Capítulo 24
― TODO MUNDO SE FOI. É UMA TRAGÉDIA DE MERDA,
― afirmou Raegan. ― Essas lutas malditas. Essas lutas malditas!
― Tão dramática, ― eu disse, observando-a raivosamente
encher um quarto do seu copo vazio. ― Você se lembra da última vez que você
amaldiçoou o Círculo? Todos eles vieram depois, trabalhamos pra caralho, e
todos eles foram expulsos antes que pudessem sequer pedir uma bebida.
― Eu me lembro, ― disse Raegan, apertando o
rosto para cima com a palma da sua mão. Ela bufou, e sua franja levantou.
― Não fique tão triste, baby! ― Kody chamou do
outro lado da sala.
Uma menina entrou correndo, fazendo
Kody estremecer por meio segundo em reação. Ela falou rapidamente com um dos
cinco homens nas mesas de sinuca, puxou-lhe o braço, e ambos correram para fora
a toda a velocidade.
Então eu notei pessoas verificando
suas mensagens de texto, e respondendo seus telefones, e depois saindo
correndo. Raegan notou também. Ela se levantou, puxando as sobrancelhas.
― Isso é... estranho. ― Ela acenou para Kody. ―
Briga do lado de fora?
Ele se inclinou para trás, tentando
fazer contato visual com Gruber na entrada.
― Alguma coisa está acontecendo lá fora? ― Ele
gritou. Sua voz explodiu, mais alta até que a música clube. Kody balançou a
cabeça para Raegan. ― Nada.
Blia entrou correndo, segurando o
telefone.
― Puta merda! Está por todo Facebook! ― ela
gritou. ― Keaton Hall está queimando!
― O quê? ― Sentei-me, todos os músculos do meu
corpo enrijeceram.
― Desliga essa merda! ― Hank gritou para o DJ.
A música foi silenciada, e Hank pegou o controle remoto, ligando a
TV de tela plana que normalmente
transmite esportes. Ele trocou os canais até que a notícia apareceu. A imagem
escura estava trêmula, mas finalmente entrou em foco. Fumaça estava surgindo de
Keaton e os estudantes aterrorizados estavam correndo pelo gramado. A legenda
dizia ‘’Vídeo amador registrado por
telefone celular fora do Eastern State University
Keaton Hal.l’’.
― Não. Não! ― Eu gritei, agarrando minhas
chaves. Eu empurrei a porta articulada do bar, dando dois passos antes de
Hank me puxar de volta.
― O que você está fazendo? ― Disse Hank.
― Trent está lá! Ele está na luta de Travis! ―
, eu me puxei de seu aperto, mas ele não estava me deixando ir.
Jorie apareceu ao nosso lado, com os
olhos cintilando.
― Você não pode ir lá, Cami. O lugar está
pegando fogo! ― Eu lutei contra Hank. ― Deixe-me
ir! Deixe-me ir! ― Eu gritei.
Kody veio, mas em vez de me ajudar,
ele ajudou Hank, me segurando no lugar. Gruber correu ao redor do canto, mas
ele parou vários metros de distância, observando com os olhos arregalados.
― Shh, ― disse Raegan, gentilmente me puxando para
longe deles. ― Ligue para ele, ― disse ela, entregando-me o telefone.
Peguei o celular, mas minhas mãos
tremiam tanto que eu não conseguia pressionar os números. Raegan pegou o telefone
de mim.
― Qual é o número dele?
― Quatro-zero-dois-um-quatro-quatro-oito, ― eu
disse, tentando não surtar mais do que eu já estava. Meu coração estava tentando
bater para fora do meu peito, e eu estava com falta de ar após minha luta com
Hank e Kody.
Nós esperamos. Ninguém se movia.
Ninguém falava.
Os olhos de Raegan dançavam ao redor,
até que eles finalmente se estabeleceram em mim. Ela balançou a cabeça. Eu não
esperei para dar-lhes uma chance de me conter novamente. Eu corri para a
entrada e me arremessei através das portas duplas, para o meu jipe. Minhas mãos
ainda tremendo, levou-me algumas tentativas antes que eu conseguisse colocar a
chave na ignição, e quando o motor ligou, eu o tirei para fora do
estacionamento.
O campus ficava a menos de dez
minutos de distância, e eu subi em vários meios-fios para passar o tráfego e chegar
ao estacionamento mais próximo do Keaton Hall. A cena era ainda mais
assustadora pessoalmente. A água dos carros de bombeiros já tinha ensopado o
chão e atingido o asfalto. Enquanto eu corria pelo gramado, minhas botas
escorregavam na grama molhada.
