Capítulo 16

COM UMA ORELHA NO TELEFONE e a outra sendo beijada e lambida calmamente por Trenton, eu tentava agendar um esboço às três e meia. Normalmente Trenton se comportava um pouco mais profissionalmente no trabalho, mas era domingo, estávamos tediosamente lentos, e Calvin tinha levado Hazel para um almoço de aniversário. Trenton e eu estávamos totalmente sozinhos.
 ― Sim. Agendei-te. Obrigado, Jessica.
Eu desliguei o telefone e Trenton agarrou meus quadris e me levantou, plantando minha bunda em cima do balcão. Ele enganchou meus tornozelos na parte baixa das suas costas, e então deslizou seus dedos pelo meu cabelo, penteando-o para trás apenas o suficiente para fornecer um caminho claro para passar a língua pelo meu pescoço, até que ele chegou ao seu destino: a minha orelha. Ele pegou o pedaço de pele macia em sua boca, aplicando um pouquinho de pressão entre os dentes superiores e sua língua. Isso tinha se tornado a minha coisa preferida... até agora. Ele estava me torturando dessa forma durante toda a semana, mas se recusava a me despir – ou me tocar em qualquer lugar divertido – até que fossemos jantar na segunda à noite, depois do trabalho.
Trenton me puxou em direção a ele e pressionou sua pélvis contra mim.
 ― Eu nunca esperei tanto por uma segunda-feira na minha vida.
Eu sorri, suspeita.
 ― Eu não sei por que você tem essas regras estranhas. Nós poderíamos quebrá-las a um metro de distância em sua sala.
Trenton cantarolava.
 ― Oh. Nós iremos.
Virei meu pulso para checar o relógio.
 ― Você não teve ninguém por uma hora e meia. Por que você não começa a esboçar aquela tatuagem no ombro que nós conversamos?
Trenton pensou por um momento.
 ― As papoulas?
Eu pulei para baixo do balcão, abri uma gaveta e tirei o desenho que Trenton tinha criado na semana anterior.
Segurei-o na sua frente.
 ― Elas são bonitas e muito significativas.
 ― Você já disse isso. Mas você não me disse por que elas são significativas.
 ― O Mágico de Oz. Elas fazem você se esquecer.
Trenton fez uma careta.
 ― O quê? Isso é burrice? ― Eu disse, imediatamente na defensiva.
 ― Não. É que sua referência ao Mágico de Oz me lembrou do novo nome que a namorada de Travis deu para Crook.
 ― Qual é?
 ― Toto. Travis disse que ela é do Kansas... é por isso que ele comprou essa raça, em primeiro lugar, blá, blá, blá.
 ― Eu concordo. Crook é melhor.
Trenton estreitou os olhos.
 ― Você realmente quer as papoulas?
Eu balancei a cabeça em um enfático sim.
 ― Vermelhas? ― ele questionou.
Eu levantei sua obra novamente.
 ― Apenas como essas.
Ele deu de ombros.
 ― Ok, bonequinha. Papoulas é o que será. ― Ele pegou minha mão, me levando de volta para sua sala.
Tirei a roupa enquanto Trenton terminava sua preparação, mas ele parou em tempo para me ver puxar a minha camisa sobre a minha cabeça, e em seguida, deslizar o meu braço esquerdo para fora da alça do meu sutiã preto rendado. Ele balançou a cabeça e sorriu ironicamente, divertindo-se com o strip-tease apropriado para todas as idades que eu tinha acabado de lhe dar.
No momento em que a máquina de tatuagem começou a zumbir eu estava completamente relaxada contra a cadeira. Trenton tatuar a minha pele era extraordinariamente íntimo. Havia algo sobre estar tão perto dele, a maneira como ele manipulava e esticava minha pele enquanto ele trabalhava, e o olhar de concentração em seu rosto enquanto ele permanentemente marcava a minha pele com uma de suas notáveis peças de arte. A dor era secundária a tudo isso. Trenton estava terminando o contorno quando Hazel e Calvin retornaram. Hazel tinha um saco na mão quando ela entrou na sala de Trenton.
 ― Eu trouxe para vocês uma fatia de cheesecake, ―  disse ela, notando meu ombro. ― Oh, isso ficará fodidamente incrível.
 ― Obrigada, ― eu disse, sorrindo.
 ― Está tão fraco assim, é? ― disse Calvin. ― Eu suponho que você não poderia ter pegado uma vassoura?
