Capítulo 5
― JESUS CRISTO, CALVIN, ― TRENTON DISSE. Ele
estava olhando para o grande mural chinês na parede, tentando não notar que
Calvin não conseguia olhar para qualquer outro lugar, senão para os meus seios.
O boné vermelho de Trenton estava virado para trás e suas botas estavam
desamarradas. Em qualquer outra pessoa o visual teria parecido desleixado e um
tanto idiota, mas de alguma forma, em Trenton era muito atraente. Parecia
errado reparar qualquer coisa sobre ele, mas eu não podia evitar.
Eu não tinha o peito mais volumoso do
mundo, mas o meu sutiã fazia com que os meus pequenos seios D parecessem
maiores do que eram. Eu odiava admitir, mas eles ajudaram a receber gorjetas
extras no Red, e agora eles poderiam me ajudar a conseguir um segundo emprego.
Era um ciclo vicioso não querer me tornar um objeto, e usar os dons que Deus me
deu para minha vantagem.
― Quando foi que você disse que você poderia
começar? ― Disse Calvin distraidamente, endireitando a foto de uma bela morena
na parede, atrás do balcão. As tatuagens que cobriam quase todo o corpo dela e
um sorriso eram as únicas coisas que ela usava enquanto estava deitada em cima
dos corpos de outras mulheres igualmente nuas, aparentemente sonolentas.
A maioria das paredes era cobertas
com arte ou fotografias de modelos tatuadas sobre carros antigos ou esparramada
de alguma forma para melhor exibir a arte em sua pele. O balcão era uma
confusão de papéis, canetas, recibos e clipes de papel, mas o resto do lugar
parecia estar limpo, mesmo que parecesse que Calvin tivesse comprado a
decoração em um leilão realizado por um restaurante chinês falido.
― Agora. Eu posso trabalhar segundas e
terças-feiras, do meio-dia até fechar, mas de quarta-feira até sexta-feira eu
só posso trabalhar até às sete. Sábado eu tenho que estar fora às cinco. Eu não
posso trabalhar aos domingos.
― Por que não? ― Perguntou Calvin.
― Eu tenho que estudar e fazer minhas tarefas
em algum momento, e, além disso, eu tenho as reuniões de funcionários do Red
aos domingos, antes do bar abrir.
Calvin olhou para Trenton, procurando
aprovação. Trenton assentiu.
― Ok, eu vou deixar que Trent e Hazel a treine
no telefone, computador e papelada. É bastante simples. A maior parte é serviço
ao cliente e limpeza, ― disse ele, saindo de trás da mesa. ― Você tem alguma
tatuagem?
― Não, ― eu disse. ― Isso é um requisito? ―
― Não, mas eu aposto que você terá uma, no
primeiro mês, ― disse ele, caminhando pelo corredor.
― Eu duvido, ― eu disse, passando por ele para
ficar atrás do balcão.
Trenton se aproximou de mim e apoiou
os cotovelos sobre a mesa.
― Bem-vinda ao Skin Deep.
― Essa é minha frase, ― eu provoquei. O
telefone tocou e eu peguei. ― Skin Deep Tattoo, ― eu disse.
― Sim... uh... que horas vocês fecham hoje à
noite?
Quem quer que ele fosse, soava bêbado
fora de si, e eram só três horas da tarde.
Olhei para a porta.
― Fechamos as onze, mas é melhor você ficar
sóbrio primeiro. Eles não vão tatuá-lo se você estiver alcoolizado.
Trenton fez uma careta. Eu não tinha
certeza se isso era uma regra ou não, mas devia ser. Eu estava acostumada a lidar
com bêbados, e eu provavelmente iria ver o meu quinhão deles aqui também. De
uma forma estranha, eu me sentia mais à vontade com bêbados. Meu pai tomava uma
cerveja Busch todas as manhãs durante o café da manhã desde antes de eu
nascer. O falatório, o cambalear, os comentários inadequados, o riso e até mesmo
a raiva eram coisas com as quais eu estava acostumada.
Trabalhar em um cubículo ao redor de
um bando de covardes tensos, discutindo memorandos seria mais perturbador para
mim do que ouvir um homem adulto chorando com sua cerveja por causa de sua
ex-namorada.
― Então, se é uma chamada pessoal, e é para um
de nós, você pode transferi-la para outra linha dessa forma, ― disse Trenton,
colocando em espera, através do botão de transferência e, em seguida, apertando
um dos cinco botões numerados no topo. ― Cem é o número do escritório do Cal.
