Capítulo 9 - A Barraca de Café
O novo trabalho de Denny era uma empresa de marketing
para pequenas empresas, mas lidava com clientes de internet. Estava longe de
ser o estágio de prestígio de uma das maiores empresas de publicidade de que
ele havia desistido. Seu brilho, enquanto era bem-vindo e encorajado em seu
trabalho anterior, era quase desprezado aqui. As pessoas de mente pequena ao
redor dele se sentiam intimidadas por suas ideias. Eles transformavam seu
trabalho em pouco mais do que ser um moço de recados glorificado, executando
suas tarefas e acariciando seus egos.
Ele odiava cada minuto. Ele nunca me falava, sempre
querendo me livrar da dor ou culpa, mas independentemente disso, eu sabia.
Podia ver isso em seus olhos quando ele permanecia na cozinha antes de sair
para o dia. Podia vê-lo na queda de seus ombros quando ele entrava no bar à
noite, depois que seu longo dia finalmente tinha acabado. Ele estava infeliz.
Uma noite no Pete, depois de um longo dia de trabalho,
ele sentou-se calmamente em uma mesa para beber sua cerveja, aparentemente
perdido em pensamentos. Eu queria ir lá e falar com ele, mas não havia mais
nada a dizer. Eu já disse a ele que acabaria por ficar melhor e não parecia
estar ficando melhor. Eu já disse a ele que o amava eternamente por voltar.
Isso rendeu um pequeno sorriso, mas não muito mais. Eu até tinha lhe dito para
sair e encontrar trabalho em outro lugar, mas não havia qualquer vaga em nenhum
lugar. Ele ainda estava ativamente procurando, mas por agora, se ele queria
ficar em seu campo escolhido e se ele queria ficar em Seattle... ele estava
preso.
Eu suspirei, observando-o. Olhei para Kellan, descansando
com seus companheiros de banda algumas mesas de distância de Denny, esperando
que ele finalmente sentasse e conversasse com ele, para tentar animá-lo. Mas
Kellan estava em sua mesa de sempre, de costas para Denny, conversando com
Matt. A partir de uma perspectiva de fora provavelmente nada parecia, mas eu
sabia que Kellan estava evitando-o ainda. Ele nem mesmo olhava para Denny mais
e raramente dizia mais do que algumas palavras educadas para ele. Eu queria que
Kellan apenas parasse e fosse seu amigo de novo, como ele disse que era. Eu
entendia a sua culpa, sentia isso também, mas já era o suficiente. Denny
precisava de nós agora.
Um telefone celular ao lado de Denny tocou e suspirando,
ele o pegou. A empresa sentia a necessidade de ter acesso 24 horas a ele, e lhe
deu o telefone com instruções de que ele só poderia usá-lo para falar com eles
e se tocava, era melhor ele atender. A coisa toda me irritava muito. Era muito
além do que um estagiário devia ter que fazer.
Ele falou desanimado por alguns minutos, desligou o
telefone, em seguida, levantou-se e fez o seu caminho para mim. — Hey. — Ele
tentou sorrir, mas eu podia ver como era forçado.
— Oi. — Sorri para ele tranquilizando, mesmo que eu
pudesse sentir a irritação em mim começando a subir, na conversa que eu podia
sentir que viria.
— Eu sinto muito, — afirmou abruptamente. — Era Max.
Tenho que ir. — Max era um irritante homem astuto e pequeno, que parecia gostar
de nada mais que enviar Denny em missões inúteis, de preferência em horas de
folga. Sua última missão vital envolveu limpeza a seco e Starbucks.
— Mais uma vez? Denny... — Eu não
queria parecer agitada, mas eu estava, e se infiltrou em minha voz. Eu estava
ficando muito doente e cansada das tarefas infinitas que ocupavam muito do seu
tempo e pensamentos, e que eram tão abaixo de sua mente brilhante.
— Kiera, — Raiva brilhou em seus olhos, — É o meu
trabalho. Eu tenho que fazer isso.
A irritação na minha voz foi intencional desta vez. — Não
costumava ser.
Tristeza tomou conta de seu rosto. — Não, não costumava
ser...
A culpa se misturando com minha raiva, só a aumentou. Eu
praticamente me afastei dele e comecei a pegar os copos vazios de uma mesa
próxima. — Tudo bem, te vejo mais tarde então.
Raiva transformou meus pensamentos escuros. Ele foi o
único que deixou tudo para correr de volta para mim. Se ele tivesse me dado
tempo, eu teria me acalmado e poderíamos ter trabalhado em algo...
Provavelmente. Eu odiava sentir-me culpada por sua decisão. Eu me sentia
culpada o suficiente sobre a minha... sobre Kellan.
Sem dizer nada mais, ele se virou e saiu do bar. Olhando
para trás, por cima do meu ombro, eu o vi desaparecer pela porta dupla.
Suspirando, comecei a voltar para o meu trabalho, quando notei Kellan me
olhando, olhando nossa conversa atentamente. Ótimo, mais alegria para ele,
pensei, minha mente ainda em um lugar escuro.