 ― Uh... ela não está vestida, Cal, ― disse Trenton, consternado.
 ― Ela não tem nada que eu não tenha visto antes, ― disse Calvin.
 ― Você não viu Cami antes. Cai fora.
Calvin simplesmente virou as costas para nós, cruzando os braços.
 ― Ela não pode encontrar algo para organizar quando não estamos ocupados? Estou pagando-lhe à hora.
 ― Tudo está organizado, Cal, ― eu disse. ― Eu varri tudo. Eu até mesmo tirei o pó.
Trenton franziu o cenho.
 ― Você reclama porque ela não tem tatuagens, e agora você está reclamando porque eu estou a tatuando. Faça sua maldita escolha.
Calvin esticou o pescoço para Trenton, rosnou, e depois desapareceu.
Hazel riu, claramente despreocupada com o confronto dos meninos.
Depois de Trenton medicar meu local da tatuagem, eu deslizei meu braço através da alça do meu sutiã – cuidadosamente – e, em seguida, puxei minha camisa por cima da minha cabeça.
 ― Você vai ser demitido se você continuar irritando-o.
 ― Não ― disse Trenton, limpando seu espaço de trabalho. ― Ele é secretamente apaixonado por mim.
 ― O Calvin não ama ninguém, ― disse Hazel. ― Ele é casado com esta loja.
Trenton estreitou os olhos.
 ― E quanto Bishop? Tenho certeza que ele ama Bishop.
Hazel revirou os olhos.
 ― Você precisa deixar isso ir.
Deixei os dois e fui até o balcão, notando um zumbido vindo da gaveta onde eu guardava o meu celular. Abri-a lentamente, e olhei para o visor. Era Clark.
 ― O que há de errado? ― perguntou Trenton, vindo por trás de mim para beijar uma pequena parte do meu ombro que não estava irritada e vermelha por causa da agulha.
 ― É Clark. Eu o amo, mas eu não estou com vontade de ficar de mau humor, sabe?
Os lábios de Trenton tocaram a borda externa do meu ouvido.
 ― Você não tem que responder, ― disse ele em voz baixa.
Segurando o telefone na palma da minha mão, eu não aceitei a chamada, e, em seguida, digitei uma mensagem.

@ Trabalho. Não posso falar. O que houve?
Almoço de família hoje. Não se esqueça.
Não posso hoje. Vou tentar na próxima semana.
Má ideia. Papai já está chateado pela sua ausência na semana passada.
Exatamente.
Ok. Vou deixar que eles saibam mais perto da hora.
Obrigada.

A hora marcada com Trenton foi o único cliente que tivemos durante todo o dia. O céu estava cheio de nuvens cinzentas baixas; o inverno ameaçava se atirar para cima de nós a qualquer momento. Com pelo menos dois centímetros e meio de granizo e gelo já nas estradas, muitas pessoas não estavam enfrentando o tempo. A loja não ficava longe do campus, por isso, normalmente víamos um fluxo constante de veículos passando em cada sentido, mas com o tempo uma porcaria, o tráfego era inexistente.
Trenton estava rabiscando em um pedaço de papel, e Hazel estava deitada em uma linha reta no chão em frente ao sofá de couro marrom que estava ao lado das portas de entrada. Eu estava digitando um trabalho para a escola. Calvin ainda não tinha saído de seu escritório.
Hazel soltou um suspiro dramático.
 ― Estou indo embora. Eu não posso aguentar isso.
 ― Não, você não está, ― Calvin gritou da parte de trás.
Um grito abafado emanou da garganta de Hazel. Quando ela terminou, ela ficou em silêncio por um momento, e, em seguida, sentou-se rapidamente, seus olhos brilhantes.
 ― Deixe-me furar seu nariz, Cami.
Eu fiz uma careta e balancei a cabeça.
 ― Inferno, não.
 ― Oh, vamos lá! Nós vamos por um diamante muito pequeno. Vai ser feminino, mas feroz.
 ― O pensamento de o meu nariz ser furado faz meus olhos encherem de água, ― eu disse.
 ― Eu estou tão entediada! Por favor? ― ela lamentou.
Eu olhei para Trenton, que estava sombreando seu desenho do que parecia ser um troll.
 ― Não olhe para mim. É o seu nariz.
 ― Eu não estou pedindo sua permissão. Eu quero a sua opinião, ― eu disse.
 ― Eu acho que é quente, ― disse ele.
