Capítulo 25
SENTI-ME ESTRANHA EM VOLTAR AO CAMPUS
NA SEGUNDA DE MANHÃ. Árvores foram amarradas com fitas pretas, e Keaton Hall
estava cercado com a fita amarela da polícia. Murmúrios podiam ser ouvidos em
cada corredor, elevador e escada. As pessoas estavam discutindo o incêndio,
quem morreu, quem viveu, e de quem foi a culpa. Eles também fofocavam sobre os
anéis de Travis e Abby, e especulações sobre uma gravidez começaram a circular.
Apenas os deixei falarem. Foi bom
ouvir algo diferente das teorias e conspirações em torno do incêndio. A polícia
já tinha encontrado Jim e falado com Trenton, então eu não estava deixando
transparecer que eu sabia uma maldita coisa.
Depois das aulas, eu marchei através
do gramado enlameado até o Smurf e congelei quando eu vi TJ encostado ao lado
do jipe, mexendo em seu telefone. Ele se endireitou quando me notou a seis
metros de distância. Continuei andando, embora lentamente.
― Eu me perguntei se você iria voltar, ― eu
disse.
― Peguei o primeiro voo.
― Verificando a todos?
Ele acenou com a cabeça.
― Controle de danos.
― O que você pode fazer?
Ele balançou a cabeça.
― São dois deles.
― Deixe Trent fora disso, ― eu atirei.
Ele riu sem humor, claramente
surpreso com minha raiva.
― Não sou eu, Camille.
― Se você não está aqui para trabalhar, então
por que você está aqui?
― Eu não posso lhe dizer os detalhes, Camille,
você sabe disso. Mas eu estou aqui, agora, para ver você.
Eu balancei minha cabeça.
― T.J., nós conversamos sobre isso. Suas
visitas aleatórias estão tornando as coisas muito mais difíceis do que elas
devem ser. Então, a menos que você esteja pronto para jogar limpo...
Ele balançou a cabeça.
― Eu não posso fazer isso agora.
― Então você deve ir.
― Eu só queria dizer oi.
― Oi, ― eu disse, oferecendo-lhe um pequeno
sorriso.
Ele se inclinou para beijar minha
bochecha, e eu recuei. Por mais que ele quisesse fingir que tudo era inocente e
amigável, nós dois sabíamos que não era.
― Eu estava apenas dizendo adeus.
― Adeus.
T.J. assentiu, e então se virou e foi
embora. Fui para casa para pegar um lanche antes de sair para a loja,
sentindo-me triste. Eu fiz sanduíches de presunto e queijo, e então comi um a
caminho, pensando sobre os animais de pelúcia e as flores que tinham começado a
se acumular na frente de Keaton.
Quando eu parei na Skin Deep, o
Intrepid e o Talon de Hazel já estavam lá. Eu entrei, mas não havia ninguém no
balcão ou na recepção. Caminhei alguns passos pelo corredor, logo vendo as
botas amarelas de Trenton, um de seus pés saltando para cima e para baixo.
― Apenas fodidamente faça isso, Hazel! Você
está esperando Cristo voltar? Porra!
― Não, ― ela disse docemente, olhando para
mim. ― Eu estava esperando por ela.
Ela furou seu ouvido, e ele reprimiu
um grunhido, seguido por uma sequência de palavrões – alguns que eu nunca tinha
ouvido antes.
― Lindo! ― ela disse.
― Sério? Estou colocando fodidos alargadores
por você, e você me chama de lindo? Que tal viril? Garanhão? Fodão?
― Gato! ― Disse Hazel, dando um beijo na sua
testa.
Trenton gemeu.
― Eu trouxe um sanduíche de presunto e queijo
para você, ― eu disse, retirando sobras de presunto das pequenas mordidas no
restante do meu. ― Está no compartimento de baixo, na frente.
Trenton piscou para mim.
― Te amo, baby.
― Próximo! ― Disse Hazel.
O sorriso de Trenton desapareceu.
Hazel o perfurou novamente, e ambos
os pés de Trenton saíram do chão, mas ele não fez nenhum som.
― E é por isso que eu esperei por sua garota.
Então você não iria chorar. Droga, Cami aguenta seu pau todas as noites, e ele
é muito maior do que um alargador dezesseis.
