Capítulo 1

SUAS PALAVRAS FICARAM SUSPENSAS ALI, NA ESCURIDÃO ENTRE NOSSAS VOZES. Às vezes, eu encontrava conforto nesse espaço, mas em três meses, só encontrei inquietação. Esse espaço se tornou mais um local conveniente para me esconder. Não para mim, para ele. Meus dedos doíam, então permiti que eles relaxassem, não percebendo o quão forte estava segurado meu telefone celular.
Minha companheira de quarto, Raegan, estava sentada ao lado da minha mala aberta sobre a cama, com as pernas cruzadas. Seja qual for o olhar que estava no meu rosto, levou-a a pegar a minha mão.
 ― T.J.? ― ela murmurou.
Eu balancei a cabeça.
 ― Você vai dizer alguma coisa, por favor? ― T.J. perguntou.
 ― O que você quer que eu diga? Estou de malas feitas. Tirei esses dias de férias. Hank já deu meus turnos a Jorie.
 ― Sinto-me um grande idiota. Gostaria que eu não tivesse que ir, mas eu te avisei. Quando tenho um projeto em andamento, posso ser chamado a qualquer momento. Se precisar de ajuda com o aluguel, ou alguma coisa...
 ― Eu não quero o seu dinheiro, ― eu disse, esfregando os olhos.
 ― Pensei que este seria um bom fim de semana. Juro por Deus que pensei.
 ― Eu pensei que eu estaria pegando um avião amanhã de manhã, e em vez disso você está me ligando para dizer que não posso ir. Mais uma vez.
 ― Eu sei que isso parece ser um movimento idiota. Eu juro para você que eu lhes disse que tinha planos importantes. Mas quando as coisas surgem, Cami... Eu tenho que fazer o meu trabalho.
Limpei uma lágrima da minha bochecha, mas me recusei a deixar que ele me ouvisse chorar. Segurei o tremor da minha voz.
 ― Você vem para casa no dia de Ação de Graças, então?
Ele suspirou.
 ― Eu quero. Mas não sei se posso. Depende se isso não vai estar enrolado. Eu sinto sua falta. Muito. Eu não gosto disso, também.
 ― Sua agenda vai melhor algum dia? ― Eu perguntei.
Demorou mais do que deveria para ele responder.
 ― E se eu dissesse que provavelmente não?
Eu levantei minhas sobrancelhas. Eu esperava essa resposta, mas não esperava que ele fosse ser tão... verdadeiro.
 ― Sinto muito, ― disse ele. Imaginei-o se encolhendo. ― Eu acabei de chegar ao aeroporto. Eu tenho que ir.
 ― Sim, está bem. Falo com você mais tarde. ― Eu forcei a minha voz para ficar tranquila. Não queria parecer triste. Não queria que ele pensasse que eu era fraca ou emocional. Ele era forte e auto-suficiente, e fez o que tinha que ser feito sem reclamar. Eu tentei ser isso para ele. Lamentar sobre algo fora de seu controle não ajudaria nada.
Ele suspirou de novo.
 ― Eu sei que você não acredita em mim, mas eu te amo.
 ― Eu acredito em você, ― eu disse, e eu quis dizer isso.
Apertei o botão vermelho na tela e deixei cair o telefone na minha cama. Raegan já estava em modo de controle de danos.
 ― Ele foi chamado para o trabalho?
Eu balancei a cabeça.
 ― Ok, bem, talvez vocês tenham que ser mais espontâneos. Talvez você possa simplesmente aparecer, e se ele for chamado enquanto você estiver lá, você espera por ele. E quando ele voltar vocês continuam de onde pararam.
 ― Talvez.
Ela apertou minha mão.
 ― Ou talvez ele seja um babaca que deve parar de escolher o seu trabalho em vez de você?
Eu balancei minha cabeça.
 ― Ele trabalhou muito duro por este cargo.
 ― Você nem sabe que cargo é esse.
