Capítulo 8
Quando Violet enfiou a cabeça no capacete
de mergulho e assegurou-se de que o zíper do uniforme estava bem fechado por
cima do retrato de Herman Melville, ouviu o leve roçar do recorte de jornal em
seu bolso e franziu as sobrancelhas. Permaneceu com as sobrancelhas franzidas
enquanto o último cogumelo desaparecia na areia, e as quatro crianças entraram
de novo, cautelosamente, na água escura e gelada. Como iam contra a maré, os
voluntários decidiram se dar as mãos, para não se perderem um do outro durante
viagem de volta ao Queequeg, e quando iniciaram a escura jornada, Violet pensou
no perigoso e arriscado segredo escondido em seu bolso.
Enquanto Klaus os liderava no caminho de
volta ao submarino, de mãos dadas com Fiona, que dava as mãos para Violet enquanto
ela segurava o capacete de Sunny debaixo do braço, a mais velha dos Baudelaire
se deu conta de que, mesmo nas profundezas geladas do oceano, os irmãos estavam
brincando com fogo. A informação sinistra no recorte de jornal era como um
minúsculo esporo, brotando no pequeno espaço fechado do bolso de Violet — como
um esporo do letal My celium Medusóide, que naquele exato momento brotava no
pequeno espaço fechado de um dos capacetes de mergulho usados pelos órfãos
Baudelaire.
O ciclo das águas consiste em três
fenômenos-chave: evaporação, precipitação e acumulação, três fenômenos
conhecidos coletivamente como os três fenômenos daquilo que é chamado de ‘’o
ciclo das águas’’. O segundo desses fenômenos ‘’precipitação’’ é o processo
pelo qual o vapor volta a se transformar em água para cair em forma de chuva,
algo que você pode observar durante um aguaceiro ou ao sair de casa em uma
chuvosa manhã, ou tarde, ou noite. Essa água caindo que você observa é
conhecida como ‘’chuva’’, a qual é resultado do fenômeno da precipitação, um
dos três fenômenos descritos pelo ciclo das águas. Um desses três fenômenos, a
precipitação, é visto como o segundo, especialmente se uma lista dos três
fenômenos coloca a precipitação no meio, ou no segundo lugar da lista.
‘’Precipitação’’ é, muito simplesmente, um termo para designar a transformação
do vapor em água, que então cai como chuva — algo que você poderia encontrar se
saísse de casa durante uma tempestade. A chuva consiste em água, que outrora
tinha sido vapor, porém passou por um processo conhecido como ‘’precipitação’’,
um dos três fenômenos do ciclo das águas, e a esta altura essa tediosa
descrição já deve ter feito você cair no sono outra vez, o que é muito bom,
pois assim talvez você possa evitar os detalhes horripilantes de minha
narrativa sobre a jornada de volta ao Queequeg que Violet, Klaus e Sunny
Baudelaire empreenderam através da Gruta Gorgônea.
