Capítulo 2

MEU TELEFONE APITAVA PELA TERCEIRA VEZ. Eu o peguei da minha mesa de cabeceira para dar uma olhada. Era uma mensagem de Trenton.

Levante-se, preguiçosa. Sim, eu estou falando com você.

 ― Desligue seu telefone, idiota! Alguém está de ressaca! ― Raegan gritou de seu quarto.
Eu cliquei no modo silencioso e o coloquei de volta na mesa para carregar. Droga. O que eu estava pensando, dando a ele o meu número de telefone? Kody se arrastou pelo corredor e espiou, seus olhos ainda meio fechados.
 ― Que horas são?
 ― Nem mesmo oito.
 ― Quem está explodindo o seu telefone?
 ― Não é da sua conta, ― eu disse, virando para o meu lado. Kody riu, e então ele começou a bater frigideiras e panelas na cozinha, provavelmente se preparando para alimentar sua fome gigantesca.
 ― Eu odeio todo mundo! ― Raegan gritou novamente.
Sentei-me, deixando minhas pernas balançarem para fora da cama. Eu tinha todo o fim de semana de folga, algo que não acontecia desde o último fim de semana que eu tirei para ver TJ – e que ele cancelou. Naquela época, eu tinha limpado o apartamento até que meus dedos estivessem em carne viva e, em seguida, lavei, sequei e dobrei toda a minha roupa – e de Raegan.
Eu não iria lamentar em torno do apartamento desta vez, no entanto. Eu olhei para as fotos dos meus irmãos e eu na minha parede, ao lado de uma foto dos meus pais, e alguns dos desenhos que eu tinha tentado no colégio. Os quadros negros eram um forte contraste com as paredes brancas em todo o apartamento. Eu estava trabalhando para fazer isso parecer mais harmonioso – comprando um conjunto de cortinas com cada salário. Os pais de Raegan deram-lhe um cartão de presente para Pottery Barn para o Natal, de modo que agora tínhamos um jogo de jantar agradável e, uma mesa de café rústica cor de mogno.
Mas o apartamento ainda parecia como se tivéssemos acabado de nos mudar, mesmo que eu tenha vivido aqui por três anos e Raegan mais de um. Não era a mais bonita propriedade da cidade, mas pelo menos o bairro tinha famílias mais jovens e alguns profissionais, do que insolentes jovens universitários, e era longe o suficiente do campus que não tínhamos que lidar com um monte de tráfico diário. Não era muito, mas era um lar.
Meu telefone tocou. Revirei os olhos, pensando que fosse Trenton, e me inclinei para verificar o display. Era T.J.

Sinto sua falta. Nós deveríamos estar aconchegados na minha cama, em vez do que eu estou fazendo agora.
Cami não pode falar agora. Ela está de ressaca. Deixe uma mensagem após o sinal. BEEP.
Você saiu ontem à noite?
Você esperava que eu fosse ficar em casa e chorar até dormir?
Bom. Não me sinto tão mal, agora.
Não, continue a sentir-se mal. É realmente bom.
Eu quero ouvir a sua voz, mas eu não posso te ligar agora. Vou tentar chamar esta noite.
K.
K? Parece ser um desperdício de uma mensagem de texto.
Trabalho parece um desperdício de um fim de semana.
Touché.
Eu acho que vamos conversar mais tarde.
Não se preocupe, o rastejar será suficiente.
Espero bem que sim.