 ― Eu disse a você. Ele exerce sua profissão. Ele é especialista em análise estatística e reconfiguração de dados, seja lá o que isso signifique.
Ela me lançou um olhar duvidoso.
 ― Sim, você também me disse para manter tudo em segredo. O que me faz pensar que ele não está sendo completamente honesto com você.
Levantei-me e tirei tudo da minha mala, deixando todo o conteúdo cair no meu edredom. Normalmente eu só fazia a minha cama quando estava fazendo as malas, então agora, eu podia ver o tecido azul-claro do edredom com alguns tentáculos azul-marinho de polvo em todo ele. T.J. o odiava, mas isso me fazia sentir como se estivesse sendo abraçada enquanto dormia. Meu quarto era composto por coisas estranhas, aleatórias, assim como eu.
Raegan vasculhou a pilha de roupas, e pegou um top preto com os ombros e a frente rasgada estrategicamente.
 ― Nós duas temos a noite livre. Devemos sair. Ter bebidas servidas a nós pelo menos uma vez.
Eu agarrei a camisa das mãos dela e a inspecionei enquanto eu refletia sobre a sugestão de Raegan.
 ― Você está certa. Deveríamos. Vamos com o seu carro, ou com Smurf? ―
Raegan encolheu os ombros.
 ― O tanque está quase vazio e nós não receberemos o pagamento até amanhã.
 ― Parece que é o Smurf, então.
Após uma sessão no banheiro, Raegan e eu pulamos no meu modificado Jipe CJ azul-claro. Ele não estava na melhor de suas formas, mas em algum momento alguém teve visão suficiente e amor para moldá-lo em um Jipe/caminhonete híbrido.
O universitário mimado, que obteve o Smurf entre o primeiro dono e eu, não o amava tanto. Os estofados estavam expostos em alguns lugares onde os assentos de couro preto foram rasgados, o tapete tinha buracos de cigarros e várias manchas, e o teto precisava ser substituído, mas essa negligência significava que eu poderia pagar por ele, e um carro pago, era o melhor tipo de carro que eu poderia querer. Afivelei o cinto de segurança, e coloquei a chave na ignição.
 ― Devo orar? ― perguntou Raegan.
Eu virei a chave, e o Smurf fez um zumbido estranho. O motor estalou e ronronou, e ambas batemos palmas. Meus pais criaram quatro filhos com o salário de um trabalhador assalariado. Nunca os pedi para me ajudarem a comprar um carro, ao invés disso trabalhei na sorveteria local desde que tinha quinze anos, e guardei $557,11. O Smurf não era o veículo que eu sonhava quando eu era pequena, mas 550 dólares me compraram a independência, e isso, não tinha preço.
Vinte minutos depois, Raegan e eu estávamos no lado oposto da cidade, passando pelo monte de cascalho do Red Door, de forma lenta e em uníssono, como se estivéssemos sendo filmadas enquanto caminhávamos com uma trilha sonora foda. Kody estava de pé na entrada, os musculos de seus braços eram enormes, provavelmente do mesmo tamanho da minha cabeça. Ele nos olhou quando nos aproximamos:
 ― Identidades.
 ― Mas que merda! ― Raegan rosnou. ― Nós trabalhamos aqui. Você sabe quantos anos temos.
Ele deu de ombros.
 ― Ainda tenho que ver a identidade.
Eu fiz uma careta para Raegan, e ela revirou os olhos, pegando em seu bolso traseiro.
 ― Se você não sabe quantos anos eu tenho, neste momento, temos problemas.
 ― Vamos, Raegan. Não enche e me deixe ver a maldita coisa.
 ― A última vez que eu deixei você ver algo, você não me ligou por três dias.
Ele se encolheu.
 ― Você nunca vai superar isso, não é?
Ela jogou a Identidade em Kody e ele a bateu contra o peito. Ele olhou para ela, e, em seguida, devolveu e, olhou para mim com expectativa. Entreguei-lhe minha carteira de motorista.