Ele lentamente se levantou e fez o seu caminho para onde
eu estava. Minha irritação aumentou ainda mais. Realmente, eu não estava no
clima para ser atacada por ele agora. Ele nunca tinha realmente concordado que
estava sendo maldoso para mim, e sua atitude em relação a mim não mudou muito
desde a nossa breve conversa na cozinha. Uma irritação por essa conversa
brilhou através de mim, mais uma vez. Aparentemente, de acordo com ele, nunca
fomos amigos mesmo.
Concentrando-me em empilhar os copos, eu decidi apenas
ignorá-lo.
Ele veio para o meu lado, pressionando seu lado no meu e
olhando para mim. O movimento era decididamente intimista e uma sensação
estranha passou por mim. Ainda que o
bar estivesse cheio, não estava tão
cheio. Ficaria estranho para alguém ver ele em pé tão perto de mim.
Instintivamente, me afastei e olhei para ele. Tanto para ignorá-lo.
— Denny te deixou de novo? Eu poderia encontrar outro
amigo de bebedeira para você, se estiver se sentindo... sozinha? — Ele
perguntou com ironia antes de sorrir diabolicamente. — Talvez Griffin desta
vez?
— Eu não preciso da sua porcaria agora, Kellan! — Eu
disse com raiva.
— Você não parece estar feliz com ele, — ele respondeu
com calma, uma nota estranhamente séria em seu tom.
— O quê? E eu seria mais feliz com você? — Olhei para o
rosto perfeitamente charmoso, seu sexy meio sorriso e seus olhos estranhamente
frios. Ele não disse nada para isso, apenas manteve o sorriso irritantemente
encantador em seu rosto. De repente, eu não estava com raiva, estava
completamente puta da vida.
Inclinando-me para perto, para que ninguém mais ouvisse,
eu sussurrei, — Você foi o maior erro da minha vida, Kellan. Você estava certo
- nós não somos amigos, nunca fomos. Eu queria que você apenas fosse embora.
Eu imediatamente desejei que pudesse tomar as palavras de
volta. Ele estava sendo um idiota, mas eu não queria machucá-lo por depreciar o
que tínhamos compartilhado juntos. E eu ainda pensava nele como um amigo, mesmo
que ele não pensasse em mim dessa forma. Seu sorriso instantaneamente se foi.
Seus olhos foram de frios a gelo e ele me empurrou para passar por mim, quase
me fazendo soltar minha pilha de copos.
Ele saiu logo depois.
Quando voltei para casa do meu turno, Denny estava
esperando por mim. Ele estava sentado na cama, vendo TV e parecendo muito
cansado. Seu rosto, e o fato de que ele estava esperando para falar comigo,
suavizou a minha raiva da nossa conversa anterior e eu sorri para ele.
— Hey.
— Sinto muito, — ele disse
imediatamente, desligando a TV. — Eu não devia falar assim com você. Não é sua
culpa que eu não esteja feliz lá.
Me sentei com ele na cama. Ele nunca tinha admitido que
odiava o trabalho. Coloquei minha mão em seu rosto. — Sinto muito também. Eu
não tive a intenção de falar assim também. Eu só... sinto sua falta.
— Eu sei. — Seu sotaque na palavra me fez sorrir. — Sinto
falta de você também. Eu vou fazer melhor. Prometo, ok? Não vou ser mais
rabugento. — Ele sorriu pela primeira vez no que pareceram semanas.
Eu ri para ele e o beijei suavemente. — Ok, eu vou tentar
não ser mal-humorada, então.
Na manhã seguinte, sentindo-me melhor depois de ter
conversado com Denny, eu tinha a esperança de falar com Kellan. Ele estava em
seu costume, tomando um café e lendo o jornal, mas não olhou para cima quando
entrei. Envergonhada com a minha explosão de ontem, eu não tinha certeza do que
fazer. Silenciosamente eu fiz o meu café, e depois perdendo a coragem, decidi
beber lá em cima. Simplesmente não podia suportar o constrangimento.
Mas a culpa me parou antes que eu pudesse virar
completamente a esquina. Não olhando, eu joguei um, "Sinto muito,
Kellan" sobre meu ombro. Eu saí em silêncio e pensei ter ouvido um
longo suspiro, mas nada mais.
Denny parecia ter mudado. Embora ainda muito infeliz com
sua situação, ele suspirava muito menos e falávamos muito mais. Eu ainda não o
via o suficiente, e ele ficava muitas horas após as chamadas de telefone para o
meu gosto, mas eu tentei não lamentar sobre isso também. Era preciso sacrifício
de ambos para fazer isso funcionar.
Kellan estava diferente também. Por todo o mau humor que
eu e Denny estávamos tentando diminuir, Kellan estava compensando. Ele nos
evitava na maior parte. Nas raras ocasiões em que estávamos todos juntos, ele
não dizia nada mais do que algumas palavras educadas. Ele tinha parado de ser
um idiota, e eu estava grata, mas seu silêncio fez meu estômago se sentir
estranho. Eu sentia algo vindo, só não sabia o quê. Era inquietante.
