Capítulo 22 - A Ruína de Renwick

Foi um longo momento após Luke ter terminado de falar, houve silêncio dentro da sala. O único som era o longínquo gotejar de água nas paredes de pedra.
— Diga alguma coisa, Clary.
— O que você quer que eu diga?
Ele suspirou.
— Talvez que você entendeu?
Clary podia ouvir o sangue golpeando em suas orelhas. Ela sentia como se sua vida tivesse sido construída sobre uma lâmina de gelo tão fina quanto papel, e agora o gelo estava começando a rachar, ameaçando mergulhá-la na sua gélida escuridão abaixo. Embaixo, dentro da água escura, ela pensava, onde todos os segredos da sua mãe eram levados nas correntes, os esquecidos restos de uma naufragada vida.
Ela olhou para Luke. Ele parecia hesitante, indistinto, como se olhasse através de um vidro embaçado.
— Meu pai — ela começou — aquela foto que minha mãe sempre manteve sobre a janela...
— Aquele não era o seu pai — Luke disse.
— Ele nunca sequer existiu? — A voz de Clary aumentou. — Houve alguma vez um John Clark, ou minha mãe inventou ele também?
— John Clark existiu. Mas ele não era seu pai. Ele era o filho dos vizinhos de sua mãe quando ela morava no East Village. Morreu em um acidente de carro, assim como a sua mãe lhe disse, mas ela nunca conheceu-o. Ela tinha sua foto porque os vizinhos tinham encomendado a pintura de um retrato dele em seu uniforme de exército. Ela lhes deu a pintura, mas manteve a fotografia, e fingiu que o homem tinha sido seu pai. Acho que ela pensou que era a forma mais fácil. Afinal de contas, se alegasse que ele tinha fugido ou desaparecido, você iria querer procurar por ele. Um homem morto...
— Será que suas mentiras não se contradizem? — Clary falou para ele amargamente. — Ela não pensou que estava errada, todos os anos, me deixando pensar que o meu pai estava morto, quando o meu verdadeiro pai...
Luke nada disse, deixando-a encontrar o fim da frase por si mesma, deixando-a pensar o impensável por si própria.
— É Valentim — sua voz tremeu — era isso o que você estava me dizendo, certo? Que Valentim era... é... meu pai?
Luke acenou, seus nós dos dedos o único sinal da tensão que ele sentia.
— Sim.
— Oh, meu Deus. — Clary saltou para os pés dela, já não capaz de se sentar imóvel. Andou para as barras da cela. — Não é possível. Isto apenas não é possível.
— Clary, por favor, não fique nervosa...
— Não fique nervosa? Você está me dizendo que o meu pai é um cara que é basicamente um soberano do mal, e quer que eu não fique nervosa?
— Ele não era mal no início — Luke disse, soando quase em defensiva.
— Oh, eu imploro para discordar. Acho que ele era claramente mal. Todas as coisas que ele estava recitando sobre como manter a raça humana pura e da importância do sangue não contaminado – ele era como um daqueles caras assustadores do nazismo. E vocês dois caíram nessa totalmente.
— Eu não era o único falando sobre seres do Submundo “nojentos” há poucos minutos — Luke falou calmamente — ou sobre como eles não podem ser confiáveis.
— Isso não é a mesma coisa! — Clary podia ouvir as lágrimas em sua voz. — Eu tinha um irmão — ela continuou, sua voz presa — avós, também. Eles estão mortos?
Luke acenou, olhando para baixo em suas grandes mãos, abertas nos joelhos.
— Eles estão mortos.
— Jonathan — ela disse suavemente. — Ele teria sido mais velho do que eu? Um ano mais velho?
Luke continuou calado.
— Eu sempre quis ter um irmão.
— Não — ele disse miseravelmente — não se torture. Pode ver por que sua mãe manteve tudo isso longe de você? Que bem faria saber o que tinha perdido antes mesmo de nascer?
