prefiro o termo 'pessoas de confiança' — disse Colette. Esmé abriu um grande sorriso para todos e então abriu o saco marrom. — Para celebrar seus novos empregos — disse ela, — trouxe um presente para cada um.
 — Um presente! — exclamou Kevin. — Madame Lulu nunca nos deu um presente.
 — Este é para você, Hugo — disse Esmé, e lhe deu um casaco enorme que os Baudelaire reconheceram da época em que o homem de mãos de gancho se disfarçara de porteiro. O casaco era tão grande que encobria seus ganchos, e quando Hugo o experimentou, os Baudelaire viram que também era grande o suficiente para encobrir a corcova de Hugo, mesmo com sua forma irregular.
Hugo olhou-se no espelho e depois se voltou para os colegas, exultante.
 — Ele cobre a minha corcunda! — disse. — Nem pareço uma aberração!
 — Viu? — disse Esmé. — O conde Olaf já está tornando sua vida muito melhor. E olhe o que tenho para você, Colette. — A namorada de Olaf enfiou a mão no saco e puxou para fora o manto comprido e preto que os Baudelaire tinham visto no porta-malas do automóvel. — É tão folgado — explicou, — que mesmo torcendo seu corpo do jeito que for ninguém vai notar que você é uma contorcionista.
 — É a realização de um sonho! — disse Colette, arrancando-o das mãos de Esmé. — Eu jogaria cem pessoas no fosso dos leões para usar uma coisa assim!
 — E Kevin — disse Esmé, — este pedaço de corda é para amarrar a sua mão direita atrás das costas, assim você não terá nenhuma possibilidade de usá-la.
 — Então vou ser canhoto, como as pessoas normais! — disse Kevin, erguendo-se da cadeira sobre os seus dois pés igualmente fortes. — Viva!
O ambidestro virou-se alegremente para que Esmé amarrasse sua mão direita, e num instante passou a ter apenas um braço operante.
 — Não esqueci vocês dois — continuou Esmé, sorrindo para as três crianças. — Chabo, eis aqui uma grande navalha que o conde Olaf usa quando precisa aparar a barba. Achei que você gostaria de aparar um pouco esse pêlo feio de lobo. E para você, Beverly -Elliot, eu tenho isto. — Esmé despregou o saco marrom do vestido e estendeu-o para os Baudelaire mais velhos, triunfante. Violet e Klaus deram uma espiada no saco e constataram que estava vazio. — Este saco é perfeito para cobrir uma de suas cabeças — explicou. — Você vai parecer uma pessoa com uma cabeça só que, por acaso, está carregando um saco no ombro. Não é sensacional?
 — Acho que sim — disse Klaus com sua falsa voz aguda.
 — O que há com você? — perguntou Hugo. — Oferecem a você um emprego instigante e um presente generoso, e nenhuma das cabeças se anima!
 — Você também, Chabo — disse Colette, — não parece muito entusiasmada.
 — Acho que essa é uma oportunidade que devíamos recusar — disse Violet, e seus irmãos concordaram com a cabeça.
 — O quê? — disse Esmé, bruscamente.
 — Nada pessoal — Klaus acrescentou depressa, muito embora o fato de não querer trabalhar para o conde Olaf fosse algo bastante pessoal. — Trabalhar numa trupe teatral deve ser emocionante, e o conde Olaf parece ser uma pessoa formidável.
 — Então qual é o problema? — perguntou Kevin.
 — Bem — disse Violet, — não me sinto muito à vontade com essa história de jogar madame Lulu aos leões.
 — Como segunda cabeça que sou, concordo com ela — disse Klaus, — e Chabo também.
 — Aposto que Chabo só concorda pela metade — disse Hugo. — Aposto que sua metade lobo adoraria ver madame Lulu ser devorada.
Sunny sacudiu a cabeça e rosnou, e Violet entendeu que devia colocá-la em cima da mesa.
 — Simplesmente não parece direito — disse Violet. — Madame Lulu não é a pessoa mais simpática que conheço, mas não acho que ela mereça ser devorada. — Esmé abriu um largo sorriso falso para os Baudelaire mais velhos e se inclinou para fazer-lhes outro afago. — Não deixe suas cabeças se preocuparem com a questão de ela merecer ou não ser devorada — disse, e depois sorriu para Chabo. — Você não merece ser metade lobo, merece? — perguntou Esmé. — Neste mundo, as pessoas nem sempre têm o que merecem.
 — Ainda assim me parece uma coisa perversa — disse Klaus.
 — Eu não acho — disse Hugo. — Isso é dar às pessoas o que elas querem, como diz a própria Lulu.
 — Que tal vocês consultarem o travesseiro? — sugeriu Esmé e levantou-se da mesa. — Assim que o espetáculo de amanhã terminar, Olaf rumará para o norte, para as Montanhas de Mão-Morta, e se até lá madame Lulu já tiver sido devorada, vocês poderão acompanhá-lo. Decidam pela manhã se querem ser bravos integrantes de uma trupe teatral ou aberrações covardes de um parque decadente.
— Eu não preciso consultar o travesseiro — disse Kevin.
— Nem eu — disse Colette. — Já me decidi.
— Sim — declarou Hugo. — Eu quero me juntar ao conde Olaf.
— Fico feliz em ouvir isso — disse Esmé. — Talvez vocês possam convencer seus colegas a se juntarem a vocês, juntando-se a mim para juntar-se a ele. — Ao abrir a porta do trailer, Esmé olhou desdenhosa para as três crianças. O pôr-do-sol terminara fazia algum tempo, e não havia mais sinal de luz azul sobre o Parque Caligari. — Pensem nisso, Beverly -Eliott e Chabo — disse ela.
— Pode ser mesmo uma coisa perversa jogar madame Lulu num fosso cheio de leões carnívoros.
Esmé deu um passo para fora, e estava tão escuro que a namorada de Olaf parecia um fantasma com aquele longo vestido branco e uma cabeça adicional.
— Mas se vocês não se juntarem a nós, para onde mais podem ir? — perguntou ela.
Os órfãos Baudelaire não tinham resposta para a terrível pergunta de Esmé Squalor, mas ela mesma respondeu, com uma longa e perversa gargalhada.
— Se vocês não optarem pela coisa perversa, que diabo vão fazer? — perguntou, e desapareceu na noite.

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