Era difícil ficar brava com T.J., mas era impossível se aproximar dele. Presumidamente, nós só estamos namoramos há seis meses. Os três primeiros foram surpreendentes, e depois T.J. foi designado para chefiar este serviço exigente. Ele me avisou como isso poderia ser, quando decidimos tentar fazer a distância funcionar. Foi a primeira vez que ele foi encarregado de um projeto inteiro, e ele era ao mesmo tempo um perfeccionista e um empreendedor. Mas a tarefa era a maior que ele já tinha trabalhado, e TJ queria ter certeza de que ele não perderia nada.
Isso – o que quer que fosse – era importante. Se ele se saísse bem, ele conseguiria uma promoção enorme. Ele mencionou em uma noite que talvez ele pudesse conseguir uma casa maior, e nós poderíamos discutir sobre eu possivelmente me mudar para lá o ano que vem.
Eu preferiria estar em qualquer outro lugar, menos aqui. Viver em uma pequena cidade universitária quando você não está exatamente na faculdade não é tão legal. Não havia nada de errado com a faculdade. Eastern State University - ESU era pitoresca, e bonita. Eu queria ir para lá desde que eu conseguia me lembrar, mas depois de apenas um ano nos dormitórios, eu tive que mudar para um apartamento próprio. Mesmo que isso fornecesse um refúgio seguro, longe da vida ridícula do dormitório, a independência vinha com suas próprias dificuldades. Eu estava atrasada apenas com algumas matérias de um semestre, e em vez de me formar este ano, eu era apenas uma estudante do segundo ano.
Os muitos sacrifícios que eu tinha feito para manter a independência que eu precisava, era exatamente o porquê eu não poderia me ressentir com TJ por fazer sacrifícios pela sua – mesmo que eu fosse o sacrifício.
A cama afundou atrás de mim, e a coberta sacudiu. Uma mão pequena e gelada tocou minha pele, e eu pulei.
 ― Droga, Ray! Tire suas frias mãos desagradáveis de mim.
Ela riu e me abraçou apertado.
 ― Já esfriou no período da manhã! Kody está misturando sua dúzia de ovos, e minha cama é como gelo agora!
 ― Deus, ele come como um cavalo.
 ― Ele é do tamanho de um cavalo. Em todos os lugares.
 ― Eca. Eca, eca, eca, ― eu disse, cobrindo meus ouvidos. ― Eu não precisava dessa visão no início da manhã. Ou nunca.
 ― Então, quem está explodindo o seu telefone? Trent?
Virei-me para ver sua expressão.
 ― Trent?
 ― Oh, não banque a tímida comigo, Camille Renee! Eu vi o olhar em seu rosto quando ele lhe entregou a bebida.
 ― Não tinha olhar nenhum.
 ― Havia definitivamente um olhar!
Eu apressei-me de volta em direção à borda da cama, empurrando Raegan até que ela percebeu o que eu estava fazendo e chiou quando ela caiu no chão com um baque.
 ― Você é má, um ser humano horrível!
 ― Eu sou má? ― Eu disse, inclinando-me sobre a borda da cama. ― Não fui eu que joguei a cerveja da menina no chão porque ela queria a mesa de volta.
Raegan sentou com as pernas entrecruzadas, e suspirou.
 ― Você está certa. Eu fui uma grande puta. Da próxima vez eu prometo colocar uma tampa na garrafa antes de jogá-la
Eu caí para trás contra o meu travesseiro e olhei para o teto.
 ― Você não tem jeito.
 ― Café da manhã! ― Kody chamou da cozinha.
Nós nos esbarramos para sair do quarto, rindo enquanto lutávamos para ser a primeira a sair da porta. Raegan sentou no banquinho atrás do balcão de café da manhã por cerca de meio segundo antes de eu chutá-la. Ela caiu de pé, mas de boca aberta.
 ― Você está apenas pedindo pra apanhar hoje!
Eu dei a primeira mordida no bagel de canela e passas com manteiga de maçã, e cantarolei enquanto a bomba calórica se derretia na minha boca. Kody passou noites suficientes aqui para ele saber que eu desprezava ovos, mas desde que ele me fazia um café da manhã alternativo, eu perdoava o cheiro pútrido de ovo que enchia nosso apartamento cada vez que ele passava a noite.
 ― Então, ― disse Kody enquanto mastigava, ― Trent Maddox.
Eu balancei minha cabeça.
 ― Não. Nem comece.
 ― Parece que você já começou, ― disse Kody com um sorriso irônico.
 ― Vocês estão agindo como se eu tivesse ficado toda em cima dele. Nós conversamos.
 ― Ele te comprou quatro bebidas. E você deixou, ―  afirmou Raegan.
 ― E te acompanhou até o carro, ― disse Kody.
 ― E vocês trocaram números de telefone, ― disse Raegan.
 ― Eu tenho um namorado, ― eu disse, um pouco presunçosa e talvez um pouco arrogante. Ser encurralada fazia coisas estranhas para mim.
 ― Que você não vê há quase três meses, e quem cancelou com você duas vezes, ― disse Raegan.
 ― Então, ele é egoísta, porque ele é dedicado ao seu trabalho e quer subir na vida? ― Eu perguntei, realmente não querendo ouvir a resposta. ― Todos nós sabíamos que isso ia acontecer. T.J. foi honesto desde o início sobre como exigente o seu trabalho poderia ser. Por que eu sou a única que não ficou surpresa?
