Capítulo Treze
Em junho de 2001, me deram licença e eu fui para casa
imediatamente, voando de Frankfurt à Nova York, e depois para Raleigh. Era uma
noite de sexta e Savannah havia prometido que me pegaria no aeroporto antes de
me levar para Lenoir para conhecer seus pais. Ela me lançou essa surpresinha um
dia antes do meu vôo. Veja, eu não tinha nada contra conhecer seus pais. Tinha
certeza que eles eram pessoas maravilhosas e tudo, mas se fosse por mim,
preferiria ter Savannah toda para mim pelo menos pelos primeiros dias. É meio
que difícil compensar o tempo perdido com pais por perto. Mesmo que nós não
fôssemos além - e conhecendo Savannah, eu tinha certeza que nós não iríamos,
mas ainda assim cruzava os dedos - como os pais dela me tratariam se eu ficasse
com a filha deles até altas horas, mesmo que tudo o que fizéssemos fosse nos
deitar embaixo das estrelas? Certamente ela era uma adulta, mas pais eram
engraçados quando se tratava de seus próprios filhos, e eu não tinha ilusões de
que eles seriam compreensivos sobre a coisa toda. Ela sempre seria a garotinha
deles, se você entende o que quero dizer.
Mas Savannah tinha uma razão quando me explicou. Eu tinha dois
finais de semana livres e se eu planejava ver meu pai no segundo fim de semana,
eu tinha que ver os dela no primeiro fim de semana. Além disso, ela estava tão
animada com isso que tudo o que eu pude dizer foi que estava ansioso para
conhecê-los. Ainda assim, me perguntei se eu seria capaz de até mesmo segurar
sua mão, e especulei se poderia convencê-la a fazer um pequeno desvio no
caminho até Lenoir.
Assim que o avião pousou, minha expectativa cresceu e pude sentir
meu coração estrondando. Mas eu não sabia como agir. Eu deveria correr para ela
assim que a visse ou andar casualmente, calmo e sob controle? Eu ainda não
tinha certeza, mas antes que eu pudesse insistir nisso, estava na esteira,
subindo o corredor. Lancei minha bolsa-sacola sobre os ombros enquanto saía na rampa que
dava acesso ao terminal. Eu não a vi a princípio - muitas pessoas circulando.
Quando examinei a área uma segunda vez, a vi à esquerda e me dei conta
instantaneamente que todas as minhas preocupações eram sem sentido, ela me viu
e veio correndo a toda. Mal tive tempo de soltar minha bolsa sacola antes que
ela pulasse nos meus braços, e o beijo que se seguiu foi como nosso próprio
reino mágico, completo com sua língua e geografia especiais, mitos fabulosos e
maravilhas pelos tempos. E quando ela se afastou e murmurou:
— Senti tanto a
sua falta, — eu senti como se tivesse sido colado novamente depois de passar um
ano cortado em dois.
Não sei quanto tempo ficamos em pé abraçados, mas quando
finalmente começamos a nos mover em direção a esteira de bagagens, deslizei
minha mão dentro da dela sabendo que a amava não apenas mais do que a última vez
que a tinha visto, mas mais do que eu algum dia poderia amar alguém.
No caminho falamos facilmente, mas fizemos um pequeno desvio.
Depois de parar no acostamento, nos agarramos como adolescentes. Foi ótimo -
vamos deixar assim-e algumas horas depois, chegamos à casa dela. Seus pais
estavam esperando na varanda de uma elegante casa Vitoriana. Me surpreendendo,
a mãe dela me abraçou assim que eu cheguei perto, depois me ofereceu uma
cerveja. Recusei, principalmente por que sabia que seria o único bebendo, mas
gostei do esforço. A mãe de Savannah, Jill, era muito parecida com Savannah:
amigável, aberta e muito mais esperta do que parecia. O pai dela era exatamente
o mesmo e me diverti os visitando. Não doeu que Savannah tenha segurado minha
mão todo o tempo e parecia completamente à vontade. No fim da noite, fomos
caminhar à luz da lua. Quando voltamos à casa, parecia quase como se nunca
tivéssemos nos separado.
Não preciso nem dizer que dormi no quarto de hóspedes. Não
esperava que fosse de outra forma, e o quarto era muito melhor que a maioria
dos lugares que eu havia ficado, com mobília clássica e um colchão confortável.
O ar estava abafado porém, e eu abri a janela, esperando que o ar da montanha
trouxesse um frescor. Tinha sido um longo dia-eu ainda estava com o horário da
Alemanha - e peguei no sono imediatamente, só pra acordar uma hora depois
quando ouvi minha porta abrir rangendo. Savannah, vestindo confortáveis pijamas de algodão e meias, fechou a
porta atrás de si e andou em direção a cama, na ponta dos pés.
Ela colocou um dedo na frente dos lábios pra me manter calado.
— Meus
pais me matariam se soubessem que eu estou fazendo isso, — ela murmurou. Se
arrastou para a cama ao meu lado e ajeitou as cobertas, as puxando até o
pescoço como se estivesse acampando no ártico. Coloquei meus braços ao redor
dela, amando a sensação do seu corpo contra o meu.
Nos beijamos e rimos por quase toda a noite, então ela se
esgueirou de volta ao seu quarto. Adormeci novamente, provavelmente antes que
ela alcançasse seu quarto e acordei com a visão da luz do sol jorrando da
janela. O cheiro do café da manhã entrando no quarto e eu vesti rapidamente uma
camisa e uma calça jeans e desci até a cozinha. Savannah estava na mesa,
falando com sua mãe enquanto seu pai lia o jornal e eu senti o peso da presença
deles quando entrei.
