Capítulo 11
APÓS OS SANDUÍCHES DE PRESUNTO E
QUEIJO, UM FILME E UMA CURTA VIAGEM PARA O CHICKEN JOE, Trenton e Olive foram
para a casa dela e eu estava a caminho para o The Red. Eu podia ver minha
respiração enquanto caminhava até a entrada do lado dos empregados e mantive o
meu casaco até mais corpos aparecerem e aquecerem o bar.
― Puta merda! ― Disse Blia, esfregando as mãos
enquanto ela passava. ― Está mais frio do que a bunda de um sapo em janeiro!
― E é apenas outubro, ― eu resmunguei.
A multidão na noite de sábado nunca
chegou e, três horas depois que chegamos para o trabalho, ainda estava morto. Raegan
apoiou o queixo na mão e ficou batendo as unhas da outra mão no bar. Dois caras
estavam jogando sinuca ao fundo da parede oeste. Um deles usava uma camiseta do
Legend of Zelda e as roupas do outro indivíduo estavam tão enrugadas que
parecia que ele as tinha tirado direto do cesto de roupa suja. Eles não eram o
tipo de participar de uma luta no subsolo, por isso não foi difícil adivinhar o
que havia roubado o nosso negócio.
Marty, o cliente regular de Raegan,
estava sentado sozinho em sua extremidade do bar. Ele e os garotos espinhentos nas
mesas de bilhar eram nossos únicos fregueses e já eram dez horas.
― Maldição. Merda de lutas. Por que eles não
podem fazê-las durante a semana, quando não vão cortar nossas gorjetas? ― Disse
Raegan.
― Eles virão depois, então todo o bar será uma
grande luta e você vai desejar que eles tivessem ficado bem longe, ― eu disse,
varrendo o chão pela terceira vez.
Kody passou olhando para Raegan de
canto de olho. Ele precisava estar ocupado para passar uma noite inteira com Raegan
estando do outro lado do lugar. Ele estava deprimido há duas semanas e tirando
sua frustração com os idiotas bêbados que ousaram lutar em seu lado do bar. A
quarta-feira anterior, Gruber teve que puxar Kody para fora do amontoado. Hank
já tinha falado com ele uma vez e eu estava com medo que se ele não saísse
dessa logo, ele seria demitido.
Raegan olhou para ele apenas por um
momento, quando ela tinha certeza de que ele não estava olhando.
― Você falou com ele? ― Perguntei.
Raegan encolheu os ombros.
― Eu tento não o fazer. Ele me faz sentir como uma idiota quando eu não estou falando com ele, por isso não estou ansiosa para
começar uma conversa.
― Ele está chateado. Ele ama você.
O rosto de Raegan caiu.
― Eu sei.
― Como estão as coisas com o Brazil?
Seu rosto se iluminou.
― Ele está ocupado com o futebol e a Sig Tau,
mas há uma festa dos namorados. Ele me pediu ontem para ser seu par.
Eu levantei uma sobrancelha.
― Oh. Então, é tipo... isso é sério.
Raegan puxou a boca para um lado,
olhou para Kody, em seguida, olhou para baixo.
― O Brazil foi o meu primeiro amor, Cami.
Estendi a mão e toquei-lhe no ombro.
― Eu não a invejo. Que merda de situação.
― Falando de primeiros amores... Eu acho você
é o dele, ― disse ela, apontando para a entrada.
Trenton entrou com um grande sorriso
no rosto. Eu não podia deixar de corresponder a sua expressão. Do canto do meu
olho, eu podia ver Raegan nos observando, mas não me importei.
― Hey, ― ele disse, inclinando-se contra o
bar.
― Eu pensei que você estaria na luta.
― Ao contrário dos namorados da Califórnia, eu
sei quais são as minhas prioridades.
― Muito engraçado, ― eu disse, mas meu
estômago vibrou.
― O que você vai fazer mais tarde? ― Ele
questionou.
― Dormir.
― Está muito frio lá fora. Eu pensei que
talvez você precisasse de uma camada extra.