Kody e Raegan trocaram olhares, e, em seguida, continuaram a comer seus repugnantes fetos de galinha.
 ― O que vocês vão fazer hoje? ― eu perguntei.
 ― Eu vou almoçar na casa dos meus pais, ― disse Raegan. ― E Kody também.
Parei no meio da mordida, e puxei meu bagel da minha boca.
 ― Sério? Isso é meio que uma grande coisa, ― eu disse com um sorriso.
Kody sorriu.
 ― Ela já me avisou sobre o pai dela. Eu não estou nervoso.
 ― Não está? ― Eu perguntei, sem acreditar.
Ele balançou a cabeça, mas parecia menos confiante.
 ― Por quê?
 ― Ele é um SEAL da marinha aposentado, e Raegan não é apenas a sua filha. Ela é sua única filha. Ele é um homem que tem se esforçado para perfeição e se empurrou para além dos seus limites em toda a sua vida. Você acha que vai chegar à casa dele, ameaçando levar dele mais tempo e atenção de Raegan, e ele simplesmente vai recebê-lo para a família?
Kody estava sem palavras. Raegan estreitou os olhos para mim.
 ― Obrigada, amiga. ― Ela acariciou a mão de Kody. ― Ele não gosta de ninguém inicialmente.
 ― Exceto eu, ― eu disse, levantando a mão.
 ― Exceto Cami. Mas ela não conta. Ela não é uma ameaça à virgindade da sua filha.
Kody fez uma careta.
 ― Não foi com Jason Brazil quatro anos atrás?
 ― Sim. Mas meu pai não sabe disso, ― disse Raegan, um pouco irritada que Kody disse ‘o nome que não devemos falar’.
Jason Brazil não era um cara mau, só fingia ser. Todos nós fomos para a escola juntos, mas Jason era um ano mais novo. Eles decidiram selar o acordo antes que ela fosse para a faculdade, esperando que solidificassem seu relacionamento. Eu pensei que ela se cansaria de ter um namorado que ainda estava no colégio, mas Raegan foi dedicada, e eles passaram a maior parte de seu tempo juntos. Não muito tempo depois que Jason começou seu próprio primeiro ano na ESU, as maravilhas da faculdade, juntar-se a fraternidade, e ser a estrela do futebol da ESU o manteve ocupado, e a mudança gerou argumentos toda noite. Ele respeitosamente terminou o relacionamento, e nunca falou uma palavra ruim sobre ela. Mas ele tomou a virgindade de Raegan e depois não cumpriu sua parte do acordo: passar o resto de sua vida com ela. E, por isso, ele era eternamente o inimigo desta casa.
Kody terminou seus ovos, e então começou a lavar os pratos.
 ― Você cozinhou. Eu lavo, ― eu disse, empurrando-o para longe da máquina de lavar louça.
 ― O que você vai fazer hoje? ― Perguntou Raegan.
 ― Estudar. Fazer aquele trabalho para entregar segunda-feira. Posso ou não tomar banho. Definitivamente não vou aos meus pais explicar por que não deixei a cidade como o planejado.
 ― É compreensível, ― disse Raegan. Ela sabia o real motivo. Eu já tinha dito aos meus pais que ia ver TJ, e eles gostariam de saber por que ele tinha cancelado novamente. Eles já não o aprovavam, e eu não tinha nenhum interesse em perpetuar o ciclo disfuncional de hostilidade que era criado quando mais do que um de nós estava na mesma sala. Papai ficaria em um humor hostil como ele sempre ficava, e alguém iria falar demais, como sempre fazíamos, e meu pai gritaria. Mamãe iria implorar para ele parar. E de alguma forma isso sempre iria acabar sendo culpa minha.
Você é uma idiota por confiar nele, Camille. Ele mantém segredos, meu pai havia dito. Eu não confio nele. Ele observa tudo com aqueles olhos de críticos.
Mas essa foi uma das razões pela qual me apaixonei por ele. Ele me fazia sentir tão segura. Não importa onde fossemos ou o que acontecia, ele iria me proteger.
 ― T.J. sabe que você saiu ontem à noite?
 ― Sim.
 ― Ele sabe sobre Trent?
 ― Ele não perguntou.
 ― Ele nunca pergunta sobre suas noitadas. Se Trent não fosse grande coisa, você mencionaria isso, ― disse Raegan com um sorriso.
 ― Cale a boca. Vá para a casa de seus pais e deixe o seu pai torturar Kody.
As sobrancelhas de Kody se levantaram e Raegan balançou a cabeça, acariciando seu enorme ombro enquanto eles caminhavam para seu quarto.
 ― Ela está brincando.
Quando Raegan e Kody saíram algumas horas depois, abri meus livros e meu notebook, e comecei a escrever meu artigo sobre os efeitos de crescer com um computador pessoal.
 ― Quem vem com essa merda? ― Eu gemi.
Quando meu trabalho estava escrito e impresso, comecei a estudar para o teste de psicologia que eu teria na sexta-feira. Eu tinha uma semana ainda, mas a experiência me ensinou que, se eu esperasse até o último minuto, algum imprevisto poderia acontece. Não era como se pudesse estudar no trabalho, e este teste seria particularmente difícil.
Meu celular apitou. Era Trenton novamente.