Os órfãos Baudelaire perceberam que alguma
coisa estava errada no momento em que chegaram ao submarino, bateram na
escotilha de metal e não ouviram nenhuma resposta do capitão. Tinha sido uma
jornada escura e fria pela caverna, tornada ainda mais difícil pelo fato de que
estavam contra a maré, e não a favor dela, como na ida, quando se deixaram
arrastar pela corrente. Klaus, que seguia na frente, tateou com um braço
estendido a escuridão, com medo de passar batido pelo Queequeg ou de dar um
encontrão em algo sinistro na caverna. Fiona tremeu durante toda a jornada e
seus dedos nervosos se contraíram na palma da mão de Violet. E Sunny tentou não
entrar em pânico dentro de seu capacete de mergulho enquanto os movimentos dos
irmãos ao nadar a faziam chacoalhar na escuridão. A mais jovem dos Baudelaire
não podia ver uma única luz através da janelinha redonda do capacete, entretanto,
como todos os Baudelaire, ela se concentrou em chegar em segurança, e o
pensamento de retornar ao Queequeg era como uma luzinha brilhante nas trevas da
gruta. Logo, pensaram os Baudelaire, iriam ouvir o retumbante ‘’positivo!’’ do
capitão Andarré, dando-lhes as boas-vindas ao retornarem da missão. Talvez Phil
tivesse preparado uma boa refeição quente, mesmo sem a assessoria culinária de
Sunny . E talvez o dispositivo telegráfico tivesse recebido outro boletim do
Correio Sub-reptício Cooperativo, um que pudesse ajudá-los a encontrar o
açucareiro, e assim toda a missão não acabaria dando com os burros n'água. Mas
quando Klaus os levou até a escotilha, eles não viram nem sinal de que alguém a
bordo do Queequeg estivesse lhes dando as boas-vindas. Depois de bater por
vários minutos, as crianças, preocupadas, tiveram de abrir sozinhas a
escotilha, algo difícil de fazer no escuro, e entrar na passagem, fechando
rapidamente a escotilha atrás de si. Ficaram ainda mais preocupadas quando
descobriram que ninguém tinha ativado a escotilha, portanto um bocado de água
jorrou pela passagem e começou a cair na sala em que os Baudelaire encontraram
pela primeira vez o capitão Andarré. Ouviram o ruído da água caindo no chão do
submarino enquanto começavam a descer a escada e apuraram o ouvido para escutar
o capitão gritando: ‘’Positivo! Que porcaria!’’, ou ‘’Positivo! A válvula está
quebrada!’’ ou até alguma coisa otimista de Phil, como: ‘’Vejam pelo lado bom,
é como ter uma piscina infantil em casa!’’.
―
Capitão Andarré? ― chamou Violet, a voz abafada pelo capacete.
―
Padrasto? ― chamou Fiona, a voz abafada pelo dela.
―
Phil? ― chamou Klaus.
―
Tripulação? ― chamou Sunny.
Ninguém respondeu aos chamados, e ninguém
fez comentários sobre a água na passagem, e quando os voluntários chegaram ao
fim dela e desceram para dentro da pequena sala mal iluminada, não encontraram
ninguém para recebêlos.
―
Padrasto? ― Fiona chamou de novo, mas eles ouviram apenas o movimento da água
formando uma grande poça no chão. Sem se preocupar em tirar os capacetes, as
quatro crianças atravessaram a poça espirrando água e desceram o corredor
apressadas, passaram pela placa gravada com a filosofia de vida do capitão e
chegaram ao salão principal. A sala continuava enorme como sempre, é claro, com
todas as desconcertantes tubulações, os painéis e os avisos de perigo, embora o
lugar parecesse ter passado por uma pequena arrumação, com direito a decoração
perto da mesa de madeira onde os Baudelaire tinham tomado o sopão de Sunny e planejado
a jornada da Gruta Gorgônea. Amarrados em três cadeiras, pequenos balões azuis
pairavam no ar, e na superfície de cada um havia uma letra impressa em tinta
preta e espessa. No primeiro balão havia um C, no segundo, um S, e somente
alguém tão débil quanto a luz de uma caverna subaquática ficaria surpreso ao
ouvir que no terceiro havia outro C.
―
C.S.C. ― disse Violet. ― Vocês acham que é um código? ―
―
Não estou interessada em códigos no momento ― disse Fiona, a voz tensa
ressoando dentro do capacete. ― Quero encontrar meus companheiros tripulantes.
Procurem por aí, todo mundo.
Os Baudelaire procuraram pela sala, mas
ela parecia tão vazia e solitária quanto a gruta. Sem a enorme presença do
capitão Andarré — ‘’enorme presença’’ é uma expressão que aqui significa
‘’porte físico de grandes proporções, combinado com uma personalidade vibrante
e uma voz forte’’ —, o salão principal parecia absolutamente deserto.
― É
possível que estejam na cozinha ― disse Klaus, embora soasse incrédulo, ― ou
então cochilando no alojamento.
―
Eles não iriam cochilar ― disse Violet. ― Disseram que estariam nos observando
o tempo todo.
Fiona deu um passo na direção da porta da
cozinha, mas então parou e olhou para a mesa de madeira.
―
Os capacetes deles sumiram ― disse ela. ― Tanto Phil como meu padrasto deixavam
o capacete de mergulho em cima da mesa, para o caso de haver alguma emergência.