— Aquela caixa — sua mente trabalhando febrilmente — com o J.C. sobre ela. Jonathan Christopher. Aquilo era o que sempre a fazia chorar, o cacho de cabelo do meu irmão, não do meu pai.
— Sim.
— E quando você disse “Clary não é Jonathan”, queria dizer o meu irmão. Minha mãe era tão superprotetora comigo porque tinha tido um filho que morreu.
Antes que Luke pudesse responder, a porta da cela retiniu aberta e Gretel entrou. O “kit de cura”, que Clary tinha previsto como sendo uma caixa dura de plástico rígido com as insígnias da Cruz Vermelha sobre a mesma, tornou-se um grande tabuleiro de madeira, empilhada com bandagens dobradas, tigelas de vapor com líquidos não identificados e ervas que exalavam um pungente odor de limão. Gretel colocou a bandeja para baixo ao lado do beliche e fez sinais para Clary se sentar, o que ela fez de má vontade.
— Essa é uma boa garota — disse a mulher-lobo, mergulhando um pano em uma das tigelas e a levando para o rosto de Clary. Gentilmente, ela limpou o sangue seco.
— O que aconteceu com você? — ela perguntou com desaprovação, como se suspeitasse que Clary esfregou um ralador de queijo no rosto.
— Eu estava pensando o mesmo — Luke falou, observando o vai e vem com braços dobrados.
— Hugo me atacou.
Clary tentou não estremecer enquanto o líquido adstringente picava suas feridas.
— Hugo? — Luke piscou.
— O pássaro de Hodge. Acho que era o seu pássaro, de qualquer forma. Talvez fosse de Valentim.
— Hugin — Luke disse suavemente — Hugin e Munin eram as aves de estimação de Valentim. Seus nomes significam “Pensamento” e “Memória”.
— Bem, eles deveriam ser “Ataque” e “Mate” — Clary comentou — Hugo quase rasgou meus olhos fora.
— Deve ser o que ele foi treinado para fazer — Luke estava tamborilando os dedos de uma mão contra o seu outro braço — Hodge deve tê-lo pego após a revolta. Mas ele ainda era uma criatura de Valentim.
— Assim como Hodge — Clary apontou, recuando enquanto Gretel limpava os compridos talhos ao longo de seu braço, que estavam incrustados com sujeira e sangue seco.
Então Gretel começou enfaixá-los acima ordenadamente.
— Clary...
— Eu não quero falar mais sobre o passado — ela interrompeu ferozmente — quero saber o que vamos fazer agora. Agora que Valentim tem minha mãe, Jace e o Cálice. E nós não temos nada.
— Eu não diria que não temos nada — Luke discordou — nós temos um poderoso bando de lobos. O problema é que não sabemos onde Valentim está.
Clary balançou a cabeça. Fios de cabelo caíram em seus olhos, e ela os jogou de volta com impaciência. Deus, ela estava imunda. A única coisa que precisava mais do que qualquer coisa, quase qualquer coisa, era uma ducha.
— Valentim não têm algum tipo de esconderijo? Um covil secreto?
— Se ele tem — Luke respondeu — ele tem mantido isso em absoluto segredo.
Gretel soltou Clary, que moveu seu braço delicadamente. A pomada esverdeada que Gretel tinha esfregado sobre o corte havia minimizado a dor, mas seu braço permanecia rígido e desajeitado.
— Espere um segundo — Clary falou.
— Eu nunca entendo porque as pessoas dizem isso — Luke comentou, para ninguém em particular — eu não estava indo para lugar algum.
— Valentim poderia estar em algum lugar em Nova York?
— Possivelmente.
— Quando eu o vi no Instituto, ele veio através de um Portal. Magnus disse que só existem dois portais em Nova York. Um na casa de Dorothea e um em Renwick. O de Dorothea foi destruído, e eu não posso vê-lo escondido lá mesmo assim, então...
— No de Renwick? — Luke pareceu desconcertado. — Renwick não é um nome de Caçador de Sombras.
