Carta n°4
28
de Fevereiro
Querido
Senhor,
Estou
escrevendo isso na máquina de escrever do seu pequeno e empoeirado escritório,
no 13º andar de um dos nove edifícios mais sombrios da cidade. É uma sala
monótona, mas tem uma vista interessante. Se eu me recostar nessa cadeira—sua
cadeira, se eu não estiver enganada— consigo ver um lote vazio no qual algumas
plantas exóticas brotaram. Levam anos para a terra se recuperar de um incêndio,
mas mesmo nas cinzas mais escuras eventualmente alguma coisa pode crescer.
Você
não está aqui, mas eu acho que sei onde estás graças a algumas pistas que
descobri. Por exemplo, pregado na parede direita há um mapa enorme, com um
caminho marcado com linha e alfinetes. Adicionalmente, há notas indicando hotéis, lugares escondidos, escritórios de lugares que
alugam carros, sinagogas, bibliotecas públicas, bibliotecas particulares,
restaurantes, cafés, buffets com tudo o que se pode comer e cinemas, cada lugar
marcado com uma data e um horário. Ou sou uma detetive muito boa, ou você é
péssimo em esconder coisas—ou, talvez, queira que eu vá onde você está.
A
caixa de madeira na qual se lê “cartas” em cima da sua mesa está cheia de
cartas. Mas todas elas estão misturadas, e não consigo determinar o que elas
diriam se as colocasse na ordem apropriada. A única carta faltando é a que te
mandei. Ou ela nunca chegou, ou você a levou junto com você.
Por
favor, Sr., preciso falar contigo. Tenho ouvido rumores de sua perseguição e
tenho dúzias de perguntas assim como uma ou duas críticas construtivas. Estou
partindo dessa cidade, apenas algumas horas após tê-la visto pela primeira vez,
para seguir seu caminho de linha e alfinetes. Estou indo na direção das
montanhas, para que eu possa encontrar, depois de todos esses anos, os três
irmãos que são a única família que eu tenho. Sem Violet, Klaus e Sunny, sou uma
órfã — uma órfã que vai deixar essa carta aqui, no caso de nos desencontrarmos.
Beatrice
Baudelaire.
PS. Este peso de papel é muito bonito, no entanto não posso dizer se representa uma cobra, um verme ou uma serpente elétrica.
É a Beatrice filha da Kit!
ResponderExcluirNao ��
ResponderExcluirSs
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