 ― Pensei que você estivesse saindo da cidade? ― ele perguntou, olhando para baixo antes de devolver o documento.
 ― É uma longa história, ― disse, colocando minha carteira de motorista no bolso de trás. Meus jeans estavam tão apertados, que fiquei espantada que pudesse caber qualquer coisa além da minha bunda lá atrás.
Kody abriu a grande porta vermelha, e Raegan sorriu docemente.
 ― Obrigada, baby.
 ― Te amo. Fique bem.
 ― Estou sempre bem, ― disse ela, piscando.
 ― Vejo você quando sair do trabalho?
 ― Sim. ― Ela me puxou pela porta.
 ― Vocês são o casal mais estranho, ― eu disse. A batida da música bateu em meu peito, e eu tinha certeza de que cada batida fazia meus ossos estremecerem.
 ― Sim, ― disse Raegan novamente.
A pista de dança já estava lotada com jovens universitários suados e bêbados. O semestre estava em pleno andamento. Raegan caminhou até o bar e parou no final. Jorie piscou para ela.
 ― Quer que eu limpe alguns lugares ― ela perguntou.
Raegan balançou a cabeça.
 ― Você está apenas oferecendo porque você quer as minhas gorjetas de ontem à noite!
Jorie riu. Seu longo cabelo loiro platinado caía em ondas soltas pelos ombros, com alguns fios negros. Ela usava um vestido curto preto e botas de combate, e apertava os botões da caixa registradora para atender alguém enquanto ela falava com a gente. Todos nós aprendemos a ser multitarefas e nos mover como se cada gorjeta fosse uma nota de cem dólares. Se você pudesse atender rápido o suficiente, você teria uma chance de trabalhar no bar leste, e as gorjetas que você recebia lá poderiam pagar as contas de um mês em um fim de semana.
Era ali que eu trabalhava há um ano, levou apenas três meses depois de ter sido contratada pela Red Door. Raegan trabalhava bem ao meu lado, e juntas nós mantínhamos essa máquina lubrificada como uma stripper em uma piscina de plástico cheia de óleo de bebê. Jorie e o outro barman, Blia, trabalhavam no balcão sul da entrada. Era basicamente um quiosque, e eles adoravam quando Raegan ou eu estávamos fora da cidade.
 ― Então? O que vocês vão beber? ― Perguntou Jorie.
Raegan olhou para mim, e depois de volta para Jorie.
 ― Whisky Sour.
Eu fiz uma careta.
 ― Menos o azedo, por favor.
Uma vez que Jorie passou as nossas bebidas, Raegan e eu encontramos uma mesa vazia e nos sentamos, chocadas com a nossa sorte. Os fins de semana eram sempre lotados, e uma mesa disponível as 22h30minh não era comum.
Segurei um novo maço de cigarros em minha mão e bati o fundo dele contra minha palma para empurrá-los para o topo, e em seguida arranquei o plástico. Mesmo que a Red fosse tão enfumaçada que só em sentar lá me fazia sentir como se eu estivesse fumando um maço inteiro de cigarros, era bom me sentar em uma mesa e relaxar. Quando estava trabalhando, geralmente tinha tempo para uma tragada, e o resto queimava sem ser fumado.
Raegan me viu acender.
 ― Eu quero um.
 ― Não, você não quer.
 ― Sim, eu quero!
 ― Você não fuma há dois meses Raegan. Você vai me culpar amanhã por arruinar isso.
Ela apontou para a sala.
 ― Eu estou fumando! Agora!
Apertei os olhos para ela. Raegan era exoticamente bonita, com cabelos longos castanhos, pele bronzeada e olhos cor de mel. Seu nariz era perfeitamente pequeno, não muito redondo ou muito pontudo, e sua pele a fazia parecer que ela veio de um comercial da Neutrogena2. Nós nos conhecemos na escola primária, e eu fui imediatamente atraída para sua honestidade brutal. Raegan poderia ser extremamente intimidante, mesmo para Kody, que com 1,93 de altura, era mais do que 30 centímetros mais alto do que ela. Sua personalidade era encantadora para aqueles que ela amava, e repulsiva para aqueles que ela não gostava.
