Capítulo 18

 NAS PRIMEIRAS HORAS DA MANHÃ DE SÁBADO, Trenton me enviou uma mensagem dizendo que estava na minha porta, então eu pulei da namoradeira e a abri.
 ― Eu tenho uma campainha, você sabe, ― eu disse.
Ele franziu a testa, tirando o casaco e pendurando na banqueta mais próxima.
 ― Onde estamos? Em 1997? ― Ele me agarrou e nos jogou sobre a parte de trás da namoradeira, caindo de costas, comigo em cima dele.
 ― Suave, ― eu disse, meus olhos caindo em seus lábios.
Ele se inclinou e me beijou, e logo levantou os olhos.
 ― Onde está Ray?
 ― Com o Brazil. Eles estão em um encontro. É por isso que ela saiu mais cedo do trabalho hoje à noite.
 ― Eles não estavam discutindo ontem?
 ― Por isso, o encontro.
Trenton balançou a cabeça.
 ― Eu estou maluco, ou ela estava mais feliz com Kody?
 ― Ela sente que esta é a sua segunda chance com Jason, então ela está tentando resolver os problemas, eu acho. Ela disse que ia dormir no apartamento dele esta noite.
Ele se sentou, trazendo-me com ele.
 ― Você conseguiu escrever o seu trabalho?
 ― Eu consegui, ― disse eu, levantando meu queixo. ― E já terminei minha lição de casa sobre estatísticas.
 ― Oh! ― Disse Trenton, envolvendo seus braços em volta de mim. ― Ela é bonita e inteligente!
 ― Não fique tão surpreso, idiota! ― Eu disse, fingindo insulto.
Trenton afastou seu boné vermelho para trás, e eu ri quando ele plantou pequenos beijos no meu pescoço. Quando percebemos – ao mesmo tempo – que estávamos sozinhos e que seria por toda a noite, minha risada desapareceu.
Trenton se inclinou, olhando para os meus lábios por um momento, e então pressionou sua boca contra a minha. A maneira como ele me beijou foi diferente de antes. Foi lento, cheio de significado. Ele até me segurou de uma maneira que me fez sentir como se fosse a primeira vez. De repente eu estava nervosa, e não sabia o porquê.
Seus quadris se moveram contra os meus em um movimento tão pequeno que eu me perguntava se eu tinha imaginado. Ele me beijou novamente, desta vez com mais firmeza, e sua respiração vacilou.
 ― Deus, eu quero você pra caralho.
Eu corri meus dedos para baixo de sua camiseta, peguei a barra inferior com ambos os punhos, e depois puxei. Em um movimento fluido, a camisa de Trenton estava fora, e sua pele quente e nua estava contra mim. Quando sua língua encontrou seu caminho para a minha, eu passei os dedos sobre sua pele lisa, desta vez os parando na parte inferior de suas costas.
Trenton ancorou-se sobre os cotovelos, impedindo de cair todo seu peso sobre mim, mas ele ainda manteve a protuberância sob a braguilha de sua calça jeans pressionada contra a parte macia logo abaixo do meu osso pélvico. Seus movimentos foram contidos, mas eu poderia dizer que ele queria se livrar do tecido entre nós, tanto quanto eu queria. Eu envolvi minhas pernas em volta dele, entrelaçando meus tornozelos atrás de sua bunda. Ele cantarolou, e depois sussurrou contra a minha boca.
 ― Este não é o jeito que eu queria fazer isso. ― Ele me beijou novamente. ― Eu queria levá-la para jantar primeiro.
 ― Sua namorada é uma barman que trabalha em todas as noites boas para encontros. Nós vamos fazer uma exceção, ― disse eu.
Trenton imediatamente se afastou de mim, procurando o meu rosto.
 ― Namorada?
Eu cobri minha boca com uma das mãos, sentindo todo o meu rosto pegando fogo.
 ― Namorada? ― Trenton perguntou novamente, desta vez soando mais como uma pergunta e menos como um momento ‘que porra é essa’.
Eu fechei meus olhos, e minha mão deixou minha boca para tocar minha testa, e então meus dedos foram para trás para agarrar meu cabelo.
