Capítulo 2
― Bem aqui embaixo! ― disse
a voz ecoante quando os órfãos Baudelaire começaram a descer pela escada. ― Positivo!
Cuidado com a escada! Fechem a escotilha ao passar! Não se apressem! Não...
desçam devagar! Tratem de não cair! Olhem onde pisam! Positivo! Não vão
tropeçar! Não façam barulho! Não me assustem! Positivo! Não olhem para baixo!
Não... olhem aonde estão indo! Não tragam nenhum líquido inflamável a bordo!
Cuidado com os pés! Positivo! Não... cuidado com as costas! Não... cuidado com
a boca! Não... cuidado com vocês mesmos! Positivo!
― Positivo? ― sussurrou
Sunny para os irmãos.
― ‘’Positivo’’ ― Klaus
explicou baixinho, ― é um outro jeito de dizer ‘’sim’’.
― Positivo! ― disse de novo
a voz. ― Fiquem de olhos abertos! Cuidado embaixo! Cuidado em cima! Cuidado com
os espiões! Cuidado um com o outro! Cuidado! Positivo! Tenham muito cuidado!
Fiquem muito atentos! Fiquem muito, muito atentos! Descansem um pouco! Não...
prossigam! Fiquem acordados! Fiquem calmos! Alegrem-se! Continuem descendo! Não
tirem a camisa! Positivo!
Por desesperada que fosse a situação, os Baudelaire quase não
conseguiram conter as risadinhas. A voz bradava tantas instruções, e tão poucas
faziam sentido, que teria sido impossível para as crianças segui-las. A voz era
bastante alegre e um pouco dispersiva, como se a pessoa que falasse não se
importasse realmente se suas instruções estavam sendo seguidas ou não, e
provavelmente já as tinha até esquecido.
― Segurem o corrimão! ― a
voz continuou quando os Baudelaire divisaram uma luz no fim da passagem. ― Positivo!
Não... segurem uns aos outros! Segurem seus chapéus! Não... segurem suas mãos!
Não... segurem as pontas! Esperem um minuto! Esperem um segundo! Parem de
esperar! Parem com as guerras! Parem com as injustiças! Parem de me aborrecer!
Positivo!
Sunny tinha sido a primeira a entrar na passagem, portanto foi a
primeira a chegar ao fundo e abaixar-se cautelosamente para dentro de uma
pequena sala mal iluminada e com um teto muito baixo. Em pé no centro da sala
havia um sujeito enorme vestido com um uniforme lustroso, feito de algum tipo
de material com aparência escorregadia, e botas de aspecto também escorregadio nos
pés. No centro do uniforme havia o retrato de um homem com barba, embora ele
mesmo não usasse barba, apenas um bigode muito comprido e de pontas viradas,
que pareciam dois parênteses.
― Um de vocês é bebê! ―
bradou ele enquanto Klaus e Violet desciam ao lado da irmã. ― Positivo! Não...
vocês dois são bebês! Não... são três! Não... nenhum de vocês é bebê! Bem, um
de vocês meio que é bebê! Bem-vindos! Positivo! Olá! Boa tarde! Salve! Apertem
minha mão! Positivo!
Os Baudelaire apertaram apressadamente a mão do homem, que estava
coberta por uma luva feita do mesmo material escorregadio.
― Meu nome é Violet B... ― começou
a dizer Violet.
― Baudelaire! ― interrompeu
o homem. ― Eu sei! Não sou burro! Positivo! E vocês são Klaus e Sunny ! Vocês
são os Baudelaire! As três crianças Baudelaire! Positivo! Aquelas que O
Pundonor Diário culpa por todos os crimes que eles são capazes de imaginar,
porém na verdade são inocentes, mas assim mesmo estão metidos em encrenca
grossa! É claro! Prazer em conhecê-los! Em pessoa! Por assim dizer! Vamos! Sigam-me!
Positivo!
O homem voltou-se num rodopio e saiu da sala batendo os pés, sem
deixar aos perplexos Baudelaire nenhuma opção senão segui-lo por um corredor. O
corredor era coberto por tubulações metálicas ao longo das paredes, do piso e
do teto, o que fazia os Baudelaire precisarem se abaixar de vez em quando, ou erguer
os pés bem alto, para conseguir passar. Ocasionalmente, gotas d'água pingavam
de uma das tubulações e caíam na cabeça deles, mas já estavam tão encharcados
da água do Arroio Enamorado que mal notaram. Além disso, estavam ocupados
demais tentando acompanhar o que o homem dizia para pensar em qualquer outra coisa.