Eu tentei não sorrir como uma idiota,
mas não consegui evitar isso. Ele estava tendo esse efeito em mim recentemente.
― Para onde diabos Ray se esgueirou? ― Disse
Hank.
Dei de ombros.
― É noite de luta, Hank. Está tudo morto. Eu
posso cuidar disso.
― Quem se importa onde ela está? ― Disse Kody.
Seus braços estavam cruzados quando ele inclinou suas costas contra o balcão.
Ele estava observando ao redor do local quase vazio com uma carranca no rosto.
― Você conseguiu aquele emprego? ― perguntou
Hank.
― Não, ― disse Kody se mexendo.
Hank colocou as mãos em cada lado da
boca na tentativa de amplificar o que ele estava prestes a gritar e então respirou
fundo.
― Ei, Gruby! Envie Blia aqui para cobrir
Raegan enquanto ela está lá fora, tá bom?
Gruber balançou a cabeça e caminhou
em direção ao quiosque. Eu me encolhi, desejando que Hank não tivesse lembrado
Kody e todos os outros que Raegan estava provavelmente lá fora, conversando com
Brazil.
Todo o rosto de Kody franziu. Eu me
senti mal por ele. Ele odiava o trabalho que uma vez ele amou e nenhum de nós
poderia culpá-lo. Hank tinha até mesmo lhe dado uma boa referência para a loja
de ferragens onde Kody tinha se candidatado.
― Sinto muito, ― eu disse. ― Eu sei que é
difícil para você.
Kody virou-se para olhar para mim,
com uma expressão magoada no rosto.
― Você não sabe merda nenhuma, Cami. Se
soubesse, você teria falado algo que fizesse sentido para ela.
― Hey, ― disse Trenton, virando-se. ― Que
porra é essa, cara? Não fale com ela desse jeito.
Fiz um gesto para Trenton ficar
quieto e eu cruzei os braços, pronta para a força da frustração de Kody vir em
minha direção.
― Ray faz o que ela quer, Kody. Você, de todas
as pessoas, sabe disso.
Seu maxilar mexeu debaixo de sua pele
e ele olhou para baixo.
― Eu só... Eu não entendo isso. Estávamos bem.
Nós não brigávamos. Não, de verdade. Só por algumas besteiras sobre o pai dela
algumas vezes, mas na maioria das vezes nós nos divertíamos. Eu adorava passar
o tempo com ela, mas lhe dava espaço quando ela precisava. Ela me amava. Quero
dizer... ela disse que me amava.
― Ela amava, ― eu disse. Era difícil vê-lo
falar. Ele estava encostado no bar como se fosse difícil ficar em pé.
Fui até ele e coloquei minha mão em
seu ombro.
― Você só vai ter que aceitar que isso não tem
nada a ver com você.
Ele deu de ombros se afastando de
mim.
― Ele está apenas a usando. Essa é a pior
parte. Eu a amo mais do que a minha vida e ele não dá a mínima para ela.
― Você não sabe disso, ― eu disse.
― Sim, eu sei. Você não acha que os caras da
Sig Tau falam, Cami? Você não acha que eles estão discutindo o seu drama,
também? Eles são piores do que as meninas da Cap Sig, ficando por aí fofocando
sobre quem está transando com quem. E em seguida, isso escorre para mim e eu
tenho que ouvir sobre tudo isso.
― Meu
drama? ― Olhei em volta. ― Eu não
tenho drama.
Kody apontou para Trenton.
― Você está correndo na direção disso a cento
e cinquenta quilômetros por hora. Você não deve mexer com isso, Cami. Eles
passaram pelo suficiente.
Kody se afastou e eu fiquei de pé,
atordoada por alguns instantes.
Trenton fez uma careta.
― Que porra isso quer dizer?
― Nada, ― eu disse. Eu mantive o meu rosto
suave, fingindo que o meu coração não estava tentando bater fora do peito. T.J.
e eu não éramos exatamente um segredo, mas nós não divulgamos o nosso
relacionamento. Eu era a única em nossa pequena cidade que conhecia a natureza
de seu trabalho e era importante para ele que nós mantivéssemos dessa maneira.