Isso é novo. Nunca uma garota me deu o seu número e então me ignorou.

Eu ri, e peguei meu telefone com as duas mãos, apertando as letras.

Não estou ignorando você. Estou estudando.
Precisa de uma pausa?
Não até eu acabar.
Ok, e então podemos comer? Estou morrendo de fome.
Fizemos planos para comer?
Você não come?
...sim?
K, então. Você pretende comer. Eu pretendo comer. Vamos comer.
Eu tenho que estudar.
K... DEPOIS podemos comer?
Vc não tem que esperar por mim. Vá em frente.
Eu sei que eu não preciso. Eu quero.
Mas eu não posso. Então vá em frente.
K.

Coloquei o meu telefone no silencioso, e deslizei para debaixo do meu travesseiro. Sua persistência era tão admirável quanto irritante. Eu sabia quem era Trenton, é claro. Nós estávamos na mesma turma de formandos em Eakins High. Eu o vi crescer de um garoto sujo com meleca no nariz que comia lápis vermelho e cola, para o homem alto, tatuado, excessivamente encantador que ele era agora. A partir do momento que ele conseguiu sua carteira de motorista, sua fama se fez entre os colegas de escola e alunas da universidade, e eu jurei que nunca seria uma delas. Não que ele já tivesse tentado. Até agora. Eu não queria ficar lisonjeada, mas era difícil não ficar depois de ser uma das poucas mulheres com quem Trenton e Travis Maddox nunca tinham tentado dormir. Eu acho que isso prova que eu não poderia ser completamente ruim de aparência. T.J. é incrivelmente bonito, e agora Trenton manda mensagens de texto. Eu não sabia o que havia de diferente em mim entre a escola e a faculdade que chamou a atenção de Trenton, mas eu sabia que eu estava diferente para ele.
Menos de dois anos antes, a vida de Trenton mudou. Ele estava andando no banco do passageiro do Jipe Liberty de Mackenzie Davis para uma festa na fogueira nas férias de primavera. O Jipe estava irreconhecível quando foi arrastado de volta para cidade por uma carreta no dia seguinte, assim como Trenton quando voltou para o Eastern. Absorvido pela culpa da morte de Mackenzie, Trenton não conseguia se concentrar na aula, e em meados de abril, ele decidiu voltar a morar com o pai e largou todas as suas aulas. Travis tinha mencionado algumas coisas sobre seu irmão nas noites calmas no Red, mas eu não tinha ouvido muito mais sobre Trenton.
Depois de mais meia hora de estudo e mastigar as minhas unhas, meu estômago começou a rosnar. Fui até a cozinha e abri a geladeira. Molho Ranch. Coentro. Por que diabos a pimenta do reino está na geladeira? Ovos... eca. Iogurte sem gordura. Pior ainda. Abri o congelador. Vencedor: Burritos congelados.
Pouco antes de pressionar os botões do micro-ondas, uma batida soou na porta.
 ― Raegan! Pare de esquecer suas malditas chaves! ― Meus pés descalços caminharam em torno do balcão de café da manhã e por todo carpete bege. Depois de torcer o trinco, eu abri a porta de metal, e eu instantaneamente cruzei meus braços sobre os meus seios. Eu estava apenas de blusa branca e short, sem sutiã. Trenton Maddox estava na porta, segurando dois sacos de papel branco.
 ― Almoço, ― disse ele com um sorriso.
Por meio segundo, a minha boca refletiu a dele, mas isso desapareceu rapidamente.
 ― Como você sabia onde eu moro?
 ― Eu perguntei por aí, ― disse ele, passando por mim.
Ele apoiou os sacos no balcão, e começou a puxar recipientes de alimentos.
 ― Do Golden Chick. O purê de batatas e molho de carne deles me lembra da minha mãe. Não sei ao certo o porquê. Não me lembro dela cozinhando.
A morte de Dianne Maddox mexeu com nossa cidade. Ela estava envolvida no APM, na Liga de Assistência Social Junior, e treinou a equipe de futebol de Taylor e Tyler por três anos antes de ser diagnosticada com câncer. Isso me pegou de surpresa quando ele a mencionou tão casualmente, embora eu ache que isso não deveria ter pegado.
