Capítulo 8
TRENTON entrou na vaga, e desligou a
ignição. A última vez que estivemos em seu Intrepid, Olive foi na parte de trás,
e eu estava irritada por ter sido coagida a uma viagem para o Chicken Joe.
Agora uma noite com Trenton e Olive num restaurante barulhento soava como o
céu.
― Você está pronta para isso? ― Trenton
perguntou com uma piscadela tranquilizadora.
― Você está?
― Estou pronto para qualquer coisa.
― Acredito nisso, ― disse, puxando a maçaneta
da porta. A porta gritou quando abriu, e então isso me levou um par de
tentativas e um empurrão com o meu quadril para poder fechá-la.
― Desculpe, ― disse Trenton, enfiando as mãos
nos bolsos da calça jeans. Ele estendeu o cotovelo, e eu peguei. Todos os meus
irmãos e meus pais estavam de pé na porta, observando-nos caminhando até a
casa.
― Sou a única que vai se desculpar mais tarde.
― Por que isso?
― Quem é esse idiota? ― Disse papai.
Suspirei.
― Este é Trent Maddox. Trent, este é o meu pai,
Felix.
― É Sr. Camlin, ― Papai zombou.
Trenton estendeu a mão, e meu pai a
pegou, olhando-o. Trenton não estava nem um pouco intimidado, mas eu ainda
estava interiormente me encolhendo.
― Esta é a minha mãe, Susan.
― Prazer em conhecê-la, ― disse Trenton,
levemente balançando sua mão.
Mamãe ofereceu um pequeno sorriso, e
então me puxou para o seu peito, beijando minha bochecha.
― Era hora de você visitar a sua mãe.
― Sinto muito, ― eu disse, mesmo que nós duas soubéssemos
que eu não sentia.
Todos nós entramos na sala de jantar,
exceto por mamãe, que desapareceu na cozinha. Ela voltou com um conjunto de
jantar extra para Trenton, e depois voltou para a cozinha. Desta vez, ela veio
para a mesa com uma tigela fumegante de purê de batatas que ela colocou num
apoiador quente, ao lado de todos os outros alimentos.
― Tudo bem, tudo bem, ― disse papai. ―
Sentem-se, para que possamos comer logo.
O olho de Trenton contraiu.
― Tudo parece ótimo, mãe, obrigada, ― disse
Clark.
A mamãe sorriu e inclinou-se para a
mesa:
― Por nada, assim...
― O que é isso com todas as formalidades
malditas? Estou morrendo de fome aqui! ― Papai rosnou.
Nós todos passamos os vários pratos
ao redor da mesa e enchemos nossos pratos. Peguei a minha comida, esperando o
primeiro tiro que iria começar a guerra. Mamãe estava na borda, o que significava
que ela sabia que algo estava acontecendo.
― Que diabos é tudo isso em seus dedos? ―
Papai me perguntou.
― Uh... ― levantei minhas mãos por um momento,
tentando pensar numa mentira.
― Nós estávamos brincando com um Sharpie, ―
disse Trenton.
― É isso o que toda essa merda de tinta preta
é? ― perguntou o pai.
― Tinta. Sim, ― eu disse, revirando minha
comida ao redor no meu prato. Minha mãe era uma cozinheira excepcional, mas meu
pai sempre tinha um jeito de me roubar o apetite.
― Passe o sal, ― disse papai, rosnando para
Coby quando ele demorou muito. ― Droga, Susan. Você nunca coloca sal suficiente.
Quantas vezes já te disse isso?
― Você pode adicionar o sal, papai, ― disse
Clark.
― Desta forma, não fica muito salgado para o
resto de nós.
― Muito salgado? Esta é minha maldita
casa. Ela é minha esposa! Ela cozinha para mim! Ela cozinha do jeito que eu gosto,
não do jeito que você gosta!
― Não se irrite, querido, ― disse a mãe.
Papai bateu a lateral de seu punho na
mesa.
― Não estou irritado! Só não vou deixar alguém
entrar em minha casa e me dizer como minha esposa deve preparar a minha comida!
― Cala a boca, Clark, ― Chase rosnou.