Eu fiz uma careta.
― Desnecessário. Você precisa transar. Você
tem estado muito estressada recentemente.
Hazel projetou seus lábios.
― Nem me fale!
Trenton tinha um sorriso irônico.
― Mas ela está certa bonequinha. Eu sou muito
maior do que um alargador de dezesseis.
Engasguei.
― Eu estou fora daqui. ― Voltei para minha mesa,
joguei fora o resto do meu sanduíche e organizei os formulários, contando para
ver quais precisavam de mais cópias.
Então eu voltei para a máquina de
xerox. Eu não tive que me ocupar com trabalho por muito tempo, no entanto.
Nossa tarde foi logo preenchida com os alunos fazendo tatuagens para seus colegas
falecidos, irmãos da fraternidade, irmãos de irmandade; e em um caso, um pai
veio fazer uma tatuagem em memória de sua filha.
Eu me perguntava se algumas das
pessoas que entraram por nossa porta conheciam a menina com os dedos dos pés
bonitos. Fechei os olhos com força, tentando encher minha mente com algo mais
agradável. Por fim, estávamos todos exaustos, mas Trenton e Bishop não sairiam
até que todos tivessem suas tatuagens em homenagem as vitimas do incêndio prontas.
Quando o último cliente deixou o
prédio, eu balançava meus quadris de um lado para outro enquanto me desconectava
do computador, tentando oferecer algum alívio para a minha dor nas costas. O
tapete do chão da loja foi colocado sobre o concreto, e ficar de pé sobre ele
durante todo o dia era uma tortura.
Hazel já tinha ido embora, e Calvin
arrancou do estacionamento cinco minutos após o ultimo cliente. Bishop e Trenton
se limparam e em seguida, vieram para frente para me esperar.
Bishop estava olhando para mim, e não
demorou muito para eu perceber.
― O quê? ― Eu perguntei, um pouco maldisposta.
Eu estava cansada e sem humor para a sua estranheza.
― Eu vi você hoje.
― Oh?
― Eu vi
você hoje.
Olhei para ele como se ele fosse
louco, e assim o fez Trenton.
― Eu já ouvi, ― eu disse, revoltada.
― Eu vi T.J. também. Aquele era o T.J., certo? ― ele deu ênfase nas letras. Ele sabia. Oh,
Deus.
O rosto de Trenton imediatamente
apontou em minha direção.
― T.J.? Ele está na cidade?
Dei de ombros, tentando manter meu
rosto sem emoção como se minha vida dependesse disso.
― Ele veio verificar a família.
Trenton estreitou os olhos e cerrou
os dentes.
― Eu vou apagar as luzes, ― eu disse, andando
pelo corredor e abrindo o disjuntor principal. Eu virei os interruptores, e
depois voltei para a recepção. Bishop e Trenton ainda estavam ali, só que agora
Trenton estava olhando para Bishop.
― O que você viu? ― Perguntou Trenton.
― Eu vou te dizer. Mas me prometa que vai
pensar antes de agir. Prometa que vai me deixar explicar. ― Eu sabia que eu não
poderia explicar tudo. Eu só precisava ganhar algum tempo.
― Cami...
― Prometa-me!
― Eu prometo, ― ele rosnou. ― Sobre o que o
Bishop está falando?
― Ele estava no meu jipe quando eu saí da
aula. Conversamos um pouco. Não foi grande coisa.
Bishop balançou a cabeça.
― Definitivamente não foi o que eu vi.
― Qual é a porra do seu problema? ― Eu
assobiei.
Ele deu de ombros.
― Só pensei que Trent deveria saber.
― Saber o quê? ― Eu gritei. ― Nada aconteceu!
Ele tentou me beijar, e eu recuei! Se você viu alguma coisa diferente disso
você é um fodido mentiroso!
― Ele tentou beijá-la? ― Trenton perguntou,
com a voz baixa e ameaçadora.
― Ela realmente recuou, ― disse Bishop. ― Eu
vou vazar. Até mais.
― Vai se foder! ― Eu gritei, jogando todo o
meu organizador cheio de clipes de papel nele. Eu coloquei meu casaco e sai,
mas Bishop já estava saindo do estacionamento. Trenton saiu, e eu tranquei a
porta, virando várias vezes antes de puxar a chave.