Me sentei na mesa, e a mãe de Savannah me serviu uma xícara de
café antes de colocar um prato de ovos com bacon na minha frente. Savannah, que
estava sentada à minha frente já tomada banho e vestida, estava muito feliz e
impossivelmente bonita na luz macia da manhã.
— Dormiu bem? ela
perguntou, seus olhando brilhando travessos. Eu assenti.
— Na verdade, eu tive o
sonho mais maravilhoso, — eu disse.
— Oh? a mãe dela perguntou.
— Sobre o que foi?
Senti Savannah me chutar embaixo da mesa. Ela sacudiu a cabeça
quase imperceptivelmente. Tenho que admitir que adorei a visão de Savannah se
envergonhando, mas era o bastante. Fingi me concentrar. — Não consigo me
lembrar agora, — eu disse.
— Odeio quando isso
acontece, — sua mão disse. — O café está bom?
— Está ótimo, — eu disse. — Obrigada. Olhei
para Savannah. — Qual é a agenda de hoje?
Ela se inclinou por cima da mesa. — Pensei que nós podíamos ir
cavalgar. Acha que você gostaria?
Quando eu hesitei, ela riu.
— Você vai ficar bem, — ela
acrescentou. — Prometo.
— É fácil pra você falar.
Ela montou Midas; pra mim ela sugeriu um cavalo chamado Pepper,
que seu pai montava geralmente. Passamos a maior parte do dia subindo por
trilhas, galopando por campos abertos e explorando essa parte do mundo dela.
Ela preparou um almoço de piquenique e comemos em um lugar que tinha vista de
toda Lenoir. Ela apontou escolas que frequentou e casas de pessoas que ela
conhecia. Me ocorreu que ela não apenas amava o lugar como nunca iria querer
viver em outro lugar.
Passamos seis ou sete horas nas selas e fiz o meu melhor para
acompanhar Savannah, embora isso fosse perto de impossível. Não acabei com
minha cara na terra, mas houve alguns momentos perigosos aqui e ali quando
Pepper se comportou mal e levei tudo o que eu tinha pra me segurar. Não foi até
Savannah e eu nos aprontarmos para o jantar que eu me dei conta no que tinha me
metido, contudo. Pouco a pouco, comecei a me dar conta que a minha caminhada
lembrava o andar de um animal de quatro patas. Os músculos anteriores das
minhas pernas estavam como se Tony tivesse batido neles por horas.
No sábado á noite, Savannah eu fomos jantar num aconchegante
restaurante italiano. Depois disso, ela sugeriu que fôssemos dançar, mas aí eu
mal podia me mover. Enquanto eu mancava em direção ao carro, ela adotou uma
expressão preocupada e esticou o braço para me parar.
Se inclinando ela agarrou minha perna.
— Dói quando eu aperto aqui?
Eu pulei e gritei. Por alguma razão,
ela achou divertido.
— Por que você fez isso?
Doeu!
Ela sorriu.
— Estava só checando?
— Checando o que? Eu já lhe
disse-estou inflamado.
— Eu só queria ver se a
pequena eu podia fazer um cara do exército grande e duro como você gritar.
Esfreguei minha perna.
— É, bem, não vamos mais testar isso, certo?
— Certo, — ela disse. — Eu
sinto muito.
— Você não parece sentir.
— Bem, eu sinto, — ela
disse. — Mas é meio que engraçado, não acha? Quer dizer, eu montei o mesmo
tempo que você e eu, estou bem.
— Você monta o tempo todo.
— Eu não montava a mais de
um mês.
— É, bem.
— Vamos lá. Admita. Foi
engraçado, não foi?
— Nem um pouco.
No domingo, fomos à igreja com a
família dela. Eu estava muito inflamado pra fazer mais alguma coisa pelo resto do
dia, então eu fiquei no sofá e assisti a uma partida de baseball com o pai
dela. A mãe de Savannah trouxe sanduíches e eu passei a tarde estremecendo toda
vez que tentava ficar confortável enquanto o jogo tinha entradas extras. O pai
dela era fácil de conversar e a conversa flutuou da vida no exército para
ensinar algumas das crianças que ele treinava e suas esperanças para o futuro
delas. Gostei dele. Do meu lugar, eu podia ouvir Savannah e sua mãe conversando
na cozinha, e de vez em quando Savannah vinha até a sala com uma cesta de
roupas para dobrar enquanto sua mãe colocava outra carga na máquina de lavar.
Embora tecnicamente fosse uma universitária formada e adulta, ela ainda trazia
suas roupas sujas para a mãe lavar.
Naquela noite, dirigimos de volta à Chapel Hill e Savannah me
mostrou seu apartamento. Era escasso no departamento de móveis, mas era
relativamente novo e tinha uma lareira a gás e uma varanda que tinha vista para
o campus. Apesar do clima ameno, ela acendeu a lareira e lanchamos queijo e
bolachas, o que, tirando cereal, era tudo que ela tinha para oferecer. Pareceu
indescritivelmente romântico para mim. Conversamos até quase meia-noite, mas
Savannah estava mais quieta do que o normal. Algum tempo depois, ela caminhou
até o quarto. Quando ela não voltou, fui encontrá-la. Estava sentada na cama, e
eu parei na porta.