— E se Renwick não é uma pessoa, de qualquer forma? — Clary perguntou. — E se for um lugar? Renwick's. Como num restaurante, ou... ou um hotel ou algo assim.
Os olhos de Luke ficaram subitamente largos. Ele se virou para Gretel, que estava avançando sobre ele com o kit médico.
— Me traga uma lista telefônica — ele pediu.
Gretel parou em seu caminho, segurando a bandeja em direção a ele em uma maneira acusatória.
— Mas, senhor, suas feridas.
— Esqueça minhas feridas e me pegue uma lista telefônica — ele rebateu. — Estamos em uma delegacia. Acho que teria bastantes das antigas por aí.
Com um olhar de desdenhosa exasperação, Gretel colocou a bandeja no chão e marchou para fora do quarto. Luke olhou Clary sobre seus óculos, que tinham deslizado metade do caminho abaixo de seu nariz.
— Bem lembrado.
Ela não respondeu. Havia um nó duro em seu estômago. Encontrou a si mesma tentando respirar. O início de um pensamento fez cócegas na ponta de sua mente, esperando se resolver em um estouro de realização. Mas ela o empurrou firmemente para baixo e para longe. Ela não podia se permitir dar a ele recursos, sua energia, para qualquer coisa além do problema imediatamente à mão.
Gretel retornou com as páginas amarelas parecendo úmidas e empurrou-as para Luke. Ele leu o livro em pé, enquanto a mulher-lobo atacava suas feridas com bandagens adesivas e potes de pomada.
— Há sete Renwicks na lista telefônica — ele disse finalmente — nenhum restaurante, hotel ou outros locais — empurrou seus óculos para cima, mas eles deslizaram de novo instantaneamente — eles não são Caçadores de Sombras, e me parece pouco provável que Valentim tenha criado um quartel general na casa de um mundano ou de um ser do Submundo. Embora, talvez...
— Vocês têm um telefone? — Clary interrompeu.
— Não comigo — Luke, ainda segurando a lista telefônica, olhou abaixo para Gretel — você poderia pegar o telefone?
Com um desgostoso urro, ela jogou o chumaço de panos ensanguentados que tinha estado segurando e jogou ao chão, saindo da sala num segundo. Luke colocou a lista de telefones sobre a mesa, pegou o rolo de ataduras, e começou a enrolar em diagonal, atravessando suas costelas.
— Desculpe — falou, enquanto Clary olhava. — Sei que é nojento.
— Se a gente pegar Valentim — ela perguntou abruptamente — nós podemos matá-lo?
Luke quase largou as ataduras.
— O quê?
Ela se ocupou com um casual fio cutucando fora do bolso do seu jeans.
— Ele matou o meu irmão mais velho. Matou meus avós. Não matou?
Luke colocou as ataduras em cima da mesa e puxou a camisa para baixo.
— E você acha que matá-lo fará o quê? Apagar essas coisas?
Gretel retornou antes que Clary pudesse dizer alguma coisa sobre isso. Ela usava uma martirizada expressão e entregou a Luke um celular desajeitado e antiquado. Clary se perguntou quem pagava as contas do telefone.
Clary segurou a sua mão.
— Me deixe fazer uma ligação.
Luke pareceu hesitante.
— Clary...
— É sobre Renwick. Vai levar apenas um segundo.
Ele lhe entregou o telefone cautelosamente. Clary discou nos números e meio que se virou, afastando-se dele para se dar a mínima ilusão de privacidade.
Simon atendeu no terceiro toque.
— Alô?
— Sou eu.
Sua voz aumentou uma oitava.
— Você está bem?
— Eu estou bem. Por quê? Você já ouviu alguma coisa de Isabelle?
— Não. O que eu ouviria de Isabelle? Existe algo de errado? É Alec?
— Não — Clary respondeu, não querendo mentir e dizer que Alec estava bem — não sei sobre Alec. Olha, eu só preciso que você procure no Google algo para mim.
