Capítulo 17 - A Flor da Meia-Noite
Na meia-luz das grandes salas vazias, eles fizeram seu caminho para o telhado que parecia deserto, os móveis guarnecidos de branco agigantavam-se na escuridão como icebergs através do nevoeiro.
Quando Jace abriu a porta da estufa, o cheiro acertou Clary, suave como o afofado golpear de uma pata de gato: o rico cheiro da terra preta e o mais forte, luxurioso aroma da noite – flores se abrindo – flores da lua, trombetas de anjo brancas, damas da noite e algumas que ela não reconheceu, tal qual uma planta que ostentava um formato de estrela amarela florindo, cujas pétalas estavam com medalhões de pólen dourado. Através das paredes de vidro da área delimitada, ela podia ver as luzes de Manhattan ardendo como joias frias.
— Uau — ela se virou lentamente, entrando — é tão bonito aqui à noite.
Jace sorriu.
— E temos o lugar para nós. Alec e Isabelle odeiam aqui em cima. Eles têm alergia.
Clary estremeceu, embora não estivesse com frio.
— Que tipo de flor é essa?
Jace encolheu os ombros e sentou, cuidadosamente, ao lado de um brilhoso arbusto verde todo pontilhado por botões de flores fechadas.
— Não faço ideia. Você acha que eu presto atenção na aula de botânica? Não vou ser um arquivista. Eu não preciso saber sobre essas coisas.
— Você só precisa saber como matar coisas?
Ele olhou para ela e sorriu. Parecia um anjo louro de uma pintura de Rembrandt, exceto pela boca diabólica.
— Isso mesmo — ele pegou um pacote embrulhado em guardanapo do saco e ofereceu a ela — além disso — ele acrescentou — faço sanduíche de queijo. Experimente um.
Clary sorriu relutantemente e se sentou em frente a ele. O chão de pedra da casa da estufa era frio contra as pernas nuas dela, mas estava agradável depois de tantos dias de calor implacável. Jace pegou algumas maçãs, uma barra de cereal, chocolate, nozes e uma garrafa de água.
— Nada mal — ela falou, admirando.
O sanduíche de queijo estava quente e um pouco mole, mas estava ótimo. Vindo de um de seus inúmeros bolsos dentro de sua jaqueta, Jace apresentou uma faca com cabo de osso que parecia capaz de estripar um urso-pardo. Ele começou a trabalhar sobre as maçãs, talhando-as em meticulosos oitavos.
— Bem, não é bolo de aniversário — ele disse, entregando a ela uma fatia — mas espero que seja melhor do que nada.
— Nada é como eu esperava, então obrigada.
Ela deu uma mordida. A maçã parecia verde e fria.
— Ninguém deve ficar sem ganhar nada em seu aniversário — ele estava descascando a segunda maçã, a casca saindo em longas tiras curvadas — aniversários devem ser especiais. Meu aniversário era sempre o dia em que meu pai me dizia que eu poderia fazer ou ter qualquer coisa que eu quisesse.
— Qualquer coisa? — Ela riu. — Que tipo de coisa que você queria?
— Bem, quando eu tinha cinco, eu queria tomar um banho de espaguete.
— Mas ele não deixou, certo?
— Não, essa é a coisa. Ele fez. Disse que não era caro, e porque não, se era isso o que eu queria? Mandou os servos encherem uma banheira com água fervendo e macarrão, e quando ela esfriou... — ele encolheu os ombros — tomei um banho nela.
Servos? Clary pensou. Em voz alta ela perguntou:
— E como foi?
— Escorregadio.
— Eu aposto que sim.
Ela tentou pensar na imagem dele como um menino, um sorriso de orelha a orelha, no macarrão. A imagem não se formou. Certamente Jace nunca sorriria, nem mesmo com cinco anos.
— O que mais você pediu?
— Armas, na maioria. Tenho certeza de que isso não surpreende você. Livros. Leio muito por minha conta.
— Vocês não vão para a escola?