Eu era o oposto de exótico. Meus cabelos castanhos curtos despenteados e franja pesada eram fáceis de manter, mas nem todo homem achava sexy. Não eram muitos homens que me achavam sexy em geral. Eu era a garota da casa ao lado, melhor amiga do seu irmão. Crescer com três irmãos e nosso primo Colin, poderia ter me feito um moleque se minhas curvas sutis, mas ainda presentes, não tivessem me expulsado do clube dos meninos aos quatorze anos.
 ― Não seja essa garota, ― eu disse. ― Se você quer um, vai comprar o seu.
Ela cruzou os braços, fazendo beicinho.
 ― É por isso que eu parei. Eles são fodidamente caros.
Olhei para o cigarro entre meus dedos.
 ― Este é um fato que minha bunda falida continua a perceber.
A música mudou de algo que todo mundo queria dançar, para uma música que ninguém queria dançar, e dezenas de pessoas começaram a sair da pista de dança. Duas meninas se aproximaram da nossa mesa e trocaram olhares.
 ― Essa é a nossa mesa, ― disse a loira. Raegan as ignorou.
 ― Dá licença, vadia, ela está falando com você, ― disse a morena, colocando sua cerveja sobre a mesa.
 ― Raegan, ― eu avisei.
Raegan olhou para mim com um rosto inexpressivo, e depois para a menina com a mesma expressão.
 ― Era sua mesa. Agora é a nossa.
 ― Nós estávamos aqui primeiro, ― a loira assobiou.
 ― E agora vocês não estão, ― disse Raegan. Ela pegou a garrafa de cerveja indesejada e a jogou no chão. Isso derramou sobre o tapete escuro. ― Pegue.
A morena observou sua cerveja deslizar pelo chão, em seguida, deu um passo para Raegan, mas sua amiga agarrou seus braços. Raegan deu uma risada indiferente, e depois voltou seu olhar em direção à pista de dança. A morena finalmente seguiu sua amiga para o bar.
Dei uma tragada em meu cigarro.
 ― Eu pensei que íamos nos divertir esta noite.
 ― Isso foi divertido, certo?
Eu balancei minha cabeça, reprimindo um sorriso. Raegan era uma grande amiga, mas eu não me intrometeria com ela. Crescer com tantos meninos em casa, já me deu combates suficientes para durar uma vida. Eles não me mimavam. Se eu não lutasse de volta, eles jogavam sujo até que eu fizesse. E eu sempre lutei.
Raegan não tinha uma desculpa. Ela era apenas uma cadela.
 ― Oh, olhe. Megan está aqui, ― disse ela, apontando para a beleza de olhos azuis com cabelos pretos na pista de dança.
Eu balancei minha cabeça. Ela estava lá, com Travis Maddox, basicamente, fodendo na frente de todos na pista de dança.
 ― Oh, esses meninos Maddox, ― afirmou Raegan.
 ― Sim, ― eu disse, engolindo meu whisky. ― Esta foi uma má ideia. Não estou me sentindo sociável hoje.
 ― Oh, pare. ― Raegan engoliu o whisky e, em seguida, se levantou. ― As vacas ainda estão de olhos na nossa mesa. Vou pedir mais uma rodada. Você sabe que o início da noite é sempre lenta.
Ela pegou o meu copo e o dela e foi para o bar. Eu me virei, vendo as meninas olhando para mim, esperando, claramente, que eu saísse da mesa. Eu não ia me levantar. Raegan iria querer a mesa de volta, caso elas tentassem pegá-la e isso só causaria problema.
Quando me virei, um cara estava sentado na cadeira de Raegan. No começo eu pensei que Travis de alguma forma tinha feito seu caminho até aqui, mas quando percebi o meu erro, eu sorri. Trenton Maddox estava inclinado na minha direção, com os braços tatuados cruzados, seus cotovelos apoiados na mesa.