Simon suspirou.
— Você está brincando. Eles não têm um computador? Você sabe o quê, não responda a isso.
Ela ouviu o som de uma porta abrir e a pancada miada enquanto o gato da mãe de Simon era banido de seu poleiro no teclado do seu computador. Clary podia imaginar Simon muito claramente na sua cabeça enquanto ele se sentava, os dedos deslocando-se rapidamente ao longo do teclado.
— O que você quer que eu procure?
Clary disse a ele. Podia sentir os olhos preocupados de Luke sobre si enquanto falava. Era a mesma forma que ele a olhava quando ela tinha onze anos e teve uma gripe culminada com uma febre. Ele trouxe cubos de gelo para ela chupar e tinha lido para ela seus livros favoritos, fazendo todas as vozes.
— Você está certa — Simon falou, tirando-a do seu devaneio — é um lugar. Ou, pelo menos, era um lugar. Está abandonado agora.
Sua mão suada escorregou sobre o telefone, e ela apertou mais.
— Me fale sobre isso.
— O mais famoso dos manicômios, prisões de devedores e hospitais construídos na Ilha Roosevelt em 1800 — Simon leu — Hospital Renwick Smallpox foi projetado pelo arquiteto Jacob Renwick e destinado a quarentena das mais pobres vítimas em Manhattan da epidemia incontrolável de varíola. Durante o século seguinte, o hospital foi abandonado à ruína. O acesso público às ruínas é proibido.
— Ok, isso é suficiente — Clary disse, seu coração batendo — tem que ser ele. Ilha Roosevelt? Não vivem pessoas lá?
— Nem todo mundo vive em uma ladeira, princesa — Simon respondeu, com um justo grau de falso sarcasmo — de qualquer maneira, você precisa de mim para te dar uma carona de novo ou algo assim?
— Não! Eu estou bem, não preciso de nada. Só queria a informação.
— Tudo bem.
Ele soou um pouco machucado, Clary pensou, mas disse a si mesma que não importava. Ele estava seguro em casa, e isso era o que era importante.
Ela desligou, se voltando para Luke.
— Há um hospital abandonado no extremo sul da Ilha Roosevelt chamado Renwick. Acho que Valentim está lá.
Luke empurrou seus óculos de novo.
— Ilha Blackwell. É claro.
— O que você quer dizer com Blackwell? Eu disse...
Ele cortou-a com um gesto.
— Era como a Ilha Roosevelt costumava ser chamada. Blackwell. Ela era propriedade de uma antiga família de Caçadores de Sombras. Eu devia ter adivinhado — ele se virou para Gretel — traga Alaric. Vamos precisar de todo mundo aqui de volta o mais rápido possível.
Seus lábios se curvaram em um meio sorriso que lembrou Clary do frio sorriso que Jace usou durante a luta.
— Diga para eles se aprontarem para a batalha.

***

Eles fizeram o seu caminho até a rua através de um sinuoso labirinto de celas e corredores que eventualmente se abriam, uma vez, para o que tinha sido o saguão de uma delegacia. O edifício estava abandonado agora, e a inclinada luz da tarde lançava estranhas sombras sobre as escrivaninhas vazias, os armários trancados com cadeados eram marcados por buracos negros de cupim, o piso de mosaicos rachados anunciavam o lema da NYPD: Fidélis ad mortem.
— Fiel até à morte — traduziu Luke, seguindo seu olhar.
— Me deixe adivinhar — Clary disse — no interior é uma delegacia abandonada, no exterior, os mundanos só veem um edifício condenado, ou um lote vago, ou...
— Na verdade ele se parece com um restaurante chinês no exterior — Luke corrigiu — só entrega, nenhum serviço de mesa.
— Um restaurante chinês? — Clary ecoou com descrença.
Ele deu de ombros.
— Bem, estamos em Chinatown. Esta era a Segunda Jurisdição construída.
— As pessoas devem pensar que é estranho que não haja um número de telefone para se ligar e fazer encomendas.