As luzes vermelhas e azuis dos
veículos de emergência iluminaram os edifícios ao redor. Pareciam quilômetros
de mangueiras saindo dos hidrantes para várias janelas e portas de Keaton, onde
os bombeiros tinham corrido em direção ao perigo. As pessoas estavam gritando e
chorando, e chamando os nomes. Dezenas de corpos estavam deitados em uma linha,
cobertos com cobertores de lã amarelos. Caminhei ao longo deles, olhando para
os sapatos, rezando para não encontrar as botas amarelas de trabalho de Trenton.
Quando cheguei ao fim da linha, eu recuei. Um par de pés estava faltando um
salto. O outro pé estava nu, exibindo os dedos perfeitamente tratados. O dedão
do pé estava pintado de preto-e-branco, com um coração vermelho. Quem quer que
ela fosse, ela estava viva quando esses dedos foram pintados, e agora ela
estava deitada sem vida no chão molhado e frio.
Cobri minha boca, e então comecei a
procurar os rostos ao meu redor.
― Trent! ― eu gritei. ― Trenton Maddox! ― Quanto
mais tempo passava, mais corpos eram arrastados para fora, e menos pessoas iam
sendo salvas. Parecia uma zona de guerra.
Muitos dos meus colegas iam para
essas lutas – colegas da faculdade e do ensino médio. Desde que eu tinha
chegado ao local, eu não tinha cruzado com nenhum deles. Eu não vi Travis, ou Abby,
e eu me perguntei se eles estavam entre os mortos também.
Mesmo se Trenton tivesse conseguido
sair e seu irmão não, ele ficaria devastado. Depois de um tempo, o local ficou assustadoramente
tranquilo. O choro foi reduzido para lamúrias, o único som era do zumbido das
mangueiras e dos gritos ocasionais entre bombeiros. Eu tremi, e percebi pela
primeira vez que eu não estava usando um casaco.
Meu celular tocou, e eu quase deixei
cair ao tentar colocá-lo no meu ouvido.
― Olá? ― eu chorei.
― Cami? ― Disse Raegan. ― Fique aí! Trent está
a caminho para chegar a você!
― O quê? Você falou com ele?
― Sim! Ele está bem! Fique aí!
Eu desliguei, e segurei o telefone no
meu peito, tremendo incontrolavelmente, e olhando ao redor, esperando e torcendo
para que Raegan estivesse certa. Trenton apareceu, uma centena de metros de
distância, correndo a toda velocidade em minha direção.
Minhas pernas cederam, e eu caí de
joelhos, soluçando. Trenton caiu na minha frente, envolvendo seus braços em
volta de mim.
― Eu tenho você! Eu estou aqui!
Eu não podia falar. Eu não podia
fazer nada além de chorar e me agarrar em sua camisa. Trenton arrancou seu
casaco e colocou-o sobre meus ombros, e, em seguida, seus braços estavam em
volta de mim de novo, me balançando até que me acalmasse.
― Está tudo bem, baby, ― disse ele, sua voz
calma e suave. Seu rosto estava manchado de fuligem e suor, e sua camisa estava
imunda. Ele cheirava como uma fogueira, mas eu ainda enterrei meu rosto em seu
peito.
― E Travis e Abby? ― Eu finalmente consegui perguntar.
― Eles estão bem. Vamos, ― disse ele,
preparando-se para ficar em pé. ― Vamos para casa, onde está quente.
Trenton dirigiu o jipe para o meu
apartamento. Hank tinha fechado o bar, por respeito, então Raegan e Kody
ficaram aninhados na namoradeira, assistindo ao noticiário enquanto
Trenton e eu nos revezamos no
chuveiro. Vestindo um moletom cinza e meias felpudas, eu me aconcheguei em
Trenton no meu quarto. Abracei-o com força, pressionando minha têmpora contra o
seu lado. Meu cabelo molhado estava encharcando sua camiseta do Spaceballs, mas ele não se importou. Era tudo muito difícil de
processar, de modo que apenas nos sentamos em silêncio, segurando um ao outro
até que eu, espontaneamente, me desmanchei novamente.
Kody bateu na minha porta, e então
ele entrou, seguido por Raegan. Ela olhou em todos os lugares, menos nos meus
olhos.