Ela apertou as duas mãos e deu um longo suspiro.
— Então..., — ela
começou.
— Então..., — eu respondi
quando ela permaneceu em silêncio.
Ela deu outro longo suspiro.
— Está ficando tarde. E eu tenho aula
cedo amanhã.
Assenti.
— Você deveria ir dormir.
— É — ela disse. Assentiu
como se não tivesse considerado isso e se virou para a janela. Pelas persianas
eu podia ver raios de luz jorrando do estacionamento. Ela ficava fofa quando
estava nervosa.
— Então..., — ela disse novamente, como se
falasse com a parede.
Levantei minhas mãos. — Por que eu não durmo no sofá?
— Você não se importa?
— Nem um pouco, — eu disse.
Na verdade, não era o que eu preferia, mas eu entendi.
Ainda olhando pela janela, ela não se moveu para levantar.
— Eu só não estou pronta, —
ela disse, sua voz suave. — Quer dizer, eu pensei que estava e uma parte de mim
realmente quer isso. Tenho pensado sobre isso pelas últimas semanas e me
decidi, e parecia certo, sabe? Eu te amo e você me ama, e é isso que as pessoas
fazem quando estão apaixonadas. Era fácil dizer isso a mim mesma quando você
não estava aqui, mas agora... ela parou de falar.
— Tudo bem, — eu disse.
Finalmente ela se virou pra mim. — Você estava com medo? Na sua
primeira vez?
Me perguntei qual a melhor maneira de responder isso.
— Acho que é
diferente para homens e mulheres, — eu disse.
— É. Acho que sim. Ela
fingiu ajeitar os cobertores. — Você está com raiva?
— Nem um pouco.
— Mas está decepcionado.
— Bem... — eu admiti e ela
riu.
— Desculpe, — ela disse.
— Não há razão para se
desculpar.
Ela pensou nisso.
— Então por que eu sinto como se tivesse que me
desculpar?
— Bem, eu sou um soldado
solitário, — afirmei e ela riu novamente. Eu ainda podia ouvir o nervosismo
nela.
— O sofá não é muito
confortável, — ela se preocupou. — E é pequeno. Você não vai poder se esticar.
E eu não tenho cobertores extras. Eu devia ter trazido alguns de casa, mas
esqueci.
— Isso é um problema.
— É, — ela disse. Eu
esperei.
— Acho que você poderia
dormir comigo, — ela arriscou.
Esperei um momento que ela continuasse seu próprio debate interno.
Finalmente ela deu de ombros.
— Quer tentar? Só dormir, eu quero dizer?
— O que você quiser.
Pela primeira vez, seus ombros relaxaram.
— Certo, então.
Decidimos. Só me dê um minuto para me trocar.
Ela se levantou da cama, cruzou o quarto e abriu uma gaveta. O
pijama que ela escolheu era parecido com o que ela tinha escolhido na casa dos
pais e eu a deixei para voltar à sala, onde eu vesti um dos meus shorts de
malhar e uma camisa. Quando retornei, ela já estava embaixo dos cobertores. Fui
para o outro lado e me arrastei para o seu lado. Ela ajeitou os cobertores
antes de desligar a luz, depois deitou de volta, encarando o teto.
Deitei de lado, a olhando.
— Boa noite, — ela murmurou.
— Boa noite.
Eu sabia que não dormiria. Não por um tempo de qualquer forma. Eu
estava muito... incitado pra isso. Mas eu não queria ficar me remexendo, caso ela
pudesse.
— Ei, — ela finalmente
sussurrou de novo.
— Sim?
Ela se virou para me encarar.
— Eu só quero que você saiba que
essa é a primeira vez que eu dormi com um homem. A noite toda, eu quero dizer.
É um passo adiante, certo?
— É, — eu disse. — É um
passo adiante.
Ela acariciou meu braço.
— E agora se alguém perguntar, você vai
poder dizer que nós dormimos juntos.
— Verdade, — eu disse.
— Mas você não vai dizer a
ninguém, vai? Quer dizer, eu não quero ficar com uma reputação, você sabe.
Eu sufoquei uma risada.
— Vai ser nosso segredinho.
Os próximos dias caíram para um padrão relaxado e fácil. Savannah
tinha aulas pela manhã e geralmente acabava um pouco
antes do almoço. Teoricamente, acho que me deu a oportunidade de dormir até
tarde - algo que todo soldado sonha quando falam em sair de licença - mas anos
de acordar antes do amanhecer era um hábito impossível de quebrar. Ao invés
disso, eu acordava antes dela e fazia um bule de café antes de ir até à esquina
pegar o jornal. Ocasionalmente, comprava alguns bagels ou croissants; outras
vezes, nós simplesmente comíamos cereal em casa, e era fácil visualizar a nossa
pequena rotina como uma prévia dos primeiros anos da nossa futura vida juntos,
Um êxtase sem esforço que era quase bom demais pra ser verdade.