― Ela passou a mão ao longo da mesa, como se pudesse fazer os capacetes
reaparecerem. ― Eles se foram ― disse ela.
― Abandonaram o Queequeg.
―
Não posso acreditar nisso ― disse Klaus, sacudindo a cabeça. ― Eles sabiam que
estávamos na gruta. Não iriam abandonar seus companheiros voluntários.
―
Talvez tenham achado que não iríamos mais voltar ― disse Fiona.
―
Não ― disse Violet, apontando para um painel na parede. ― Eles podiam nos ver.
Éramos pontinhos verdes no detector por sonar.
As crianças olharam para o painel do
sonar, esperando ver pontos que pudessem representar os tripulantes
desaparecidos.
―
Eles devem ter tido uma boa razão para partir ― disse Fiona.
―
Que razão poderia haver? ― disse Klaus. ― Não importa o que tenha ocorrido,
eles teriam aguardado por nós.
―
Não ― disse Fiona. Triste, ela removeu o capacete de mergulho, e o Baudelaire
do meio viu que havia lágrimas em seus olhos. ― Não importa o que tenha
ocorrido ― disse ela, ― meu padrasto não teria vacilado. Aquele ou aquela que
vacila está...
―
Perdido ― Klaus terminou por ela, e pousou a mão em seu ombro.
―
Talvez eles não tenham ido de moto próprio ― disse Violet, usando uma expressão
que aqui significa ‘’vontade própria’’. ― É possível que alguém os tenha
levado.
―
Levado a tripulação ― disse Klaus, ― e deixado três balões para trás?
― É
um mistério ― disse Violet, ― mas tenho certeza de que poderemos resolvê-lo.
Vamos tirar os capacetes e pôr mãos à obra.
Klaus assentiu, tirou seu capacete de
mergulho e colocou-o no chão, ao lado do de Fiona. Violet livrou-se do dela e
depois foi abrir a portinhola do capacete de Sunny, para que a mais jovem dos
Baudelaire pudesse se desenroscar, sair do pequeno espaço fechado e juntar-se
aos irmãos. Mas Fiona agarrou a mão de Violet antes que ela tocasse o capacete,
apontando para a janelinha redonda no capacete de Sunny.
Neste mundo há muitas coisas difíceis de
se ver. Um cubo de gelo em um copo d'água, por exemplo, pode passar
desapercebido, especialmente se o cubo de gelo é pequeno e o copo d’água tem
dez quilômetros de diâmetro. Uma mulher baixa pode ser difícil de se ver em uma
rua movimentada da cidade, ainda mais se ela se disfarçou de caixa de correio e
deixa as pessoas depositarem cartas em sua boca. E um pequeno recipiente de
louça, com tampa bem ajustada para guardar lá dentro alguma coisa importante,
pode ser difícil de encontrar na lavanderia de um hotel enorme, especialmente
se houver um terrível vilão por perto, fazendo você se sentir nervoso e
distraído. Mas há também coisas que são difíceis de se ver, não por causa do tamanho
de suas adjacências, nem porque estão bem disfarçadas, ou porque há por perto
uma pessoa traiçoeira com uma caixa de fósforos no bolso e um plano diabólico
na cabeça, mas porque as coisas são tão perturbadoras de se olhar, tão
angustiantes de se acreditar, que é como se seus olhos se recusassem a ver o
que está bem na frente deles. Você pode dar uma olhada no espelho e não ver
como está cada vez mais velho, ou quão pouco atraente se tornou seu penteado,
até que alguém gentilmente lhe aponte essas coisas. Você pode olhar para um
lugar onde outrora morou e não ver como o prédio está tremendamente mudado, nem
como a vizinhança se tornou sinistra, até caminhar alguns passos e perceber que
a sorveteria não produz mais seu sabor favorito. E você pode olhar através da
janelinha redonda de um capacete de mergulho, como fizeram Violet e Klaus
naquele momento, e não ver os talos e píleos de um terrível fungo cinzento
crescendo venenosamente no vidro, até que alguém pronuncie seu nome científico
em um sussurro horrorizado.