Eu levantei minha cabeça um pouco impaciente.
 ― Ótimo, mas isso dói?
 ― Sim, ― disse Trenton. ― Eu ouvi que isso dói como um filho da puta.
Eu pensei por um momento, e então olhei para Hazel.
 ― Estou entediada, também.
Seu sorriso radiante se estendeu de um lado de seu rosto para o outro. Suas bochechas empurraram para cima, fazendo com que seus olhos parecessem apenas duas fendas.
 ― Sério?
 ― Vamos, ― eu disse, já andando em direção a sua sala.
Ela ficou de pé e seguiu.
No momento em que eu deixei Skin Deep, eu tinha um extenso trabalho riscado no meu ombro esquerdo, e um novo piercing no nariz. Hazel estava certa. Era pequeno e até mesmo delicado. Eu nunca teria pensado em colocar um piercing no nariz, mas eu adorei.
 ― Vejo você amanhã, Hazel, ― eu disse, andando em direção à porta.
 ― Obrigada por preservar a minha sanidade mental, Cami! ― Disse Hazel, acenando. ― Da próxima vez que estivermos lentos, nós vamos colocar alargadores nas suas orelhas.
 ― Uh... não, ― eu disse, empurrando a porta.
Entrei no Smurf e então Trenton correu até minha porta, sinalizando para eu rolar para baixo a minha janela. Quando eu fiz, ele se inclinou e beijou meus lábios.
 ― Você não ia sequer dizer adeus? ― ele questionou.
 ― Desculpa, ― eu disse. ― Estou um pouco fora de prática com essa coisa toda.
Trenton piscou.
 ― Eu também. Mas não vai demorar muito.
Apertei os olhos. ― Quando foi a última vez que esteve em um relacionamento?
O olhar no rosto de Trenton era um que eu não conseguia ler.
 ― Há alguns anos. O que foi? ― Ele disse. Eu tinha olhado para baixo e rido, e Trenton levantou meu queixo, obrigando-me a fazer contato visual.
 ― Eu não sabia que você alguma vez já tinha namorado com alguém.
 ― Ao contrário da crença popular, eu sou capaz de ser um homem de uma mulher só. Apenas tem que ser a mulher certa.
Minha boca puxou para o lado em um meio sorriso.
 ― Por que eu não sabia sobre isso? Parece que todo o campus teria falado sobre isso.
 ― Porque era novo.
Eu pensei por um momento, e então meus olhos se arregalaram.
 ― Foi Mackenzie?
 ― Por cerca de 48 horas, ― disse Trenton. Seus olhos perderam o foco, e então bateram de volta aos meus. Ele se inclinou e me deu um beijo suave na boca. ― Vejo você mais tarde? ― ele perguntou.
Eu balancei a cabeça, fechei minha janela, e em seguida, saí do estacionamento e entrei no estacionamento do Red quinze minutos mais tarde. As estradas não estavam melhorando, e eu me perguntava se o Red estaria tão morto quanto a Skin Deep.
Todos os veículos, exceto o de Jorie, estavam estacionados lado a lado, deixando um espaço aberto entre os carros dos empregados e o de Hank. Corri para a entrada lateral e esfreguei as mãos juntas enquanto eu corria para o meu banco no bar leste. Hank e Jorie estavam do outro lado juntos, abraçando e beijando mais do que o habitual.
 ― Cami! ― disse Blia, sorrindo.
Gruber e Kody estavam sentados juntos, e Raegan sentou-se ao meu lado. Imediatamente senti que ela estava quieta, mas não me atrevi a perguntar enquanto Kody estivesse por perto.
 ― Eu pensei que você não estivesse aqui, Jorie, ― eu disse. ― Eu não vi o seu carro.
 ― Eu vim com Hank, ― disse ela com um sorriso travesso. ― Carona é definitivamente um plus por morar junto.
Minhas sobrancelhas se ergueram.
 ― É? ― eu disse, levantando e abrindo os braços. ― Ela disse que sim? Vocês estão morando juntos?
 ― Sim! ― eles disseram em uníssono. Ambos se inclinaram sobre o bar e me abraçaram.
 ― Yay! Parabéns! ― Eu disse, apertando-os. Minha cabeça estava entre os dois deles, e mesmo que eu considerasse os funcionários da Red minha família do trabalho, eles me fizeram sentir mais como uma coisa real do que a minha família fez recentemente.