Ou, pelo menos, eu tentei me convencer disso. Quando ficamos com
seus pais, Savannah era exatamente a garota de quem eu lembrava. A mesma coisa
na nossa primeira noite sozinhos. Mas depois disso... comecei a notar
diferenças. Acho que eu não tinha me dado conta de que ela estava vivendo uma
vida que parecia completa e realizada, mesmo sem mim. O calendário que ela
mantinha na porta da geladeira listava algo para fazer todo dia: shows,
palestras, meia dúzia de festas de vários amigos. Tim, eu notei, estava marcado
para o almoço ocasional também. Ela estava pagando quatro cadeiras e ensinava
outra como monitora e nas tardes de quinta, ela trabalhava com um professor no
estudo de um caso que ela tinha certeza que seria publicado. Sua vida era exatamente
do modo como ela descreveu nas cartas e quando retornava ao apartamento, ela me
contava sobre o seu dia enquanto fazia algo para comer na cozinha. Ela amava o
trabalho que estava fazendo e o orgulho no seu tom era evidente. Falava
animadamente enquanto eu escutava e fazia perguntas suficientes para manter o
fluxo da conversa.
Nada anormal nisso, eu admiti. Eu sabia o bastante para me dar
conta de que seria um problema maior se ela não dissesse nada sobre o seu dia.
Mas a cada nova história me faz sentir naufragar,que me fazia pensar que não
importava que nós mantivéssemos contato, não importava que nos importássemos um
com o outro, ela e eu tomamos caminhos contrários. Desde a última vez que eu a
tinha visto, ela havia completado sua graduação, lançado o capelo para
o alto na formatura, encontrado trabalho como assistente graduada, se mudado e
mobiliado seu próprio apartamento. Sua vida havia entrado em uma nova fase, e
enquanto eu achava possível dizer a mesma coisa sobre mim, um fato simples era
que nada tinha mudado muito na minha vida, a menos que você
conte o fato que agora eu sei como montar e desmontar oito tipos de armas ao
invés de seis e aumentei meu levantamento de peso em mais 13 quilos. E, é
claro, eu havia feito minha parte dando aos russos algo para pensar se eles
estivessem debatendo se deveriam ou não invadir a Alemanha com dúzias de
divisões mecanizadas.
Não me entenda mal. Eu ainda estava louco por Savannah e havia
momentos em que eu ainda sentia a força dos seus sentimentos por mim. Muitos
momentos, de fato. Na maior parte, foi uma semana maravilhosa. Enquanto ela
estava fora, eu caminhava pelo campus ou corria pela pista perto da casa de
campo, aproveitando meu merecido tempo relaxado. Dentro de um dia eu achei uma
academia que me permitia malhar pelo tempo que eu estivesse lá e porque eu
estava de licença eles nem me cobraram nada. Eu geralmente tinha acabado de
malhar e tomar banho na hora que Savannah voltava e nós passávamos o resto da
tarde juntos. Na terça à noite nos juntamos a um grupo de colegas de classe
dela para jantar no centro de Chapel Hill. Foi mais divertido do que eu pensei
que seria, especialmente considerando que eu estava saindo com um grupo de
caras da aeronáutica de escola de veraneio e a maior parte da conversa foi
centrada em psicologia de adolescentes. Na quarta à tarde, Savannah me deu um
tour das suas aulas e me apresentou aos professores. Mais tarde naquela tarde,
nos encontramos com algumas pessoas as quais eu havia sido apresentado na noite
anterior. Naquela noite, compramos comida chinesa e comemos na mesa do
apartamento dela. Ela estava vestindo uma daquelas blusas de alças, que
acentuavam seu bronzeado e tudo o que eu podia pensar era que ela era a mulher
mais sexy que eu já havia visto.
Na quinta, eu queria passar algum tempo sozinho com ela e decidi
surpreendê-la com uma noite fora especial. Enquanto ela estava em aula e
trabalhando no estudo do caso, eu fui ao shopping e gastei uma pequena fortuna
em um terno e outra pequena fortuna em um par de sapatos. Eu queria vê-la
vestida formalmente e fiz reservas nesse restaurante que o vendedor de sapatos
tinha me dito que era o melhor da cidade. Cinco estrelas, menu exótico, garçons vestidos impecavelmente, a
coisa toda. Certamente eu não contei a Savannah sobre isso de antemão - deveria
ser uma surpresa afinal de contas - mas assim que ela passou pela porta, eu
descobri que ela já havia feito planos para passar outra noite com os mesmo
amigos que nós havíamos visto nos últimos dias. Ela parecia tão animada que eu
nunca me incomodei em contá-la o que eu havia planejado.
Ainda assim, eu não estava apenas decepcionado, estava com raiva.
Ao meu ver, eu estava mais do que feliz em passar uma noite com seus amigos,
até mesmo uma noite adicional. Mas quase todo dia? Depois de um ano separados,
onde nós tivemos tão pouco tempo juntos? Me incomodava que ela não parecia
compartilhar do mesmo desejo. Pelos últimos meses eu havia imaginado que nós
passaríamos o máximo de tempo juntos que pudéssemos, compensando o ano que
passamos separados. Mas eu estava chegando à conclusão de que estava errado. O
que significava... o que?
Que eu não era tão importante para ela como ela era pra mim? Eu
não sabia, mas dado o meu humor, eu provavelmente deveria ter ficado no
apartamento e a deixado ir sozinha. Em vez disso, sentei afastado, me recusei a
tomar parte na conversa e praticamente desviei o olhar de todos que olhavam na
minha direção. Tinha ficado bom em intimidação com o passar dos anos e eu estava
em uma forma rara naquela noite. Savannah sabia que eu estava com raiva, mas
toda vez que ela perguntava se alguma coisa estava me incomodando, eu estava no
meu melhor modo passivo-agressivo de negar que alguma coisa estava errada.