 ― Eu não sei por que eu disse isso. Apenas saiu.
A expressão de Trenton mudou de confuso para um sorriso surpreso apreciativo.
 ― Eu estou bem com isso, se você estiver.
Os cantos de minha boca viraram para cima.
 ― Isso é de certa forma muito melhor do que o jantar.
Seus olhos examinaram meu rosto.
 ― Camille Camlin é minha. Isso é simplesmente louco.
 ― Não realmente. Tem sido uma longa jornada.
Ele balançou a cabeça lentamente.
 ― Você não tem ideia. ― Ele sorriu. ― Minha garota é fodidamente quente! ― Sua boca se chocou contra a minha, e, em seguida, ele puxou minha camisa sobre a minha cabeça, expondo o meu sutiã vermelho. Ele estendeu a mão nas minhas costas, e com uma mão apertou os fechos. Eles se soltaram. Ele deslizou as alças pelos meus ombros e meus braços e, em seguida, deixou um rastro de beijos quentes no meu pescoço e peito. Delicadamente, mas com um propósito,
Trenton segurou meu seio, e depois o levou a boca, chupando e lambendo e beijando até que eu estava tão excitada, que eu apertei seus quadris entre as minhas coxas.
Eu deixei minha cabeça cair para trás contra o braço da namoradeira, enquanto ele continuava a lamber e beijar o seu caminho até a minha barriga, e com as duas mãos, ele desabotoou e abriu o zíper do meu jeans, revelando minha calcinha preta e vermelha de renda. Ele balançou a cabeça e olhou para mim.
 ― Se eu soubesse que você estava usando coisas como essa, eu não teria sido capaz de esperar tanto tempo.
 ― Então, vá em frente com isso. ― Eu sorri.
Depois de algumas tentativas frustradas de manobrar na namoradeira, Trenton suspirou.
 ― Foda-se, ― disse ele, sentando-se, e me levando com ele. Com minhas pernas ainda envoltas em torno de seus quadris, ele me levou para o quarto.
Eu podia ouvir vozes abafadas bem do lado de fora da porta, e então ela explodiu aberta, batendo contra a parede. As bochechas de Raegan estavam manchadas com rímel, e ela estava usando o mais belo vestido de festa rosa que eu já vi.
 ― Você não entende! ― ela gritou. ― Você não pode me levar para um encontro em uma festa e, em seguida, deixar-me sozinha durante toda a noite para que você possa beber no barril de cerveja com os seus irmãos da fraternidade!
Brazil bateu a porta.
 ― Você poderia ter estado ali comigo, mas você estava empenhada em fazer beicinho toda a maldita noite!
Trenton congelou, de costas para Raegan e Brazil. Eu fiquei contente, pois sua cabeça estava obscurecendo a visão deles do meu peito.
Raegan e Brazil olharam para nós por alguns segundos e, em seguida, Raegan começou a chorar e correu para o quarto dela. Brazil a seguiu pelo corredor, mas deu um tapinha no ombro nu de Trenton primeiro.
Trenton suspirou, me abaixando para os meus pés. Ele estendeu a mão sobre a namoradeira para pegar a minha camisa enquanto eu colocava o meu sutiã. Raegan e Brazil ainda estavam gritando enquanto nós dois vestíamos nossas camisas. Eu não queria esse drama como pano de fundo para a nossa primeira vez juntos, e eu poderia dizer que Trenton também não queria.
 ― Desculpe, ― eu disse.
Trenton riu.
 ― Baby, cada segundo do que acabou de acontecer foi um bom tempo. Você não tem nada que se desculpar.
A porta do quarto de Raegan bateu, e Raegan gritou:
 ― Onde você está indo? ― O Brazil estava saindo feito um furacão pelo canto. Ela correu em volta dele e ficou entre ele e a porta. ― Você não está indo embora!
 ― Eu não vou ouvir você resmungar comigo por toda a noite!
 ― Se você apenas escutasse! Por que você não escuta o que eu estou tentando dizer a você? Nós podemos fazer funcionar se nós apenas...
 ― Você não quer que eu escute! Você quer que eu obedeça! Havia outras pessoas na festa além de você, Ray! Quando vai entrar na sua cabeça que você não é porra de minha dona?