― Vejamos! Vou arranjar
trabalho para vocês imediatamente! Positivo! Não... primeiro vou levá-los em
excursão pelo submarino! Não... vou lhes dar almoço! Não... vou apresentá-los à
tripulação! Não... vou deixá-los descansar! Não... é melhor arranjar uns uniformes
para vocês! Positivo! É importante que todos a bordo usem uniformes à prova
d'água, para o caso de o submarino implodir e irmos parar embaixo d'água! É
claro que, nesse caso, vamos precisar de capacetes de mergulho! Com exceção de
Sunny , porque ela não pode usar um! Acho que ela vai se afogar! Não... ela
pode se enroscar dentro de um capacete de mergulho! Positivo! Os capacetes têm
uma portinhola na nuca exatamente para esses casos! Positivo! Já vi fazerem
isso! Eu vi muitas coisas no meu tempo!
― Desculpe ― disse Violet,
― mas poderia nos dizer quem é você? ― O homem voltouse bruscamente para
encarar as crianças e ergueu as mãos acima da cabeça. ― O quê? ― rugiu ele. ― Vocês
não sabem quem sou eu? Nunca fui tão insultado na minha vida! Não... eu já fui.
Muitas vezes, de fato. Positivo! Lembro-me de quando o conde Olaf se virou para
mim e disse, naquela voz horrorosa dele... Não, não importa. Eu vou lhes
contar. Sou o capitão Andarré. Escreve-se A-ND- A-R-R-É. De trás para diante é
É-R-R-A-D... bem, não importa. Ninguém escreve o nome de trás para diante!
Exceto pessoas que não respeitam o alfabeto! E elas não estão aqui! Estão?
― Não ― disse Klaus. ― Temos
um bocado de respeito pelo alfabeto.
― Eu que o diga! ― bradou o
capitão. ― Klaus Baudelaire desrespeitando o alfabeto? Ora, é impensável!
Positivo! É ilegal! É impossível! Não é verdade! Como você se atreve a dizer isso!
Não... você não disse isso! Peço desculpas! Mil perdões! Positivo!
― Esse é o seu submarino,
capitão Andarré? ― perguntou Violet.
― O quê? ― rugiu o capitão.
― Você não sabe de quem é esse submarino? Uma inventora de renome como você, e
não tem a mais pálida noção de história básica dos submarinos? É claro que esse
é o meu submarino! Há anos que é o meu submarino! Positivo! Você nunca ouviu
falar do capitão Andarré e o Queequeg! Você nunca ouviu falar do Submarino Q e
Sua Tripulação de Dois? É um pequeno apelido que eu mesmo inventei! Com alguma
ajuda! Positivo! Eu imaginava que Josephine tivesse contado a vocês sobre o
Queequeg! Afinal, patrulhei o Lago Lacrimoso durante anos a fio! Pobre
Josephine! Não se passa um dia sem que eu pense nela! Positivo! A não ser em
alguns dias em que isso me foge à lembrança!
― Noitutti? ― perguntou
Sunny.
― Me disseram que eu
levaria algum tempo para entender tudo o que você diz ― disse o capitão,
baixando os olhos para Sunny. ― Não tenho muita certeza de encontrar tempo para
aprender mais uma língua estrangeira! Positivo! Talvez eu possa me matricular
em algum curso noturno!
― O que minha irmã quer
dizer ― disse depressa Violet, ― é que ela está curiosa para saber como você
sabe tanta coisa sobre nós.
― Como alguém sabe alguma
coisa sobre alguma coisa? ― retrucou o capitão. ― Eu li, é claro! Li cada
boletim do Correio Sub-reptício Cooperativo que recebi! Muito embora não tenha
recebido nenhum ultimamente! Positivo! É por isso que fico feliz por vocês terem
aparecido aqui! Positivo! Pensei que ia desmaiar quando espiei pelo periscópio
e vi suas carinhas molhadas olhando de volta para mim! Positivo! Eu tinha
certeza de que eram vocês, mas não vacilei em pedir a senha! Positivo! Eu
jamais vacilo! Positivo! É a minha filosofia de vida! ― O capitão parou no meio
do corredor e apontou para um retângulo de latão que estava afixado em uma
parede. Era uma placa comemorativa, uma expressão que aqui significa ‘’retângulo
de metal com palavras gravadas, usado geralmente para indicar que algo de
importante aconteceu no lugar em que o retângulo está afixado’’. Essa placa
tinha um grande olho C.S.C. gravado no alto, vigiando as palavras ‘’FILOSOFIA
DE VIDA DO CAPITÃO’’ gravadas em letras enormes, mas os Baudelaire precisaram
se inclina até bem perto para enxergar o que estava gravado embaixo.