Clark colocou outra garfada na boca e
mastigou. Ele tinha sido o pacificador durante anos, e ainda não estava pronto para
desistir. De todos os meus irmãos, ele era o mais fácil de ficar por perto, e
amar. Ele entregava produtos da Coca-Cola nas lojas de conveniência em torno da
cidade, e sempre estava correndo atrasado porque as trabalhadoras do sexo
feminino iriam conversar na sua orelha. Ele tinha uma ternura em seus olhos que
não poderia passar despercebida. Ele herdou isso da nossa mãe.
Papai concordou, e então olhou para
Trenton.
― A Cami conhece você da escola, ou do
trabalho?
― Ambos, ― disse Trenton.
― Trent cresceu em Eakins, ― eu disse.
― Nascido e criado, ― disse Trenton.
Papai pensou por um momento, e então
estreitou os olhos.
― Maddox... você é o menino de Jim, não?
― Sim, ― respondeu Trenton.
― Oh, eu simplesmente amava sua mãe. Ela era
uma mulher maravilhosa, ― disse mamãe.
― Obrigado, ― disse Trenton com um sorriso.
― Pelo amor de Deus, Susan, você nem a
conhecia, ― Papai repreendeu. ― Por que todo mundo que morre tem que se
transformar num maldito santo?
― Ela era muito próxima, ― disse Trenton.
Papai olhou para cima, insatisfeito
com o tom de Trenton.
― E como você saberia? Você não era uma
criança quando ela morreu?
― Pai! ― Eu gritei.
― Você acabou de levantar a sua voz para mim
na minha casa? Eu deveria cruzar esta mesa e dar um tapa na sua boca pelo
atrevimento!
― Felix, por favor, ― Mãe implorou.
― Eu me lembro dela, ― disse Trenton. Ele
estava mostrando uma quantidade exorbitante de controle, mas podia ouvir a
tensão em sua voz. ― A memória da Sra. Camlin é precisa.
― Então você trabalha com ela no Red? ― Chase perguntou
com tom de superioridade inconfundível em sua voz. Não tenho certeza da
expressão que estava em meu rosto, mas Chase ergueu o queixo, desafiador.
Trenton não respondeu. Chase estava
encurralando-nos numa armadilha, e eu sabia exatamente o porquê.
― Qual trabalho, então? ― perguntou Chase.
― Pare com isso, ― eu disse através dos meus
dentes.
― O que quer dizer com qual trabalho? ―
Perguntou papai. ― Ela só tem um trabalho, no bar, você sabe disso. ― Quando ninguém
concordou, ele olhou para Trenton. ― Você trabalha no Red?
― Não.
― Então você é um cliente.
― Sim.
Papai concordou. Suspirei de alívio,
grata por Trenton não estar dando mais informações do que o necessário.
― Você não disse que você estava trabalhando
num segundo emprego? ― perguntou Chase.
Pressionei minhas palmas planas
contra a mesa.
― Por quê? Por que você está fazendo isso?
Coby pegou o que estava acontecendo,
e se levantou.
― Acabei de me lembrar. Eu tenho um... Eu
tenho que fazer um telefonema.
― Sente-se! ― Papai gritou. ― Você não pode simplesmente
se levantar da mesa de jantar! O que diabos há de errado com você?
― Isso é verdade? ― Mamãe perguntou em sua voz
calma.
― Peguei um trabalho de tempo parcial na Skin Depp Tattoo. Não é grande coisa, ― eu disse.
― O quê? Você não pode pagar suas contas? Você
disse que o trabalho de bartender faz você receber o valor de um mês num fim de
semana! ― Disse papai.
― E faz.
― Então você está gastando mais do que você
está recebendo? O que foi que eu te disse sobre ser responsável? Droga,
Camille! Quantas vezes eu te disse para não obter cartões de crédito? ― Ele
limpou a boca e jogou o guardanapo sobre a mesa. ― Não chicoteei sua bunda o
suficiente quando criança! Se tivesse, você poderia malditamente me ouvir de
vez em quando!
Trenton estava olhando para seu
prato, respirando mais rápido, e inclinando-se um pouco para frente. Estendi a
mão para tocar seu joelho.
― Não tenho cartões de crédito, ― eu disse.