Um sábado de manhã, Denny e Kellan
estavam lá embaixo conversando antes de eu chegar. Eu não poderia dizer o que
tinham conversado, mas quando virei a esquina, Kellan estava sorrindo para
Denny, que tinha uma mão em seu ombro. Eu não tinha ideia do que se tratava,
mas a visão de ambos juntos foi emocionante e culpabilizante.
Denny olhou para mim quando entrei na sala. — Você pode
conseguir alguém para trocar de turno com você? Estamos todos saindo hoje à
noite - para a noite de companheiros de casa.
Tentei sorrir, mas meu estômago caiu. Isso não era bom. —
Ohhhh, é uma grande ideia, querido. Para onde vamos?
— Um amigo meu tem uma banda tocando hoje à noite no
Shack. — Kellan disse calmamente, olhando-me pela primeira vez em dias. Seu
olhar era triste e meu estômago doeu de novo.
— Ok, parece ótimo. Eu troco com a Emily. Ela trabalha
normalmente durante o dia, mas pediu a Jenny se ela poderia trabalhar algumas
noites... gorjetas melhores... — Dei de ombros.
— Ótimo! — Denny se aproximou de mim e me deu um longo
beijo. — Veja, eu ainda posso ser divertido. Não mais rabugento, eu prometi. —
Ele me deu um abraço rápido e foi saindo da sala. — Vou para o chuveiro, então
eu vou fazer o café da manhã. — Ele jogou por cima do ombro, com uma piscadela.
Eu ri, olhei para Kellan e parei. Ele estava olhando para
longe de nós, com o rosto pálido. Ele não parecia nada bem.
— Você está bem? — Sussurrei, não querendo realmente
perguntar no caso do Kellan-idiota aparecer novamente.
Ele olhou para mim, os olhos tristes, mas um sorriso no
rosto. — Claro. Isso vai ser... interessante.
De repente preocupada, eu andei para
mais perto dele. — Você tem certeza? Isto não tem que acontecer. Denny e eu
podemos ir sozinhos.
Seu rosto de repente ficou sério e ele me olhou
atentamente. — Eu estou bem e gostaria de passar uma… noite com os meus
companheiros de quarto. — Ele se afastou de mim e foi para cima e a dor no meu
estômago aumentou dez vezes. Ele disse isso de forma estranha e isso me
apavorou.
A noite começou... estranha. Kellan desapareceu pouco
tempo após o anúncio de que nós estávamos tendo uma noite fora. Ele havia saído
de casa com um, "Eu encontro vocês lá" e Denny e eu não o
vimos pelo resto do dia. O que, realmente, me serviu muito bem. Seu novo
comportamento, triste e tranquilo, estava causando ao meu estômago coisas
estranhas, um pânico que eu não tinha coragem para analisar.
Em vez disso, voltei minha atenção para Denny, tentando
me concentrar em apenas ter um bom tempo com ele, como estávamos habituados a
ter. Ele parecia com um humor melhor do que o habitual. Talvez ele tivesse
notado que as coisas estavam tensas em torno da casa com Kellan e estava
tentando compensar. Ele parecia animado por todos nós sairmos e fazermos alguma
coisa juntos hoje à noite. Eu não estava tão animada, mas fingi para o meu
homem.
O dia passou lentamente, de forma pacífica, mas
finalmente chegou a hora de me preparar para a noite. Ainda estava muito quente
para esta época do ano, então eu escolhi uma glamorosa saia preta e uma blusa
rosa de manga curta com uma jaqueta. Deixei meu cabelo solto, casual e um pouco
ondulado. Denny sorriu para mim e beijou meu rosto enquanto eu passava meu
batom. Ele usava a minha camiseta favorita azul que eu amava em sua pele
bronzeada. Gentilmente, ele estendeu um pequeno frasco de gel e deixou-me
enlouquecer com seu cabelo, balançando a cabeça quando eu estava satisfeita com
ele. Ele estava tentando me agradar hoje à noite e estava funcionando, eu
estava muito emocionada com seus gestos.
Quando chegamos ao The Shack, o carro de Kellan já estava
lá e nós estacionamos ao lado de sua Chevelle. Fazendo o nosso caminho para as
portas da frente, notei que o bar era cerca de metade do tamanho de Pete.
Gostaria de saber onde a banda tocaria, até que percebi as portas abertas na
parte de trás do balcão e a multidão de pessoas do lado de fora. Nós fizemos
nosso caminho de volta para um grande jardim cercado. Havia mesas ao longo dos
lados da vedação e ao longo da parede do bar,
com uma seção aberta em frente de uma grande fase oposta do edifício. A banda
estava arrumando seus equipamentos e Kellan estava lá, conversando com um dos
rapazes. Ele nos viu e apontou para uma mesa ao longo da cerca que já tinha uma
garrafa de cerveja e três copos.
Denny e eu acenamos de volta e fomos até a mesa reservada
para nós. Denny puxou minha cadeira como se estivéssemos em um primeiro
encontro e eu sorri para ele. — Obrigada, senhor. — Provoquei.