― ‘’Aquele que vacila está
perdido!’’ ― bradou o capitão, apontando cada palavra com um dedo grosso e
enluvado.
― ‘’Ou aquela’’ ―
acrescentou Violet, apontando para um par de palavras que alguém adicionara em
letras rabiscadas.
― Minha enteada acrescentou
isso ― disse o capitão Andarré. ― E ela está certa! ‘’Ou aquela’’!
Um dia eu andava por esse corredor quando me dei conta de que
qualquer um pode estar perdido se vacilar! Você poderia estar sendo perseguido
por um polvo gigante, e se resolvesse parar um instante para amarrar os
sapatos, o que aconteceria? Estaria tudo perdido, isso é o que aconteceria!
Positivo! É por isso que essa é a minha
filosofia de vida! Eu jamais vacilo! Jamais! Positivo! Bem, às vezes eu vacilo!
Mas tento não vacilar! Porque aquele ou aquela que vacila está perdido! Vamos
embora!
Sem vacilar nem mais um momento junto à placa comemorativa, o
capitão Andarré girou nos calcanhares e levou as crianças mais adiante no
corredor, que ressoava com o estranho ruído de suas botas à prova d'água a cada
passo que dava. As crianças, um pouco atordoadas com a loquacidade do capitão, pensavam
em sua filosofia de vida, e se esta deveria ou não ser também a filosofia
delas. Ter uma filosofia de vida é como ter um sagüi de estimação, porque ele
pode ser muito encantador quando você o adquire, mas podem surgir situações em
que ele não será nem um pouco oportuno. À primeira vista, ― aquele ou aquela
que vacila está perdido ― parecia ser uma filosofia razoável, mas os Baudelaire
podiam imaginar situações em que vacilar poderia ser a melhor coisa a fazer.
Violet ficou feliz por ter vacilado quando ela e seus irmãos moravam com a tia
Josephine, pois de outra forma ela poderia nunca ter se dado conta da importância
das balas de hortelã que encontrara em seu bolso. Klaus ficou feliz por ter
vacilado no Hospital Heimlich, pois de outra forma poderia nunca ter pensado em
um modo de disfarçar Sunny e a si mesmo como profissionais médicos para que
pudessem salvar Violet de uma cirurgia desnecessária. E Sunny ficou feliz por
ter vacilado do lado de fora da barraca do conde Olaf, no Cume das Aflições,
pois de outra forma poderia nunca ter tido a sorte de ouvir o nome do último
santuário, que os Baudelaire ainda tinham esperança de alcançar. Mas a despeito
de todos aqueles incidentes em que a vacilação fora proveitosa, as crianças não
desejavam adotar ― aquele ou aquela que não vacila está perdido ― como sua
filosofia de vida, porque um polvo gigante poderia aparecer a qualquer momento,
especialmente enquanto as crianças estavam a bordo de um submarino, e os irmãos
seriam muito tolos se vacilassem caso um polvo estivesse atrás deles. Talvez,
pensaram os Baudelaire, a filosofia de vida mais sábia com relação à vacilação
fosse ― às vezes aquele ou aquela deve vacilar, e às vezes aquele ou aquela não
deve vacilar ― mas aquilo parecia ser comprido demais e vago demais para ter
alguma utilidade em uma placa comemorativa.
― Talvez, se eu não tivesse
vacilado ― continuou o capitão, ― o Queequeg a esta altura já tivesse sido
consertado! Positivo! Receio que o Submarino Q e Sua Tripulação de Dois não
esteja na melhor das formas! Positivo! Fomos atacados por vilões e sanguessugas,
por tubarões e corretores de imóveis, por piratas e namoradas, por torpedos e
salmões enfurecidos! Positivo! ― Ele parou diante de uma grossa porta de metal,
voltou-se para os Baudelaire e suspirou. ― Tudo, dos mecanismos do radar ao meu
despertador, tudo está funcionando mal! Positivo! É por isso que fico feliz por
você estar aqui, Violet Baudelaire! Estamos desesperados atrás de alguém com
habilidade mecânica!
― Verei o que posso fazer ―
disse Violet.
― Bem, dê uma olhada! ― bradou
o capitão Andarré, abrindo a porta bruscamente.
Os Baudelaire seguiram-no para dentro de uma sala enorme e
cavernosa que ecoava conforme o capitão falava. Havia tubulações no teto,
tubulações no piso e tubulações projetando-se das paredes em todos os ângulos.