― A mãe de Baker acabou de ser entrevistada.
Ele não conseguiu.
Eu estava arrasada, mas eu não
conseguia mais chorar. Eu só fechei os olhos, e meu lábio tremia. Trenton me segurou
perto, e nós dois pulamos quando seu celular tocou.
Ele olhou para o aparelho. Ele tocou
de novo.
― É apenas um número.
― Local? ― eu perguntei. Ele tocou uma
terceira vez.
Ele acenou com a cabeça.
― Atenda.
Ele segurou o telefone no ouvido,
hesitante.
― Alô? ―
Depois de uma breve pausa, ele
abaixou o telefone para seu colo.
― Tarde demais.
Kody e Raegan foram para a cama, mas
eu apenas fiquei ali no colo de Trenton. Eu não queria desligar as luzes. Eu queria
vê-lo, com os meus próprios olhos, e saber que ele estava vivo e bem.
Trenton passou os dedos pelo meu
cabelo.
― Eu a deixei, ― disse ele.
Eu me sentei.
― Quem?
― Abby. Travis não podia chegar até nós. Ele
ia sair pelo caminho que todo mundo entrou, e Abby ia nos levar através do
caminho de volta. Nós nos perdemos. Nós passamos por um monte de garotas
perdidas. Elas estavam seguindo um cara, mas ele estava tão perdido quanto
elas. Eu entrei em pânico, ― ele balançou a cabeça, olhando para a parede. ― E
eu a deixei, porra, ― uma lágrima caiu
por sua bochecha e ele olhou para baixo.
― Ela saiu, ― eu disse, tocando sua coxa.
― Eu prometi a Travis que eu iria cuidar dela.
Quando isso se tornou uma situação de vida ou morte, eu amarelei.
Eu peguei seu queixo e virei seu
rosto para mim.
― Você não amarelou. Você tem instintos
fortes, e sua mãe está do outro lado protegendo você. O que aconteceu com
aquele grupo que você passou?
― Eu quebrei uma janela e eu levantei o cara,
e depois levantei as meninas, para que pudessem sair.
― Você salvou suas vidas. De jeito nenhum esse
cara poderia ter feito isso por conta própria. Sua mãe ajudou Travis a encontrar
o caminho até Abby, e ela ajudou você a salvar mais vidas. Isso não é amarelar. Isso é assumir responsabilidade.
A boca de Trenton levantou devagar, e
ele se inclinou para mim, beijando meus lábios.
― Eu estava tão assustado pensando que nunca
iria vê-la novamente.
Meu lábio começou a tremer de novo, e
eu pressionei minha testa contra a dele, balançando a cabeça.
― Eu fiquei pensando sobre aquela sensação
ruim que ambos tivemos antes. E então, quando você saiu, eu me senti como se
fosse um adeus. Nunca estive com tanto medo na minha vida, e isso quer dizer alguma
coisa. Meu pai pode ser muito assustador.
O telefone de Trenton tocou. Ele
pegou e leu a mensagem de texto.
― É de Brad da Sig Tau. Perdemos três até agora.
Meus ombros caíram. Trenton franziu o
cenho para o seu telefone, apertou um botão, e segurou o fone no ouvido. Ele
olhou para mim.
― Eu recebi uma mensagem de voz daquele
número. Mas nunca recebi um alerta.
― Talvez porque no meio do caminho você
respondeu?
― É daquele número estranho.
Uma voz feminina disse:
― Ugh ― e nada mais. Trenton franziu a testa
e, em seguida, apertou um botão. Eu podia ouvi-lo tocar várias vezes, e, em
seguida, a mesma voz feminina atendeu.
― Olá? ― ela gritou. ― Trent?
Trenton parecia confuso e surpreso ao
mesmo tempo.
― Abby? Está tudo bem?
― Sim, estamos bem. Como você está?
― Eu estou sentado com Cami. Ela está muito chateada
com o fogo. Ela perdeu alguns de seus clientes.
Eu me deitei no colo dele de novo, e
tudo que eu podia ouvir era a voz de Abby estridente tagarelando.
― Sim, ― disse Trenton. ― É como uma zona de
guerra lá embaixo. Que barulho é esse? Você está em um fliperama? ― Ele perguntou
a ela.
Eu me sentei.
― O
quê? ― Disse ele, ainda mais perturbado.