― É
o My celium Medusóide ― disse Fiona, e os dois Baudelaire mais velhos piscaram
e viram que assim era.
―
Oh, não ― murmurou Violet. ― Oh, não!
―
Tirem-na de lá! ― gritou Klaus. ― Tirem Sunny de lá agora, ou ela será
envenenada!
―
Não! ― disse Fiona, e arrancou o capacete das mãos dos irmãos. Ela o colocou
sobre a mesa como se fosse uma terrina, uma palavra que aqui significa ‘’uma
tigela grande e funda usada para servir cozidos ou sopas, em vez de uma
menininha aterrorizada, enroscada dentro de um equipamento para se usar em
mares profundos’’. ― O capacete de mergulho pode servir de local de quarentena.
Se nós o abrirmos, o fungo se espalhará. O submarino inteiro se transformará em
um campo de cogumelos.
―
Não podemos deixar nossa irmã lá dentro! ― gritou Violet. ― Os esporos vão
envenená-la!
―
Ela provavelmente já foi envenenada ― disse Fiona, com calma. ― Em um espaço
pequeno e fechado como esse capacete, não há como escapar.
―
Isso não pode ser verdade ― disse Klaus tirando os óculos, como se não quisesse
encarar o horror da situação. Mas naquele momento, quando as crianças ouviram
um som leve e sinistro que vinha do capacete, tiveram de encarar a situação.
Violet e Klaus lembraram-se da luta dos peixes do Arroio Enamorado para
respirar nas águas negras e cheias de cinzas. Sunny estava tossindo.
―
Sunny! ― gritou Klaus para dentro do capacete.
―
Moléstia ― disse Sunny, o que queria dizer: ‘’Estou começando a não me sentir
muito bem’’.
―
Não fale, Sunny ! ― Fiona gritou para dentro da janelinha do capacete, e
voltouse para os Baudelaire mais velhos. ― O micélio pode arruinar a capacidade
respiratória ― explicou a micetologista, caminhando para o guarda-louça. ― É o
que estava escrito naquela carta. A irmã de vocês precisa economizar o fôlego.
Os esporos tornarão cada vez mais difícil para Sunny falar, e ela provavelmente
começará a tossir enquanto o fungo se desenvolve dentro dela. Em uma hora, não
conseguirá mais respirar. Se não fosse tão horrível, seria fascinante.
―
Fascinante?', Violet cobriu a boca com as mãos e fechou os olhos, tentando não
imaginar o que sua aterrorizada irmã estava sentindo. ― O que podemos fazer? ―
perguntou ela.
―
Um antídoto ― disse Fiona. ― Deve haver alguma informação útil na minha
biblioteca micetológica.
―
Vou ajudar ― disse Klaus. ― Certamente vou achar os livros difíceis de ler,
mas...
―
Não ― disse Fiona. ― Preciso ficar sozinha para fazer a pesquisa. Você e Violet
podiam subir por aquela escada de corda e dar partida nos motores para que
abandonemos essa caverna.
―
Mas devíamos fazer a pesquisa todos nós! ― exclamou Violet. ― Só temos uma
hora, ou talvez até menos! Se os cogumelos cresceram enquanto estávamos nadando
de volta ao Queequeg, então...
―
Então nós certamente não temos tempo para discutir ― completou Fiona, abrindo o
armário e retirando uma grande pilha de livros. ― Ordeno a vocês que me deixem
em paz, para que eu possa fazer essa pesquisa e salvar sua irmã!
Os Baudelaire mais velhos se entreolharam,
depois olharam para o capacete de mergulho sobre a mesa.
―
Você nos ordena? ― perguntou Klaus.
―
Positivo! ― bradou Fiona, e as crianças se deram conta de que era a primeira
vez que a micetologista pronunciava aquela palavra. ― Sou eu quem manda aqui!
Na ausência do meu padrasto, eu sou o capitão do Queequeg Positivo!
―
Não importa quem é o capitão! ― disse Violet. ― A única coisa importante é
salvar minha irmã!