— Só estou cansado, — eu
disse.
Ela tentou melhorar as coisas, admito. Ela segurava minha mão aqui
e ali e me dava um rápido sorriso quando achava que eu o veria, e me encheu de
refrigerante e batatas fritas. Depois de um tempo, contudo, ela se cansou da
minha atitude e desistiu.
Não que eu a culpe. Eu tinha merecido e de alguma forma o fato de
que ela tinha começado a ficar com raiva de mim me deixou enrubescer com isso,
ao invés de sentir satisfação. Nós mal nos falamos no caminho para casa e
quando fomos para cama, dormimos em lados opostos do colchão. Pela
manhã eu já tinha deixado pra lá, pronto para seguir em frente. Infelizmente,
ela não.
Enquanto eu estava fora pegando o jornal, ela deixou o apartamento
sem tocar no café e eu acabei bebendo meu café sozinho.
Eu sabia que tinha ido longe demais e planejei compensá-la assim
que ela voltasse pra casa. Queria deixar claras as minhas preocupações,
contá-la sobre o jantar que eu havia preparado e me desculpar pelo meu
comportamento. Presumi que ela entenderia. Colocaríamos tudo para trás com um
romântico jantar fora. Era o que eu achava que precisávamos, visto que íamos
para Wilmington no dia seguinte para passar o fim de semana com o meu pai.
Acredite ou não, eu queria vê-lo e assumi que ele estava ansioso
para a minha visita também, do seu próprio modo. Diferente de Savannah, meu pai
se superava em se tratando de expectativas. Pode não ter sido justo, mas
Savannah tinha um papel diferente na minha vida naquela época. Balancei a
cabeça. Savannah. Sempre Savannah. Tudo nessa viagem, tudo na minha vida, me
dei conta, sempre tinha a ver com ela.
À uma hora, eu tinha acabado de malhar, tomado banho, arrumado a
maioria das minhas coisas e ligado para o restaurante para renovar minha
reserva. Eu sabia da agenda de Savannah àquela altura e presumi que ela estaria
chegando a qualquer minuto. Sem mais nada pra fazer, sentei no sofá e liguei a
televisão. Programas de jogos, séries, programas de vendas e entrevistas eram
entremeados com comerciais de advogados oportunistas. O tempo se arrastou
enquanto eu esperava. Eu continuava andando até o pátio para olhar a vaga dela
no estacionamento e chequei meu equipamento três ou quatro vezes. Savannah, eu
pensei, estava certamente no caminho de casa, e eu me ocupei limpando a
lava-louças. Alguns minutos depois, escovei meus dentes pela segunda vez, então
olhei pela janela mais uma vez. Ainda sem Savannah. Liguei o rádio, ouvi
algumas músicas e mudei de estação seis ou sete vezes antes de desligá-lo.
Caminhei até o pátio novamente. Nada. Nessa hora, já eram quase duas.
Me perguntei onde ela estaria, senti os resquícios da raiva
crescendo novamente, mas os forcei a se afastar. Disse a mim mesmo que ela
provavelmente teria uma explicação válida e repeti de novo quando esse
argumento não se segurou. Abri minha bolsa e tirei de lá o último livro de
Stephen King. Enchi um copo com água gelada, me acomodei no sofá, mas quando me
dei conta de que estava lendo a mesma frase de novo, e de novo, coloquei o
livro de lado.
Outros quinze minutos se passaram. Depois trinta. Na hora que eu
ouvi o carro de Savannah estacionando, minha mandíbula estava apertada e eu
estava rangendo os dentes. Às três e quinze, ela empurrou a porta. Estava toda
sorrisos, como se nada estivesse errado.
— Oi, John, — ela falou.
Foi até a mesa e começou a desfazer sua bolsa. — Desculpe o atraso, mas depois
da minha aula, uma estudante apareceu para me contar que ela tinha amado a
minha aula e que por causa de mim ela queria se especializar em educação
especial. Dá pra acreditar nisso? Ela queria dicas sobre o que fazer, que
cadeiras pagar, quais professores eram os melhores... e o modo como ela ouviu
minhas respostas... Savannah sacudiu a cabeça. — Foi tão... recompensador. O
modo como essa garota estava se segurando a tudo que eu dizia... bem, me faz
sentir como se eu realmente estivesse fazendo a diferença para alguém. Você
ouve professores falando sobre experiências como essa, mas eu nunca imaginei
que aconteceria comigo.
Forcei um sorriso e ela o tomou como um sinal para continuar.
— De qualquer forma, ela
perguntou se eu tinha algum tempo pra discutir isso e mesmo eu dizendo a ela
que só tinha alguns minutos, uma coisa levou à outra e nós acabamos indo
almoçar. Ela é mesmo especial, tem só dezessete anos mas se formou um ano mais
cedo no ensino médio. Ela passou em algumas provas especiais, então ela já está
no segundo ano da faculdade e vai pra escola de verão pra ir ainda mais longe.
É impossível não admirá-la.
Ela queria coro pra seu entusiasmo,
mas eu não pude reuni-lo.
— Ela parece ótima, — eu disse.
Com a minha resposta, Savannah parecia realmente olhar pra mim
pela primeira vez e eu não fiz nenhum esforço para esconder meus sentimentos.
— O que há de errado? — ela
perguntou.
— Nada, — eu menti.
Ela colocou a bolsa de lado com um suspiro desgostoso.