Trenton balançou a cabeça.
― Eu estou farto disso, Cami. Eu estou
fodidamente farto.
Meu peito apertou.
― Você está farto.
― Sim, eu estou farto. Você espera que eu
continue aceitando isso?
Lágrimas quentes encheram meus olhos
e correram pelo meu rosto em um fluxo contínuo.
― Eu nem sequer beijei ele! Nada aconteceu!
― Por que você está chorando? Você está chorando
por ele? Isso é bom pra caralho, Cami!
― Não, eu não estou chorando por ele! Eu não
quero que isso acabe! Eu te amo!
Trenton fez uma pausa, e então
balançou a cabeça.
― Eu não terminei com você, baby. Eu estou
farto dele. ― Sua voz ficou baixa e assustadora novamente. ― Ele terminou com
você.
― Por favor, ― eu disse, estendendo a mão para
ele. ― Eu expliquei a ele. Ele sabe agora. Foi apenas o encerramento, eu acho.
Ele assentiu, furioso.
― Você acha.
Eu balancei a cabeça para trás rapidamente,
lhe implorando com meus olhos.
Trenton tirou as chaves do seu carro.
― Ele ainda está na cidade?
Eu não respondi.
― Onde é que ele vai ficar?
Eu pressionei meus dedos na altura do
peito, em seguida, levei-os aos meus lábios.
― Trenton, você está exausto. Esses dias tem
sido um pouco loucos. Você está exagerando.
― Onde diabos ele está hospedado? ― Ele
gritou. Suas veias incharam no pescoço e na testa, e ele começou a tremer.
― Eu não posso te dizer, ― eu disse,
balançando a cabeça.
― Você não vai, ― disse ele, respirando com
dificuldade.
― Você apenas... vai deixá-lo continuar a
foder com a gente assim?
Eu me mantive em silêncio. Eu não
podia dizer-lhe a verdade, então não havia nenhum ponto.
― Você me ama? ― ele questionou.
― Sim, ― eu chorei, chegando perto dele.
Ele se afastou.
― Por que você não diz a ele, Cami? Por que
você não diz a ele que você está comigo?
― Ele sabe.
Trenton coçou a ponta do nariz com as
costas da mão, e acenou com a cabeça.
― Então está resolvido. A única maneira que
ele vai ficar longe de você é se eu der uma surra nele.
Eu sabia que isso ia acontecer. Eu
sabia disso, e mesmo assim eu deixei.
― Você prometeu.
― Você vai jogar com essa carta? Por que você
está protegendo ele? Eu não entendo!
― Eu não estou protegendo ele! Estou
protegendo você! ― Eu disse, balançando a cabeça.
― Eu vou encontrá-lo, Cami. Eu vou procurá-lo,
e quando eu encontrá-lo...
Meu celular vibrou no meu bolso, e
depois vibrou novamente. Puxei-o para fora para verificar rapidamente. Trenton deve
ter notado a minha expressão, porque ele o tomou das minhas mãos.
― ‘Precisamos conversar’, ― ele disse, lendo a
mensagem. Era de T.J.
― Você prometeu! ― eu gritei.
― E você também! ― ele gritou. Sua voz ecoou
na noite através do lote vazio.
Ele estava certo. Eu tinha feito
promessas para manter o segredo de TJ, e amar Trenton. Eu não poderia manter ambos.
Gostaria de me encontrar com T.J. Era hora de convencêlo a me libertar desse
fardo, mas eu não podia arriscar a deixar Trenton me seguir, e eu não podia
encontrar TJ sem fazer Trenton me odiar. T.J. poderia estar indo embora no dia
seguinte pelo que eu sabia. Eu tinha que ir até ele logo.
― Eu não entendo você, Cami. Você não o
superou? É isso?
Apertei meus lábios. A culpa era
demais.
― Não é nada disso.
O peito de Trenton arfava. Ele estava
ficando emocional. Ele lançou o meu telefone do outro lado da rua, e depois
caminhou para trás e para frente, com as mãos nos quadris. Meu telefone caiu em
um pedaço de grama, logo abaixo do poste do outro lado.