— Não — ele respondeu, e agora falou devagar, quase como se estivessem se aproximando de um tópico que ele não queria discutir.
— Mas os seus amigos...
— Eu não tenho amigos. Além do meu pai. Ele era tudo o que eu precisava.
Ela olhou para ele.
— Sem amigos de jeito nenhum?
Ele encontrou seu olhar firmemente.
— A primeira vez que eu vi Alec, quando eu tinha dez anos, foi a primeira vez que conheci outra criança da minha idade. A primeira vez que tive um amigo.
Ela baixou o seu olhar. Agora uma imagem foi se formando, indesejável, em sua cabeça: ela pensou em Alec, o modo como ele tinha olhado para ela. Ele não diria isso.
— Não sinta pena de mim — Jace disse, como se adivinhando os seus pensamentos, embora não tivesse sido por ele que ela tinha sentido pena — ele me deu a melhor educação, o melhor treinamento. Me levou por todo o mundo. Londres. São Petersburgo. Egito. Nós adorávamos viajar — seus olhos estavam escuros — não tenho ido a lugar nenhum desde que ele morreu. Em parte alguma, apenas Nova York.
— Você tem sorte — Clary respondeu. — Eu nunca fui para fora deste estado em toda a minha vida. Minha mãe não me deixava ir, mesmo em excursões para capital. Eu acho que sei o motivo agora — acrescentou com tristeza.
— Ela tinha medo que você surtasse? Começasse a ver demônios na Casa Branca?
Ela mordiscou um pedaço de chocolate.
— Há demônios na Casa Branca?
— Eu estava brincando — Jace respondeu — eu acho — ele duvidou filosoficamente — tenho certeza de que alguém teria mencionado isso.
— Acho que ela apenas não queria que eu ficasse muito longe dela. Minha mãe, eu quero dizer. Depois que o meu pai morreu, ela se mudou muito.
A voz de Luke ecoou em sua mente. Você nunca mais foi a mesma desde o que aconteceu, mas Clary não é Jonathan.
Jace levantou uma sobrancelha para ela.
— Você se lembra de seu pai?
Ela balançou a cabeça dela.
— Não. Ele morreu antes de eu nascer.
— Você tem sorte. Desse jeito, você não sente a falta dele.
Vindo de qualquer pessoa, aquilo teria sido uma coisa terrível de se dizer, mas não havia amargura em sua voz para variar, apenas uma dor da solidão pelo seu próprio pai.
— Será que isso vai passar? — ela perguntou. — Sentir a falta dele, eu quero dizer?
Ele a olhou de soslaio, mas não respondeu.
— Você está pensando em sua mãe?
Não. Ela não estava pensando na mãe daquele jeito.
— Em Luke, na verdade.
— Não que esse seja realmente o seu nome — Jace deu uma mordida na maçã, pensativo — eu estive pensando sobre ele. Algo sobre seu comportamento, não se juntando...
— Ele foi um covarde — a voz de Clary estava amarga — você ouviu. Ele não vai contra Valentim. Nem mesmo pela minha mãe.
— Mas isso exatamente...
Um longo tinir reverberando interrompeu-o. Em algum lugar, um sino estava tocando.
— Meia-noite — Jace disse, fixando a faca no chão.
Ele ficou de pé, segurando sua mão para puxá-la. Seus dedos estavam ligeiramente pegajosos com o sumo da maçã.
— Agora, olhe.
O olhar de Jace estava fixo no arbusto verde ao lado de onde eles tinham sentado, com suas dezenas de brilhantes botões fechados. Clary começou a perguntar o que supostamente ela tinha que estar olhando, mas ele levantou uma mão para interrompê-la. Seus olhos estavam brilhando.
— Espere.
As folhas no arbusto ainda permaneciam sem movimento. De repente, um dos botões bem fechado começou a agitar e tremer. Ele cresceu duas vezes o seu tamanho e abriu-se. Era como ver em alta velocidade o filme de uma flor florescendo: o delicado verde das sépalas abrindo-se, liberando um cacho de pétalas lá dentro. Elas estavam empoeiradas com um pálido pólen dourado, tão leve como talco.