— Qualquer coisa por uma garota bonita. — Ele sorriu e
beijou minha mão galantemente.
Brincando com ele um pouco, eu disse em falsa surpresa, —
Oh, você é australiano? Eu amo Australianos.
— Fantástico! Que tal um beijo e este cavalheiro antes de
se juntar a ele para uma bebida então, Sheila? — Disse ele em resposta,
exagerando enormemente seu sotaque.
Eu ri para ele e me inclinei para lhe dar o beijo que ele
pediu. — Você é um idiota.
— Sim, mas você me ama de qualquer jeito. — Ele me beijou
de volta.
— Hmmm... sim. — Eu sorri, então virei quando eu senti
olhos nas minhas costas.
Kellan estava atrás de mim, olhando-nos fixamente. Eu
estava tentando fazer as coisas voltarem ao normal, queria que Kellan pelo
menos tentasse também. Sua melancolia estava realmente começando a me afetar.
Ele sentou-se e serviu a todos uma cerveja, sem olhar para nenhum de nós.
Denny não parecia notar seu humor. — Quando é que o seu
amigo vai tocar? — Perguntou-lhe alegremente.
Kellan brevemente olhou para ele. — Daqui a uns vinte
minutos. — Ele tomou um longo gole de sua cerveja enquanto uma mulher passou e
não tão sutilmente o olhou de cima a baixo. Surpreendentemente, ele só
deu uma rápida olhada, e então voltou sua atenção para a sua cerveja. Em um
acesso de raiva perceptível, ela se afastou.
Os vinte minutos que levou para a banda finalmente
começar, senti como se fossem 20 horas. Nosso pequeno trio estava belo e
tranquilo. Denny tentava começar uma conversa com Kellan, só para Kellan
dar-lhe respostas com uma ou duas palavras. Eventualmente, Denny parou de
tentar. Minha irritação com Kellan foi crescendo minuto a minuto dolorosamente
longo.
Finalmente, a banda começou a tocar e Denny e eu deixamos
um Kellan mal humorado na mesa enquanto rimos e dançávamos perto do palco.
Entre giros e mergulhos, lancei olhares à mesa, só para ver Kellan nos
observando com uma expressão indecifrável no rosto. Meninas ocasionalmente
tentavam tirá-lo para dançar também, mas ele parecia estar recusando todas.
Novamente minha irritação com ele cresceu. Qual era o seu problema?
Durante o intervalo voltamos para a mesa, para terminar
às pressas nossas cervejas e relaxar por alguns minutos. Notei que estava
começando a esfriar, mas senti calor por dançar com Denny. Kellan ficou em
silêncio, olhando para o copo vazio na mão, quando de repente o celular de
Denny começou a tocar. Assustada, olhei para ele quando ele timidamente
respondeu. Eu não tinha percebido que ele o tinha trazido. Tentei não ficar
irritada com isso. Era o trabalho dele, eu acho. Ele falou por alguns segundos
com alguém antes de começar a dizer "alô" algumas vezes.
— Droga, — Denny murmurou quando fechou o telefone. — A
bateria acabou. — Olhando para mim, ele sacudiu a cabeça se desculpando. —
Desculpe, eu realmente preciso ligar de volta para Max. Eu vou verificar lá
dentro, ver se posso usar o telefone.
Eu sorri para ele, forçando a minha irritação para baixo.
Esta noite era sobre se divertir, não ser amarga.
— Não tem problema, nós vamos estar aqui. — Eu acenei a
cabeça sobre a cadeira de Kellan. Kellan ainda não estava olhando para nós. Ele
estava sentado desajeitadamente, ainda olhando para o copo em suas mãos com a
testa levemente franzida.
Denny levantou e me deu um beijo na
bochecha antes de se virar para voltar para dentro do bar. Kellan suspirou
baixinho e se mexeu na cadeira. Eu assisti Denny desaparecer na multidão e me
virei para olhar para Kellan. Com súbita irritação por seu comportamento
estranho e sinceramente irritada pela chamada de Denny, finalmente falei. —
Você disse que estava bem com isso. O que há com você?
Kellan olhou para mim, seus olhos azuis intensos. — Eu
estou tendo um tempo fabuloso. O que você poderia querer dizer? — Sua voz era
plana, fria. Olhei para longe e trabalhei em manter minha respiração constante
e a minha raiva em cheque. Eu não queria arruinar esta noite para Denny lutando
com Kellan.
— Nada, eu acho.
Kellan pousou o copo e de repente levantou-se. — Diga a
Denny que eu estava me sentindo mal... — ele fez uma pausa, como se fosse dizer
algo mais, então balançou a cabeça um pouco e apenas disse: — Para mim chega. —
Sua voz ainda estava muito fria e as palavras saíram com uma finalidade que deu
um nó no meu estômago. De repente, senti que ele não estava falando apenas
desta noite.
