Capítulo Quatorze

 Nosso tempo restante na minha licença foi como eu tinha originalmente esperado. Tirando o fim de semana com meu pai - no qual ele cozinhou pra nós e falou sem descanso sobre moedas - ficávamos sozinhos o máximo possível. De volta a Chapel Hill, quando Savannah terminava suas aulas do dia, nossas tardes e noites eram passadas juntos. Caminhamos pelas lojas da rua Franklin, fomos ao Museu de História da Carolina do Norte em Raleigh e até passamos algumas horas no zoológico da Carolina do Norte. Na minha antepenúltima noite na cidade, fomos jantar no restaurante chique que o vendedor de sapatos havia me falado. Ela não me deixou espiar enquanto ela estava se arrumando, mas quando ela finalmente surgiu do banheiro, estava positivamente glamourosa. Fiquei encarando-a, pensando no quanto eu era sortudo de estar com ela.
Não fizemos amor de novo. Depois da nossa noite juntos, acordei na manhã seguinte para encontrar Savannah me estudando, as lágrimas rolando por suas bochechas. Antes que eu pudesse perguntar o que havia de errado, ela colocou um dedo nos meus lábios e balançou a cabeça, me pedindo pra não falar. — Noite passada foi maravilhoso, — ela disse, — mas não quero falar sobre isso. Ao invés disso, ela se enroscou ao meu redor e eu a segurei por um longo momento, escutando o som da sua respiração. Eu sabia então que algo havia mudado entre nós, mas naquela época, eu não tive a coragem de descobrir o que.
Na manhã em que parti, Savannah me levou até o aeroporto. Sentamos no portão juntos, esperando pela chamada do vôo, seu polegar descrevendo pequenos círculos nas costas da minha mão. Quando chegou a hora de eu embarcar, ela caiu em meus braços e começou a chorar. Quando viu minha expressão, ela forçou uma risada, mas eu podia ouvir o pesar nela.
 — Sei que prometi, — ela disse, — mas não posso evitar.
 — Vai ficar tudo bem, — eu disse. — São apenas seis meses. Com tudo que está acontecendo na sua vida, você vai se espantar com o quão rápido vai passar.
 — É fácil falar, — ela disse, fungando. — Mas você está certo. Eu vou ser mais forte dessa vez. Vou ficar bem.
Examinei seu rosto procurando sinais de negação mas não achei nenhum. — Sério, — ela disse. — Eu vou ficar bem.
Assenti e por um longo momento nós simplesmente nos encaramos.
 — Você vai lembrar de olhar a lua cheia? — ela perguntou.
 — Todas as vezes, — prometi.
Compartilhamos um último beijo. A abracei com força e murmurei que a amava, depois me forcei a soltá-la. Joguei minha mochila sobre os ombros e subi a rampa. Espiando por cima do meu ombro me dei conta de que Savannah já havia ido embora, escondida em algum lugar na multidão.
No avião, me deitei na poltrona, rezando para que Savannah estivesse dizendo a verdade. Embora eu soubesse que ela me amava e se importava comigo, de repente entendi que mesmo amor e cuidado nem sempre eram suficientes. Eles eram os tijolos concretos da nossa relação, mas instáveis sem a argamassa do tempo passado juntos, tempo sem a ameaça da separação iminente sobre nossas cabeças. Embora eu não quisesse admitir, havia mais sobre ela que eu não sabia. Eu não tinha me dado conta de como a minha licença no ano anterior a havia afetado e apesar de horas ansiosas pensando nisso, eu não tinha certeza de como isso iria afetá-la agora. Nossa relação, senti com um peso em meu peito, estava começando a parecer o movimento rotatório de um pião de criança. Quando estávamos juntos, tínhamos o poder de mantê-lo girando e o resultado era beleza, magia e um senso de maravilha quase infantil; quando separados, a rotação começava inevitavelmente a ficar mais lenta. Nos tornamos cambaleantes e instáveis e eu sabia que tinha que encontrar um modo de impedir que caíssemos.
Tinha aprendido minha lição do ano anterior. Não só escrevi mais cartas da Alemanha durante julho e agosto, mas também telefonei pra Savannah mais freqüentemente. Ouvia cuidadosamente durante as ligações, tentando reconhecer quaisquer sinais de depressão e ansiando por ouvir palavras de afeto e desejo. No começo, eu ficava nervoso antes de fazer aquelas ligações; no fim do verão, eu esperava por elas. Suas aulas iam bem. Ela passou algumas semanas com os pais, depois começou o semestre de outono. Na primeira semana de setembro, começamos a contagem regressiva dos dias que faltavam para minha dispensa. Faltavam cem dias. Era mais fácil de falar de dias do que de semanas ou meses; de alguma forma fazia a distância entre nós diminuir para algo mais íntimo, algo que nós dois sabíamos que podíamos agüentar. A pior parte já tinha passado, lembrávamos um ao outro, e descobri que enquanto eu cortava os dias no calendário, as preocupações que eu tive sobre nosso relacionamento começaram a diminuir. Eu estava certo de que não havia nada no mundo que pudesse nos impedir de ficar juntos.
Então o 11 de setembro veio.

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