— Oh! — Clary exclamou, e virou para cima para encontrar Jace olhando-a. — Elas florescem toda noite?
— Só à meia-noite — ele respondeu. — Feliz aniversário, Clarissa Fray.
Ela estava estranhamente tocada.
— Obrigada.
— Eu tenho uma coisa para você.
Ele cavou em seu bolso e trouxe uma coisa que ele pressionava em sua mão. Era uma pedra cinza, ligeiramente irregular, suavemente desgastada com manchas.
— Uh — Clary disse, girando-a em seus dedos — você sabe, quando a maioria das garotas diz que querem uma rocha para se firmar, elas não querem dizer, você sabe, literalmente, uma rocha.
— Muito divertido, minha sarcástica amiga. Não se trata de uma rocha, precisamente. Todos os Caçadores de Sombras têm uma pedra enfeitiçada – uma pedra com runas.
— Ah.
Clary olhou a pedra com um renovado interesse, fechando os dedos em torno dela como tinha visto Jace fazer no porão. Ela não estava certa, mas pensou ter conseguido ver um brilho de luz se espreitar através dos dedos.
— Ela vai lhe trazer luz — Jace disse — mesmo entre as mais escuras sombras deste mundo e nos outros.
Ela a escorregou em seu bolso.
— Bem, obrigada. Foi legal da sua parte me dar alguma coisa — a tensão entre eles parecia se pressionar sobre ela — melhor do que qualquer dia de banho de espaguete.
Ele respondeu sombriamente:
— Se você compartilhar essa pequena informação pessoal com alguém, eu posso ter que te matar.
— Bem, quando eu tinha cinco anos, eu queria que a minha mãe me deixasse ir girando e girando dentro do secador de roupas — Clary contou — a diferença é que ela não me deixou.
— Provavelmente porque sair girando e girando dentro de um secador pode ser fatal — Jace salientou — enquanto que espaguete raramente é fatal. A não ser que seja Isabelle que faça.
As flores da meia-noite já estavam derramando pétalas. Elas se inclinaram em direção ao chão, refletindo como luz das estrelas.
— Quando eu tinha doze, eu queria uma tatuagem — Clary disse. — Minha mãe não iria me deixar fazer de jeito nenhum.
Jace não riu.
— A maioria dos Caçadores de Sombras ganham suas primeiras Marcas aos doze. Deve ter estado no seu sangue.
— Talvez. Embora eu duvide que os Caçadores de Sombras recebam uma tatuagem do Donatello das Tartarugas Ninjas sobre seu ombro esquerdo.
Jace pareceu confuso.
— Você queria uma tartaruga em seu ombro?
— Eu queria cobrir minha cicatriz de catapora.
Ela puxou levemente a alça da sua regata de lado, mostrando a marca branca em forma de estrela na parte superior do seu ombro.
— Vê?
Ele olhou para longe.
— Está ficando tarde. Nós devemos voltar lá para baixo.
Clary puxou sua alça de volta, sem jeito. Como se ele quisesse ver suas estúpidas cicatrizes. As próximas palavras tropeçaram para fora da sua boca sem qualquer vontade de sua parte.
— Alguma vez você e Isabelle ficaram juntos?
Agora Jace olhou para ela. A luz do luar limpava a cor dos seus olhos. Eles agora eram mais prateados do que dourados.
— Isabelle? — ele repetiu inexpressivamente.
— Eu pensei... — agora Clary se sentia ainda mais embaraçada — Simon estava pensando...
— Talvez ele devesse perguntar a ela.
— Não tenho certeza se ele quer. De qualquer forma, não importa. Não é problema meu.
Ele sorriu inquietamente.
— A resposta é não. Quero dizer, pode ter havido um momento em que um ou outro considerou isso, mas ela é quase uma irmã para mim. Seria estranho.
— Quer dizer que Isabelle e você nunca...
— Nunca — Jace disse.
— Ela me odeia — observou Clary.