Ele esfregou a barba por fazer que cobria sua mandíbula quadrada com os dedos, os músculos do seu ombro salientes através da sua camisa. Ele tinha tanta barba em seu rosto quanto na sua cabeça, exceto pela ausência de pelos em uma pequena cicatriz perto de sua têmpora esquerda.
 ― Você me parece familiar.
Eu levantei uma sobrancelha.
 ― Sério? Você veio até aqui e se sentou, e isso é o melhor que você diz?
Ele fez um show de correr seus olhos sobre cada parte de mim.
 ― Você não tem nenhuma tatuagem, que eu possa ver. Suponho que não nos conhecemos na loja.
 ― A loja?
 ― A loja de tatuagem em que eu trabalho.
 ― Você está tatuando agora?
Ele sorriu, uma covinha profunda aparecendo no centro da sua bochecha esquerda.
 ― Eu sabia que nós já nos conhecemos antes.
 ― Nós não nos conhecemos. ― Me virei para ver as mulheres na pista de dança, rindo e sorrindo e vendo Travis e Megan fodendo a seco verticalmente. Mas no segundo em que a música acabou ele saiu e foi direto até a loira que reivindicou a minha mesa. Mesmo que ela tivesse visto Travis passando as mãos por toda a pele suada de Megan dois segundo mais cedo, ela estava sorrindo como uma idiota, esperando ser a próxima.
Trenton riu.
 ― Esse é o meu irmãozinho.
 ― Eu não admitiria isso, ― disse, balançando a cabeça.
 ― Nós estudamos juntos? ― ele questionou.
 ― Não me lembro.
 ― Você lembra se você foi para Eakins, entre o jardim de infância até o colegial?
 ― Eu fui.
A covinha esquerda de Trenton apareceu quando ele sorriu.
 ― Então, nós nos conhecemos.
 ― Não necessariamente.
Trenton riu novamente.
 ― Você quer uma bebida?
 ― Já tá vindo.
 ― Você quer dançar?
 ― Não.
Um grupo de meninas passou, e os olhos de Trenton se focaram em uma.
 ― Aquela é Shannon da casa EC? Maldição, ― ele disse, dando meia-volta em seu assento.
 ― Na verdade, é. Você deveria ir relembrar.
Trenton balançou a cabeça.
 ― Nós relembramos no ensino médio.
 ― Eu me lembro. Tenho certeza que ela ainda te odeia.
Trenton balançou a cabeça, sorriu e, em seguida, antes de tomar outro gole, disse:
 ― Elas sempre odeiam.
 ― É uma cidade pequena. Você não deveria ter queimado todas as possibilidades.
Ele abaixou seu queixo, seu famoso charme subindo um nível.
― Há algumas que não foram queimadas. Ainda.
Revirei os olhos, e ele riu.
Raegan retornou, curvando seus longos dedos em torno de quatro copos normais e dois copos de dose.
 ― Meu whisky sour, seus whisky e um coquetel pra cada.
 ― O que é com todas essas coisas doces hoje à noite, Ray? ― Eu disse, franzindo o nariz.
Trenton pegou uma das doses e tocou em seus lábios, inclinando a cabeça para trás. Ele bateu o copo em cima da mesa e piscou.
 ― Não se preocupe, baby. Eu vou cuidar disso.
Ele se levantou e foi embora. Eu não percebi que a minha boca estava aberta até que meus olhos encontraram os de Raegan e eu a fechei.
 ― Ele acabou de beber a sua dose? Isso realmente aconteceu?
 ― Quem faz isso? ― Eu disse, me virando para ver onde ele foi. Ele já tinha desaparecido no meio da multidão.
 ― Um menino Maddox.