― Então por que em nome de Deus que você
arranjou um segundo emprego, quando você ainda está na faculdade? Isso não faz
qualquer sentido, e eu sei que você não é estúpida! Nenhuma filha minha é
estúpida! Então, qual é a razão? ― , ele perguntou, gritando como se eu
estivesse do outro lado da rua.
Mamãe então olhou para Coby, que
ainda estava de pé, e o resto da minha família o fez, também. Quando o reconhecimento
iluminou os olhos do meu pai, ele se levantou, batendo na mesa enquanto dizia.
― Você está nessa merda de novo, não é? ―
Disse ele, segurando um punho balançando no ar.
― O quê? ― Disse Coby, sua voz levantou uma
oitava.
― Não, pai, que porra é essa?
― Você está nessa merda de novo, e sua irmã
está pagando suas contas? Você está fora de sua mente, porra? ― Disse papai.
Seu rosto estava vermelho, e havia uma linha tão profunda entre suas
sobrancelhas que a pele em torno dela estava branca. ― O que foi que eu te disse? O que eu disse
que aconteceria se você chegasse perto dessa merda de novo? Você pensou que eu
estava brincando?
― Por que eu acharia isso? ― Disse Coby, sua
voz tremendo. ― Você não tem um senso de humor!
Papai correu ao redor da mesa e atacou
Coby, e minha mãe e irmãos tentaram intervir. Havia gritos, faces vermelhas,
dedos apontados, mas Trenton e eu apenas assistimos de nossos lugares.
Julgamento e choque estavam ausentes do rosto de Trenton, mas eu estava
afundada de volta contra a minha cadeira, completamente humilhada. Nenhuma
quantidade de aviso poderia tê-lo preparado para o circo Camlin semanal.
― Ele não está usando de novo, ― eu disse.
Todos se viraram para mim.
― O que você disse? ― Disse papai com a
respiração ofegante.
― Estou pagando Coby de volta. Ele me
emprestou dinheiro um tempo atrás.
As sobrancelhas de Coby puxaram
juntas.
― Camille...
Papai deu um passo em minha direção.
― Você não podia dizer nada até agora? Deixar
o seu irmão assumir a culpa por sua irresponsabilidade? ― Ele deu outro passo.
Trenton virou todo o seu torso para o meu pai, me protegendo.
― Acho que você precisa se sentar, senhor, ―
disse Trenton.
O rosto do papai se transformou de
raiva a ira, e Coby e Clark seguraram ele.
― Você acabou de me dizer para me sentar em
minha própria casa, porra? ― Disse ele, gritando o último pedaço.
Finalmente mamãe gritou, sua voz
embargada.
― Chega! Nós não somos um bando de animais
selvagens! Temos um convidado! Sentem-se!
― Veja o que você fez? ― Papai me disse. ―
Você perturbou sua mãe!
― Felix, sente-se! ― Mamãe gritou, apontando
para a cadeira de madeira do meu pai.
Ele sentou.
― Eu sinto muito, ― disse mamãe a Trenton. Sua
voz tremia enquanto ela nervosamente voltava para seu assento. Ela enxugou os
olhos com o guardanapo de pano e, em seguida, colocou-o suavemente no colo. ―
Isso é muito embaraçoso para mim. Posso apenas imaginar como Camille deve
sentir.
― Minha família é muito turbulenta, também,
Sra. Camlin, ― disse Trenton.
Sob a mesa, seus dedos começaram a
aliviar-se de onde tinham cavado em meu joelho. Eu nem tinha notado até aquele
momento, mas meus dedos encontraram o caminho para os seus, e eu apertei sua
mão forte. Ele apertou de volta. Sua compreensão disso fez uma onda de emoção
cair em cima de mim, e tive que sufocar as lágrimas. Esse sentimento
desapareceu rapidamente quando o garfo do papai raspou contra o seu prato.
― Quando você ia nos dizer que você estava explorando
seu irmão, Camille?
Olhei para ele, de repente com raiva.
Eu sabia que a culpa estava vindo, mas ter Trenton ao meu lado me fez sentir uma
onda de confiança que nunca tinha sentido perto do meu pai.
― Quando eu pensei que você iria se comportar
como um adulto maduro sobre o assunto.