Um pouco de conhecimento levava a perguntas e evitar perguntas, significava
guardar segredos. Realmente não era grande coisa, porque nós nunca tínhamos
dado qualquer motivo para falarem sobre nós. Até agora.
― O que ele está falando, Cami? ― perguntou
Trenton.
Revirei os olhos e dei de ombros.
― Quem sabe, caralho? Ele é louco.
Kody virou-se e tocou-lhe o peito.
― Você não sabe o que estou falando? Você não
é melhor do que ela e sabe disso! ― Ele se afastou novamente.
Trenton estava completamente confuso,
mas em vez de ficar por aqui para explicar, eu me empurrei pela parte articulada
do bar, deixando-a bater atrás de mim e segui Kody para outro lado do local.
― Hey. Hey! ― Eu gritei uma segunda vez, correndo
para alcançá-lo.
Kody parou, mas não se virou.
Eu puxei a camisa dele, forçando-o a
me encarar.
― Eu não sou Raegan, então pare de jogar a sua
raiva em mim! Eu tentei falar com ela. Eu estava torcendo por você, droga! Mas agora
você está sendo um bebezão, rabugento e idiota intolerável!
Os olhos de Kody suavizaram e ele
começou a dizer alguma coisa.
Eu levantei minha mão, não
interessada no que seria provavelmente um pedido de desculpas. Eu apontei para
o seu peito largo.
― Você não sabe merda nenhuma sobre a minha vida pessoal, por isso não fique
falando como se soubesse. Estamos entendidos?
Kody balançou a cabeça e eu o deixei
em pé no meio da sala para voltar ao meu posto.
― Merda dupla, ― disse Blia com os olhos
arregalados.
― Lembre-me de nunca chateá-la. Até mesmo o
segurança está com medo de você.
― Camille! ― Disse uma voz do outro lado do
bar.
― Oh, inferno, ― eu disse baixinho. Por força
do hábito, tentei me encolher, tentei não ser notada, mas já era tarde demais.
Clark e Colin estavam esperando pacientemente por mim no final do balcão de
Blia. Fui até eles e fingi um sorriso. ― Sam Adams?
― Sim, por favor, ― disse Clark. Ele era o
menos ofensivo dos meus irmãos e na maioria das vezes eu gostaria que fossemos
mais próximos. Mas nos dias normais, estar ao redor de um significava estar ao
redor de todos eles e esse não era um ambiente que eu queria tolerar mais.
― Tio Felix ainda está chateado com você, ― disse
Colin.
― Cristo, Colin. Estou no trabalho.
― Eu apenas achei que você deveria saber, ― disse
ele, com um olhar convencido em seu rosto.
― Ele está sempre com raiva de mim, ― eu
disse, puxando duas garrafas fora do refrigerador e tirando as tampas. Então as
deslizei pelo balcão.
O rosto de Clark caiu.
― Não, mas mamãe tinha que impedi-lo de ir
para o seu apartamento todas as vezes que ele e Coby chegavam nisso.
― Jesus, ele ainda está na bunda de Coby? ― eu
perguntei.
― Tem andado muito... instável em casa recentemente.
― Não me diga, ― eu disse, balançando a
cabeça. ― Eu não posso ouvir isso.
― Ele não, ― disse Colin, franzindo a testa. ―
Meu pai disse que Felix jurou que ele nunca faria isso de novo.
― Não que isso importasse se ele fizesse, ― eu
resmunguei. ― Ela ainda ficaria.
― Ei, isso é problema deles, ― disse Colin.
Eu olhei para ele.
― Essa foi a minha infância. Ela é minha mãe.
É problema meu.
Clark tomou um gole de sua cerveja.
― Ele ficou louco, porque você perdeu o almoço
em família hoje novamente.
― Eu não fui convidada, ― disse eu.
― Você está sempre convidada. Mamãe estava desapontada,
também.