Eu bebi meu whisky duplo e dei outra tragada do meu cigarro. Todo mundo sabia que Trenton Maddox era uma má notícia, mas isso nunca pareceu parar as mulheres de tentar domá-lo. Ao vê-lo desde a escola primária, eu prometi a mim mesma que nunca seria um entalhe em sua cabeceira – se os rumores fossem verdadeiros que ele tinha entalhes, mas eu não pretendia descobrir.
 ― Você vai deixá-lo fugir assim? ― perguntou Raegan.
Soltei a fumaça do lado da minha boca, irritada. Eu não estava no estado de espírito de me divertir, ou lidar com uma paquera desagradável, ou me queixar de que Trenton Maddox tinha apenas bebido minha dose, que eu nem queria. Mas antes que eu pudesse responder minha amiga, tive que sufocar o whisky que eu tinha acabado de beber.
 ― Oh, não.
 ― O quê? ― Disse Raegan, girando em sua cadeira. Ela imediatamente se endireitou na cadeira, encolhendo-se.
Todos os meus três irmãos e nosso primo Colin estavam andando em direção a nossa mesa. Colin, o mais velho e o único com uma identidade verdadeira, falou primeiro:
 ― Que diabos, Camille? Pensei que estivesse fora da cidade hoje à noite.
 ― Meus planos mudaram, ― eu atirei.
Chase falou depois, como eu esperava que ele fizesse. Ele era o mais velho dos meus irmãos, e gostava de fingir que era mais velho do que eu, também.
 ― Papai não vai ficar feliz que você perdeu o almoço de família e estava na cidade.
 ― Ele não ficará infeliz se não souber, ― eu disse, estreitando os olhos.
Ele recuou.
 ― Por que você está tão irritada? Você está no seu período ou algo assim?
 ― Sério? ― Disse Raegan, abaixando o queixo e erguendo as sobrancelhas. ― Nós estamos em público. Cresça.
 ― Então ele cancelou com você? ― perguntou Clark. Ao contrário dos outros, Clark parecia genuinamente preocupado.
Antes que eu pudesse responder, o mais novo dos três falou.
 ― Espere, aquele pedaço inútil de merda cancelou com você? ― Disse Coby. Os meninos tinham apenas onze meses de diferença entre eles, e Coby tinha apenas dezoito anos. Meus colegas de trabalho sabiam que meus irmãos usavam identidades falsas e pensaram que eles estavam me fazendo um favor de olhar para o outro lado, mas na maioria das vezes eu desejava que eles não fizessem. Coby, em particular, ainda agia como um menino de doze anos de idade, sem saber ao certo o que fazer com a sua testosterona. Ele estava se curvando atrás dos outros, deixando-os segurá-lo de uma luta que não existia.
 ― O que você está fazendo, Coby? ― eu perguntei. ― Ele não está nem aqui!
 ― Pode ter certeza que não, ― disse Coby. Ele relaxou, estalando seu pescoço. ― Cancelar com minha irmã mais velha. Eu vou estourar sua cara, porra. ― Eu pensei sobre Coby e TJ entrando em uma briga, e isso fez meu coração disparar. T.J. era intimidante quando mais jovem e letal quando um adulto.
Ninguém fodia com ele, e Coby sabia disso.
Um barulho enojado veio da minha garganta, e eu revirei os olhos.
 ― Só... encontrem outra mesa.
Todos os quatro rapazes puxaram cadeiras do meu lado e de Raegan. Colin tinha cabelo castanho-claro, mas meus irmãos eram todos ruivos. Colin e Chase tinham olhos azuis. Clark e Coby verdes. Alguns homens ruivos não tinham uma boa aparência, mas meus irmãos eram altos, esculpidos, e extrovertidos. Clark era o único com sardas, e de alguma forma, elas ainda pareciam bem nele. Eu era a pária, a única criança com cabelos castanhos dourados e grandes e redondos olhos azul claros.
Mais de uma vez os meninos tentaram me convencer de que eu tinha sido adotada. Se eu não fosse a versão feminina do meu pai, eu teria acreditado neles.
Toquei minha testa na mesa e gemi.