 ― Você sempre ataca de surpresa o apartamento de uma menina com comida?
 ― Não, mas já era tempo.
 ― Tempo para quê?
Ele olhou para mim, com o rosto inexpressivo.
 ― Para o almoço. ― Ele entrou na cozinha e começou a abrir os armários.
 ― O que você está fazendo agora?
 ― Pratos? ― ele questionou.
Eu apontei para o armário certo, e ele puxou dois, colocou-os na mesa, e então começou a pegar o purê de batatas, molho, milho, e dividiu o frango. E então saiu.
Eu estava ao lado da bancada, no meu pequeno apartamento tranquilo, com o cheiro de frango e molho flutuando no ar. Isso nunca tinha acontecido comigo antes, e eu não tinha certeza de como reagir.
De repente a porta se abriu, e Trenton entrou, chutando a porta atrás de si. Ele estava segurando dois copos grandes de isopor com canudos.
 ― Eu espero que você goste de Cherry Coke5, bonequinha, ou não poderemos ser amigos. ― Ele colocou as bebidas ao lado de cada prato, e, em seguida, sentou-se. Ele olhou para mim. ― Bem? Você vai se sentar ou quê?
Eu sentei. Trenton colocou a primeira porção de comida em sua boca, e, depois de alguma hesitação, eu fiz o mesmo. Foi como um pequeno paraíso na minha língua, e uma vez que eu comecei, a comida no meu prato, simplesmente, desapareceu. Trenton ergueu um DVD do filme Spaceballs.
 ― Eu sei que você disse que estava estudando, por isso, se você não puder, não pode, mas eu peguei isso emprestado de Thomas na última vez que ele esteve na cidade, e eu ainda não assisti.
 ― Spaceballs? ― eu perguntei, erguendo uma das minhas sobrancelhas. Eu tinha visto isso com T.J. um milhão de vezes. Era uma espécie de ― coisa nossa ― . Eu não assistiria com Trenton.
 ― Isso é um sim?
 ― Não. Foi muito legal da sua parte trazer o almoço, mas eu tenho que estudar.
Ele deu de ombros.
 ― Eu posso ajudar.
 ― Eu tenho um namorado.
Trenton não se intimidou.
 ― Ele não se parece como um. Nunca o vi por perto.
 ― Ele não mora aqui. Ele é... ele faz faculdade, na Califórnia.
 ― Ele nunca vem te visitar?
 ― Ainda não. Ele está ocupado.
 ― Ele é daqui?
 ― Não é da sua conta.
 ― Quem é?
 ― Também não é da sua conta.
 ― Tudo bem, ― disse ele, pegando o nosso lixo e o jogando na lata da cozinha. Ele pegou meu prato e depois o dele, e enxaguou-os na pia. ― Você tem um namorado imaginário. Eu entendo.
Eu abri minha boca para argumentar, mas ele fez um gesto para a máquina de lavar louça.
 ― Isso limpa?
Eu balancei a cabeça.
 ― Você vai trabalhar hoje à noite? ― Perguntou ele, carregando a máquina de lavar louça, e, em seguida, procurou por sabão. Quando o encontrou, ele derramou um pouco no pequeno recipiente e, em seguida, fechou a porta, pressionando o botão de ligar. A sala se encheu com um som baixo.
 ― Não, eu tenho o fim de semana de folga.
 ― Incrível, eu também. Eu volto mais tarde pra te pegar.
 ― O quê...? Não, eu...
 ― Vejo você às sete! ― A porta se fechou, e mais uma vez o apartamento estava em silêncio.
O que acabou de acontecer? Corri para o meu quarto e peguei meu celular.

Não vou a lugar nenhum c/ vc. Eu disse a vc, eu tenho um namorado.
Hmm.

Fiquei de boca aberta. Ele realmente não ia aceitar um não como resposta. O que eu ia fazer? Deixá-lo ficar na minha porta, batendo até desistir? Isso era rude. Mas ele também era! Eu disse que não!
Não havia nenhuma razão para se irritar. Raegan estaria em casa, provavelmente com Kody, e ela podia dizer a ele que eu saí. Com outra pessoa. Isso explicaria por que o meu carro ainda estava em sua vaga do estacionamento.
Eu era bem inteligente. Inteligente o suficiente para ter ficado distante de Trenton por todos esses anos. Eu o tinha visto flertar, seduzir e escapar desde que éramos crianças. Não havia absolutamente nenhum truque que Trenton Maddox poderia jogar que eu não estivesse preparada.

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