— Não, não odeia — ele discordou, para sua surpresa — você apenas a deixa nervosa, porque ela sempre foi a única garota em uma multidão de garotos admiradores, e agora ela não é mais.
— Mas ela é tão linda.
— E você também é, e muito diferente dela. E não a ajudou perceber isso. Ela sempre quis ser pequena e delicada, você sabe. Ela odeia ser mais alta do que a maioria dos caras.
Clary não disse nada sobre isso porque não tinha nada a dizer. Linda. Ele falou que ela era linda. Ninguém nunca a tinha chamado disso antes, exceto sua mãe, que não conta. As mães são obrigadas a pensar que você é linda. Ela olhou-o
— Nós provavelmente devemos descer — ele disse de novo.
Clary tinha certeza de que estava fazendo-o ficar desconfortável com seu olhar, mas não pareceu ser capaz de parar.
— Tudo bem — ela falou finalmente.
Para seu alívio, sua voz soou normal. Foi um alívio olhar para longe dele quando se virou.
A lua estava diretamente acima de suas cabeças agora, iluminando cada coisa próxima tal como a luz do dia. Entre um passo e outro, Clary viu um brilho branco atingindo algo no chão: era a faca que Jace tinha usado para cortar as maçãs, deitada de lado. Ela se desviou às pressas para evitar pisar na faca, e seu ombro bateu no dele – ele colocou uma mão para firmá-la, enquanto Clary se virava para pedir desculpas e, então, de alguma forma estava no círculo do seus braços e Jace a estava beijando.
Foi de primeira, quase como se não a quisesse beijar: sua boca estava dura na dela, firme e depois ele colocou ambos os braços em torno dela, e Clary se puxou contra ele. Seus lábios ficaram suaves. Ela podia sentir o rápido ritmo do seu coração, saborear a doçura das maçãs ainda em sua boca. Enrolou suas mãos nos cabelos dele, como tinha desejado fazer desde a primeira vez em que o viu. Seus cabelos enrolados em torno dos dedos dela eram sedosos e suaves. Seu coração estava martelando, e havia um som correndo em seus ouvidos, como o bater de asas...
Jace se afastou para longe dela com uma exclamação abafada, mas seus braços ainda estavam ao seu redor.
— Não entre em pânico, mas nós temos uma audiência.
Clary virou a cabeça. Empoleirado no galho de uma árvore próxima, estava Hugo, observando-os com seus brilhantes olhos negros. Então o som que ela tinha ouvido tinha sido asas ao invés de louca paixão. Foi decepcionante.
— Se ele está aqui, Hodge não está muito para trás — Jace disse sob a sua respiração — devemos ir.
— Ele está espionando você? — Clary sibilou — Hodge, eu quero dizer.
— Não. Ele só gosta de vir até aqui para pensar. Que pena – estávamos tendo essa faiscante conversa.
Ele riu silenciosamente.
Os dois fizeram seu caminho de volta pelo mesmo lugar de onde tinham vindo, mas para Clary parecia um caminho totalmente diferente. Jace manteve a sua mão na dela, enviando pequenos choques elétricos para cima e para baixo de suas veias em cada ponto em que a tocava: os dedos, o seu pulso, a palma da mão. Sua mente estava zunindo com perguntas, mas ela estava com muito medo de quebrar o momento para perguntar qualquer uma delas.
— Que pena — ele disse.
Então ela adivinhou que sua noite tinha terminado, pelo menos a parte do beijo. Eles atingiram a sua porta. Ela se inclinou contra a parede, olhando em seus olhos.
— Obrigada pelo piquenique de aniversário — ela falou, tentando manter seu tom neutro.
Ele parecia relutante em soltar sua mão.
— Você vai dormir?
Ele está apenas sendo educado, ela disse para si mesma. Então, novamente, aquele era Jace. Ele nunca foi educado. Ela decidiu responder à pergunta com uma pergunta.
— Você está cansado?
Sua voz era baixa.
— Eu nunca estive mais desperto.
