Capítulo 13
Foi uma das noites mais longas da vida de Chaol.
Cada segundo se passara com uma clareza horrível —
cada segundo agonizante enquanto Celaena estava deitada ali no chão do
escritório, o corpete coberto com tanto sangue que o capitão não sabia dizer
que lugar estava ferido. E com todas as camadas idiotas de frufrus e pregas,
ele não conseguia ver os ferimentos.
Então Chaol perdeu a cabeça. Perdeu completamente.
Não havia qualquer pensamento em sua mente além de um pânico histérico quando
ele fechou a porta, pegou a faca de caça e rasgou o vestido de Celaena bem ali.
Mas não havia ferimentos, apenas um punhal embainhado
que caiu tilintando no chão e um arranhão no antebraço. Com o vestido aberto,
mal havia sangue nela. E, de repente, o pânico se dissipou o suficiente para
que Chaol se lembrasse do que ela havia sussurrado: gloriella.
Um veneno usado para paralisar temporariamente as
vítimas.
Tudo daí em diante se tornou uma série de etapas:
convocar Ress discretamente; falar ao jovem e talentoso guarda que ficasse de
boca fechada e encontrasse os curandeiros mais próximos; enrolar Celaena no próprio
manto para que ninguém visse o sangue na sua pele; pegá-la no colo e carregá-la
para os aposentos; berrar ordens para os curandeiros; finalmente, segurar a jovem
na cama enquanto forçavam-lhe o antídoto pela garganta até que ela engasgasse.
Então, as longas, longas horas passadas amparando-a
enquanto vomitava, segurando o cabelo dela e urrando para qualquer um que
entrasse no quarto. Quando Celaena finalmente caiu em sono profundo, Chaol se
sentou ao lado dela, ainda observando-a enquanto mandava Ress e seus homens
mais confiáveis para a cidade, avisando que não voltassem sem respostas.
Quando voltaram e contaram sobre o negociante que
aparentemente foi assassinado pela própria adaga envenenada, Chaol decifrou o
suficiente do que tinha se passado para ter certeza de uma coisa: Estava feliz
por Davis estar morto. Porque se o homem tivesse sobrevivido, Chaol teria
voltado para terminar o serviço ele mesmo.
***
Celaena acordou.
Sua boca estava seca como um deserto e a cabeça
latejava, mas ela conseguia se mexer. Conseguia agitar os dedos dos pés e das mãos,
e reconheceu o cheiro dos lençóis bem o suficiente para saber que estava na
própria cama, no próprio quarto, e em segurança.
As pálpebras estavam pesadas enquanto Celaena
abria os olhos, piscando para afastar a visão embaçada que permanecia. O
estômago doía, mas o efeito da gloriella havia passado. Ela olhou para a
esquerda, como se soubesse, mesmo durante o sono, onde ele estava.
Chaol cochilava na poltrona, os braços e as
pernas espalhados, a cabeça para trás, expondo o colarinho desabotoado da
túnica e a coluna forte que era seu pescoço. Pelo ângulo da luz do sol, devia
ser alvorada.
— Chaol — disse Celaena, com a voz rouca.
Ele acordou imediatamente e ficou alerta, inclinando-se
na direção de Celaena como se, também, sempre soubesse onde ela estava. Quando
Chaol a viu, a mão que havia se dirigido para a espada relaxou.
— Você está acordada — disse ele, a voz um
murmúrio sombrio, misturada à irritação.
— Como está se sentindo?
Celaena olhou para si mesma; alguém havia limpado
o sangue e colocado uma camisola nela. Apenas mover a cabeça fazia tudo girar.
— Horrível — admitiu ela.
Chaol apoiou a cabeça nas mãos, deixando os
cotovelos sobre os joelhos.
— Antes que diga qualquer outra coisa, apenas
responda isto: você matou Davis porque estava vasculhando o escritório dele, foi
surpreendida e então ele a cortou com uma lâmina envenenada? — Um lampejo dos dentes,
um brilho de ódio naqueles olhos marrom-dourados.
As entranhas de Celaena se reviravam à memória,
mas ela assentiu.
— Muito bem — falou o capitão, ficando de pé.
— Vai contar ao rei?
Ele cruzou os braços, aproximando-se da beira da
cama e olhando-a fixamente.
— Não. — De novo, aquele temperamento volátil
incendiava seus olhos. — Porque não estou com vontade de argumentar que você ainda
é capaz de espionar sem ser surpreendida. Meus homens ficarão de boca fechada também.
Mas da próxima vez que fizer qualquer
coisa assim, vou jogá-la nas masmorras.
— Por tê-lo matado?
— Por ter me matado de susto! — Chaol passou as
mãos pelos cabelos, andando de um lado para outro por um momento, então se
virou e apontou para ela. — Sabe qual era seu estado quando apareceu aqui?
— Vou arriscar um chute e dizer... ruim?
Um olhar inexpressivo.
— Se eu não tivesse queimado seu vestido, a
obrigaria a olhar para ele agora mesmo.
— Você queimou meu vestido?
Chaol estendeu os braços.
— Quer prova do que fez por aí?
— Você pode ter problemas por me acobertar assim.
— Cuidarei disso se chegar a esse ponto.
— Ah? Cuidará disso?
Chaol inclinou o corpo sobre a cama, apoiando as
mãos no colchão ao berrar no rosto de Celaena.
— Sim. Vou cuidar
disso.
Ela engoliu em seco, mas estava com a boca tão
ressecada que não tinha o que engolir. Além do ódio de Chaol, havia medo o
suficiente nos olhos dele para que fizesse Celaena encolher o corpo.
— Estava tão ruim assim?
Chaol desabou na beira do colchão.
— Você estava passando mal. Muito mal. Não
sabíamos quanto de gloriella havia no ferimento, então os curandeiros tomaram a
atitude mais segura e lhe deram uma dose forte do antídoto... o que fez com que
você passasse algumas horas com a cabeça sobre um balde.
— Não me lembro de nada disso. Mal lembro de
voltar para o castelo.
Chaol balançou a cabeça e encarou a parede. Havia
manchas escuras sob os olhos dele, uma barba por fazer cobria seu maxilar e
exaustão extrema percorria cada centímetro de seu corpo. O capitão
provavelmente não caíra no sono até pouco tempo.
Celaena mal sabia aonde ia enquanto a gloriella
lhe rasgava por dentro; só sabia que precisava chegar a algum lugar seguro. E, de alguma forma, acabou
exatamente onde tinha certeza de que estaria mais segura.
ok eu shippo eles.
ResponderExcluirMANO DO CÉU!!!!! Eu fico tentando não shippar eles, pq lembro de que vem o Rowan, e ele e a Celaena são parceiros e tals, mais aí me vem o Chaol desse jeito, como não shippar? Já foi difícil com o Dorian, e agora mano?
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