Eu lentamente levantei e olhei nos seus olhos. Eles
estavam ligeiramente estreitados enquanto me observavam atentamente. Sem outra
palavra, ele se virou e se dirigiu para o portão no muro atrás de nós, que o
levou para o estacionamento lateral, onde todos nós tínhamos estacionado no
início da noite. Eu o assisti sair por um segundo. Alto, magro e musculoso
exatamente do jeito certo, ele estava além da boa aparência, mais perto da
perfeição. Eu não podia evitar o sentimento que apertou meu interior quando o
vi abrir o portão. Eu só sabia que uma vez que ele fechasse a porta, eu nunca
iria vê-lo novamente. Algo começou a quebrar dentro de mim enquanto eu
considerava isso.
Eu deveria deixá-lo ir embora. Estava mal-humorado -
sempre frio e silenciosamente meditativo. E antes disso ele tinha sido um
idiota total - apertando e cutucando meu relacionamento com Denny, fazendo
comentários sugestivos sobre a nossa noite juntos e o segredo que guardávamos
de todos. Vislumbres daquela noite passaram na minha cabeça - seus braços
fortes, mãos ternas, seus lábios macios. Tentei pensar no passado, no tempo
quando ele tinha sido apenas um amigo, um bom
amigo. Combatendo as lágrimas repentinas que picavam meus olhos, eu corri para
a porta atrás dele.
Ele estava a meio caminho de seu carro quando eu fechei a
porta atrás de mim.
— Kellan! — Minha voz soou muito alta para mim, demasiado
em pânico. Se controle, pensei com raiva. Diga adeus, deixe ele ir e
leve a sua bunda de volta para o bar para esperar por Denny. — Por favor,
espere.
Ele diminuiu a velocidade e olhou por cima do ombro para
mim. Eu não conseguia dizer pela distância, mas seus ombros pareceram cair com
um suspiro.
— O que você está fazendo, Kiera? — A pergunta parecia
cheia de duplo sentido.
Eu me encontrei com ele, agarrando seu braço para detê-lo
e virá-lo para mim. — Espere, por favor fique.
Ele bateu minha mão, quase com raiva, e correu os dedos
pelos cabelos grossos. Ele olhou para o céu por um breve momento antes de
fechar seus olhos para mim. — Eu não posso mais fazer isso.
Esperando um de seus irreverentes e sugestivos
comentários, a seriedade repentina em sua voz me pegou de surpresa e virou o nó
no meu estômago em gelo. — Não pode fazer o que... ficar? Você sabe, Denny
gostaria de lhe dizer adeus. — As palavras soaram fracas e erradas, mesmo para
os meus ouvidos. Isso não tinha nada a ver com Denny... ou talvez tudo.
Ele balançou a cabeça de leve e olhou por cima do ombro
antes de retornar novamente o olhar para o meu. — Eu não posso ficar aqui... em
Seattle. Vou partir.
As lágrimas que antes eram só ameaças, agora estavam em
vigor. Droga, o que havia de errado com o meu corpo? Não é exatamente o que eu
queria que ele fizesse? Eu deveria estar batendo nas costas dele e dizendo:
"Ótimo, divirta-se." As coisas seriam muito mais fáceis aqui
sem ele - sua frieza, seus comentários irritantes, a linha interminável de
mulheres babando sobre ele, seus olhos incrivelmente azuis me seguindo em todo
o lugar, as memórias íntimas que às vezes apareciam na minha cabeça...
Eu agarrei o braço dele novamente.
Ele se afastou, mas não me empurrou para longe. — Não, por favor, não faça
isso! Fique... fique aqui com... com a gente. Só não vá... — Minha voz falhou
no final e eu não conseguia entender por que estava dizendo essas coisas para
ele. Eu queria dizer adeus. Por que as palavras estavam saindo tão erradas
assim?
Ele olhou para as lágrimas escorrendo pelo meu rosto como
se estivesse tentando resolver um problema que ele não entendia. — Eu... por
que você...? Você disse... — Ele engoliu em seco e olhou por cima do ombro,
como se não pudesse suportar ver mais. — Você não... você e eu não somos...
achei que você... — Ele exalou lentamente, compondo-se, e olhou nos meus olhos.
— Eu sinto muito. Me desculpe, eu fui frio, mas não posso ficar, Kiera. Eu não
posso ver mais isso. Preciso ir... — Sua voz foi sumindo em um sussurro.
Eu pisquei em descrença, ainda à espera de acordar deste
sonho estranho. Sentindo no meu silêncio que a conversa estranha tinha acabado,
ele começou a se afastar de mim. Um pânico doloroso fez meu corpo reagir mais
rapidamente do que a minha mente.
— Não! — Eu praticamente gritei com ele e agarrando seu
braço ainda mais apertado do que antes, eu o puxei para perto de mim. — Por
favor, me diga que isso não é por minha causa, por causa de você e de mim...
— Kiera...
Eu coloquei minha outra mão em seu peito e me aproximei
dele. — Não, não vá porque eu fui estúpida. Você tinha uma coisa boa aqui antes
que eu...
Ele recuou um meio-passo, mas deixou minha mão em seu
peito. — Não é... não é você. Você não fez nada de errado. Você pertence á
Denny. Eu nunca deveria ter... — Ele suspirou tristemente. — Você... você e
Denny são ambos...