Ele se curvou para beijá-la, trazendo seu rosto com a mão livre. Seus lábios tocaram levemente primeiro, e depois com uma pressão mais forte. Foi precisamente neste momento em que Simon abriu a porta do quarto e caminhou para fora no corredor.
Ele estava piscando, os cabelos eriçados e sem seus óculos, mas podia ver bem o suficiente.
— Que inferno? — ele exigiu, tão alto que Clary se afastou de Jace como se seu toque a tivesse queimado.
— Simon! O que você... eu quero dizer, eu pensei que você estava...
— Dormindo? Eu estava.
A parte de cima de suas bochechas estavam coradas num vermelho escuro através do seu bronzeado, do jeito como sempre ficavam quando ele estava envergonhado ou chateado.
— Então me levantei, e você não estava lá, então pensei...
Clary não conseguia pensar em nada para dizer. Por que não ocorreu a ela que isso poderia acontecer? Por que ela não disse que deveriam ir para o quarto de Jace? A resposta era tão simples quanto era terrível: ela tinha esquecido completamente de Simon.
— Sinto muito — ela disse, não certa do que estava falando.
Pelo canto do olho, ela pensou ter visto Jace lhe atirar um olhar branco de fúria, mas quando se virou para ele, ele parecia como ele sempre fora: fácil, confiante, um pouco entediado.
— No futuro, Clarissa — ele disse — é aconselhável mencionar que você já tem um homem na sua cama para evitar tais situações chatas.
— Você o convidou para cama? — Simon exigiu, parecendo tremer.
— Ridículo, não é? — Jace respondeu. — Nunca caberíamos todos nós.
— Eu não o convidei para cama — Clary rebateu — nós estávamos apenas nos beijando.
— Apenas nos beijando? — O tom de Jace escarnecia ela com sua falsa dor. — Quão rapidamente você descarta o nosso amor.
— Jace...
Ela viu o brilho nos olhos dele de malícia e diminuiu. Não havia o que dizer. Seu estômago pareceu subitamente pesado.
— Simon, é tarde — ela disse de modo cansado — eu lamento ter te acordado.
— Eu também.
Ele andou de volta para o quarto, fechando a porta atrás dele.
O sorriso de Jace estava tão suave quanto manteiga derretida.
— Vá em frente, vá atrás dele. Afague a cabeça dele e lhe diga que ele é ainda o seu superespecial garotinho. Não é isso o que você quer fazer?
— Pare com isso. Pare de ser assim.
Seu sorriso se alargou.
— Assim como?
— Se você está zangado, apenas diga. Não haja como se nada te tocasse. É como se você nunca sentisse absolutamente nada.
— Talvez você devesse ter pensado nisso antes de me beijar — ele disse.
Ela olhou incredulamente.
— Eu beijei você?
Ele a encarou com uma brilhante malícia.
— Não se preocupe, aquilo não foi memorável para mim também.
Clary o viu se afastar e sentiu uma mistura urgente do desejo de chorar e de correr atrás dele com o único objetivo de chutá-lo no tornozelo. Sabendo que aquela ação o iria encher de satisfação, ela não o fez, mas foi cautelosamente de volta para o quarto.
Simon estava em pé no meio do quarto, parecendo perdido. Ele tinha colocado seus óculos novamente.
Clary ouvia a voz de Jace na cabeça, dizendo sujamente: Afague a cabeça dele e lhe diga que ele é ainda o seu superespecial garotinho.
Ela deu um passo em direção a ele e, em seguida parou quando percebeu o que ele estava segurando em sua mão. Seu bloco de rascunhos, aberto no desenho que estava fazendo, um Jace com asas de anjo.
— Legal — ele comentou — todas essas aulas em Tisch devem ter sido bem remuneradas.
Normalmente, Clary teria dito a ele para parar de olhar seu caderno de esboços, mas agora não era a hora.
— Simon, olha...
— Eu reconheço que sair emburrado e voltar para o seu quarto pode não ter sido o mais suave dos movimentos — ele interrompeu duramente, arremessando o caderno de esboço na cama — mas eu tinha que buscar as minhas coisas.