Todo mundo os abraçaram e ofereceram seus parabéns. Eles devem ter esperado eu chegar lá antes que anunciassem, assim eles poderiam dizer a todos nós ao mesmo tempo.
Hank tirou várias garrafas de vinho – coisas boas de seu estoque pessoal – e começou a encher os copos. Estávamos todos celebrando. Todos, menos Raegan. Sentei-me ao lado dela depois de um tempo, e cutuquei seu braço.
 ― O que foi, Ray? ― Eu perguntei em voz baixa.
Um pequeno sorriso tocou seus lábios.
 ― Tatuagem legal.
 ― Obrigada, ― eu disse, virando-me para o lado mostrando o meu pequeno piercing no nariz. ― Fiz isso, também.
 ― Uau. Seu pai vai cagar um gato selvagem.
 ― Derrame, ― eu disse.
Ela suspirou.
 ― Eu sinto muito. Eu não quero estragar a festa.
Eu fiz uma careta.
 ― O que há de errado?
 ― Está acontecendo de novo, ― disse ela, seus ombros caídos. ― O Brazil está ficando ocupado. Ele deixou bem claro que ele prefere estar com seus irmãos da fraternidade e em festas de futebol do que comigo. Ele fez a festa de aniversário de Abby em seu apartamento, no mês passado e nem sequer me convidou. Eu descobri sobre isso por Kendra Collins ontem à noite. Quero dizer... realmente? Nós brigamos feio hoje. Ele disse quase todas as coisas que ele disse da última vez.
Eu levantei uma sobrancelha.
 ― Isso é uma merda, Ray.
Ela assentiu com a cabeça e olhou para suas mãos no colo, e depois, por menos de um segundo, olhou para Kody. Ela riu uma vez, sem humor.
 ― Papai ama o Brazil. Tudo o que eu ouço falar em casa é ― suas sobrancelhas ficaram juntas e sua voz se aprofundou ao imitar o pai ― Jason Brazil seria aceito na Academia Naval em um piscar de olhos. Jason Brazil seria um candidato para o programa SEAL... blá, blá, blá. Papai acha que Jason iria ser um bom soldado.
 ― Eu não deixaria isso confundir seu julgamento. Parece que o enviar para Academia Naval é uma boa maneira de se livrar dele.
Raegan começou a rir, mas, em seguida, uma lágrima caiu por sua bochecha, e ela se inclinou para o meu ombro. Eu coloquei meu braço em torno dela, e a celebração a um bar de distancia morreu instantaneamente. Kody apareceu do outro lado de Raegan.
 ― O que há de errado? ― Ele perguntou, com uma preocupação genuína em seus olhos.
 ― Nada, ― disse ela, enxugando os olhos rapidamente.
Kody parecia ferido.
 ― Você pode me dizer, você sabe. Eu ainda me importo se você está sofrendo.
 ― Eu não posso falar com você sobre isso, ― ela disse, seu rosto enrugando.
Kody colocou o dedo sob o queixo de Raegan e levantou os olhos dela para encontrar os dele.
 ― Eu só quero que você seja feliz. Isso é tudo o que me importa.
Raegan olhou para os seus grandes olhos verdes, e, em seguida, jogou os braços em volta do peito dele. Ele a puxou contra ele, envolvendo a parte de trás de seu cabelo com sua mão enorme. Ele beijou sua testa, e apenas a abraçou, sem dizer uma palavra.
Levantei-me e me juntei aos outros, enquanto Kody e Raegan tinham seu momento.
 ― Jesus Cristo, isso significa que eles estão de volta? ― perguntou Blia.
Eu balancei minha cabeça.
 ― Não. Mas eles são amigos de novo.
 ― Kody é um bom cara, ― disse Jorie. ― Ela vai descobrir isso eventualmente.
Meu celular tocou. Era Trenton.
 ― Olá? ― eu respondi.
 ― A porra do Intrepid não quer ligar. Eu não acho que você poderia me pegar no trabalho?
 ― Você já está terminando? ― Eu perguntei, olhando para o relógio.
 ― Cal e eu estávamos conversando.
 ― Sim... Eu tenho que correr para casa para trocar de roupa para o trabalho hoje à noite, no entanto... ― A linha ficou em silêncio. ― Trenton?
 ― Sim? Quero dizer, sim. Desculpe, eu só estou chateado, porra. Isso tem um desses motores de 2,7 litros, então eu sabia que ia... você não tem ideia do que estou falando, não é?