― Vá pegar, ― eu disse, minha voz plana.
Ele balançou a cabeça.
― Vá pegar! ― Eu gritei, apontando para o
poste.
Quando Trenton começou a caminhar
para encontrar o pequeno telefone preto no escuro, eu andei rapidamente para o
meu jipe e bati com a porta. O motor gaguejou por um momento, e então,
finalmente, funcionou. Trenton estava ao lado da minha janela.
Ele bateu algumas vezes, suavemente,
seus olhos tranquilos novamente.
― Baby, abaixe o vidro.
Segurei o volante, e depois olhei
para ele por debaixo da minha sobrancelha, minhas bochechas molhadas.
― Eu sinto muito. Eu vou encontrar seu
telefone. Mas você não pode dirigir seu carro chateada.
Olhei em frente, liberando o freio de
emergência. Trenton colocou a palma da mão contra o vidro.
― Cami, se você quiser dar um passeio, tudo
bem, mas encoste... Eu vou levá-la em qualquer lugar que você precise ir.
Eu balancei minha cabeça.
― Você vai descobrir. E quando você fizer
isso, vai arruinar tudo.
Trenton franziu o cenho.
― Descobrir o que? Arruinar o quê?
Virei-me para ele.
― Eu vou te dizer. Eu quero te dizer. Mas não
agora. ― Eu pisei na embreagem, e coloquei o carro em marcha à ré, me retirando
da vaga. Baixei meu queixo e chorei por alguns momentos.
Trenton ainda estava tocando minha
janela.
― Olhe para mim, baby.
Eu respirei fundo, tentando me
orientar primeiro, e em seguida, levantei a cabeça, olhando para frente.
― Cami, você não pode dirigir assim... Cami! ―
Disse ele mais alto quando eu me afastei.
Eu passei pela entrada do
estacionamento, quando a porta do passageiro se abriu. Trenton pulou dentro,
respirando com dificuldade.
― Baby, encoste.
― Que diabos você está fazendo?
― Encoste, e me deixe dirigir.
Puxei para a rua e na direção oeste.
Eu não tinha um plano para chegar ao TJ, e agora que Trenton estava no carro, eu
realmente não sabia o que fazer. E então isso me bateu. Eu apenas o levaria
para T.J. Deixaria tudo exposto. T.J. trouxe isso com ele. Se ele tivesse me
deixado em paz, eu não estaria nesta posição. Mas eu precisava dar a Trenton um
tempo para se acalmar em primeiro lugar. Eu precisava dirigir.
― Encoste, Cami. ― A voz de Trenton tinha um
tom que eu nunca tinha ouvido antes. Ele estava ansioso e calmo ao mesmo tempo.
Era inquietante.
Chorei e enxuguei os olhos com minha
manga.
― Você vai me odiar, ― eu disse.
― Eu não vou te odiar. Encoste, e eu vou
dirigir a noite toda, se você quiser. Nós podemos falar sobre isso.
Eu balancei minha cabeça.
― Não, você vai me odiar, e eu vou perder
tudo.
― Você não vai me perder, Camille. Juro por
Deus, mas você está nessa estrada maldita! Estamos na orla da cidade, e vamos
chegar à estrada de terra em breve. Pare essa porra!
Nesse momento, um par de luzes
brilhantes convergiram em um. Eu mal peguei um vislumbre no canto do meu olho,
e então minha cabeça bateu na janela, quebrando o vidro em mil pedacinhos.
Alguns dos cacos voaram para fora, mas a maioria caiu no meu colo, ou flutuaram
na cabine do jipe, quando ele deslizou pelo cruzamento e parou em uma vala do outro
lado. O tempo parou pelo o que parecia ser alguns minutos, e então estávamos no
ar quando o Jeep começou a rolar. Uma vez. Duas vezes. E então eu perdi a
conta, porque tudo ficou escuro.
Acordei em um quarto com paredes
brancas e cortinas brancas que mantinha a luz solar completamente a espreita.