— Aonde você vai? — ela perguntou.
— Casa. Eu tenho estado aqui por muito tempo, acho. Mundanos como eu não pertencem a um lugar como este.
Ela suspirou.
— Olha, me desculpe, ok? Eu não tinha intenção de beijá-lo, apenas aconteceu. Eu sei que você não gosta dele.
— Não — Simon disse com mais rigor ainda — eu não gosto de refrigerante sem gás. Não gosto de bandas pop de garotos de má qualidade. Não gosto de estar preso no trânsito. Não gosto de dever de casa de matemática. Eu odeio o Jace. Viu a diferença?
— Ele salvou sua vida — salientou Clary, se sentindo como uma fraude, afinal, Jace tinha ido ao Dumort apenas porque ficou preocupado em se meter em problemas se ela fosse morta.
— Detalhes — Simon disse, desprezando — ele é um babaca. Eu pensei que você era melhor que isso.
O temperamento de Clary inflamou.
— Oh, e agora você está dando uma lição de moral em mim? — ela rebateu. — Você que estava perguntando pela garota com o corpo mais legal para o Fall Fling.
Ela imitou o tom preguiçoso de Eric. A boca de Simon apertava raivosamente.
— Então, e se Jace é um babaca às vezes? Você não é meu irmão, não é o meu pai, não tem que gostar dele. Eu nunca gostei de nenhuma de suas namoradas, mas pelo menos eu tive a decência de manter isso para mim.
— Isso — disse Simon, entre dentes — é diferente.
— Como? Como é diferente?
— Porque eu vejo o jeito como você olha para ele! — ele gritou. — E eu nunca olhei para nenhuma daquelas garotas assim! Era só uma coisa para se fazer, uma forma de praticar, até...
— Até o quê?
Clary palidamente soube que ela era horrível, que a coisa toda era horrível, pois eles nunca tinham sequer brigado antes, era mais grave do que uma discussão sobre quem tinha comido o último biscoito da caixa na casa da árvore, mas ela não parecia ser capaz de parar.
— Até Isabelle aparecer? Eu não posso acreditar que você está me dando palestras sobre Jace quando você se fez um completo otário por causa dela! — Sua voz subiu para um grito.
— Eu estava tentando fazer você ficar com ciúme! — Simon gritou de volta. Suas mãos estavam em punhos dos lados. — Você é tão estúpida, Clary. É tão idiota, não consegue ver nada?
Ela o encarou, desnorteada. O que, no inferno, ele queria dizer?
— Tentando me fazer ciúmes? Por que você tentaria fazer isso?
Ela viu imediatamente que esta era a pior coisa que poderia ter lhe perguntado.
— Porque — ele respondeu, tão amargamente que a chocou — eu tenho estado apaixonado por você há dez anos, então eu pensei que parecia ser a hora de descobrir se você sentia o mesmo sobre mim. Que, eu acho, você não sente.
Teria sido melhor ele ter dado um chute no estômago dela. Clary não conseguia falar, o ar tinha sido sugado para fora dos seus pulmões. Ela olhou para ele, tentando formar uma resposta, qualquer resposta.
Ele a cortou drasticamente.
— Não. Não há nada que você possa dizer.
Paralisada, ela assistiu Simon andar até a porta. Não podia se mover para abraçá-lo tanto quanto queria. O que ela poderia dizer? “Eu amo você também”? Mas ela não podia... podia?
Ele parou na porta, a mão na maçaneta, e se virou para olhar para ela. Seus olhos, por trás dos óculos, pareciam mais cansados do que com raiva agora.
— Você realmente quer saber o que mais a minha mãe disse sobre você? — ele perguntou.
Ela balançou a cabeça. Simon não pareceu notar.
— Ela disse que você iria quebrar o meu coração — ele falou, e saiu.
A porta se fechou atrás dele com um clique decidido, e Clary estava sozinha.
Depois que Simon tinha ido embora, Clary afundou em sua cama e pegou seu caderno de esboços. Ela embalou-o no peito, não querendo desenhar, apenas desejando sentir o cheiro de coisas familiares: tinta, papel, giz.