 ― Isso não é o que eu quero, eu...
 ― Afaste-se da porta! ― ele gritou.
Eu fiz uma careta.
 ― Brazil, não grite com ela assim. Vocês dois beberam...
Brazil virou rapidamente, mais irritado do que eu jamais vi.
 ― Eu não preciso de você me dizendo o que fazer também, Cami!
Trenton deu um passo adiante, e eu coloquei minha mão em seu ombro.
 ― Eu não estou lhe dizendo o que fazer, ― eu disse.
Brazil apontou os quatro dedos e o polegar para Raegan.
 ― Ela está gritando comigo, caralho. Isso está bem, eu suponho? Vocês, mulheres, são fodidamente todas iguais! Nós sempre somos os caras maus!
 ― Ninguém disse que você era o cara mau, Jason, apenas acalme-se, ― eu disse.
 ― Eu disse! Ele é a porra do cara mau! ― Raegan rosnou.
 ― Ray... ― Eu adverti.
 ― Oh, eu sou o cara mau? ― Disse Brazil, tocando seu peito com as duas mãos. ― Eu não sou aquele que estava semi-nu com Trenton aqui, quando ela estava em seu jardim beijando o ex dela ontem à noite!
Raegan engasgou, e eu congelei. Brazil parecia estar tão surpreso que ele havia dito isso quanto o resto de nós. Trenton se moveu nervosamente, e então ele estreitou os olhos para o Brazil.
 ― Isso não é fodidamente engraçado, cara.
Brazil empalideceu. Sua raiva tinha desaparecido, substituída por arrependimento.
Trenton olhou para mim.
 ― Ele é cheio de merda, certo?
 ― Cristo, Cami, me desculpe, ― disse Brazil. ― Eu me sinto como um idiota agora.
Raegan o empurrou.
 ― Isso é porque você é um idiota! ― Ela moveu-se para o lado. ― A culpa é minha! Cai fora!
Trenton não tirou os olhos de mim. Raegan bateu a porta, e então se aproximou de mim e Trenton. Sua raiva se foi, mas seus olhos avermelhados e rímel manchado a faziam parecer como a rainha de um baile psicótico.
 ― Eu ouvi você chegar, mas você não entrou, Então, eu olhei para fora da janela, e vi... o que eu vi. Eu mencionei isso para o Brazil, ― ela admitiu, olhando para o chão. ― Eu sinto muito.
Trenton riu uma vez, seu rosto enroscando em desgosto.
 ― Porra, Raegan. Você sente muito que eu descobri? Isso é simplesmente ótimo.
Raegan inclinou a cabeça, determinada a acertar as coisas.
 ― Trent, o que eu vi foi T.J. implorando para voltar com a Cami. Mas ela recusou. Então ele... ele lhe deu um beijo de adeus. Não foi nem mesmo um beijo beijo, ― disse ela, encolhendo os ombros enquanto balançava a cabeça. ― Foi meio na bochecha.
 ― Eu cuido disso, Ray. Eu não preciso de sua ajuda, ―  eu disse.
Ela tocou meu ombro. Seu rosto estava manchado, seu rímel estava todo espalhado ao redor de seus olhos e suas bochechas. Ela parecia deplorável.
 ― Eu sinto muito. Eu sou...
Eu olhei para ela, e seus ombros caíram. Ela balançou a cabeça, em seguida, caminhou até o quarto dela. Trenton estava me olhando com o canto dos olhos, claramente tentando controlar seu temperamento.
 ― Você a ouviu? ― Eu perguntei.
Ele virou o boné para frente, e puxou-o sobre os olhos.
 ― Sim. ― Ele estava tremendo.
 ― Eu não estava beijando meu ex no jardim de Raegan. Isso não é o que aconteceu, então você pode simplesmente tirar essa imagem de sua cabeça.
 ― Por que você não me contou? ― Ele perguntou, com a voz tensa.
Eu segurei minhas mãos para o lado.
 ― Não havia nada a dizer.
 ― Alguém tinha os seus lábios filhos da puta em você. Isso é pertinente pra caralho, Camille.
Eu me encolhi.