A boca do meu pai caiu aberta, e
assim o fez mamãe.
― Camille, ― disse mamãe.
Papai colocou os dedos sobre a mesa e
se levantou.
― Guarde a sua voz, ― eu disse. ― Estamos indo
embora. ― Eu levantei, e Trenton levantou comigo. Caminhamos até a porta da
frente.
― Camille Renee! Traga seu traseiro de volta
para esta mesa! ― Disse papai.
Abri a porta. Tinha marcas e
amassados no fundo da madeira, onde meu pai tinha chutado a porta aberta ou
fechada durante suas muitas birras. Fiz uma pausa antes de empurrar a alavanca
da porta de tela, mas não olhei para trás.
― Camille! Estou avisando! ― disse papai.
Abri a porta e tentei não correr para
o Intrepid. Trenton abriu a porta do passageiro, eu entrei, e depois ele deu a volta.
Ele estava se apressando para colocar as chaves na ignição.
― Obrigada, ― disse, uma vez que ele se
afastou.
― Pelo quê? Não fiz absolutamente nada, ―
disse Trenton, claramente infeliz com isso.
― Por manter sua promessa. E por dar o fora de
lá antes que meu pai saísse para me pegar.
― Eu tinha que me apressar. Sabia que se ele chegasse
lá fora e gritasse com você ou a ameaçasse mais uma vez, eu não seria capaz de
manter a minha promessa.
― Isso foi um desperdício de uma tarde de
folga, ― eu disse, olhando para fora da janela.
― Por que Chase puxou o problema? Qual foi o
ponto de partida de toda essa merda?
Suspirei.
― Chase tem ressentimento contínuo pelo tratamento
dado a Coby. Meus pais sempre trataram Coby como se ele não pudesse fazer nada
errado. Chase adora esfregar o vício de Coby no rosto de todos.
― Então por que você se incomodou em ir se
você sabia que ele sabia?
Olhei para fora da janela.
― Porque alguém precisava assumir a culpa por
isso.
Ele ficou em silêncio por alguns
instantes, e depois Trenton resmungou:
― Coby soa como um bom candidato.
― Sei que parece loucura, mas eu só preciso de
um de nós para pensar que eles são bons pais. Se todos nós odiássemos a forma
como fomos criados, tornaria isso mais real, sabe?
Trenton estendeu a mão para a minha.
― Não é uma loucura. Eu costumava fazer Thomas
me dizer tudo o que ele lembrava sobre a mamãe. Só tenho algumas vagas memórias
preciosas dela. Saber que as lembranças dele eram mais do que apenas sonho,
momentos nebulosos, faziam-na mais real para mim.
Puxei minha mão da dele e toquei meus
dedos em meus lábios.
― Estou tão envergonhada, mas tão grata que
você estava lá. Eu nunca teria falado com o meu pai dessa forma, se você não
estivesse lá.
― Se você alguma vez precisar de mim, estou
apenas a um telefonema de distância. ― Ele estalou os dedos algumas vezes, e,
em seguida, começou a cantar, horrivelmente, um coro muito alto e sincero de ‘’I’ll
be there’’ do Jackson 5.
― Isso é um pouco alto para você, ― eu disse,
abafando o riso.
Ele continuou cantando. Cobri meu
rosto, e em seguida, as risadinhas começaram. Trenton cantou mais alto, e eu
cobri meus ouvidos, balançando a cabeça e fingindo desaprovação.
― ‘Basta olhar por cima dos seus ombros!’ ―
Ele gritou.
― Ambos? ― eu perguntei, ainda rindo.
― Eu acho. ― Ele encolheu os ombros. ― Mikey realmente
diz isso.
Trenton entrou no estacionamento do
meu apartamento, e parou na vaga ao lado do meu Jeep.
― Você vai sair hoje à noite? ― Perguntei.
Ele se virou para mim, uma carranca
de desculpas em seu rosto.
― Não. Preciso começar a poupar mais dinheiro.
Vou conseguir algum lugar próprio em breve.
― Seu pai não vai sentir falta da sua ajuda
com o aluguel?
― Eu poderia me mudar agora, mas estou economizando
para ajudá-lo, também. A sua pensão não é tão grande.