— Você não
quer falar sobre isso? Ótimo. Mas você deveria saber que isso está ficando um
pouco cansativo.
— O que isso quer dizer?
Ela virou em minha direção.
— Isso! O modo como você está agindo,
— ela disse. — Você não é tão difícil de interpretar, John. Você está com raiva
mas não quer me dizer o porquê.
Hesitei, ficando na defensiva. Quando finalmente falei, me forcei
a manter a voz firme.
— Certo, — eu disse, — Eu achei que você estaria em casa
horas atrás...
Ela ergueu os braços.
— É por causa disso? Eu já te expliquei.
Acredite ou não, eu tenho responsabilidades agora. E se eu não estou errada, eu
me desculpei pelo atraso assim que passei pela porta.
— Eu sei, mas...
— Mas o que? Minhas
desculpas não foram boas o bastante?
— Eu não disse isso.
— Então o que é?
Quando eu não pude achar as palavras, ela colocou as mãos nos
quadris.
— Você quer saber o que eu acho? Você ainda está zangado por causa de
ontem à noite. Mas me deixe adivinhar - você também não quer falar sobre isso,
certo?
Fechei meus olhos.
— Ontem à noite você...
— Eu? — ela me interrompeu e
começou a sacudir a cabeça. — Ah, não, não me culpe por isso! Eu não fiz nada
de errado. Não fui eu quem começou isso! Ontem à noite poderia ter sido divertido-teria
sido divertido - mas você tinha que ficar lá sentado como se quisesse atirar em
alguém.
Ela estava exagerando. Ou, novamente, talvez não. De qualquer
forma, permaneci calado.
Ela continuou.
— Sabia que eu tive que inventar desculpas pra você
hoje? E como isso me fez sentir? Ali estava eu, soltando elogios pra você
durante todo o ano, contando aos meus amigos que cara legal você era, o quão
maturo você era, o quanto eu estou orgulhosa do trabalho que você está fazendo.
E eles acabaram vendo um lado seu que nem mesmo eu tinha visto antes. Você
foi... grosseiro.
— Você já pensou que eu
podia estar agindo daquela maneira porque não queria estar lá?
Isso a fez parar, mas só por um instante. Ela cruzou os braços. — Talvez
o modo como você agiu ontem à noite foi a razão para eu me atrasar hoje.
Sua afirmação me pegou de guarda baixa. Eu não tinha considerado
isso, mas não era essa a questão.
— Sinto muito pela noite passada...
— Você deve sentir! — ela
gritou, me interrompendo novamente. — Eram meus amigos!
— Eu sei que eram seus
amigos! falei bruscamente, me levantando do sofá. — Estivemos com eles a semana
toda!
— O que isso quer dizer?
— O que eu disse. Talvez eu
quisesse ficar sozinho com você. Já pensou nisso?
— Você queria ficar sozinho
comigo? — ela exigiu. — Bem, deixa eu te dizer, você não está agindo como se
quisesse. Estávamos sozinhos essa manhã. Estávamos sozinhos quando eu entrei
ainda agora. Estávamos sozinhos quando eu tentei ser legal e deixei tudo isso
pra trás, mas tudo o que você quer fazer é brigar.
— Eu não quero brigar! eu
disse, dando o melhor de mim pra não gritar mas sabendo que tinha falhado. Me
virei, tentando manter minha raiva sob controle, mas quando falei novamente
podia ouvir o agouro implícito em minha voz. — Só quero que as coisas voltem a
ser o que eram. Como no verão passado.
— O que tem o verão passado?
Odiei isso. Não queria contar a ela que já não me sentia
importante. O que eu queria era como pedir a alguém para amar você e isso nunca
funcionava. Ao invés disso, tentei usar o assunto.
— No verão passado, parecia
que tínhamos mais tempo juntos.
— Não, não tínhamos, — ela
replicou. — Eu trabalhava nas casas o dia todo. Lembra?
Ela estava certa, é claro. Pelo menos
parcialmente. Tentei novamente.
— Não estou dizendo que faz sentido, mas parece
que tínhamos mais tempo para conversar ano passado.
— E isso está incomodando
você? Que eu estou ocupada? Que eu tenho uma vida? O que você quer que eu faça?
Abandonar as aulas a semana toda? Dizer que estou doente quando tenho que dar
aulas? Pular as tarefas de casa?
— Não...
— Então o que você quer?
— Eu não sei.
— Mas você quer me humilhar
na frente dos meus amigos?
— Eu não humilhei você, — protestei.
— Não? Então por que Tricia
me colocou de lado hoje? Por que ela sentiu a necessidade de me dizer que nós
não tínhamos nada em comum e que eu podia fazer muito melhor?
Essa doeu, mas não tenho certeza se ela se deu conta de como isso
soou.
A raiva às vezes torna isso impossível, como eu bem sabia.
— Eu só
queria ficar sozinho com você na noite passada. É tudo o que eu estou tentando
dizer.
Minhas palavras não tiveram efeito nela.
— Então por que você não me
disse isso? — ela exigiu. — Disse algo como 'Tudo bem se fizermos outra coisa?
Não estou a fim de sair com outras pessoas. Era tudo o que você tinha que dizer. Eu não leio mentes, John.
Abri minha boca para responder mas não disse nada. Ao invés disso,
me virei e andei até o outro lado da sala. Olhei para a porta do pátio, não
estava com raiva pelo que ela disse, só... triste. Me veio a mente que eu tinha
de alguma forma, perdido ela, e eu não sabia se era porque eu estava fazendo
uma tempestade em um copo d'água ou se porque eu entendia muito bem o que
estava realmente acontecendo entre nós.