101 é a minha sala. 102 é a sala de Hazel. 103 é a sala de Bishop... você vai
encontrá-lo mais tarde... e se você desligar, tudo bem, eles vão ligar de volta.
A lista está gravada sob a base do telefone, ― disse ele, empurrando a base
para o lado.
― Fantástico, ― eu disse.
― Sou Hazel, ― disse uma mulher pequena, do
outro lado da sala. Ela se aproximou de mim e estendeu a mão. A pele bronzeada
de seus braços estava coberta do pulso ao ombro por dezenas de obras de arte
coloridas. Suas orelhas brilhavam com penduricalhos que abrangiam toda a borda
de sua cartilagem e um strass
brilhava no lugar de uma pinta falsa.
Ela era naturalmente morena, mas seu cabelo falso era loiro platinado. ― Eu
coloco os piercings, ― disse ela, seus lábios grossos diziam as palavras com
elegância e com um pequeno indício de sotaque. Para uma coisa tão pequena, seu
aperto era firme; suas unhas turquesa claro eram longas, eu me perguntava como
ela fazia qualquer coisa, especialmente a complicada tarefa de perfurar pequenas
áreas do corpo.
― Cami. Tornei-me a nova recepcionista, há
minutos atrás.
― Legal, ― disse ela com um sorriso. ― Se
alguém perguntar por mim, sempre pergunte o seu nome e anote a mensagem. Se for
uma menina de nome Alisha, diga-lhe para engasgar com um pau.
Ela foi embora e eu olhei para
Trenton, franzindo a sobrancelha.
― Ok, então.
― Elas terminaram há alguns meses. Ela ainda
está com raiva.
― Eu percebi isso.
― Então, aqui estão os formulários, ― disse
Trenton, puxando a gaveta do fundo de um arquivo de metal. Nós os examinamos
entre telefonemas e clientes, e quando Trenton estava ocupado, Hazel vinha
ajudar. Calvin ficou nos fundos do seu escritório, na maior parte do tempo, e
eu pensei nisso para me importar.
Depois que Trenton terminou uma
cliente, ele a levou até a porta e, em seguida, enfiou a cabeça dentro de uma das
portas de vidro duplo.
― Você provavelmente está com fome. Quer que eu
pegue alguma coisa ao lado?
Ao lado era o Pei Wei e os deliciosos cheiros salgados da comida flutuavam cada
vez que alguém abria as portas, mas eu estava trabalhando em dois empregos para
ajudar o Coby a pagar suas contas. Comer fora não era um luxo que eu podia
pagar.
― Não, obrigada, ― eu disse, sentindo meu
estômago rosnar. ― É quase hora de fechar. Eu vou comer um sanduíche em casa.
― Você não está morrendo de fome? ― perguntou Trenton.
― Não, ― eu disse.
Ele acenou com a cabeça.
― Bem, eu estou. Diga a Cal que eu já volto.
― Sem problema, ― eu disse, sentindo meus
ombros cederem um pouco quando a porta se fechou.
Hazel estava em sua sala com um
cliente, então eu fui lá e a vi perfurar o septo do nariz de um cara. Ele nem
sequer pestanejou.
Eu recuei.
Hazel percebeu a minha expressão e
sorriu.
― Chamo isso de O Boi. Eles são muito
populares porque você pode simplesmente dobrar o anel para cima até as narinas
e escondê-lo, assim.
Eu estremeci.
― Isso é... fantástico. Trent foi ao lado para
jantar. Ele estará de volta.
― É melhor que ele me traga alguma coisa, ―
disse ela.
― Estou fodidamente faminta.
― Como você encaixa comida nesse corpo? ―
Disse o cliente. ― Se eu comer arroz eu ganho cinco quilos e todas vocês, garotas
chinesas são minúsculas. Eu não entendo.
― Eu sou filipina, seu retardado idiota, ―
disse ela, sacudindo-lhe a orelha com força. Ele gritou.
Eu pressionei meus lábios, e voltei
para o meu posto. Poucos minutos depois, Trenton entrou com dois grandes sacos
de plástico nas mãos. Ele os colocou em cima do balcão e começou tirar
diferentes pratos.
Hazel se aproximou com seu cliente.
― Eu já passei as instruções de cuidados,
então ele está pronto para ir, ― disse ela. Ela deu uma olhada nas caixas em
cima do balcão e seus olhos brilharam. ― Eu te amo, Trent. Eu seriamente te
amo, seu filho da puta.