Eu me aproximei dele novamente e apertei-me contra ele,
as lágrimas ainda caindo levemente em minhas bochechas. — O quê?
Ele congelou e exalou entrecortado, olhando-me fixamente.
— Vocês são ambos… importantes para mim, — ele sussurrou.
Inclinei-me mais perto, trazendo a
minha cabeça mais perto dele enquanto ele olhava para mim, respirando
lentamente através de seus lábios entreabertos. — Importante... como?
Ele balançou a cabeça de leve e recuou um passo. —
Kiera... deixe-me ir. Você não quer isso... — ele sussurrou. — Volte para
dentro, volte para Denny. — Ele moveu a mão para me puxar para fora de seu
braço, mas não deixei.
A palavra saiu antes que eu pudesse detê-la. — Fique.
— Por favor, Kiera, vá. — Ele sussurrou, seus lindos
olhos brilhando de repente, seu rosto perfeito quebrado.
— Fique... Por favor. Fique comigo... Não me deixe
— Eu implorei baixinho, minha voz quebrando na última palavra. Eu não sabia o
que estava dizendo. Eu simplesmente não podia suportar a ideia de nunca mais
vê-lo novamente.
Uma lágrima rolou pelo seu rosto e a coisa dentro de mim
quebrou completamente. Sua dor, seu sofrimento, despertou sentimentos em mim
por ele que eu nunca tinha sentido antes. Eu queria protegê-lo, queria curá-lo.
Eu daria qualquer coisa para tirar sua dor. A frieza, a irritação, as mulheres,
Denny, certo e errado - a dor em seus olhos fez tudo isso escapar.
Suavemente, ele ainda debateu, mas comigo ou com ele
mesmo? — Não faça isso. Eu não quero...
Sem pensar, coloquei minha mão livre sobre o seu rosto e
enxuguei a lágrima com o polegar. Instantaneamente eu sabia que era um erro. O
toque era muito íntimo. O calor de sua pele parecia irradiar todo o caminho até
o meu braço, inflamando todo o meu corpo. Sua respiração parou quando nossos
olhos se encontraram e eu sabia que precisava virar e correr de volta para o
bar o mais rápido que pudesse. Eu também sabia que era tarde demais.
— Kiera, por favor... Deixe-me ir. — Ele sussurrou.
Eu o ignorei e trouxe minha outra mão para a parte de
trás do seu pescoço. Eu o puxei para mim até meus lábios roçarem os seus. Eu
não podia suportar olhar para o rosto dele, ver o que ele estava pensando - eu não
sabia o que eu estava pensando - então fechei os olhos com força e suavemente
pressionei contra ele novamente.
Seu corpo ficou tenso, mas seus lábios não resistiram a
mim.
— Não faça isso... — ele sussurrou, quase baixo demais
para eu ouvir, e eu ainda não sabia para qual de nós ele estava falando.
Pressionei mais contra seus lábios e ele fez um barulho, quase como se sentisse
dor. — O que você está fazendo, Kiera? — Ele sussurrou sua pergunta novamente,
seu corpo ainda rígido.
Parei com meus lábios mal roçando os seus. — Eu não sei...
só não me deixe, por favor, não me deixe — Eu sussurrei ofegante, mantendo meus
olhos bem fechados, não querendo ver a reação dele a minha suplica.
Ele exalou suavemente e sussurrou: — Kiera... Por
favor... — Então, finalmente, e com um arrepio passando por todo o seu corpo,
ele pressionou seus lábios nos meus, beijando-me intensamente.
Ele trouxe seus braços ao redor da minha cintura e me
agarrou firmemente contra ele. Seus lábios se separaram e sua língua roçou a
minha. Eu fiz um barulho com a sensação, com o gosto dele e avidamente ele me
beijou novamente. Através do nevoeiro mental de sentir meus lábios se moverem
contra os dele e, meus dedos enrolarem no seu cabelo espesso, eu estava
vagamente consciente de que estávamos nos movendo. Ele estava me puxando
lentamente para frente. Eu não sabia onde ou por que e eu não me importava,
desde que ele não parasse de me tocar. Eu o senti bater contra algo sólido e
aproveitei a oportunidade para pressioná-lo de volta para ele, empurrando-me
tão próximo dele quanto fisicamente possível. Sua respiração acelerou junto com
a minha e ele gemeu quando me puxou contra ele.
Suas mãos deslizaram sob minha camisa para agarrar a
minha parte inferior das costas e eu suspirei quando sua pele acariciou a
minha. Uma de suas mãos se afastou e alcançou atrás dele, no que ele estava
pressionando. Eu ouvi um estalo e finalmente abri meus olhos, para ver onde
estávamos.