― Desculpe-me, mas não posso lidar com ele. Eu
tenho outras coisas que prefiro fazer.
As sobrancelhas de Clark se juntaram.
― Isso é cruel. Ainda somos a sua família. Nós
todos ainda faríamos tudo por você, Camille.
― E quanto a mamãe? ― Perguntei. ― Você faria
tudo por ela?
― Droga, Cami. Você poderia apenas deixar isso
ir? ― perguntou Colin.
Eu levantei uma sobrancelha.
― Não, e Chase, Clark e Coby não devem,
tampouco. Eu tenho que trabalhar, ― disse eu, voltando para o meu lado do bar.
Uma grande mão enrolou no meu braço.
Trenton levantou quando viu Clark me segurar, mas eu balancei a cabeça e me
virei.
Clark suspirou.
― Nunca fomos o tipo de família de falar sobre
nossos sentimentos, mas nós ainda somos uma família. Você ainda é da família.
Eu sei que ele é uma responsabilidade muito grande, às vezes, mas ainda temos
de manter isso junto. Temos que tentar.
― Você não está na sua mira, Clark. Você não
sabe como é.
O maxilar de Clark cerrou sob a pele.
― Eu sei que você é a mais velha, Cami. Mas
você se foi há três anos. Se você acha que eu não sei como é ter o peso da sua
raiva, você está errada.
― Então por que fingir? Estamos pendurados por
um fio. Eu nem tenho certeza o que está nos mantendo juntos.
― Isso não importa. É tudo o que temos, ― disse
Clark.
Eu o observei por um momento e depois
peguei para eles outra cerveja.
― Aqui. Essas são por minha conta.
― Obrigado, mana, ― disse Clark.
― Você está bem? ― Trenton perguntou quando
voltei para a minha estação.
Eu balancei a cabeça.
― Eles disseram que meu pai ainda está
chateado sobre Coby. Eu acho que meu pai e Coby têm brigado muito. Papai está
ameaçando vir e me colocar na linha.
― Colocá-la na linha como exatamente?
Dei de ombros.
― Quando meus irmãos saem da linha, isso de
alguma forma sempre recai sobre mim.
― E o que acontece? Quando ele vem chateado?
― Ele nunca veio para o meu apartamento antes.
Mas, acho que se ele estiver suficientemente louco, um dia desses ele virá.
Trenton não respondeu, mas mudou de
posição na cadeira, parecendo muito instável.
Blia veio e me mostrou a tela do seu
celular.
― Tenho uma mensagem de texto de Laney. Ela
disse que a luta acabou e a maioria deles está vindo para cá.
― Woo! ― Raegan disse enquanto caminhava para
trás do bar. Ela tirou seu pote de gorjetas vazio – um copo hurricane – e o
colocou em cima do bar.
Marty puxou imediatamente vinte dólares
e deixou-a cair dentro dele. Raegan piscou para ele e sorriu.
Trenton deu um tapinha no balcão algumas
vezes.
― É melhor eu sair. Não quero estar aqui
quando os idiotas da luta chegarem e eu acabar quase matando alguém. Mais uma
vez.
Eu pisquei para ele.
― Sr. Responsável.
― Envie para mim uma mensagem de texto mais tarde.
Eu quero sair amanhã, ― disse ele, afastando-se.
― De novo? ― perguntou Raegan, as sobrancelhas
subindo perto de seu couro cabeludo.
― Cale a boca, ― eu disse, não
querendo sequer ouvir sua opinião.
A multidão pós-luta deslizou para
dentro primeiro e, em seguida, o The Red não tinha mais lugares para sentar. O
DJ estava tocando uma música animada, mas isso não importava: os homens estavam
bêbados e todos eles pensavam que eram tão invencíveis como Travis Maddox.
Dentro de meia hora, Kody, Gruber e
Hank estavam separando as brigas. Em um momento, a maior parte do bar estava em
uma enorme briga e Hank estava jogando para fora dezenas de cada vez. Viaturas
policiais estavam estacionadas do lado de fora, ajudando com a massa e
prendendo alguns dos caras loucos por intoxicação pública antes que eles
pudessem entrar em seus veículos.