Luke sorriu.
— Há sim. Nós apenas não atendemos muito. Às vezes, se eles estiverem chateados, alguns dos novatos fazem algumas entregas de porco mu shu.
— Você está brincando.
— De jeito nenhum. As gorjetas vêm a calhar.
Ele empurrou a porta da frente aberta, deixando entrar um fluxo de luz solar.
Ainda sem certeza se ele estava brincando ou não, Clary seguiu Luke em toda a Rua Baxter onde o seu carro estava estacionado. O interior da caminhonete era reconfortantemente familiar. O indistinto cheiro de madeira, papel velho e sabão, o par de dados de pelúcia dourados desbotado que ela tinha lhe dado quando tinha dez anos porque eles pareciam dados de ouro pendurados a frente do espelho retrovisor do Millennium Falcon. As descartadas embalagens de chiclete e copos vazios de café rolando pelo chão. Clary se sentou no banco do passageiro, descansando para trás contra o encosto de cabeça com um suspiro. Ela estava mais cansada do que gostaria de admitir.
Luke fechou a porta.
— Fique aqui.
Ela observou enquanto ele falava com Alaric e Gretel, que estavam de pé nos degraus da antiga delegacia, esperando pacientemente. Clary distraiu-se sozinha, deixando os olhos entrarem e saírem de foco, observando o encantamento aparecer e desaparecer. Primeiro era uma antiga delegacia, então era a frente de uma loja dilapidada ostentando um toldo amarelo em que se lia Lobo de Jade – Cozinha Chinesa.
Luke estava gesticulando para o seu segundo e terceiro em comando, apontando para baixo na rua. Sua picape era a primeira em uma linha de furgões, motocicletas e até mesmo um velho ônibus escolar. Os veículos se esticavam em uma linha para baixo da quadra e viravam em uma esquina. Um comboio de lobisomens. Clary perguntou como eles pediram, tomaram emprestado, roubaram ou confiscaram tantos veículos em um prazo tão curto. Pelo lado positivo, pelo menos eles não tinham que ir de trem.
Luke aceitou um saco de papel branco de Gretel, e com um aceno, saltou de volta na picape. Dobrando seu corpo esguio ao volante, ele lhe entregou o saco.
— Você está encarregada disto.
Clary perscrutou aquilo com suspeita.
— O que é isso? Armas?
Os ombros de Luke se sacudiram com uma risada sem som.
— Pães cozinhados no vapor, na verdade — ele respondeu, puxando o carro para fora na rua — e café.
Clary rasgou o saco, abrindo-o enquanto eles dirigiam cidade acima, seu estômago rosnando furiosamente. Ela separou um rolo, saboreando o rico e apetitoso sabor salgado da carne de porco, mastigando a massa branca. Ela empurrou aquilo abaixo com um gole do superdoce café preto, e ofereceu um rolo a Luke.
— Quer um?
— Claro.
Era quase como nos velhos tempos, ela pensou, quando eles se movimentavam pela rua do canal, pegavam sacos de bolinhos quentes na Panificadora Carruagem Dourada e comiam metade deles se dirigindo para casa, acima da ponte de Manhattan.
— Então, me fale sobre este Jace — Luke disse.
Clary quase engasgou com um pão. Ela alcançou o café, afogando sua tosse com o líquido quente.
— O quê?
— Você tem alguma ideia do que Valentim poderia quer com ele?
— Não.
Luke amarrou a cara para o sol.
— Eu pensava que esse Jace era uma das crianças dos Lightwood.
— Não — Clary mordeu seu terceiro rolo — seu sobrenome é Wayland. Seu pai era...
— Michael Wayland?
Ela concordou.
— E quando Jace tinha dez anos, Valentim o matou. Michael, eu quero dizer.
— Isso soa como algo que ele faria — Luke respondeu.
Seu tom era neutro, mas havia algo em sua voz que fez Clary olhar para ele de lado. Ele não acreditava nela?