Ele estava encostado na porta
fechada da barraca de café que estava no meio do estacionamento. Em algum lugar
na minha cabeça eu sabia que estávamos perto dela, eu só não tinha percebido
que estávamos tão perto. A mão que ele havia retirado antes estava enroscada
atrás de si, girando a maçaneta. Milagrosamente a porta estava destrancada e
abriu facilmente. A parte de mim que ainda podia realizar um pensamento
racional, se perguntou o que ele teria feito se a porta estivesse trancada? A
maioria do meu cérebro não poderia se importar menos. Eu só queria estar em
algum lugar um pouco mais privado do que este estacionamento aberto.
Ele empurrou a porta um pouco, para que pudesse abri-la.
Nossos lábios se separaram por um momento e eu arrisquei um olhar em seus
olhos. Minha respiração parou na paixão que eu vi neles. Eu não conseguia
pensar. Eu não podia me mover. Tudo o que eu podia fazer era olhar para os
profundos olhos azuis ardentes. Ele levou a mão para minhas costas e depois
deslizou ambas para baixo. Agarrando minhas coxas, ele me pegou sem esforço e
nos levou para a barraca escura.
Gentilmente, ele me soltou e fechou a porta. Ficamos no
escuro por um momento - meus braços apertados em volta do seu pescoço, uma de
suas mãos na minha cintura, a outra levemente pressionada contra a porta
fechada. Não havia barulhos e nossa respiração parecia amplificada no silêncio.
Algo sobre a escuridão, a sensação do meu corpo pressionado contra o dele e a
intensidade da nossa respiração, desligou meu cérebro, e a última parcela que
detinha qualquer pensamento racional me deixou. Tudo o que restava era a
paixão, não... necessidade intensa e em fogo.
Ele se moveu nessa altura. Lentamente, e agarrando-me
apertado, ele afundou-nos de joelhos.
Minhas mãos voaram para o seu casaco, puxando-o às
pressas antes de atacar sua camisa, quase freneticamente tirando o tecido de
seu corpo. Meus olhos se ajustaram bem o suficiente na luz suave que entrava
pela janela alta, eu podia ver seu peito esculpido. Seus músculos eram
surpreendentemente duros, mas sua pele era surpreendentemente suave. Perfeito.
Corri meus dedos pela pele, passando meus dedos sobre as linhas profundas,
enquanto seu peito subia e descia com sua respiração pesada. Eu segui cada
vinco de seu abdômen definido, demorando-me no longo V na parte inferior. Ele
gemeu profundamente e prendeu a respiração. Senti meu corpo responder instantaneamente,
senti o desejo por ele crescendo e fiz um barulho agradável de prazer quando
ele trouxe sua boca quente para o meu pescoço. Seus lábios percorreram minha
pele quando ele tirou meu casaco e desabotoou minha camisa. Eu estava ficando
sobrecarregada, quase impaciente - queria tanto ele. Tirei minha camisa quando
ele desfez o último botão, para que pudesse sentir as nossas peles juntas.
Ele exalou pesadamente e passando os olhos para cima e
para baixo no meu corpo de uma forma que me fez tremer, ele correu a palma da
mão no meu pescoço, pelo meu peito, e até a minha cintura, minha pele queimando
prazerosamente onde quer que ele me tocasse. Eu gemia tão alto que, se tivesse
tido um pensamento consciente nesse momento, eu teria ficado realmente
envergonhada com isso. Ele exalou novamente e passou a mão direita pela minha
pele, fazendo uma pausa nos meus seios e provocando o mamilo através do tecido
leve. Minha respiração era quase um arfar e, eu arqueei contra sua mão. Eu não
aguentava mais isso. Precisava dele, agora. Eu encontrei os seus lábios
novamente; sua respiração estava tão rápida quanto a minha.
Com um braço nas minhas costas, ele abaixou nós dois para
o chão e eu não me importei que estivesse imundo. O aroma do café me agrediu.
Misturado com seu perfume sedutor de uma forma tão atraente, que eu sabia que
sempre combinaria os dois. Eu levemente deslizei meus dedos pelas suas costas e
ele fez um barulho no fundo de sua garganta que me emocionou. Afastei
ansiosamente seus quadris de mim, para que eu pudesse chegar ao seu jeans. Ele
gemeu com a necessidade e inalou por entre os dentes quando eu desabotoei e
abri o zíper. Eu empurrei-os para baixo de seus quadris e fiz uma pausa para
tomar a visão dele. Ele estava incrivelmente pronto para mim, duro e lutando
contra as suas vestes, e o conhecimento de que meu corpo fazia isso com ele, me
encheu de ainda mais desejo, desesperadamente pronta também. Meus dedos
levemente viajaram por toda a extensão dele e ele empurrou seus quadris em mim
quando sua testa caiu para tocar a minha. Eu enrolei minha mão em torno dele,
através de sua cueca, me lembrando de como era ele estar dentro de mim, senti a
necessidade de sentir isso de novo. Seus lábios atacaram os meus quando as mãos
de repente ficaram muito ocupadas, amassando a minha saia para cima e puxando
para baixo minha calcinha. Eu não conseguia pensar. Queria tanto ele que doía.
— Oh Deus... Por favor, Kellan... — eu gemi em seu
ouvido.