 ― Não me chame de Camille quando você está chateado. Você soa como Colin. Ou o meu pai.
Os olhos de Trenton se iluminaram com raiva.
 ― Não me compare a eles. Isso não é justo.
Eu cruzei os braços.
 ― Como ele sabia que você estava lá? Você ainda está falando com ele? ― Ele questionou.
 ― Eu não sei como ele sabia. Eu perguntei a mesma coisa. Ele não quis me dizer.
Ele começou a andar para trás e para frente, da porta da frente para o início do corredor. Ele ajeitava o boné, esfregava a parte de trás do seu pescoço, e parava por um momento para colocar suas mãos em seus quadris, suas mandíbulas trabalhando sob a pele, e então ele começava tudo de novo.
 ― Trenton, pare.
Ele levantou um dedo indicador. Eu não tinha certeza se ele estava trabalhando em si mesmo ou tentando se manter calmo. Ele parou, e, em seguida, deu alguns passos em direção a mim.
 ― Onde ele mora?
Revirei os olhos.
 ― Na Califórnia, Trent. O que você vai fazer? Pegar um avião?
 ― Talvez! ― ele gritou. Seu corpo inteiro ficou tenso e balançou quando ele gritou. As veias do seu pescoço e testa ergueram-se para a superfície.
Eu não recuei, mas Trenton cambaleou para trás. A perda de seu temperamento o surpreendeu.
 ― Sente-se melhor? ― Eu perguntei.
Ele se inclinou, agarrando os joelhos. Ele tomou algumas respirações, e depois assentiu.
 ― Se ele alguma vez te tocar de novo ― ele se levantou e olhou direto nos meus olhos –  ― eu vou matá-lo. ― Ele pegou suas chaves, e então saiu pela porta, batendo-a atrás dele.
Eu fiquei lá por um momento em descrença, e então eu caminhei para o meu quarto. Raegan estava de pé ao lado da minha porta no corredor, seus olhos me implorando por trégua.
 ― Agora não, ― eu disse, passando por ela. Eu fechei a porta e cai de cara na minha cama.
A porta se abriu, seguido de silêncio. Olhei por cima do meu travesseiro. Raegan estava nervosamente pairando na porta, seu lábio inferior tremendo, e ela estava espremendo as mãos em seu peito.
 ― Por favor? ― ela implorou.
Minha boca puxou para o lado, e eu levantei o cobertor e fiz um gesto para que ela viesse para a cama com um aceno de cabeça. Ela correu, rastejou para debaixo das cobertas, e depois se enrolou em posição fetal ao meu lado. Eu a cobri com o cobertor, e depois a segurei enquanto ela chorava até dormir.
Acordei com uma batida suave na minha porta. Raegan entrou com um prato de panquecas bezuntadas na manteiga de amendoim e xarope de bordo. Tinha um palito se estendendo para fora do centro da pilha com uma bandeira de guardanapo branco no topo que dizia: DESCULPE, SUA COLEGA DE QUARTO É UMA IDIOTA.
Seus olhos estavam pesados, e eu podia ver que ela estava sofrendo mais do que eu sobre o que ela tinha feito. O perdão não era fácil para alguém como eu. Quando isso era concedido, mais frequentemente do que não, eu apenas estaria dando a alguém uma segunda chance de me machucar. A maioria das pessoas não se vale a pena investir. Isso não era a minha infância falando, era a dura verdade. Havia apenas algumas pessoas que eu confiava, e ainda menos que eu iria confiar novamente, mas Raegan superou ambas as listas.
Eu ri quando me sentei e, em seguida, peguei o prato dela.
 ― Você não tinha que fazer isso.
Ela ergueu um dedo, deixou o quarto por alguns segundos, e depois voltou com um pequeno copo de suco de laranja. Ela colocou-o sobre minha mesa de cabeceira, e, em seguida, sentou-se com as pernas cruzadas no chão. Seu rosto estava limpo, seu cabelo escovado, e ela tinha um novo conjunto de pijama de flanela listrado.
Ela esperou até que eu colocasse a primeira mordida na minha boca, e depois falou.