Em pouco tempo, o bar era uma cidade
fantasma novamente. A música voltou ao rock clássico e Top Quarenta e Raegan
estava contando suas gorjetas resmungando e de vez em quando gritando um único
palavrão.
― Entre você ajudar seu irmão e essas gorjetas
de merda, vamos ter sorte se pagarmos as contas do mês. Eu preciso começar a
poupar para um vestido de festa em algum momento.
― Então aposte em Travis, ― eu disse. ― Será
cinquenta vindo fácil.
― Eu tenho que ter dinheiro para apostar em
Travis, em primeiro lugar, ― ela estalou.
Alguém se sentou firme em uma das
banquetas a minha frente.
― Uísque, ― disse ele. ― E os mantenha vindo.
― Suas orelhas estavam queimando, Trav? ― Eu perguntei,
entregando-lhe uma cerveja. ― Não parece uma noite de uísque para mim.
― Você não seria a única mulher falando merda
sobre mim. ― Ele inclinou a cabeça para trás e deixou deslizar o líquido âmbar
em sua garganta, quase em um só gole. A garrafa de vidro bateu no bar e eu me
apressei abrindo a segunda tampa, colocando a garrafa na frente de Travis.
― Alguém está falando merda de você? Não é
muito inteligente deles, ― eu disse, observando Travis acender um cigarro.
― A Beija-Flor, ― disse ele, cruzando os
braços por cima do balcão. Ele inclinou-se curvado, parecendo perdido.
Observei-o por um momento, sem saber se ele estava falando em código ou já bêbado.
― Você apanhou mais forte do que o habitual
hoje à noite? ― Eu perguntei, genuinamente preocupada.
Outro grande grupo entrou,
provavelmente retardatários da luta. Eles estavam mais felizes e pareciam todos
se dando bem, pelo menos. Travis e eu tivemos que parar nossa conversa. Pelos
próximos 20 minutos mais ou menos, eu estava ocupada demais para conversar, mas
quando o último da multidão pós-luta empurrou a porta vermelha para ir para
casa, eu coloquei um copo de Jim Beam na frente de Travis, e, em seguida, tirei
a tampa. Ele ainda parecia deprimido. Talvez até mais do que antes.
― Ok, Trav. Vamos ouvir isso.
― Ouvir o quê? ― Perguntou ele, inclinando-se
para longe.
Eu balancei minha cabeça.
― A garota. ― Essa era a única explicação para
Travis Maddox ter aquele olhar no rosto. Eu nunca tinha visto isso antes, de
modo que só podia significar uma coisa.
― Que garota?
Revirei os olhos.
― Que garota. Sério? Com quem você acha que
está falando?
― Tudo bem, tudo bem, ― disse ele, olhando ao
redor.
Ele se debruçou mais perto.
― É a Beija-Flor.
― Beija-Flor? Você está brincando.
Travis conseguiu soltar uma pequena
risada.
― Abby. Ela é um Beija-flor. Um Beija-flor
demoníaco que fode tanto com a minha cabeça que eu não consigo pensar direito.
Nada mais faz sentido, Cam. Todas as regras que eu fiz, foram quebradas uma a uma.
Eu sou uma mulherzinha. Não... pior. Eu sou Shep.
Eu ri.
― Seja bom.
― Você está certa. Shepley é um cara bom.
Eu servi-lhe outra bebida e ele a
virou.
― Seja bom com você mesmo, também, ― eu disse enquanto
limpava o balcão. ― Se apaixonar por alguém não é pecado, Trav. Jesus.
Os olhos de Travis saltaram para os
lados.
― Estou confuso. Você está falando comigo, ou
Jesus?
― Estou falando sério, ― eu disse. ― Então,
você tem sentimentos por ela, e daí?
― Ela me odeia.
― Não.
― Não, eu a ouvi esta noite. Por acidente. Ela
pensa que sou um babaca.
― Ela disse isso?