― Você está me fazendo corar, ― disse ele com
um sorriso. Eu já tinha visto os lados assustadores de Trenton mais de uma vez,
no ensino médio e, mais recentemente, no Red. Agora ele tinha um novo olhar em
seu rosto, estava feliz apenas por ter feito Hazel feliz. ― E isto é para você,
― disse Trenton, puxando uma caixa.
― Mas...
― Eu sei. Você disse que não estava com fome.
Basta comer para que você não fira meus sentimentos.
Eu não discuti. Eu tirei o celofane
de um par de utensílios de plástico e comi, não me importando se eu parecesse um
animal selvagem.
Calvin veio da parte de trás,
claramente liderado pelo seu nariz.
― Jantar?
― Para nós. Vá buscar o seu próprio, ― disse
Trenton, indicando a Calvin com o garfo de plástico o rumo da porta.
― Maldição, ― disse Calvin. ― Eu quase desejo
que eu tivesse uma vagina para ser alimentado por aqui. ― Trenton ignorou. ―
Bishop já chegou?
― Não, ― disse Hazel, com a boca cheia de
comida.
Calvin balançou a cabeça e empurrou
as portas duplas, provavelmente a caminho de Pei Wei. O telefone tocou e eu
respondi, ainda mastigando.
― Skin Deep Tattoo...
― É uh... Hazel está ocupada? ― uma voz
feminina como a minha disse em tom baixo.
― Ela está com um cliente. Posso anotar o seu
nome?
― Não. Na verdade... uh... sim. Diga a ela que
é Alisha.
― Alisha? ― Eu disse, olhando para Hazel. Ela
começou silenciosamente murmurar cada palavrão existente, mandando o dedo do
meio de ambas as mãos para o telefone.
― Sim, ― ela disse, parecendo esperançosa.
― A
Alisha?
Ela riu.
― Sim, acho que sim. Ela está vindo para o telefone?
― Não, mas ela deixou uma mensagem para você. Coma
um pau, Alisha.
Trenton e Hazel congelaram e do outro
lado da linha ficou um silêncio por alguns segundos.
― Desculpe-me?
― Coma. Um. Pau, ― eu disse e depois desliguei
o telefone.
Depois de alguns momentos de choque,
Hazel e Trenton explodiram num dueto de risos. Depois de um minuto tentando
parar de rir, eles suspiravam, cansados de rir, ambos limpavam os seus olhos. O
rímel de Hazel estava correndo por suas bochechas.
Hazel se inclinou para puxar um lenço
de papel da caixa sobre o balcão ao lado do computador. Ela limpou debaixo de
seus olhos e então me deu um tapinha no ombro.
― Nós vamos conviver muito bem. ― Ela apontou
para trás com o polegar quando ela se retirou para a sala dela. ― Conquiste
essa daí Trent. Ela é apropriada para você.
― Ela tem um namorado, ― Trenton disse,
olhando nos meus olhos e sorrindo.
Nós ficamos lá por alguns momentos,
trocando pequenos sorrisos e, então eu corrigi minha postura, à procura de um
relógio.
― Eu tenho que ir. Preciso ler um capítulo
antes de dormir.
― Eu lhe ofereceria ajuda, mas a escola não
era realmente a minha praia.
Deslizei minha velha mochila vermelha
por cima do meu ombro.
― Isso é só porque enquanto você estava lá,
festas e garotas eram a sua prioridade. Poderia ser diferente agora. Você devia
olhar algum curso.
― Não, ― disse ele, puxando o boné de sua
cabeça e virando-o para frente. Ele ajustou-o algumas vezes enquanto ele refletia
sobre a minha sugestão, como se ele nunca tivesse considerado isso até aquele
momento.
E então, três jovens universitários
tropeçaram, rindo alto e de forma desagradável. Mesmo se eles não estivessem bêbados,
era fácil para nós moradores percebermos as transformações. Dois rapazes,
provavelmente calouros, aproximaram-se do balcão, e a menina, vestindo um
vestido rosa e botas que iam até as coxas, os seguiu. Trenton imediatamente chamou
sua atenção, e ela começou a alisar o cabelo.
― Jeremy perdeu uma aposta, ― um dos garotos
disse. ― Ele vai precisar de uma tatuagem do Justin Bieber.
Jeremy deixou cair a cabeça no
balcão.
― Eu não posso acreditar que você está me
obrigando a fazer isso.
― Estamos fechados, ― eu disse.