― Você vai continuar pagando aluguel para o
seu pai depois que se mudar?
Trenton pegou em seu volante.
― Sim. Ele tem feito muito por nós.
Trenton não era nada do que pensei
que ele fosse.
― Obrigada mais uma vez. Devo-lhe uma.
Um dos lados da boca de Trenton se
levantou.
― Posso fazer jantar para você?
― Para eu te recompensar, eu teria que fazer o
jantar para você.
― Você está me recompensando ao me deixar
cozinhar na sua casa.
Pensei por um minuto.
― Tudo bem. Só se você me trouxer uma lista de
compras, e me deixa comprar.
― Negócio fechado.
Saí do carro e fechei a porta. Os
faróis pintaram minha silhueta na frente do meu apartamento enquanto eu girava a
chave na tranca e, em seguida, girei a maçaneta. Acenei uma vez para Trenton
quando ele recuou, mas depois ele puxou de volta para a vaga do estacionamento,
pulou para fora, e correu para a minha porta.
― O que você está fazendo?
― Esse não é... ― Ele acenou com a cabeça na
direção de um carro dirigindo rápido em nossa direção.
― É Coby, ― eu disse, engolindo em seco. ― É
melhor você ir.
― Não vou a lugar nenhum.
O azul-elétrico do Camaro de Coby puxou
em uma parada atrás do meu Jeep e do Intrepid de Trenton, e ele pulou para
fora, batendo a porta do carro. Eu não tinha certeza se eu deveria insistir
para ele entrar para que os vizinhos não ouvissem, ou mantê-lo fora para evitar
que o meu apartamento fosse destruído.
Trenton firmou-se, preparando-se para
parar o que quer que Coby pudesse fazer. Coby pisou em minha direção, seu rosto
severo, com os olhos vermelhos e inchados, e, em seguida, ele colidiu em mim,
passou os braços em volta de mim com tanta força que eu mal podia respirar.
― Sinto muito, Cami, ― disse ele entre
soluços. ― Sou um pedaço de merda!
Trenton nos observava, parecendo tão
surpreso quanto eu. Após uma breve pausa, abracei Coby de volta, dando-lhe tapinhas
com uma mão.
― Está tudo bem, Coby. Está tudo bem. Nós
vamos resolver isso.
― Eu me livrei de tudo. Eu juro. Não vou tocar
nisso novamente. Vou te pagar de volta.
― Tudo bem. Está tudo bem, ― eu disse.
Estávamos balançando para frente e para trás, e, provavelmente, parecendo um
pouco bobos.
― Papai ainda está agressivo. Eu não podia
ouvi-lo mais.
Nós dois nos afastamos.
― Venha para dentro um pouco. Tenho que me
preparar para o trabalho em breve, mas você pode ficar aqui até eu sair.
Coby assentiu.
Trenton enfiou as mãos nos bolsos.
― Você precisa que eu fique?
Balancei minha cabeça.
― Não, ele só está chateado. Mas obrigado por
ficar ao redor para ter certeza.
Trenton balançou a cabeça, olhou para
trás, e então, como se fosse a coisa mais natural do mundo, se inclinou para beijar
minha bochecha, e então se virou para ir embora. Eu fiquei parada na porta por
um momento. A parte da minha pele onde seus lábios tocaram ainda formigava.
― O que aconteceu com o cara da Califórnia? ―
Coby fungou.
― Ele ainda está na Califórnia, ― eu disse,
fechando a porta e inclinando-me contra ela.
― Então, qual é a história com Trent Maddox?
― Ele é apenas um amigo.
Coby levantou uma sobrancelha.
― Você nunca trouxe uma cara para casa. E eu
não beijo os meus amigos. Só estou dizendo.
― Ele me beijou na bochecha, ― eu disse,
sentando ao lado dele no sofá. ― Acho que temos coisas mais importantes para falar,
não é?
― Talvez, ― disse Coby, desanimado.
― Você achou um programa?
― Eu simplesmente vou parar de vez.
― Isso não funcionou muito bem da última vez,
não é?
Coby franziu o cenho.
― Tenho contas para pagar, Cami. Se cobradores
começarem a chamar em casa, papai vai descobrir.
Eu dei um tapinha em seu joelho.