Eu sorri, mesmo que ele não pudesse me ver.
 ― Não. Mas eu estarei lá em quinze minutos.
 ― Doce. Obrigado, baby. Leve o seu tempo. As estradas estão piorando.
Olhei para o telefone agarrado em meus dedos depois que eu desliguei. Eu amava o jeito que ele falava comigo. Os pequenos apelidos. As mensagens. Seu sorriso com aquela covinha incrível em sua bochecha esquerda.
Jorie piscou para mim.
 ― Deve ter sido um cara no telefone.
 ― Desculpe, eu tenho que ir. Vejo vocês esta noite.
Todo mundo acenou e se despediu de mim, e eu corri para o Smurf, quase escorregando quando tentei parar. As altas luzes de segurança estavam ligadas, quebrando a escuridão. A chuva congelante ardia onde tocava na minha pele e fazia pequenos barulhos quando batia contra os veículos estacionados.
Não é de admirar que Trenton disse que as estradas estavam piores. Eu não conseguia lembrar quando tínhamos tido esta precipitação de inverno assim no início da temporada.
O Smurf resistiu por alguns momentos antes de ligar, mas em poucos minutos da chamada de Trenton, eu estava dirigindo com cuidado de volta a Skin Deep. Trenton estava esperando do lado de fora em seu casaco azul, com os braços cruzados sobre o peito. Ele caminhou para o meu lado e esperou, olhando para mim com expectativa.
Eu abaixei a janela até a metade.
 ― Entre!
Ele balançou a cabeça.
 ― Vamos, Cami. Você sabe que eu sou estranho sobre isso.
 ― Pare com isso, ― eu disse.
 ― Eu tenho que dirigir, ― disse ele, tremendo.
 ― Você não confia em mim até agora?
Ele balançou a cabeça novamente.
 ― Isso não tem nada a ver com confiança. Eu só... Eu não posso. Isso mexe com a minha cabeça.
 ― Tudo bem, tudo bem, ― eu disse, deslizando para longe dele, sobre o console, e para o banco de passageiro.
Trenton abriu a porta e entrou, esfregando as mãos.
 ― Puta merda, está frio! Vamos mudar para a Califórnia! ― Assim que as palavras saíram de sua boca, ele se arrependeu delas, olhando para mim com choque e remorso em seus olhos.
Eu queria dizer a ele que estava tudo bem, mas eu estava muito ocupada lidando com a culpa e a vergonha que tomou conta de mim em enormes ondas sufocantes. T.J. não tinha me contatado em semanas, mas além de uma quantidade respeitável de tempo de espera entre os relacionamentos, este foi particularmente insultante – para TJ e para Trenton.
Puxei dois cigarros do meu maço e coloquei-os na minha boca, acendendo-os simultaneamente. Trenton puxou um fora da minha boca e deu uma tragada. Quando ele parou na minha vaga de estacionamento em frente ao meu apartamento, ele se virou para mim.
 ― Eu não quis dizer...
 ― Eu sei, ― eu disse. ― Está tudo bem. Vamos apenas esquecer isso.
Trenton assentiu claramente aliviado que eu não ia fazer um grande negócio disto. Ele não queria reconhecer o que quer que eu tenha deixado com TJ mais do que eu queria. Fingir estar inconsciente era muito mais confortável.
 ― Posso pedir-lhe um favor, no entanto? ― Trenton assentiu, esperando o meu pedido. ― Não diga nada a seus irmãos sobre nós ainda. Eu sei que Thomas, Taylor, e Tyler não estão com frequência na cidade, mas eu não estou realmente pronta para ter a conversa com Travis, da próxima vez que ele vir para o Red. Ele sabe sobre T.J. É só...
 ― Não, eu entendo. Até que Travis saiba, continuará a mesma coisa. Mas ele vai saber que algo está acontecendo.
Eu sorri.
 ― Se você disser a ele que você está trabalhando em mim, ele não vai ficar tão surpreendido mais tarde.
Trenton riu e acenou com a cabeça. Corremos para a porta do meu apartamento, e eu empurrei a chave na fechadura. Quando clicou, eu a empurrei completamente, e Trenton fechou atrás de si. Eu aumentei a temperatura do termostato, e depois comecei a caminhar em direção ao meu quarto, mas houve uma batida na porta. Eu congelei, e virei-me lentamente em meus calcanhares. Trenton me olhou por algum sinal de quem poderia ser. Eu dei de ombros.