Eu não queria mais falar sobre isso. Nunca fui bom em conversas e
me dei conta de que o que eu realmente queria era que ela atravessasse a sala e
colocasse seus braços ao meu redor, dissesse que ela entendia o que estava me
incomodando e que eu não tinha nada com o que me preocupar.
Mas nada disso aconteceu. Ao invés disso eu falei com a janela, me
sentindo estranhamente sozinho.
— Você está certa, — eu disse. — Deveria ter
lhe contado. E me desculpe por isso. E me desculpe pelo modo que eu agi na
noite passada e me desculpe por ficar chateado com o seu atraso. É só que eu
realmente queria te ver o máximo que pudesse nessa viagem.
— Você diz isso como se não
achasse que eu quero o mesmo.
Me virei.
— Pra ser honesto, — eu disse, — não tenho certeza se
você quer.
Com isso, caminhei até a porta.
Fiquei fora até a noite.
Não sabia pra onde ir nem porque tinha saído, mas eu precisava
ficar sozinho. Caminhei para o campus debaixo de um sol escaldante e me peguei
me mudando de uma sombra de árvore para outra. Não chequei para ver se ela
estava me seguindo; sabia que ela não estaria.
Depois de um tempo, parei e comprei
uma água gelada no centro dos estudantes, mas embora estivesse relativamente
vazio e o ar fosse refrescante, eu não fiquei. Senti a necessidade de suar,
como se para me purificar da raiva, tristeza e decepção que eu não podia, das
quais eu não conseguia me livrar.
Uma coisa era certa: Savannah tinha entrado pela porta pronta para
uma discussão. Suas respostas tinham vindo muito rápidas e me dei conta de que
elas pareciam menos espontâneas do que ensaiadas, como se sua própria raiva
estivesse cozinhando pela maior parte do dia. Ela sabia exatamente como eu
agiria e embora eu merecesse sua raiva baseado na forma como eu agi na noite
anterior, o fato de que ela não parecia se importar com a sua própria culpa ou
meus sentimentos me atormentaram pela maior parte da tarde.
As sombras ficaram maiores quando o sol começou a abaixar, mas eu
ainda não estava pronto para voltar. Ao invés disso, comprei alguns pedaços de
pizza e uma cerveja de uma daquelas barracas que dependiam dos estudantes para
sobreviver. Acabei de comer, caminhei mais um pouco e finalmente comecei o
caminho de volta pra o apartamento dela. A essa altura eram quase nove e a montanha-russa
emocional na qual eu estivera me deixou acabado. Me aproximando da rua, notei
que o carro de Savannah estava no mesmo lugar. Podia ver uma lâmpada ardendo
dentro do quarto. O resto do apartamento estava escuro.
Me perguntei se a porta estaria trancada, mas o trinco virou
livremente quando eu tentei. A porta do quarto estava entreaberta, a luz
escorria no corredor e eu debati se deveria me aproximar ou ficar na sala. Eu
não queria encarar sua raiva, mas dei um longo suspiro e caminhei até o curto
corredor. Enfiei minha cabeça pela porta. Ela estava sentada na cama vestindo
uma camisa muitos números maior que ela. Ela desviou o olhar da revista que
segurava e eu ofereci um sorriso cauteloso.
— Oi, — eu disse.
— Oi.
— Desculpe, — eu disse. — Por tudo. Você
estava certa. Fui um idiota noite passada e não deveria ter envergonhado você
na frente de seus amigos. E não deveria ter ficado tão zangado por que você
estava atrasada. Não acontecerá novamente.
Ela me surpreendeu dando tapinhas no colchão.
— Vem aqui, — ela
sussurrou.
Subi pela cama, me encostei no espelho da cama e deslizei meu
braço em volta dela. Ela se inclinou contra mim e eu podia sentir o firme subir
e descer de seu peito.
— Eu não quero mais brigar,
— ela disse.
— Eu também não.
Quando afaguei seu braço, ela suspirou. — Onde você foi?
— Lugar nenhum, na verdade,
— eu disse. — Só andei pelo campus. Comi pizza. Pensei muito.
— Sobre mim?
— Sobre você. Sobre mim.
Sobre nós.
Ela assentiu.
— Eu também, — ela disse. — Você ainda está com
raiva?
— Não, — eu disse. — Eu
estava, mas estou muito cansado pra ainda estar com raiva.
— Eu também, — ela repetiu.
Levantou a cabeça para me encarar. — Quero lhe contar uma coisa sobre o que eu
estava pensando quando você não estava aqui, — ela disse. — Posso fazer isso?
— Claro, — eu disse.
— Me dei conta de que sou
eu quem deveria estar se desculpando. Sobre passar muito tempo com os amigos,
quer dizer. Acho que foi por isso que fiquei com tanta raiva mais cedo. Eu
sabia o que você estava tentando dizer, mas não queria ouvir porque sabia que
você estava certo. Em parte, de qualquer forma. Mas sua argumentação estava
errada.
Olhei para ela incerto. Ela continuou.
— Você acha que eu fiz você
passar tanto tempo com meus amigos porque você não era tão importante pra mim
quanto costumava ser, certo? Ela não esperou por uma resposta. — Mas não é essa
a razão. É exatamente o oposto. Eu estava fazendo isso porque você é muito
importante pra mim. Não tanto porque eu queria que você conhecesse meus amigos,
ou pra que eles pudessem lhe conhecer, mas por causa de mim.