― Nós temos dinheiro, ― disse o garoto,
abrindo a carteira. ― Estou preparado para dar a todos aqui uma gorjeta que vai
chocar vocês.
― Estamos fechados, ― eu disse. ― Sinto muito.
― Ela não quer o seu dinheiro, Clay, ― disse a
garota com um sorriso.
― Ela quer o meu dinheiro, ― disse Clay,
inclinando-se.
― Você trabalha no Red, não é?
Eu apenas olhei para ele.
― Trabalha em mais de um emprego... ― Disse
Clay, pensando.
Jeremy encolheu.
― Vamos lá, Clay. Vamos embora.
― Tenho uma proposta para você ganhar algum dinheiro
extra. Você faria em uma noite o que você provavelmente levaria um mês pra
ganhar aqui.
― Tentador... mas não, ― eu disse, mas antes
que eu pudesse terminar a frase, Trenton tinha a gola de Clay em ambos os
punhos.
― Ela se parece com uma prostituta para você?
Trenton fervia de raiva. Eu já tinha
visto aquele olhar em seus olhos antes dele arrebentar a cara de alguém.
― Ei! ― Eu disse, correndo ao redor do balcão.
Os olhos de Clay estavam arregalados. Jeremy colocou o braço em Trenton.
Trenton olhou para a mão de Jeremy.
― Você quer morrer hoje à noite?
Jeremy sacudiu a cabeça rapidamente.
― Então fodidamente não me toque, mano.
Hazel correu para a recepção, mas ela
não parecia com medo. Ela só queria ver o show. Trenton chutou a porta e, em
seguida, empurrou Clay para fora. Clay caiu de bunda, e depois se levantou. A menina
que estava com eles se encaminhou lentamente para fora, observando Trenton,
girando um pequeno pedaço de suas longas mechas douradas.
― Não fique muito impressionada, Kylie. Ele é
aquele psicopata que matou aquela garota uns anos atrás.
Trenton correu pela porta, mas eu
fiquei entre ele e o vidro. Trenton imediatamente parou, respirando com dificuldade,
e Clay recuou rapidamente para sua caminhonete preta brilhante.
Quando as crianças saíram do
estacionamento, eu mantive uma mão no peito de Trenton. Ele ainda estava respirando
com dificuldade, e tremendo de raiva. Ele poderia ter aberto um buraco no
caminhão enquanto ele ia embora.
Hazel se virou e voltou para sua sala
sem dizer uma palavra.
― Eu não a matei, ― disse Trenton calmamente.
― Eu sei, ― eu disse. Dei-lhe uns tapinhas nas
costas algumas vezes e, em seguida, tirei minhas chaves da bolsa. ― Você está
bem?
― Sim, ― disse ele. Seus olhos perderam o
foco, e eu podia ver que ele não estava bem. Eu sabia exatamente como era se
perder em uma memória ruim, e até mesmo mais de um ano depois, apenas uma
menção ao acidente havia enviado Trenton ao seu inferno particular.
― Eu tenho uma garrafa de Crown no meu apartamento e um pouco da carne do almoço. Vamos
beber até vomitar sanduíches de presunto.
Um canto da boca de Trenton se
ergueu.
― Isso soa muito legal.
― Não é? Vamos. Até amanhã, Hazel! ― Eu
gritei.
Trenton me seguiu até meu apartamento
e eu fui direto para o armário de bebidas.
― Crown e Coca-Cola ou apenas Crown? ― Eu
gritei da cozinha.
― Só Crown, ― disse ele atrás de mim. Eu
pulei, e então ri. ― Jesus, você me assustou.
Trenton conseguiu dar um pequeno
sorriso.
― Sinto muito.
Virei a garrafa no ar com a mão
esquerda e peguei com a minha direita, e depois derramei duas doses em dois
copos.
O sorriso de Trenton ficou um pouco
mais amplo.
― É muito legal ter um barman pessoal.
― Estou surpresa que eu ainda posso fazê-lo.
Eu tive muitos dias de folga. Até o momento de eu voltar ao trabalho na quarta-feira,
eu provavelmente vou esquecer tudo. ― Entreguei-lhe o copo e brindamos. ― Ao
Crown.
― Às merdas erradas, ― ele disse, seu sorriso desaparecendo.
― Por sobreviver, ― eu disse, pressionando o
copo contra os meus lábios e jogando a cabeça para trás.
Trenton fez o mesmo. Peguei os copos
vazios, e derramei-nos outra dose.