Pisquei algumas vezes, olhando para o que me rodeava. A televisão estava ligada
em cima, mas silenciosa, passando uma velha reprise de Seinfeld. Fios e tubos
estavam amarrados nos meus braços e conectados ao par de postes ao meu lado,
com monitores ligados a eles, bipando suavemente. Uma pequena caixa estava
recheando o bolso da frente do meu vestido, e fios seguiam uns aos outros
ligados ao meu peito em círculos pegajosos. Sacos de líquido claro pendurados
em um poste, liberando um gotejamento contínuo através de meu IV. A tubulação
terminou com alguns pedaços de fita adesiva na parte de trás da minha mão.
Embaixo dos meus dedos havia uma
cabeça cheia de cabelo muito curto, castanho. Era Trenton. Ele estava de costas
para mim, sua bochecha descansando contra o colchão. Seu braço esquerdo estava
sobre minhas pernas, o outro estava encostado entre a cama e a cadeira, envolto
em um espesso gesso verde limão.
Já havia várias assinaturas nele.
Travis tinha assinado o seu nome em uma nota curta, que simplesmente dizia: ‘’Maricas’’.
Outra era de Hazel com uma impressão perfeita de seu batom vermelho brilhante.
Abby Abernathy assinou com ‘’Sra. Maddox’’.
― É como um pequeno livro de visitas. Trent
não saiu do seu lado, de modo que todos os que visitaram você assinaram seu
gesso.
Apertei os olhos sem entender o que
T.J. fazia sentado em uma cadeira em um canto escuro da sala. Olhei para trás
para baixo, para o gesso. Todos os irmãos de Trenton tinham assinado, seu pai
Jim, minha mãe e todos os meus irmãos. Até mesmo os nomes de Calvin e Bishop
estavam lá.
― Há quanto tempo estou aqui? ― Eu sussurrei.
Minha voz soou como se eu tivesse feito gargarejo com cascalho.
― Desde ontem. Você teve um bom corte em sua cabeça.
Eu levantei minha mão para tocar
suavemente as bandagens em volta da minha cabeça. A concentração de gazes inchou
minha têmpora esquerda, e quando eu coloquei um pouco de pressão sobre isso,
uma dor aguda atingiu a base do meu crânio. Eu estremeci.
― O que aconteceu? ― Eu perguntei.
― Um homem bêbado ultrapassou o semáforo a
cerca de cem km por hora. Ele fugiu do local, mas ele está sob custódia agora.
Trenton carregou você por mais de dois quilômetros até a casa mais próxima.
Minhas sobrancelhas se juntaram
quando olhei para Trenton.
― Com um braço quebrado?
― Quebrado em dois lugares. Eu não sei como
ele fez isso. Deve ter sido pura adrenalina. Eles tiveram que colocar o gesso
em seu quarto no pronto socorro. Ele se recusou a deixá-la. Mesmo por um
segundo. Mesmo para a Tomografia Computadoriza. As enfermeiras estão todas
apaixonadas. ― Ele ofereceu um meio sorriso, mas era desprovido de qualquer felicidade
real.
Sentei-me, e estrelas cintilantes se
formaram nos meus olhos. Eu caí de costas contra a cama, sentindo náuseas.
― Devagar, ― T.J. disse, se levantando.
Engoli em seco. Minha garganta estava
seca e áspera. T.J. caminhou até uma pequena mesa no final da minha cama e
derramou água em um copo. Eu o peguei dele e tomei um gole. Queimou todo o
caminho, mesmo que fosse água gelada.
Eu toquei a cabeça de Trenton.
― Ele sabe?
― Todo mundo sabe. Sobre você. Sobre nós. Mas
não sobre mim. Eu gostaria de manter assim. Por enquanto.
Eu olhei para baixo, sentindo um
soluço crescer na minha garganta.
― Então por que ele está aqui?
― Pela mesma razão que eu estou. Porque ele te
ama.
Uma lágrima caiu pelo meu rosto.
― Eu não queria...
T.J. balançou a cabeça.
― Eu sei, querida. Não chore. Vai ficar tudo
bem.
― É mesmo? Agora que todo mundo sabe, como
isso algum dia poderia ser qualquer coisa além de constrangedor, e tenso, e...
― Porque somos nós. Nós vamos lidar com isso.