― Certamente que não. Eles não iriam. Ok, com
o quê? ― Ele questionou. ― Abby, pare de brincar. Apenas me diga, porra. ― Nós dois
estávamos exaustos, e qualquer jogo que ela estivesse brincando, Trenton não
estava gostando. Inclinei-me mais perto do telefone. Trenton afastou um pouco
de sua orelha, para que eu pudesse ouvir.
― Havia um monte de gente na luta na noite
passada. Muita gente morreu. Alguém tem que ir para a prisão por isso.
Eu me inclinei para trás, e Trenton e
eu trocamos olhares. Ela estava certa. Travis poderia estar em sérios apuros.
― Você acha que vai ser Travis? ― Trenton
perguntou, sua voz baixa e grave. Ela tinha a sua total atenção, agora. ― O que
vamos fazer?
Inclinei-me para escutar.
― Eu pedi a Travis para se casar comigo.
― Uh... ― Disse Trenton, olhando para mim
novamente. Minhas sobrancelhas franziram. ― Ok, mas como diabos é que isso vai
ajudá-lo?
― Nós estamos em Vegas...
Eu me inclinei para trás para ver a
reação de Trenton. Ele era o único com as sobrancelhas levantadas agora, e várias
linhas profundas atravessavam sua testa.
― Abby. ― Ele suspirou. Ela falou um pouco
mais, com a voz ainda mais alta, parecendo mais desesperada. Eles iam se casar,
esperando que isso fosse louco o suficiente para que os investigadores
acreditassem que Travis estava em Las Vegas, em vez de Keaton Hall. Meu coração
se partiu por eles. Estava tão chateada pelo homem que eu amava quase perder a
vida, e eles tiveram os mesmos medos, além do medo deles mesmos morrerem. E
agora eles enfrentam a possibilidade de perder um ao outro novamente.
― Sinto muito, ― disse Trenton. ― Ele não iria
querer que você fizesse isso, também. Ele iria querer que você se casasse com ele
por sua própria vontade. Se ele algum dia descobrir isso, isso quebraria seu
coração.
― Não se desculpe, Trent. Vai ficar tudo bem.
Pelo menos isso vai dar a ele uma chance. É uma chance, certo? Melhor do que a
que ele tinha.
― Eu acho, ― disse Trenton, parecendo
derrotado. Abby permaneceu quieta. ― Parabéns.
― Parabéns! ― eu disse, desesperada para me
sentir de outra forma que não deprimida.
Abby disse alguma coisa, e Trenton
assentiu.
― Vou sim... e é realmente estranho pra
caralho que o nosso irmão caçula é o primeiro a se casar.
Abby riu, mas ela parecia cansada.
― Supere isso.
― Foda-se, ― disse Trenton. ― E, eu te amo. ― Ele
desligou e jogou o telefone para a ponta da cama. Depois de olhar para as minhas
portas de armários quebrados por um tempo, ele riu uma vez. ― Eu preciso dar um
jeito nelas.
― Por favor, faça isso.
― Travis vai se casar antes de mim. Eu não sei
como me sentir sobre isso.
― Deseje a eles o melhor. Eles podem ficar
casados para sempre e ter dez filhos, ou eles podem se divorciar no próximo
ano. E isso se Travis não acabar...
Trenton olhou para mim.
― Eu estou apostando no cenário de dez
crianças.
― Eu também, ― disse ele. Ele inclinou a
cabeça para trás contra a cabeceira da cama, e fechou os olhos. ― Eu vou me casar
com você um dia.
Eu sorri.
― Quando os porcos voarem.
Ele deu de ombros.
― Eu posso colocar um porco em um avião. Não
tem problema.
― Ok, quando você dançar Britney Spears de fio
dental na frente de seu pai. É quando nós vamos nos casar.
Ele tomou uma respiração longa e
profunda, e depois soprou.
― Desafio aceito.
― Eu também, ― disse ele. Ele inclinou a cabeça para trás contra a cabeceira da cama, e fechou os olhos. ― Eu vou me casar com você um dia.
ResponderExcluirEu sorri.
― Quando os porcos voarem.
Ele deu de ombros.
― Eu posso colocar um porco em um avião. Não tem problema.
― Ok, quando você dançar Britney Spears de fio dental na frente de seu pai. É quando nós vamos nos casar.
Ele tomou uma respiração longa e profunda, e depois soprou.
― Desafio aceito.
#Ps. Agora entendi o pq da aposta de Trent de fio dental e Britney 😂😂😂😂 eles são hilários 😍❤