― Praticamente.
― Bem, você meio que é.
Travis franziu o cenho. Ele não
estava esperando isso.
― Muito obrigado.
Eu lhe servi outra bebida. Ele a
jogou para baixo de sua garganta antes que eu pudesse puxar outra cerveja do refrigerador.
Eu coloquei a cerveja no balcão, e, em seguida, estendi as minhas mãos, palmas
para cima.
― Com base em seu comportamento passado, você
discorda? Meu ponto é... talvez por ela, você poderia ser um homem melhor.
Eu servi a ele outra dose. Ele
imediatamente inclinou a cabeça para trás, abriu a garganta e deixar tudo
descer.
― Você está certa. Eu fui um cafajeste. Eu
poderia mudar? Eu fodidamente não sei. Provavelmente não o suficiente para
merecê-la.
Os olhos de Travis já estavam
vidrados, assim guardei a garrafa de Jim Beam de volta em seu lugar, em
seguida, me virei para o meu amigo. Ele acendeu outro cigarro.
― Manda outra cerveja.
― Trav, eu acho que você já teve o suficiente,
― eu disse. Ele estava bêbado demais para perceber que ele já tinha uma.
― Cami, só faça essa porra.
Peguei a garrafa de vidro não
distante nem 15 centímetros e coloquei diretamente em sua linha de visão.
― Oh, ― ele disse.
― Sim. Como eu disse. Você bebeu muito pelo
pouco tempo que esteve aqui.
― Não há bebida suficiente no mundo que possa
me fazer esquecer o que ela disse esta noite. ― Suas palavras estavam enroladas.
Merda.
― O que exatamente ela disse? ― Perguntei.
― Ela disse que eu não era bom o suficiente.
Quero dizer... de uma forma indireta, mas isso era o que ela quis dizer, porra.
Ela acha que sou um pedaço de merda, e eu... Eu acho que estou me apaixonando
por ela. Eu não sei. Eu não posso mais pensar direito. Mas quando eu a levei
para casa após a luta, e eu sabia que ela estaria lá por um mês... – ele
esfregou a parte de trás do seu pescoço. ― Eu acho que isso foi o mais feliz
que eu já estive, Cami.
Minhas sobrancelhas se juntaram. Eu
nunca o tinha visto tão consternado.
― Ela vai ficar com você por um mês?
― Nós fizemos uma aposta esta noite. Se eu não
fosse atingido uma vez, ela teria que se mudar por um mês.
― Isso foi ideia sua? ― Perguntei. Droga. Ele
já estava apaixonado por esta menina e nem sequer sabia disso.
― Sim. Eu pensei que eu era a porra de um
gênio, até uma hora atrás. ― Ele inclinou o copo. ― Outro.
― Não. Beba sua cerveja maldita, ― eu disse, empurrando-a
em direção a ele.
― Eu sei que não a mereço. Ela é... ― seus
olhos perderam o foco ― incrível. Há algo em seus olhos que é familiar. Algo
que pode se encaixar, sabe?
Eu balancei a cabeça. Eu sabia
exatamente o que ele quis dizer. Eu me senti assim sobre um par de olhos que se
parecia muito com o dele.
― Então talvez você devesse falar com ela
sobre isso, ― eu disse. ― Não tem porque ter esses mal entendidos estúpidos.
― Ela tem um encontro amanhã à noite. Com
Parker Hayes.
Meu nariz franziu.
― Parker Hayes? Você não a avisou sobre ele?
― Ela não acreditaria em mim. Ela acabaria
pensando que eu estava dizendo isso porque estou com ciúmes.
Ele estava balançando no banco. Eu ia
ter que chamar um táxi para ele.
― Você não está? Com Ciúmes?
― Sim, mas ele também é um babaca de merda.
― É verdade.
Travis inclinou a garrafa de cerveja
e tomou um grande gole. Suas pálpebras estavam pesadas. Ele não conseguiria ficar
em pé sozinho.
― Trav...
― Não esta noite, Cami. Eu só quero ficar
bêbado.