Ele rapidamente se ajustou e
empurrou para dentro de mim antes que meu cérebro confuso pudesse processar o
que tinha acontecido. Eu tive que morder de leve seu ombro para não gritar com
o prazer disso. Ele enterrou a cabeça no meu pescoço e fez uma pausa para
recuperar o fôlego. Na minha impaciência, eu levantei meus quadris para ele e
ele gemeu, empurrando com força contra mim. Eu queria mais. Surpreendentemente,
eu disse isso a ele, e ele, ansiosamente, fez.
— Deus, Kiera... — Eu ouvi um fraco ‘oh... sim’ e
então ele murmurou algo incompreensível em meu pescoço. Suas palavras, seu tom
e sua respiração quente na minha pele, enviaram uma onda de choque pelo meu
corpo e eu o agarrei ainda mais apertado.
Calor abrasador passou através de mim e eu balancei
levemente pela intensidade. Era familiar, mas novo. Era muito diferente da
primeira vez - mais intenso, mais duro, e mais áspero... ainda
inexplicavelmente mais doce, tudo ao mesmo tempo. Ele mergulhou duro e
profundo, e eu o encontrei ansiosamente em cada impulso, nenhum de nós se
preocupando em prolongar - apenas precisando satisfazer a necessidade que
estava se construindo segundo a segundo. Quando as sensações do meu corpo
começaram a subir, quando eu podia sentir o fim da onda se aproximando, eu
perdi o pouco controle que ainda tinha. Não conseguia segurar os sons do meu
corpo, e me agradou muito que ele tinha desistido também, seus gemidos e gritos
correspondendo aos meus.
No momento final de puro êxtase, quando eu podia sentir
meu corpo apertando ao redor do comprimento dele dentro de mim, meus dedos mais
uma vez passaram pelas suas costas... Mas neste momento foi com força - muita,
muita, força. Eu senti a umidade de seu sangue quando arranhei sua pele e ele
ofegou em dor... prazer...? Isso só intensificou o momento para mim, e eu
soltei um grito enquanto era levada pela sensação de calor em expansão dentro
do meu núcleo. Ele respondeu com um profundo gemido de sua autoria, e segurou
minha coxa tão forte que eu sabia que deixaria marca, enquanto dirigia em mim
algumas vezes finais com a sua própria libertação.
No momento seguinte, o mesmo instante em que toda a
paixão esvaziou do meu corpo, meu cérebro racional acordou. Com uma explosão de
gelo que fez meu corpo tremer todo, eu percebi com horror o que tinha acabado
de acontecer - o que eu tinha acabado de fazer. Fechei os olhos. Era um sonho, apenas um
sonho intenso. A qualquer segundo, eu ia acordar. Só que... não era. Eu trouxe
as mãos trêmulas para minha boca e tentei em vão sufocar os soluços que não
paravam.
Kellan olhou para longe de mim. Recuando um pouco, ele
colocou seu jeans antes de se sentar em seus calcanhares. Olhando para o chão,
ele agarrou sua camisa e flacidamente a segurou em suas mãos, enquanto seu
corpo inteiro tremeu levemente do frio.
Meu estômago se apertou e eu temia que pudesse vomitar
enquanto lutava para arrumar minha saia e minha calcinha de volta. Eu encontrei
a minha blusa e consegui colocar a camisa de volta, refazendo os botões com uma
mão, enquanto segurava minha boca fechada com a outra, com medo de que se eu
tirasse a mão, iria perder a batalha contra meu estômago. Meu corpo todo tremia
com soluços. Kellan não se movia, nunca tirando os olhos do chão, não fez
nenhuma tentativa para me ajudar de alguma forma.
Minha mente não conseguia processar nada. Eu não
conseguia entender o que havia acontecido, como meu corpo de forma tão veemente
traiu minha mente. Por que eu o deixei me tocar desse jeito? Por que eu queria
tão ansiosamente tocá-lo que implorei? E Deus... Denny... Eu não poderia nem mesmo
terminar esse pensamento.
Fungando, eu murmurei:
— Kellan...?
Ele olhou para cima. Brilhando, seus olhos encontraram os
meus, a paixão que tinha queimado neles há pouco tempo, agora completamente
extinta.
— Eu tentei fazer a coisa certa. Por que você não pôde apenas me
deixar ir? — Ele sussurrou asperamente.
Sua pergunta cortou meu coração em mil pedaços e os
soluços começaram novamente. Tremendo, eu agarrei o meu casaco do chão,
levantei e fui em direção à porta fechada. Kellan olhou para o chão e não fez
nenhum movimento para me parar. Eu calmamente abri a porta e dei uma última
olhada nele. Ainda ajoelhado com a camisa nas mãos, eu finalmente percebi as
finas, brilhantes listras vermelhas nas costas, terminando com trilhas finas de
sangue pingando. Engoli em seco e fiz um movimento em direção a ele.
— Não. — Ele murmurou baixinho,
nunca movendo a cabeça. — Basta ir. Denny deve ter notado sua ausência agora. —
Seu tom era seco e muito frio.
Em lágrimas, eu abri a porta e corri para o ar fresco da noite.
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