― Deixe-me preocupar com isso. Você se preocupa
em ficar limpo.
Os olhos de Coby perderam o foco.
― Por que você é tão boa para mim, Cami? Eu
sou um perdedor. ― Seu rosto comprimiu, e ele começou a chorar novamente.
― Porque eu sei que você não é.
Depressão era um dos efeitos
colaterais dos esteroides anabolizantes, por isso era importante para Coby
obter ajuda ao parar. Sentei-me com ele na namoradeira, até que ele ficasse
calmo, e então eu fiquei pronta para o trabalho. Ele ligou a televisão e
sentou-se calmamente, provavelmente feliz por estar longe da guerra constante
que se travava dentro da casa dos meus pais. Se papai não estava gritando com
mamãe, ele estava gritando com um dos meninos, ou eles estavam gritando um com o
outro. Só mais uma razão pela qual eu não podia esperar para sair de lá. Viver
com isso foi o suficiente para ficar deprimida.
Coby não estava pronto para morar por
conta própria, então diferente do resto de nós, ele estava preso lá. Depois de
trocar de roupa e refazer minha maquiagem, peguei minha bolsa e as chaves, e estendi
a mão para a maçaneta da porta.
― Você só vai ficar aqui? ― Perguntei.
― Sim, ― disse Coby. ― Se estiver tudo bem.
― Não faça nada que vai me fazer lhe dizer não
da próxima vez que você quiser vir para cá.
― Eu não vou ficar muito tempo. Talvez apenas
até meu pai ir dormir.
― Tudo bem. Ligue para mim amanhã.
― Cami?
― Sim, ― eu disse, parando rapidamente, e
virando minha cabeça para trás.
― Eu te amo.
Sorri.
― Eu também te amo. Vai dar tudo certo. Eu prometo.
Ele acenou com a cabeça, e eu corri
para o Smurf, rezando para que ele funcionasse. Graças a Deus ele funcionou. Meu
caminho para o trabalho foi gasto me preocupando com Coby, e TJ, e Trent, e
ainda tentando me preparar psicologicamente para uma noite de sábado movimentada.
Raegan já estava atrás do bar leste,
preparando e limpando as coisas.
― Ei, amorzinho! ― Disse Raegan. Seu sorriso
brilhante imediatamente caiu quando seus olhos encontraram os meus.
― Uh-oh. Você foi até a casa dos seus pais
hoje, não foi?
― Como é que você adivinhou?
― O que aconteceu?
― Trent foi comigo, por isso não foi tão ruim
quanto poderia ter sido. Chase descobriu que eu tinha um segundo emprego.
― Esse cabeça de merda disse a seus pais o
porquê, não foi?
― Praticamente.
Raegan suspirou.
― Sempre causando problemas.
― Você já esteve com Kody o dia todo?
As bochechas de Raegan coraram.
― Não. Estamos meio que... dando um tempo.
― O quê? ―
― Ssh! Dando um tempo. Até eu conseguir compreender
algumas coisas.
― Então, onde você esteve o dia todo?
― Eu parei no Sig Tau. Só por algumas horas
antes do trabalho.
― Sig Tau? ― Meu cérebro levou um pouco de
tempo para compreender. Observei-a por um momento, e então balancei a cabeça. ―
Ele ligou para você, não foi?
Raegan fez uma careta.
― Não estou falando sobre isso aqui. Já é
estranho o suficiente. Kody está aqui, então vamos apenas guardar isso até
chegarmos em casa.
Balancei minha cabeça novamente.
― Você é tão estúpida. Brazil viu que você
está feliz com Kody, então ele fez a ligação. Agora você está estragando algo
bom, e o Brazil não vai mudar.
Kody se aproximou, parecendo magoado.
― Uh, vocês precisam de alguma coisa?
Raegan balançou a cabeça, e eu
também. Kody percebeu que eu sabia alguma coisa. Seus ombros caíram, e ele simplesmente
assentiu com a cabeça e se afastou.
― Droga, Cami! Eu disse não aqui! ― Raegan
assobiou.
― Desculpe, ― eu disse, contando minha gaveta.
Dizer qualquer outra coisa teria apenas a deixado mais irritada, então eu
mantive os meus pensamentos para mim mesma.