Antes que qualquer um de nós pudesse ir até a porta, a pessoa do outro lado bateu violentamente com o lado de seu punho. Eu me encolhi, meus ombros erguendo-se para os meus ouvidos. Quando ficou quieto novamente, olhei pelo olho mágico.
 ― Foda-se! ― Eu sussurrei, olhando ao redor. ― É o meu pai.
 ― Camille! Você abra essa maldita porta! ― Ele gritou.
Ele murmurou algumas palavras juntas. Ele tinha bebido. Virei a maçaneta, mas antes que eu pudesse puxar, meu pai estava empurrando, indo diretamente para mim. Eu trotei para trás, parando quando minhas costas bateram no batente da porta que leva ao corredor.
 ― Estou cansado de sua merda, Camille! Você acha que eu não sei o que você está fazendo? Você acha que eu não vejo o desrespeito?
Trenton estava imediatamente ao meu lado, seu braço estendido entre mim e meu pai.
 ― Sr. Camlin, você precisa se afastar. Agora. ― Sua voz era calma, mas firme.
Surpreso ao ver outra pessoa dentro do apartamento, meu pai se afastou por um momento antes de se inclinar para o rosto de Trenton.
 ― Quem diabos você pensa que é? Este é um negócio pessoal, então dê o fora! ― Disse ele, sacudindo a cabeça em direção à porta.
Eu balancei a cabeça, implorando com os olhos para Trenton não me deixar sozinha. Meu pai me batia quando eu era uma criança, e me bateu com as costas da mão uma ou duas vezes, mas minha mãe sempre esteve lá para distraí-lo, e até mesmo redirecionar sua raiva. Esta foi a primeira vez que eu o vi fisicamente violento desde o ensino médio, porque a mãe finalmente se defendeu e disse-lhe que da próxima vez que ele bebesse seria a última vez – e ele sabia que ela estava falando sério.
Trenton franziu o cenho e baixou o queixo, com o mesmo olhar em seus olhos que ele tinha antes de atacar um inimigo.
 ― Eu não quero brigar com você, senhor, mas se você não sair, agora, eu vou fazer você sair.
Papai pulou em Trenton, e eles colidiram com a mesa de canto ao lado do sofá. O abajur caiu no chão com eles. O punho do meu pai estava voando, mas Trenton se esquivou, e moveu-se para contê-lo.
 ― Não! Pare com isso! Pai! Pare com isso! ― Eu gritei.
Minhas mãos cobriram minha boca enquanto eles lutavam. Papai afastou Trenton e se levantou, vindo em minha direção. Trenton ficou de pé e agarrou-o, puxando-o para trás, mas meu pai continuou a chegar para mim. O olhar nos olhos do meu pai era monstruoso, e pela primeira vez eu percebi exatamente o que minha mãe passou. Estar no lado errado desse tipo de raiva era aterrorizante.
Trenton atirou meu pai no chão e apontou para baixo enquanto ele estava em cima dele.
 ― Fique! Fodidamente! quieto!
Papai estava respirando com dificuldade, mas ele tropeçou em seus pés, obstinado. Seu corpo balançava enquanto ele falava.
 ― Eu vou fodidamente matá-lo. E então eu vou ensinar a ela o que acontece quando ela me desrespeita.
Tão rápido que eu quase perdi isso, Trenton recuou e enviou o seu punho no nariz do meu pai. Sangue explodiu quando meu pai cambaleou para trás, em seguida, caiu para frente, batendo no chão com tanta força que ele saltou. Ficou quieto e parado por vários segundos. Papai não se moveu, ele apenas ficou lá, de bruços.
 ― Oh, Jesus! ― Eu disse, correndo até ele. Eu estava com medo que ele estivesse morto, não porque eu fosse sentir falta dele, mas pelo problema que Trenton teria se ele o tivesse matado.
Eu puxei o ombro do meu pai até que ele rolou. O sangue estava escorrendo de um corte do outro lado da ponte de seu nariz. Sua cabeça caiu para o lado. Ele estava inconsciente.
 ― Oh, graças a Deus. Ele está vivo, ― disse eu. Eu cobri minha boca novamente, e olhei para Trenton. ― Eu sinto muito. Eu sinto muito.
Ele sentou-se sobre os joelhos em um estado de descrença.
 ― O que diabos aconteceu?
Eu balancei minha cabeça, e fechei os olhos. Quando meus irmãos descobrissem sobre isso seria uma guerra.

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