 ― Eu não posso acreditar, mas esse dia só piora.
 ― Ah, vamos lá, Camille. Você sabe que nos ama, ― disse Clark, me empurrando com o ombro. Quando eu não respondi, ele se inclinou para sussurrar no meu ouvido. ― Tem certeza que está tudo bem?
Eu mantive minha cabeça para baixo, mas assenti. Clark deu um tapinha nas minhas costas um par de vezes, e, em seguida, a mesa ficou em silêncio.
Eu levantei minha cabeça. Todo mundo estava olhando atrás de mim, então me virei. Trenton Maddox estava ali, segurando dois copos de dose e outro copo de algo que parecia decididamente menos doce.
 ― Esta mesa se transformou em uma festa rápido, ― disse Trenton com um sorriso surpreso, mas encantador.
Chase estreitou os olhos para Trenton.
 ― É ele? ― ele perguntou, balançando a cabeça.
 ― O quê? ― Perguntou Trenton.
O joelho de Coby começou a saltar, e ele se inclinou para frente em sua cadeira.
 ― É ele. Ele fodidamente cancelou com ela, e então apareceu aqui.
 ― Espere. Coby, não, ― eu disse, levantando minhas mãos.
Coby se levantou.
 ― Você fodeu com a nossa irmã?
 ― Irmã? ― Disse Trenton, seus olhos saltando entre mim e meus irmãos sentados ao meu lado.
 ― Oh, Deus, ― eu disse, fechando os olhos. ― Colin, diga a Coby para parar. Não é ele.
 ― Quem não sou eu? ― Disse Trenton. ― Temos um problema aqui?
Travis apareceu ao lado de seu irmão. Ele tinha a mesma expressão divertida de Trenton, ambos exibiam suas harmônicas covinhas do lado esquerdo. Eles poderiam ter sido o segundo conjunto de gêmeos de sua mãe. Apenas diferenças sutis os separavam, incluindo o fato de que Travis era uns cinco centímetros mais alto que Trenton.
Travis cruzou os braços sobre o peito, fazendo o seu já grande bíceps saliente. A única coisa que me impediu de explodir da minha cadeira foi que os seus ombros relaxaram. Ele não estava pronto para lutar. Ainda.
 ― Boa noite, ― disse Travis.
Os Maddox podiam sentir problemas. Pelo menos era o que parecia, porque sempre que havia uma briga, eles ou a começavam ou acabavam. Normalmente ambos.
 ― Coby, sente-se, ― eu ordenei através dos meus dentes.
 ― Não, não vou sentar. Este idiota insultou minha irmã, eu não vou sentar, porra.
Raegan inclinou-se para Chase.
 ― Esses são Trent e Travis Maddox.
 ― Maddox? ― perguntou Clark.
 ― Sim. Você ainda tem algo a dizer? ― Disse Travis.
Coby balançou a cabeça lentamente e sorriu.
 ― Eu posso falar a noite toda, filho da p...
Eu levantei.
 ― Coby! Sente o seu traseiro agora! ― eu disse apontando para sua cadeira. Ele sentou. ― Eu disse que não era ele, e eu quis dizer isso! Agora todo mundo se acalme, porra! Eu tive um dia ruim, eu estou aqui para beber e relaxar, e ter alguma maldita diversão! Agora, se isso é um problema para vocês, saiam da porra da minha mesa! ― Fechei os olhos e gritei a última parte, parecendo completamente insana. As pessoas ao nosso redor estavam olhando.
Respirando com dificuldade, olhei para Trenton, que me entregou uma bebida. Um canto de sua boca virou para cima.
 ― Eu acho que vou ficar.

Comentários

  1. Acabei de ler Belo Casamento e vim ler esse!Espero gostar ��

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  2. Eles são hilários... Cami lembra a minha vida... uma menina no meio de 5 irmãos e primos... kkkkk ja estou amando essa história 😍❤

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Nada de spoilers! :)

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