Ela pensou em correr atrás de Simon, tentar alcançá-lo. Mas o que ela poderia dizer? O que ela poderia possivelmente dizer? Você é tão estúpida, Clary. É tão idiota, não consegue ver nada?
Ela pensou em uma centena de coisas que ele disse ou fez, piadas que Eric e os outros tinham feito sobre eles, conversas silenciadas quando ela caminhava para dentro do Cômodo. Jace sabia desde o início. Eu estava rindo de você porque declarações de amor me divertem, especialmente quando não são correspondidas. Ela não parou para se perguntar sobre o que ele estava falando, mas agora sabia.
Clary tinha dito anteriormente a Simon que ela sempre tinha amado apenas três pessoas: sua mãe, Luke e ele. Ela se perguntou se era realmente possível, no espaço de uma semana, perder todos a quem você amava. Se perguntou se aquilo era o tipo de coisa a que você sobreviveria ou não. E ainda, por aqueles breves momentos no telhado com Jace, que ela tinha esquecido a mãe dela. Tinha esquecido de Luke. Tinha esquecido de Simon. E tinha sido feliz. Essa foi a pior parte, que ela tinha sido feliz.
Talvez isso, ela pensou, perder Simon, talvez este seja o meu castigo pelo egoísmo de ser feliz, mesmo por apenas um momento, quando a minha mãe ainda está faltando. Nenhum deles tinha sido real, de qualquer maneira. Jace pode ser um excepcional beijador, mas ele não se importa comigo de forma nenhuma. Ele disse tanta coisa.
Ela baixou seu bloco lentamente em seu colo. Simon estava certo, aquela era uma boa imagem de Jace. Ela pegou a linha dura de sua boca, os olhos vulneráveis não harmônicos. As asas pareciam tão reais que ela imaginava que, se passasse os dedos entre elas, seriam suaves. Clary deixou a mão vagar em toda a extensão da página, sua mente vagando... Puxou a mão de volta, encarando. Seus dedos tinham tocado não o papel seco, mas a suavidade das penas. Seus olhos brilharam em cima das Runas que ela havia rabiscado no canto da página. Elas estavam brilhando, do modo que tinha visto as Runas quando Jace desenhou com sua estela.
Seu coração tinha começado a bater com uma rápida e firme nitidez. Se uma Runa pode trazer uma pintura a vida, então talvez...
Sem tirar os olhos do desenho, ela tateou a procura de seu lápis. Sem fôlego, ela virou uma nova página limpa e apressadamente começou a desenhar a primeira coisa que veio à mente. Foi a caneca de café assentada na mesa de cabeceira ao lado de sua cama. Desenhando nas suas memórias da posição continua da vida, ela a desenhou cada detalhe: a borda manchada, a rachadura na alça.
Quando terminou, estava tão exata quanto ela poderia ter feito. Guiada por algum instinto que ela não entendeu muito bem, alcançou a caneca e a colocou no topo do papel. Então, muito cuidadosamente, começou a esboçar as Runas ao lado dela.
misnesVliore Erika Walker https://marketplace.visualstudio.com/items?itemName=laveverme.Crusader-Crash-gratuita
ResponderExcluirtabubbtackthe
quehauKliao1980 Kelly Wilson https://www.paralysedwithlove.com/profile/nehmiahhonestonydah/profile
ResponderExcluirsuibyhulpa
cyptigreg-te-1989 Rama Gardner Click
ResponderExcluirThat
Programs
venbemave
Mlitiviora Lorrie Hart VMware Player
ResponderExcluirIObit Uninstaller Pro 11.6.0.12
ProtonVPN
Waves Complete 14 (17.08.22)
chelmensnali
lenlypbrig-ka Cevdet Abcede Corel Painter 2023 v23.0.0.244
ResponderExcluirAutodesk Inventor Professional 2023.0.1
Vysor
Marvelous Designer 3D 11 v6.1.723.37401
boheceti