 ― Eu nunca pensei em um milhão de anos que Jason teria dito alguma coisa, mas isso não é uma desculpa. Eu não deveria ter dito a ele. Eu sei como esses caras falam na casa de fraternidade, e eu sabia que não devia dar-lhes algo para fofocar. Eu sinto muito. Vou segui-la até a Skin Deep hoje e explicar.
 ― Você já explicou, Ray. Eu acho que discutir isso no trabalho dele é uma má ideia.
 ― Ok, então eu vou esperar por ele depois do trabalho.
 ― Você vai estar no trabalho então.
 ― Droga! Eu preciso consertar isso!
 ― Você não pode consertar isso. Eu majestosamente ferrei tudo. Agora Trent está falando sobre ir para a Califórnia e matar T.J.
 ― Bem, T.J. não deveria ter ido a casa dos meus pais e beijado você. Ele sabe que você está com Trent. Qualquer coisa que você acha que esteja fazendo errado, T.J. está na mesma posição que você.
Eu cobri meu rosto.
 ― Eu não quero magoá-lo... nem ninguém. Eu não quero causar problemas.
 ― Você preciso deixá-los resolver isso.
 ― Esse cenário me aterroriza.
Raegan estendeu sua mão e colocou-a sobre a minha.
 ― Coma suas panquecas. E, em seguida, levante-se, porque a Skin Deep abre em 40 minutos.
Eu dei uma mordida e relutantemente mastiguei, apesar de ter sido a melhor coisa que eu comi em um longo tempo. Eu mal reduzi a pilha, e depois pulei no chuveiro. Eu entrei na loja dez minutos atrasada, mas isso não importou, porque Hazel e Trenton estavam atrasados também. Calvin estava lá porque a porta da frente estava aberta, o computador estava ligado, assim como as luzes, mas ele nem se preocupou em me cumprimentar.
Dez minutos depois, Hazel entrou pela porta, usando camadas de blusas e envolta em um lenço grosso, cor-de-rosa com bolinhas pretas. Ela usava seus óculos de aro preto e leggings pretas com botas.
 ― Estou farta do inverno! ― Disse ela, caminhando para a sala dela.
Dez minutos depois disso, Trenton chegou. Ele usava seu básico casaco azul, jeans e botas, mas ele tinha adicionado um gorro cinza desleixado e não tirou os óculos escuros quando caminhou para sua sala.
Eu levantei minhas sobrancelhas.
 ― Bom dia, ― eu disse a mim mesma.
Dez minutos depois disso, a porta se abriu novamente e soou quando um homem alto e magro entrou. Ele usava grandes alargadores pretos em suas orelhas, e tatuagens cobriam cada centímetro de pele que eu podia ver de seu queixo para baixo. Ele tinha longos cabelos viscosos, loiro queimado nas pontas, e o resto era castanho-claro. Estava, provavelmente, menos que um grau negativo lá fora, e ele estava em uma camiseta e bermuda.
Ele parou dentro bem ao lado da porta e olhou para mim com seus olhos castanhos-everdeados em forma de amêndoas.
 ― Bom dia, ― disse ele. ― Sem ofensa, mas quem diabos é você?
 ― Não ofendeu, ― eu disse. ― Sou Cami. Quem diabos é você?
 ― Eu sou Bishop.
 ― Já era hora de você aparecer. Calvin tem perguntado por você só durante dois meses.
Ele sorriu.
 ― Sério? ― Ele caminhou até o balcão e inclinou-se em seus cotovelos. ― Eu sou meio que importante por aqui. Eu não sei se você assiste aos shows de tatuagem ou não, mas eu fui destaque em um episódio no ano passado e agora eu viajo muito, fazendo shows em qualquer lugar. É como tirar férias para viver. Torna-se solitário, entretanto...
Trenton caminhou até o balcão, pegou uma revista e começou a folheá-la, ainda usando os óculos escuros.
 ― Ela tem dono, babaca. Vá preparar sua sala. Seu material está cheio de teias de aranha.
 ― Eu senti sua falta, também, ― disse Bishop, deixando-nos sozinhos. Ele caminhou para o que eu assumi que era a sua sala na extremidade oposta do corredor.