― Queremos ficar entorpecidos de tanto beber ou
vamos beber até vomitarmos?
― Eu saberei quando eu estiver quase lá.
Entreguei-lhe o copo, peguei a
garrafa e encaminhei
Trenton para namoradeira. Eu levantei
meu copo.
― Pelo o meu segundo emprego.
― Para passar mais tempo com pessoas
incríveis.
― Para os irmãos que fazem a sua vida
impossível.
― Eu vou beber para essa merda, ― disse
Trenton, jogando para trás a sua dose. ― Eu amo meus irmãos. Eu faria qualquer
coisa por eles, mas às vezes eu me sinto como o único que dá a mínima para o
meu pai, sabe?
― Às vezes eu me sinto como a única que não dá
a mínima para o meu.
Trenton olhou por cima de seu copo
vazio.
― Ele é antiquado. Não fala nada. Não tem uma opinião
a menos que seja sobre si próprio. Não chora quando ele bate na minha mãe.
Os olhos de Trenton se estreitam.
― Ele não faz mais isso. Mas ele costumava
fazer. Fodia conosco, quando crianças, sabe? O fato de que minha mãe ficava. De
que ela ainda o amava.
― Deus do céu. Isso é horrível.
― Seus pais se amavam? ― eu perguntei.
O menor indício de um sorriso tocou
os lábios de
Trenton.
― Como loucos.
Minha expressão espelhou a dele.
― Eu amo isso.
― Então... e agora?
― Todo mundo age como se nada tivesse
acontecido. Ele está melhor agora, então qualquer um que não finge que ela não
tinha que gastar tempo extra no período da manhã cobrindo contusões, é o
malvado da história. Assim... Eu sou a malvada.
― Não, você não é. Se alguém ferisse a minha
mãe... mesmo que fosse o meu pai... Eu nunca o perdoaria. Ele pediu desculpas?
― Nunca, ― eu disse sem hesitação. ― Mas ele
deveria. Para ela. Para nós. Para todos nós.
Ele estendeu o copo vazio neste
momento. Eu derramei uma dose e ergui para outro brinde.
― Pela lealdade, ― disse ele.
― Para fugir, ― disse eu.
― Eu vou beber para essa merda, ― disse ele, e
nós dois viramos nossas bebidas.
Eu puxei meus joelhos até meu peito,
e descansei minha bochecha no meu joelho, olhando para Trenton. Seus olhos estavam
sombreados pela aba do seu boné de beisebol vermelho.
Ele tinha irmãos que eram gêmeos
idênticos, mas com o mais novo dos quatro eles poderiam ter sido quadrigêmeos. Trenton
pegou minha camisa e me puxou para o seu peito. Ele me dobrou em seus braços e
apertou. Notei no interior de seu antebraço esquerdo o nome DIANNE tatuado e
alguns centímetros abaixo, em letra cursiva muito menor o nome MACKENZIE.
― Isso é...
Trenton virou o braço para dar uma
olhada melhor.
― Sim. ― Ficamos em silêncio por um momento, e
então ele continuou. ― Os rumores não são verdadeiros, você sabe.
Sentei-me e acenei para ele.
― Não, eu sei.
― Eu simplesmente não podia voltar lá, com
todo mundo olhando para mim como se eu a tivesse matado.
Eu balancei minha cabeça.
― Ninguém pensa isso.
― Os pais de Mackenzie sim.
― Eles precisam culpar alguém, Trent. Outra
pessoa.
O telefone de Trenton tocou. Ele
levantou, olhou para a tela e sorriu.
― Encontro quente?
― Shepley. Travis tem uma luta esta noite. Na Jefferson.
― Bom, ― eu disse. ― Toda vez que eles agendam
uma luta em uma noite em que o Red está aberto, o bar fica vazio.
― Sério? ―
― Eu acho que você não tem como saber, uma vez
que você vai a todos elas.
― Nem todas. Eu não vou hoje à noite.
Eu levantei uma sobrancelha.
― Eu tenho coisas melhores para fazer do que
assistir Travis bater no traseiro de alguém. Mais uma vez. Além disso, ele não
tem nenhum movimento que eu não tenha visto.
― Certo. Você lhe ensinou tudo o que ele sabe,
eu tenho certeza.
― Um terço de tudo o que sabe. Esse merdinha. Vencemos
a bunda dele tantas vezes enquanto crescíamos, que ele aprendeu tudo para
evitar apanhar. Agora, ele poderia vencer todos nós... ao mesmo tempo. Não me
admira que ninguém possa vencê-lo.