Os dedos da mão direita de Trenton
contraíram. Seu gesso ficou desalojado e seu braço caiu. Ele pulou acordado, e,
em seguida, agarrou seu ombro, claramente com dor. Quando ele percebeu que meus
olhos estavam abertos, ele imediatamente se levantou, inclinou-se e tocou meu
rosto com a mão esquerda. A ponte de seu nariz estava inchada, e a pele sob os
seus dois olhos estava funda com meias-luas roxas.
― Você está acordada! ― Ele sorriu enquanto
seus olhos examinavam meu rosto.
― Eu estou acordada, ― eu disse suavemente.
Trenton riu uma vez, inclinando a
cabeça para baixo até que sua testa tocasse no meu colo. Ele enganchou seu
braço ao redor de minhas coxas e apertou delicadamente, todo o seu corpo tremia
enquanto ele chorava.
― Eu sinto muito, ― eu disse, lágrimas quentes
queimando meu rosto e caindo do meu queixo.
Trenton olhou para cima e balançou a
cabeça.
― Não. Isso não foi culpa sua. Algum filho da
puta bêbado ultrapassou o sinal vermelho e nos atingiu.
― Mas se eu estivesse prestando atenção... ―
Eu choraminguei.
Ele balançou a cabeça de novo, me
implorando com os olhos para parar.
― Psiu, não. Não, baby. Mesmo assim, ele teria
ido direto para nós ― . Ele colocou a mão em cima de sua cabeça, e seus olhos
disfarçaram. Ele suspirou. ― Eu estou tão fodidamente feliz por você estar bem.
Sua cabeça estava jorrando sangue, e você não queria acordar. ― Seus olhos se
fecharam quando a memória se repetiu. ― Eu estava perdendo a cabeça. ― Ele descansou
sua cabeça no meu colo novamente, e levantou minha mão esquerda à sua boca,
beijando suavemente ao redor da fita.
T.J. ficou parado atrás dele,
observando a demonstração de afeto de Trenton com um sorriso doloroso. Trenton
se virou, sentindo que alguém estava atrás dele.
― Hey, ― disse Trenton. Ele se levantou. ― Eu,
uh... Sinto muito.
― Está tudo bem. Ela não me pertence mais. Eu
não tenho certeza se ela algum dia pertenceu.
― Eu a amo, ― disse Trenton, olhando para mim
com um sorriso. Ele enxugou os olhos vermelhos. ― Eu não estou brincando. Eu
realmente a amo.
― Eu sei, ― T.J. disse. ― Eu vi a maneira como
você olha para ela.
― Então, estamos bem? ― Perguntou Trenton.
As sobrancelhas de TJ se juntaram
enquanto ele olhava para mim, mas ele falou para Trenton.
― O que ela quer?
Os dois se viraram para mim. Eu olhei
para T.J. enquanto eu estendia a mão lentamente entre o lençol e o cobertor enrugado
buscando a mão de Trenton. Trenton sentou-se ao meu lado, levantou a minha mão
para sua boca, e beijou meus dedos, fechando os olhos.
Meu lábio tremeu.
― Eu menti para você.
Ele balançou a cabeça.
― Por razões que não têm nada a ver comigo. Ou
nós.
Eu deixei escapar um suspiro de
alívio, e as lágrimas caíram novamente.
― Eu te amo.
Trenton segurou delicadamente meu
queixo em suas mãos, e então ele se inclinou, beijando-me com ternura.
― Nada mais importa.
― É importante para mim, ― eu disse. ― Eu não
quero...
T.J. pigarreou, lembrando-nos de que
mais alguém estava no quarto.
― Se isso é o que você quer, Cami, vamos
fazê-lo funcionar. Eu não vou ficar no caminho. Isso não vai ser um problema.
Trenton caminhou para onde T.J.
estava de pé e deu-lhe um abraço de urso. Eles seguraram um ao outro por alguns
momentos. T.J. sussurrou algo no ouvido de Trenton, e ele concordou. Era tão
surreal, observá-los interagir na mesma sala, depois de manter o segredo do TJ
por tanto tempo.
T.J. caminhou lentamente até minha
cama, inclinou-se e beijou uma área de minha testa que não estava enfaixada.
― Eu vou sentir sua falta, Camille. ― Ele
beijou o mesmo local novamente, deixando os lábios permanecerem na minha pele
por um tempo, e então ele saiu pela porta.