Por entre as tubulações, havia uma atordoante coleção de painéis com botões,
engrenagens e telas diminutas, bem como letreiros diminutos em que se liam
coisas como ‘’PERIGO!’’, ‘’CUIDADO!’’ e ‘’AQUELE OU AQUELA QUE VACILA ESTÁ PERDIDO!’’.
Aqui e ali havia umas poucas luzes verdes, e no extremo oposto havia uma enorme
mesa de madeira entulhada de livros, mapas e pratos sujos, que ficava embaixo
de uma enorme vigia, uma palavra que aqui significa ‘’janela redonda através da
qual os Baudelaire podiam ver as águas imundas do Arroio Enamorado’’.
― Essa é a barriga da fera!
― disse o capitão. ― Positivo! É o centro de todas as operações de bordo do
Queequeg! É aqui que controlamos o submarino, fazemos as refeições, pesquisamos
nossas missões e jogamos jogos de tabuleiro quando estamos cansados de
trabalhar! ― Ele marchou até um dos painéis e enfiou a cabeça por baixo dele. ―
Fiona! ― chamou. ― Saia daí! ― Ouviu-se um leve matraquear e então as crianças
viram alguma coisa sair rapidamente debaixo do painel até o meio da sala. À
pálida luz verde, foi preciso um momento até elas enxergarem que se tratava de
uma menina um pouco mais velha que Violet, deitada de barriga para cima sobre
uma pequena plataforma de rodas. Estava usando um traje exatamente igual ao do
capitão Andarré, com o mesmo retrato do homem barbado no centro, e segurava um
farolete em uma das mãos e um alicate na outra. Sorrindo, ela entregou o
alicate ao padrasto, que a ajudou a levantar-se da plataforma, enquanto punha
seu par de óculos com armação triangular.
― Crianças Baudelaire ―
disse o capitão, ― essa é Fiona, minha enteada. Fiona, esses são Violet, Klaus
e Sunny Baudelaire.
― Encantada ― disse ela,
estendendo a mão enluvada primeiro para Violet, depois para Klaus e por fim
para Sunny , que sorriu um grande sorriso dentuço. ― Desculpem não ter subido
para recebê-los. Estava tentando consertar esse dispositivo telegráfico, mas
reparos elétricos nunca foram minha especialidade.
― Positivo! ― disse o
capitão. ― Já faz um bom tempo que paramos de receber telegramas, mas pelo
jeito Fiona não consegue ver pé nem cabeça no dispositivo! Violet, mãos à obra!
― Você vai desculpar o
jeito de falar do meu padrasto ― disse Fiona, passando um braço em volta dele.
― Às vezes é preciso algum tempo para se acostumar.
― Ninguém tem tempo para se
acostumar com coisa nenhuma! ― bradou o capitão Andarré. ― Isso não é hora de
ser passivo! Aquele que vacila está perdido!
― Ou aquela ― corrigiu
Fiona discretamente. ― Venha, Violet. Vou arranjar um uniforme para você. Caso
esteja se perguntando de quem é o retrato no peito, é Herman Melville.
― É um dos meus autores
favoritos ― disse Klaus. ― Eu realmente gosto muito do modo como ele dramatiza
a dura condição das pessoas negligenciadas, tais como os marinheiros pobres, ou
os jovens explorados, através de sua prosa filosófica insólita, por vezes
experimental.
― Eu devia saber que você
gosta dele ― retrucou Fiona. ― Quando a casa de Josephine caiu no lago, meu
padrasto e eu conseguimos resgatar parte de sua biblioteca antes que ficasse
encharcada. Li algumas de suas anotações de decodificação, Klaus. Você é um
pesquisador muito perspicaz.
― Gentileza sua ― disse
Klaus.
― Positivo! ― bradou o
capitão. ― Um pesquisador perspicaz é exatamente o que precisamos! ― Ele foi
marchando até a mesa e ergueu uma pilha de papéis. ― Um certo motorista de táxi
conseguiu trazer clandestinamente essas cartas náuticas para mim ― disse ele, ―
mas a meu ver elas não têm pé nem cabeça! São confusas! São intrigadas! Não...
não é isso que eu queria dizer!
― Acho que você queria
dizer intricado', disse Klaus, dando uma olhada nas cartas náuticas. ― ‘’Intrigado’’
quer dizer ‘’curioso’’ ou ‘’desconfiado’’, mas ‘’intricado’’ quer dizer ‘’complicado’’
ou ‘’obscuro’’. Que tipo de cartas são essas?
― Cartas náuticas! ― bradou
o capitão. ― Temos de decifrar o curso exato das marés predominantes no ponto
em que o Arroio Enamorado se encontra com o mar! Klaus, quero que você arranje
um uniforme e ponha mãos à obra imediatamente! Positivo!