A afobação aconteceu mais cedo do que
o habitual, e estava grata pela distração. Kody manteve-se ocupado na entrada, então
quase não o vi até pouco antes de fechar. Ele estava em pé na parede oeste, num
canto escuro, observando Raegan. O DJ estava tocando a música deles, por isso
foi particularmente irritante ver o Brazil de pé no final do bar, inclinando-se
e sorrindo para Raegan, que também estava inclinada e sorrindo.
Eu não podia acreditar que ela estava
sendo tão fria com Kody. Caminhei com uma jarra de cerveja passando por ela, fingi
tropeçar, e toda a jarra atravessou o bar e caiu tudo em cima do Brazil. Ele
saltou para trás, e ergueu os braços. Era tarde demais: sua camisa xadrez
marrom e calça jeans estavam encharcadas.
― Cami! ― Raegan gritou.
Inclinei-me em seu rosto.
― Você ouve a música que está tocando? Kody
está trabalhando na porta, então você sabe que ele sabe que o Brazil está aqui.
Não há necessidade de ser uma cadela sem coração, Ray.
― Eu sou uma vadia sem coração? Não vamos nem falar
sobre o que você está fazendo.
Fiquei de boca aberta. Sua reação
instintiva não foi uma surpresa, mas trazer Trenton era.
― Não estou fazendo nada! Somos apenas amigos!
― Sim, vamos rotular isso com algo benigno
para que você possa dormir à noite. Todo mundo vê o que você está fazendo,
Cami. Nós não somos apenas hipócritas o suficiente para repreendê-la por isso.
Raegan abriu uma cerveja, e a trocou
por dinheiro. Ela caminhou até o caixa e furiosamente bateu nos números como se
estivesse brava com eles. Eu poderia ter me sentido mal, se eu não tivesse olhado
em toda a sala e visto que por apenas um momento, Kody não parecia tão
miserável.
Raegan caminhou até ficar ao meu
lado, seus olhos em Kody do outro lado da sala.
― Eu não percebi que música estava tocando.
― Você percebeu que o Brazil estava a uma
distância de beijar o seu rosto na frente de todos nem 24 horas depois de você
ter dispensado Kody?
― Você está certa. Vou dizer a ele para ficar
longe. ― Ela estendeu a mão para a buzina e puxou-a, sinalizando última chamada.
Kody enfiou as mãos nos bolsos e caminhou em direção à entrada.
― Acho que Kody vai me acompanhar até o meu
carro hoje à noite, ― eu disse.
― Isso seria melhor, ― disse Raegan.
Nós limpamos a nossa estação e
arrumamos para a noite seguinte. Dentro de uma hora após o fechamento, nós pegamos
nossos casacos. Raegan pendurou a bolsa no ombro e acenou para Gruber.
― Acompanha-me? ― Ela perguntou.
Gruber hesitou, e Kody apareceu ao
seu lado.
― Eu posso acompanhá-la.
― Kody... ― Raegan começou.
Kody encolheu os ombros, rindo uma
vez.
― Não posso levá-la até o carro? É parte do
meu trabalho, Ray.
― Gruber pode me acompanhar, você não pode, Gruby?
― Eu... uh... ― Gruber gaguejou.
― Vamos, Ray. Deixe-me acompanhá-la. Por
favor?
Os ombros de Raegan caíram, e ela
suspirou.
― Vejo você em casa, Cami.
Acenei para ela, e fiz questão de
ficar vários metros para trás.
Gruber e eu podíamos ouvir Kody
suplicando com Raegan em seu carro do outro lado do estacionamento, e isso quebrou
meu coração. Gruber ficou comigo no meu carro até Raegan entrar no dela. Ela me
seguiu até em casa, e quando entramos no estacionamento, olhei para ver Raegan
soluçando em suas mãos.
Abri a porta.
― Vamos. Vamos assistir a filmes de terror e
comer sorvete.
Raegan olhou para mim, com os olhos
vermelhos e inchados.
― Você já amou duas pessoas ao mesmo tempo? ― ela
perguntou.
Após uma longa pausa, eu estendi
minha mão.
― Se eu alguma vez tentar, dê um tapa em mim,
ok?
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