Trenton soltou um suspiro de alívio,
e, em seguida, apertou minha mão.
― Tudo faz sentido, agora. ― Ele balançou a cabeça
e riu uma vez sem humor. ― Agora que eu sei, eu não posso acreditar que eu não
descobri. Califórnia. Você se sentindo mal por estar comigo, mesmo depois que
você terminou as coisas com ele. Estava tudo ali na minha frente.
Eu pressionei meus lábios.
― Nem tudo isso.
Trenton descansou o gesso na cama e
entrelaçou a ponta dos dedos com os meus.
― Eu não sinto um pingo de culpa. Você sabe
por quê?
Eu encolhi os ombros.
― Porque eu estive apaixonado por você desde a
escola primária, Camomila. E todos sabiam disso. Todos.
― Eu ainda não tenho certeza se eu acredito
nisso.
― Você usou rabo de cavalo todos os dias
durante anos. Eles eram perfeitos. ― Seu sorriso desapareceu. ― E esse olhar triste
em seus olhos. Tudo o que eu sempre quis era fazer você sorrir. E então você
era minha, e eu nunca conseguia fazer isso certo.
― Eu tive uma vida errada. Você é a única coisa que é certa.
Trenton tirou algo do bolso, e deixou
uma pequena chave prata balançar em um chaveiro. Era em uma faixa preta de tecido
de feltro com C-A-M-I escrito em cores brilhantes com bordas em preto. Eu
pressionei meus lábios e, em seguida, puxei minha boca para o lado.
― O que você diz? ― Ele perguntou com
esperança em seus olhos.
― Mudar-me? Desistir do meu apartamento?
― Tudo junto. Você e eu. Beber para brindar coisas
estranhas depois do trabalho, e Chicken Joe’s nas noites de segunda-feira com
Olive. Simples, do jeito que você gosta.
Havia tanta coisa para pensar, mas
depois do que tínhamos acabado de passar – duas vezes – a única coisa que eu podia
me focar era no que Trenton tinha dito. Só havia uma coisa que importava.
― Eu digo sim.
Ele piscou.
― Sim?
― Sim, ― eu disse, rindo de sua expressão, e,
em seguida, fiz uma careta. Meu corpo inteiro doía.
― Inferno, sim, ― ele gritou, e, em seguida,
ofereceu um sorriso tímido quando fiz sinal para ele ficar quieto.
― Eu estou tão fodidamente apaixonado por
você, Cami.
Eu me espremi na minha cama,
desajeitada e lentamente, e em seguida, Trenton – cuidadosamente e com muito esforço
– subiu. Ele estava tão dolorido quanto eu. Ele apertou um botão no trilho
lateral que nos inclinou para trás até que ficamos deitados, de frente para o
outro.
― Eu sei que você não acredita em mim, mas eu realmente
te amei desde que éramos crianças, ― disse ele em voz baixa. ― E agora eu posso
amar você até ficarmos velhos.
Meu estômago se agitou. Ninguém
jamais tinha me amado tanto quanto ele amava.
― Promete?
Trenton sorriu com os olhos cansados.
― Sim. E então eu vou prometer novamente
depois que eu dançar Britney Spears de fio dental.
Consegui soltar uma risadinha, mas a
dor estava tornando difícil me mover. Ele ajustou e reajustou até que ele finalmente
ficou confortável o suficiente para fechar os olhos e adormecer. Eu o assisti
respirar para dentro e para fora por algum tempo, com um pequeno sorriso no seu
rosto. Tudo estava esclarecido agora, e eu podia respirar, também.
Uma enfermeira entrou, e pareceu
surpresa ao nos ver deitados juntos.
― Olhe para você, ― ela sussurrou, seus olhos
escuros de alguma forma viam claramente, mesmo sob a luz fraca. ― Esse menino
tem todas as mulheres desmaiando neste andar. Ele tem sido o seu anjo da guarda.
Não saiu do seu lado.
― Eu ouvi. Eu não sei como eu fiquei tão
sortuda, mas estou feliz. ― Eu inclinei-me, tocando minha têmpora em sua testa.