Trenton folheou mais algumas páginas da revista, jogou-a em cima do balcão e, em seguida, voltou para sua sala.
Eu o segui, cruzei os braços e me encostei ao batente da porta.
 ― Oh, o inferno não. Você não tem o direito de espantar Bishop e depois nem sequer me cumprimentar.
Ele olhou para mim, sentado em seu banquinho do lado oposto da cadeira do cliente, mas eu não podia ver seus olhos por causa de seus óculos escuros.
 ― Achei que você não iria querer falar comigo, ― disse ele, carrancudo.
 ― Tire seus óculos, Trenton. Isso é fodidamente irritante.
Trenton hesitou, e então tirou sua imitação de Ray- Ban, revelando seus olhos vermelhos brilhantes.
Levantei-me imediatamente.
 ― Você está doente?
 ― Mais ou menos. Ressaca. Bebi o meu peso de Maker’s Mark até às quatro da manhã.
 ― Pelo menos você escolheu uma bebida decente para ser estúpido.
Trenton franziu o cenho.
 ― Então... vamos fazer isso.
 ― O quê?
 ― O discurso de ‘’vamos ser amigos’’.
Eu cruzei os meus braços novamente, sentindo meu rosto ficar quente.
 ― Eu tinha certeza de que você estava provando a água do chuveiro na noite passada... agora eu sei que você estava bebendo isso.
 ― Só a minha namorada poderia fazer uma analogia doente assim e ainda soar quente.
 ― Ah, é mesmo? Sua namorada? Porque você meio que me pediu para terminar com você!
 ― Eu não acho que as pessoas terminam após o ensino médio, Cami... ― Disse ele, segurando a ponta de sua mão na sua têmpora.
 ― Você está com dor de cabeça? ― eu perguntei, pegando uma maçã da tigela de frutas de plástico no balcão ao lado da porta, e a joguei em sua cabeça.
Ele esquivou-se.
 ― Vamos lá, Cami! Droga!
 ― Notícia de última hora, Trenton Maddox! ― Eu disse, pegando uma banana da tigela. ― Você não vai matar ninguém por me tocar, a menos que eu não queira ser tocada! E mesmo assim, eu vou ser a única a cometer assassinato! Entendeu? ― Eu joguei a banana nele, e ele cruzou os braços, fazendo com que a fruta ricocheteasse para o chão.
 ― Vamos lá, baby, eu me sinto com uma merda, ― ele gemeu.
Eu peguei uma laranja.
 ― Você não vai sair de meu apartamento em um acesso de raiva, ou bater a minha maldita porta quando sair! ― Eu a lancei diretamente em sua cabeça, e acertei meu alvo.
Ele balançou a cabeça, piscou, e estendeu as mãos, tentando proteger sua cabeça.
 ― Tudo bem! Tudo bem!
Peguei um cacho de uvas de plástico verde.
 ― E a primeira coisa que você disser para mim no dia depois de ter sido um imbecil não será um convite para chutar seu estúpido rabo bêbado! ― Eu gritei as três últimas palavras, pronunciando cada sílaba. Eu joguei as uvas, e ele as pegou contra seu estômago.  ― Você irá se desculpar, e então você vai ser super fodidamente bom para mim pelo resto do dia, e me comprar doughnuts!
Trenton olhou ao redor do chão para todas as frutas, e então ele suspirou, olhando para mim. Um sorriso cansado se espalhou no seu rosto.
 ― Eu fodidamente te amo.
Olhei para ele por um longo tempo, surpresa e lisonjeada.
 ― Eu já volto. Eu vou pegar um copo de água e uma aspirina para você.
 ― Você também me ama! ― Ele gritou, apenas meio brincando.
Eu parei, virei sobre meus calcanhares, e, em seguida, caminhei de volta para sua sala. Fui até onde ele estava sentado, escarranchei nele, e, em seguida, toquei cada lado de seu rosto. Olhando em seus olhos avermelhados por mais tempo, eu sorri.
 ― Eu também te amo.
Ele sorriu radiante, olhando nos meus olhos.
 ― Você está falando fodidamente sério?
Inclinei-me e o beijei, e ele se levantou, nos fazendo girar.

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