― Eu vi você e Travis lutando. Você ganhou.
― Quando? ―
― Mais de um ano atrás. Logo após... ele lhe
disse para parar de beber antes que você bebesse até a morte e você bateu muito
nele por isso.
― Sim, ― disse ele, esfregando a parte de trás
do seu pescoço. ― Eu não estou orgulhoso disso. Meu pai ainda não me deixa
esquecer isso, mesmo Travis me perdoando no segundo que isso acabou. Eu amo
aquele pequeno bastardo.
― Você tem certeza que não quer ir para o
Jefferson?
Ele balançou a cabeça, em seguida,
sorriu.
― Então... Eu ainda tenho Spaceballs.
Eu ri.
― Qual é a sua obsessão com Spaceballs?
Ele deu de ombros.
― Eu não sei. Vimos muito isso quando
crianças. Era algo que fazia com meus irmãos. Só me faz sentir bem, sabe?
― Você simplesmente o mantem no seu carro? ―
Eu perguntei, ceticamente.
― Não, está em casa. Talvez você possa vir.
Assistir comigo algum dia?
Eu corrigi minha postura, criando
mais espaço entre nós.
― Eu acho que é uma ideia horrível.
― Por quê? ― Ele perguntou, com seu sorriso encantador.
― Não confia em si mesma, sozinha, comigo?
― Eu estou sozinha com você agora. Nem sequer preocupada
com isso.
Trenton inclinou-se, apenas alguns
centímetros do meu rosto.
― É por isso que você se afastou? Porque você
não está preocupada em estar perto de mim?
Seus quentes olhos castanhos desceram
para os meus lábios, e sua respiração era a única coisa que eu podia ouvir até
que a porta da frente se abriu.
― Eu lhe disse para não mencionar o Dallas
Cowboys. Papai odeia o Dallas Cowboys.
― Eles são um time de futebol dos Estados
Unidos. É antiamericano odiar os Cowboys.
Raegan se virou e Kody se inclinou
para trás.
― Mas você não tinha que dizer isso a ele!
Jesus! ― Raegan virou para olhar para mim e Trenton no sofá. Eu estava deitada
de costas e Trenton estava encostado próximo a mim.
― Oh, ― ela disse com um sorriso. ― Nós interrompemos?
― Não, ― eu disse, empurrando Trenton para
longe.
― Nem um pouco.
― Claro, parece que... ― Kody começou, mas
Raegan o encarou estreitando os olhos.
― Só... pare de falar, ― ela gritou e, em
seguida, retirouse para seu quarto, Kody a seguiu rapidamente.
― Ótimo. Eles provavelmente vão brigar durante
toda a noite, ― eu disse.
― Apenas... vá para casa! ― disse Raegan,
batendo a porta do quarto. Kody virou-se, olhando consternado.
― Olhe pelo lado positivo, ― disse eu. ― Se
ela não gostasse de você, ela não estaria tão chateada.
― O pai dela luta sujo, ― disse Kody. ― Eu não
disse merda até que ele começou a falar sobre Brazil por uma hora. Então eu
tentei mudar de assunto e não pude resistir.
Trenton riu e então olhou para Kody.
― Você pode me dar uma carona para casa? Nós
bebemos um pouco.
Kody tilintou as chaves.
― Sim, cara. Estou vindo para cá de manhã,
para rastejar, no caso de você querer pegar o seu carro.
― Perfeito, ― disse Trenton. Ele se levantou,
bagunçou meu cabelo com os dedos, em seguida pegou as chaves. ― Vejo você no
trabalho amanhã.
― Boa noite, ― eu disse, alisando meu cabelo.
― Você chegou a algum lugar com ela, cara? ―
Disse Kody, propositalmente mais alto do que o necessário.
Trenton riu.
― Terceira base.
― Sabe o que eu odeio? ― Eu perguntei. ― Você.
Trenton se apressou e me virou,
deitando em cima de mim, deixando todo o peso dele me empurrar para baixo.
― De jeito nenhum. Com quem mais você pode
beber Crown direto da garrafa?
― Comigo mesma, ― eu disse, grunhindo contra o
seu peso. Eu lhe dei uma cotovelada nas costelas, e ele se levantou pela parte
de trás do sofá, dramatizando.
― Exatamente. Até amanhã, Cami.
Quando a porta se fechou, eu tentei
não sorrir, mas falhei.
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