― A sorte certamente está do seu lado. Eu vi o
seu veículo no jardim. Parece um pedaço de papel amassado. É um milagre vocês
terem sobrevivido.
Eu fiz uma careta.
― Eu vou sentir falta do Jipe.
Ela assentiu com a cabeça.
― Como você está se sentindo?
― Sinto dor. Em todos os lugares.
Ela balançou um copo de plástico,
deixando as pílulas dentro chacoalharem.
― Acha que você consegue engolir alguns
comprimidos?
Eu balancei a cabeça e joguei as
pílulas para o fundo da minha garganta. A enfermeira me entregou um copo de
água, e eu as engoli, mas não sem esforço.
― Você está com fome? ― Ela perguntou ao
verificar meus sinais vitais.
Eu balancei minha cabeça.
― Tudo bem, ― disse ela, puxando o
estetoscópio de suas orelhas. ― Basta clicar nesse botão vermelho com a cruz,
se você precisar de alguma coisa.
Ela saiu da sala, e eu me virei para
o homem dormindo ao meu lado.
― Não há mais nada que eu preciso, ― eu sussurrei.
O gesso de Trenton estava entre nós,
e eu passei meu dedo sobre os diferentes nomes, pensando em todas as pessoas
que nos amam que tinham vindo ao meu quarto. Eu parei quando me deparei com a
assinatura do TJ, e, silenciosamente, disse um último adeus ao rabisco simples,
mas sofisticado.
Thomas James Maddox
Puta merda����sempre desvendo o mistério, dessa vez cai direitinho!Nem
ResponderExcluirsuspeitava����Bem,do trabalho dele sim,mas sobre quem era ele não!
Menina gulosa,teve 2 Maddox pra chamar de seu ����
❤
ResponderExcluirEu já desconfiava que fosse ele mesmo, mas o que me deixou mais louca foi ela, que às vezes dava à entender e outra vezes não que ela sabia que eles eram irmãos, mas ler o nome dele ali na última linha do capítulo, foi emocionante, foi uma surpresa, deu um certo choque, mesmo eu já desconfiando que era ele.
ResponderExcluirMuito bom o livro, amei
Thomas James Maddox.. como assim??? 😱 eu sabia q ele tinha um serviço secreto... mas como ser o irmão do Trent se eles se conheciam? Acho q dormi em algum ponto 🤔 ele usava um tipo de mascara?
ResponderExcluirIsso q eu pensei jkkkkk
ExcluirQ poha???? Tô louca só pode,Mano????
ResponderExcluirDaí desconfio durante todo o capitulo mas, minha reação no final foi tipo :
ResponderExcluirMds... Mds... Mds... Mds!!!!
PS:Estou em duvida trav ou trent?!?
É foda que o T.J. tenha se envolvido com Camille sabendo que Trenton era apaixonado por ela desde criança...
ResponderExcluirSei que é um romance e a autora do livro precisava criar uma forma de tudo vir a tona, mas, esse Bishop é o tipo de gente que pra mim são lixos de seres humanos.
ResponderExcluirSe metem na vida das pessoas, pq justificativas mesquinhas. Eu detestei a atitude dele, certamente se fosse o contrário, jamais ele pressionaria Trent dessa forma.
Claro que ela precisava encontrar uma forma de falar com o namorado DELA que o ex a procurou, porém não dessa forma, sendo coagida.
Sobre quem acha que foi errado Thomas se envolver sabendo que Trent era apaixonado, menos. Trent já tinha fama de GALINHA desde adolescente, e nunca teve CORAGEM de chegar nela e se não tivesse acontecido o acidente com a outra menina talvez ele nunca chegasse. De todos os irmãos, Thomas é o mais velho e com mais experiência de vida pelo fato de ter cuidado de todos eles. Muita responsabilidade lhe foi lançado nas costas desde criança depois que perdeu a mãe.
Coisa chata isso. Ele se APAIXONOU, ponto. Superem! Coisa mais difícil ele fez, abriu mão e ainda precisou se refazer emocionalmente. Ainda bem que ele encontrou uma Liis, pra amar e cuidar dele e ele dela.
Eu percebi que era ele logo no início só não sabia o que o J significa... Tipo o T eu sabia que era de Thomas mas o J me pegou...
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