― Positivo! ― disse Klaus,
tentando entrar no espírito do Queequeg.
― Positivo! ― respondeu o
capitão em um alegre rugido.
― Possessivo? ― perguntou
Sunny.
― Positivo! ― disse o
capitão. ― Não me esqueci de você, Sunny! Eu jamais esqueceria Sunny ! Nem em
um milhão de anos! Não que eu vá viver isso tudo! Especialmente porque não faço
muito exercício! Não gosto de exercícios, mas vale a pena! Ora, lembro-me bem
de quando não me deixaram escalar uma montanha porque não tinha treinado
direito e...
― Talvez você devesse
contar a Sunny o que tem em mente para ela ― disse Fiona gentilmente.
― É claro! ― bradou o
capitão. ― Naturalmente! Positivo! Nosso outro tripulante estava encarregado da
cozinha, mas tudo o que ele faz são aqueles horríveis ensopados! Já estou
cansado! Espero que suas habilidades culinárias possam melhorar nossa situação
alimentar!
― Sous ― disse Sunny
modestamente, o que queria dizer alguma coisa como: ‘’Não faz muito tempo que
me dedico às práticas culinárias ‘’e seus irmãos trataram logo de traduzir.
― Bem, estamos com pressa!
― retrucou o capitão, andando até uma porta do outro lado, identificada como ‘’COZINHA’’.
― NÓS não podemos esperar até que Sunny se torne uma chef antes de começar a
trabalhar! Aquele ou aquela que vacila está perdido! ― Ele abriu a porta e
gritou para dentro: ― Cuque! Saia daí e venha conhecer os Baudelaire! ― As
crianças ouviram alguns passos leves e claudicantes, como se o cozinheiro
tivesse algo de errado com uma perna. Então um homem com uniforme igual ao do
capitão passou coxeando pela porta, ostentando um largo sorriso no rosto.
― Irmãos Baudelaire! ―
disse ele. ― Sempre acreditei que um dia iria vê-los de novo! ― Os três irmãos
olharam para o homem e depois se entreolharam estupefatos, uma palavra que aqui
significa ‘’surpresos por ver um homem pela primeira vez desde sua estada na
Serraria Alto-Astral, quando sua benevolência para com eles fora um dos poucos
aspectos positivos naquele de outra forma miserável capítulo de suas vidas’’.
― Phil! ― exclamou Violet.
― Que raios você está fazendo aqui?
― Ele é o segundo da nossa
tripulação de dois! ― bradou o capitão. ― Positivo! O segundo tripulante
original da tripulação de dois era a mãe de Fiona, mas ela morreu num acidente
com um manati, já faz uns bons anos.
― Não estou tão certa de
que foi um acidente ― disse Fiona.
― Tínhamos o Jacques! ―
continuou o capitão.
― Positivo, e também o
não-sei-o-nome-dele, irmão do Jacques, e uma mulher horrorosa que revelou ser
uma espiã, e por fim temos o Phil! Se bem que eu goste de chamá-lo de Cuque! Não
sei por quê!
― Eu estava cansado de
trabalhar na indústria madeireira ― disse Phil. ― Tinha certeza de poder
encontrar um trabalho melhor, e agora, olhem só para mim: cozinheiro em um
submarino dilapidado. A vida melhora a cada dia.
― Você sempre foi um
otimista ― disse Klaus.
― Não precisamos de um
otimista! ― disse o capitão Andarré. ― Precisamos de um cozinheiro! Mãos à
obra, crianças Baudelaire! Todos vocês! Positivo! Não temos tempo a perder! Aquele
que vacila está perdido!
― Ou aquela ― lembrou Fiona
ao padrasto. ― Nós realmente temos de começar neste exato minuto? Tenho certeza
de que os Baudelaire estão exaustos depois da viagem. Poderíamos ter uma noite
agradável e tranqüila jogando jogos de tabuleiro...
― Jogos de tabuleiro? ―
disse o capitão, atônito. ― Diversões? Passatempos? Não temos tempo para essas
coisas! Positivo! Hoje é sábado, o que quer dizer que só temos mais cinco dias!
Quinta-feira é o encontro de C.S.C. e não quero que ninguém no Hotel Desenlace
diga que o Queequeg não cumpriu sua missão!
― Missão? ― perguntou Sunny
.
― Positivo! ― disse o
capitão Andarré. ― Não devemos vacilar! Temos de agir! Temos de correr! Temos
de nos mexer! Temos de procurar! Temos de parar de vez em quando para um lanche
rápido! Temos de encontrar aquele açucareiro antes do conde Olaf! Positivo!
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