Ela parou insegura.
— Não sei o que você está
tentando dizer.
— Você lembra quando eu
disse que tirava forças dos momentos em que estou com você?
Quando assenti, ela passou os dedos pelo meu peito.
— Eu não
estava brincando a respeito disso. O verão passado significou tanto pra mim.
Mais do que você pode imaginar, e quando você foi embora, eu fiquei em ruínas.
Pergunte ao Tim. Eu mal trabalhava nas casas. Sei que te mandei cartas que
fizeram você pensar que tudo estava bem, mas não estava. Eu chorava toda noite,
e todo dia eu sentava na casa e ficava imaginando, esperando e desejando que
você viesse correndo da praia. Toda vez que eu via alguém com cabelo à
escovinha, sentia meu coração começar a bater mais rápido, mesmo que eu
soubesse que não era você. Mas era isso. Eu queria que fosse você. Toda vez. Eu
sei que o que você faz é importante e eu entendo que a sua base está a um mar
de distância, mas não acho que entendia o quanto iria ser duro quando você não estivesse por
perto. Parecia que estava quase me matando e levou um longo tempo pra até mesmo
começar a me sentir normal novamente. E nessa viagem, tanto quanto eu queria te
ver, tanto quanto eu te amo, há essa parte de mim que está aterrorizada que eu
vá ficar em pedaços novamente quando nosso tempo acabar. Estou sendo puxada em
duas direções e a minha resposta foi fazer tudo que eu pudesse para que não
tivesse que passar por tudo o que passei no último ano. Então tentei nos manter
ocupados, sabe? Para impedir meu coração de ser partido novamente.
Senti minha garganta apertada, mas não disse nada. Depois de um
tempo; ela continuou.
— Hoje eu me dei conta de que estava te machucando
durante esse processo. Que não era justo com você, mas ao mesmo tempo, estou
tentando ser justa comigo também. Em uma semana você irá embora novamente e sou
eu que vou ter que descobrir como funcionar depois de tudo. Algumas pessoas
podem fazer isso. Você pode fazer isso. Mas pra mim...
Ela encarou suas mãos, e por um longo tempo tudo estava quieto.
— Não
sei o que dizer, — eu finalmente admiti.
Sem querer, ela riu.
— Eu não quero uma resposta, — ela disse, — porque
eu não acho que exista uma. Mas eu sei que não quero te machucar. É tudo o que
eu sei. Só espero que eu consiga achar um modo de ficar mais forte esse verão.
— Podemos sempre malhar
juntos, — eu brinquei sem entusiasmo e fui gratificado ao ouvir o som da sua
risada.
— É, isso vai funcionar.
Dez abdominais e eu estarei boa como nova, certo? Queria que fosse tão fácil.
Mas eu vou conseguir. Pode não ser fácil, mas pelo menos não vai ser um ano
todo dessa vez. Foi isso que eu continuei me lembrando hoje. Que você vai estar
de volta para o Natal. Mais alguns meses e tudo isso estará acabado.
Abracei ela, sentindo o calor do corpo dela contra o meu. Podia
sentir seus dedos por cima do fino tecido da minha camisa e senti ela a puxar
gentilmente, expondo a pele do meu abdome. A sensação foi elétrica.
Saboreei seu toque e me inclinei para beijá-la.
Havia um tipo diferente de paixão em seu beijo, algo vibrante e
vivo. Senti sua língua contra a minha, consciente da forma que o corpo dela
estava respondendo e respirei fundo enquanto seus dedos deslizavam em direção
ao fecho do meu jeans. Quando escorreguei minhas mãos mais devagar, me dei
conta de que ela estava nua por debaixo da camisa. Ela abriu o fecho e embora
eu não quisesse nada mais que continuar, me forcei a retroceder, a me parar
antes que isso fosse longe demais, para prevenir alguma coisa que eu ainda não
estava certo que ela estava pronta.
Senti minha própria hesitação, mas antes que eu pudesse insistir
nela, ela abruptamente se sentou e tirou sua camisa. Minha respiração ficou
mais forte enquanto eu a encarava, e tudo de uma vez, ela se inclinou pra
frente e levantou minha camisa. Beijou meu umbigo e minhas costelas, depois meu
peito e eu pude sentir suas mãos começando a abaixar meus jeans.
Me levantei da cama e tirei minha camisa, depois deixei os jeans
caírem no chão. Beijei seu pescoço e ombros e senti o calor do seu hálito na
minha orelha. A sensação de sua pele sobre a minha foi como fogo, e começamos a
fazer amor.
Foi tudo que eu sonhei que seria, e quando acabamos, coloquei meus
braços ao redor de Savannah, tentando gravar a memória de cada sensação. No
escuro, murmurei o quanto a amava.
Fizemos
amor uma segunda vez e quando Savannah finalmente adormeceu, me peguei
encarando-a. Tudo nela era requintadamente pacifico, mas por alguma razão, não
pude evitar uma persistente sensação de temor. Tão carinhoso e excitante como
tinha sido, eu não podia evitar me perguntar se havia tido um traço de
desespero em nossas ações, como se estivéssemos nos agarrando a esperança de
que isso sustentaria nossa relação por qualquer coisa que o futuro trouxesse.
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