Eu balancei a cabeça.
― Parece que você conseguiu isso. Quer que eu
chame um táxi?
Ele balançou a cabeça ligeiramente.
― Tudo bem, mas encontre uma carona para casa.
Ele tentou tomar outro gole de sua
cerveja, mas eu segurei o gargalo da garrafa até que ele fez contato com os
olhos.
― Eu quero dizer isso.
― Ouvi você dizer isso.
Eu soltei e depois o observei
terminar a garrafa.
― Trent estava falando de você outro dia, ― disse
ele.
― Ah, é?
― Vou comprar pra ela um cachorrinho, ― disse
Travis.
Pelo menos ele estava bêbado demais
para falar sobre Trenton.
― Você acha que Trent vai cuidar dele para
mim?
― Como é que vou saber?
― Vocês não estão grudados estes dias?
― Na verdade não.
O rosto de Travis apertou.
― Isso é horrível, ― disse ele, suas palavras
fundindo juntas. ― Quem quer sentir uma porra assim? Quem poderia fazer isso de
propósito para si mesmo?
― Shepley, ― eu disse com um sorriso.
Ele ergueu as sobrancelhas.
― Você não está fodidamente brincando. ― Depois
de uma breve pausa, o rosto dele caiu. ― O que eu faço, Cami? Diga-me o que
fazer, porque eu fodidamente não sei.
Eu balancei minha cabeça.
― Você está certo de que ela não quer você?
Travis olhou para mim com olhos
tristes.
― Isso foi o que ela disse.
Dei de ombros.
― Então você deve tentar esquecê-la.
Travis olhou para a garrafa vazia. As
duas meninas da State que Trenton tinha deixado de lado na noite anterior começaram
a comprar bebidas para Travis, e em pouco tempo, ele mal conseguia ficar em seu
banco. Pela próxima hora e meia, ele totalmente se empenhou em encontrar o
fundo de cada garrafa que poderia chegar às suas mãos.
As irmãs da Southern State tomaram um
banco de cada lado do Travis. Eu me afastei, atendendo meus clientes regulares
por um tempo. Eu não ficaria surpresa se elas achassem que ele era Trenton. Os
quatro mais jovens garotos Maddox eram muito parecidos e Travis estava vestindo
uma camiseta branca que se parecia muito com a que Trenton estava usando. Do
canto do meu olho, eu vi uma das meninas passar a perna sobre a coxa de Travis.
A outra virou o rosto dele, e então elas estavam chupando seu rosto de uma
maneira que me fez sentir como uma pervertida por olhar.
― Uh, Travis? ― eu disse.
Ele levantou-se e jogou uma nota de
cem dólares no balcão. Ele levou seu dedo até os lábios e então piscou.
― Este sou eu. Esquecendo.
As meninas andaram em cada lado dele
e ele se inclinou sobre elas, mal capaz de andar.
― Travis! É melhor que elas sejam sua carona
para casa! ― Eu gritei.
Ele não me reconheceu.
Raegan riu.
― Oh, Travis, ― disse ela. ― Ele está certamente
entretido.
Cruzei os braços sobre a barriga.
― Espero que eles consigam um quarto de hotel.
― Por quê? ― perguntou Raegan.
― Porque a garota por quem ele está apaixonado
está em seu apartamento. E se essas garotas do State for para casa com ele, ele
vai acordar amanhã e se odiar.
― Ele vai descobrir uma maneira de sair disso.
Ele sempre faz.
― Sim, mas desta vez é diferente. Ele estava
muito desesperado. Se ele perder aquela garota, não sei o que ele vai fazer.
― Ele vai ficar bêbado e fazer sexo. Isso é o
que todos os meninos Maddox fazem. ― Estiquei o pescoço para ela, que ofereceu
um sorriso de desculpas. ― Eu te avisei há muito tempo para não se meter com
eles. Você ainda vai ouvir qualquer um dos meus conselhos.
― Você deveria falar, ― eu disse, me esticando
e puxando a buzina para a última chamada.
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