Capítulo Quatorze
Não fizemos amor de novo. Depois da nossa noite juntos, acordei na
manhã seguinte para encontrar Savannah me estudando, as lágrimas rolando por
suas bochechas. Antes que eu pudesse perguntar o que havia de errado, ela
colocou um dedo nos meus lábios e balançou a cabeça, me pedindo pra não falar. —
Noite passada foi maravilhoso, — ela disse, — mas não quero falar sobre isso. Ao
invés disso, ela se enroscou ao meu redor e eu a segurei por um longo momento,
escutando o som da sua respiração. Eu sabia então que algo havia mudado entre
nós, mas naquela época, eu não tive a coragem de descobrir o que.
Na manhã em que parti, Savannah me levou até o aeroporto. Sentamos
no portão juntos, esperando pela chamada do vôo, seu polegar descrevendo
pequenos círculos nas costas da minha mão. Quando chegou a hora de eu embarcar,
ela caiu em meus braços e começou a chorar. Quando viu minha expressão, ela
forçou uma risada, mas eu podia ouvir o pesar nela.
— Sei que prometi, — ela
disse, — mas não posso evitar.
— Vai ficar tudo bem, — eu
disse. — São apenas seis meses. Com tudo que está acontecendo na sua vida, você vai se espantar com
o quão rápido vai passar.
— É fácil falar, — ela
disse, fungando. — Mas você está certo. Eu vou ser mais forte dessa vez. Vou
ficar bem.
Examinei seu rosto procurando sinais de negação mas não achei
nenhum. — Sério, — ela disse. — Eu vou ficar bem.
Assenti e por um longo momento nós simplesmente nos encaramos.
— Você vai lembrar de olhar
a lua cheia? — ela perguntou.
— Todas as vezes, — prometi.
Compartilhamos um último beijo. A abracei com força e murmurei que
a amava, depois me forcei a soltá-la. Joguei minha mochila sobre os ombros e
subi a rampa. Espiando por cima do meu ombro me dei conta de que Savannah já
havia ido embora, escondida em algum lugar na multidão.
No avião, me deitei na poltrona, rezando para que Savannah
estivesse dizendo a verdade. Embora eu soubesse que ela me amava e se importava
comigo, de repente entendi que mesmo amor e cuidado nem sempre eram
suficientes. Eles eram os tijolos concretos da nossa relação, mas instáveis sem
a argamassa do tempo passado juntos, tempo sem a ameaça da separação iminente
sobre nossas cabeças. Embora eu não quisesse admitir, havia mais sobre ela que
eu não sabia. Eu não tinha me dado conta de como a minha licença no ano
anterior a havia afetado e apesar de horas ansiosas pensando nisso, eu não tinha
certeza de como isso iria afetá-la agora. Nossa relação, senti com um peso em
meu peito, estava começando a parecer o movimento rotatório de um pião de
criança. Quando estávamos juntos, tínhamos o poder de mantê-lo girando e o
resultado era beleza, magia e um senso de maravilha quase infantil; quando
separados, a rotação começava inevitavelmente a ficar mais lenta. Nos tornamos
cambaleantes e instáveis e eu sabia que tinha que encontrar um modo de impedir que caíssemos.
Tinha aprendido minha lição do ano anterior. Não só escrevi mais
cartas da Alemanha durante julho e agosto, mas também telefonei pra Savannah
mais freqüentemente. Ouvia cuidadosamente durante as ligações, tentando
reconhecer quaisquer sinais de depressão e ansiando por ouvir palavras de afeto
e desejo. No começo, eu ficava nervoso antes de fazer aquelas ligações; no fim
do verão, eu esperava por elas. Suas aulas iam bem. Ela passou algumas semanas
com os pais, depois começou o semestre de outono. Na primeira semana de
setembro, começamos a contagem regressiva dos dias que faltavam para minha
dispensa. Faltavam cem dias. Era mais fácil de falar de dias do que de semanas
ou meses; de alguma forma fazia a distância entre nós diminuir para algo mais
íntimo, algo que nós dois sabíamos que podíamos agüentar. A pior parte já tinha
passado, lembrávamos um ao outro, e descobri que enquanto eu cortava os dias no
calendário, as preocupações que eu tive sobre nosso relacionamento começaram a
diminuir. Eu estava certo de que não havia nada no mundo que pudesse nos
impedir de ficar juntos.
Então o 11
de setembro veio.
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