―
Subam aquela escada de corda! ― bradou Fiona. ― Positivo! Dêem partida nos
motores! Positivo! Vamos salvar Sunny! Positivo! E achar meu padrasto!
Positivo! E recuperar o açucareiro! Positivo! E não temos tempo para vacilar!
Aquela que vacila está perdida! Essa é minha filosofia de vida!
―
Essa é a filosofia de vida do capitão ― disse Klaus, ― e não a sua.
―
Eu sou o capitão! ― disse Fiona, agressiva. O Baudelaire do meio pôde ver que,
atrás de seus óculos triangulares, a micetologista estava chorando. ― Façam o
que estou dizendo. ― Klaus abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas
percebeu que também ele estava chorando, e sem mais palavra voltou as costas
para a amiga e caminhou para a escada de corda, com Violet logo atrás.
―
Ela está errada! ― sussurrou furiosa a mais velha dos Baudelaire. ― Você sabe
que ela está errada, Klaus. O que vamos fazer?
―
Vamos dar partida nos motores ― disse Klaus, ― e manobrar o Queequeg para fora
dessa caverna.
―
Mas isso não vai salvar Sunny ― disse Violet. ― Você lembra da descrição do My
celium Medusóide, não lembra?
―
De um único esporo é tão cruel o poder', recitou Klaus, ― que em menos de uma
hora tu podes morrer. É claro que me lembro.
―
Hora? ― disse Sunny, assustada, de dentro do capacete.
―
Shhh ― fez Violet. ― Economize seu fôlego, Sunny. Vamos achar um jeito de
curá-la, já já.
―
Não já já ― corrigiu Klaus com tristeza. ― Fiona agora é o capitão, e ela nos
ordenou que...
―
Não me importam as ordens de Fiona ― disse Violet. ― Ela é volátil demais para
nos tirar dessa situação — exatamente como o padrasto dela, e exatamente como o
irmão dela! ― A mais velha dos Baudelaire enfiou a mão no bolso do uniforme e
tirou o recorte de jornal que pegara na gruta. Sua mão roçou contra a lata de
wasabi, e ela estremeceu, esperando que a irmã se recuperasse e vivesse para
usar o condimento japonês em suas receitas. ― Escute isso, Klaus!
―
Não quero escutar! ― disse Klaus num sussurro zangado. ― Talvez Fiona esteja
certa! Talvez não devamos vacilar, especialmente em um momento como esse! Se
não conseguirmos um antídoto para nossa irmã, ela pode morrer! Vacilar só vai deixar
as coisas ainda piores!
―
Dar partida nos motores em vez de ajudar Fiona com sua pesquisa só vai deixar as
coisas ainda piores! ― disse Violet.
Naquele momento, porém, tanto Violet como
Klaus viram algo que deixou as coisas ainda piores, e eles se deram conta de
que ambos estavam errados. Os dois Baudelaire não deveriam estar dando partida
nos motores do Queequeg, e não deveriam estar ajudando Fiona com sua pesquisa,
e não deveriam estar discutindo um com o outro. Os Baudelaire, e Fiona também,
deveriam ter ficado muito quietos, evitado fazer o menor ruído, e, em vez de
ficar olhando para o capacete de mergulho, onde sua irmã sofria os efeitos do
veneno do My celium Medusóide, eles deveriam ter olhado para o detector por
sonar do submarino ou para a vigia acima da mesa, que dava para as escuras
profundezas da caverna.
No painel verde brilhava o Q representando
o Queequeg, mas isso era mais uma coisa no mundo que era difícil de se ver,
porque um outro símbolo verde luminescente ocupava exatamente o mesmo espaço. E
do lado de fora da vigia havia uma massa de pequenos tubos de metal que giravam
na água tenebrosa, produzindo milhares e milhares de bolhas, e no meio de todos
aqueles tubos havia um grande espaço aberto, qual uma boca gigante e famélica —
a boca de um polvo prestes a devorar o Queequeg e todo o resto da tripulação. A
imagem no detector por sonar era um olho, e o que se via da vigia era um
submarino, mas de qualquer modo as crianças sabiam que era o conde Olaf, e isso
deixava as coisas muito, muito piores de fato.
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