— Jace o viu morrer — ela acrescentou, como se para apoiar a sua alegação.
— Isso é horrível. Pobre garoto confuso.
Eles estavam dirigindo na ponte da rua cinquenta e nove. Clary olhou para baixo e viu o rio se tornar dourado e vermelho pelo sol. Ela podia vislumbrar o extremo sul da Ilha Roosevelt a partir dali, porém, era apenas uma mancha ao norte.
— Ele não é tão ruim — ela falou — os Lightwood tomaram conta dele.
— Eu posso imaginar. Estavam sempre próximos a Michael — Luke observou, desviando-se para a faixa da esquerda. No espelho lateral, Clary pôde ver a caravana de veículos os seguindo, alterando seu curso para imitá-los. — Eles iriam querer cuidar do filho dele.
— Então o que acontece quando a lua aparece? — ela perguntou. — Está tudo indo quando de repente o lobo sai, ou o quê?
A boca de Luke se contorceu.
— Não exatamente. Apenas os jovens, os que acabaram de se mudar, não podem controlar as suas transformações. A maior parte do resto de nós aprende ao longo dos anos. Somente a lua na forma mais cheia pode forçar uma mudança em mim agora.
— Então quando a lua está apenas parcialmente cheia, você só se sente um pequeno lobinho? — Clary perguntou.
— Você pode dizer isso.
— Bem, você pode ir em frente e colocar sua cabeça para fora da janela do carro, se quiser.
Luke riu.
— Eu sou um lobisomem, e não um golden retriever.
— Há quanto tempo você é o líder do clã? — ela perguntou abruptamente.
Luke hesitou.
— Cerca de uma semana.
Clary se virou em torno para olhar para ele.
— Uma semana?
Ele suspirou.
— Eu sabia que Valentim tinha levado sua mãe — ele disse sem muita inflexão — sabia que tinha poucas chances contra ele sozinho e que eu não poderia esperar nenhuma assistência da Clave. Levei um dia para rastrear a localização da matilha mais próxima de licantropos.
— Você matou o líder do clã para tomar seu lugar?
— Foi o caminho mais rápido que eu poderia tomar para adquirir um número de aliados em um curto período de tempo — Luke respondeu, sem arrependimento no seu tom, embora sem qualquer orgulho também.
Ela se lembrou de tê-lo espiado na sua casa, como havia notado os profundos arranhões nas mãos e rosto e da forma como ele recuava quando movia o seu braço.
— Eu fiz isso antes. Tive bastante certeza que poderia fazê-lo novamente — ele deu de ombros — sua mãe tinha ido embora. Eu sabia que eu tinha feito você me odiar. Eu não tinha nada a perder.
Clary colocou seus tênis verdes contra o painel para amarrá-los. Através do rachado para-brisa, acima das pontas dos pés, a lua estava subindo acima da ponte.
— Bem, você tem agora.
O hospital, no extremo sul da Ilha Roosevelt estava iluminado pela noite, os seus contornos fantasmagóricos curiosamente visíveis contra a escuridão do rio e da grande iluminação de Manhattan. Luke e Clary ficaram em silêncio enquanto a picape passava pela pequena ilha, enquanto a estrada pavimentada se tornava terra batida e finalmente sujeira acumulada. A estrada seguia a curva de uma grade alta com aros fechados, no topo estavam fios afiados amarrados em arabesco como festivos laços de fita.
Quando a estrada ficou muito acidentada para eles seguirem mais adiante, Luke estacionou a caminhonete e desligou as luzes. Ele olhou para Clary.
— Há alguma chance de eu te pedir para esperar por mim aqui e você fazer isso?
Ela balançou a cabeça.
— Não seria necessariamente mais seguro dentro do carro. Quem sabe se Valentim está patrulhando seu perímetro?
Luke riu suavemente.
— Perímetro. Olhe só você.
Ele se colocou para fora da caminhonete e deu a volta para ajudá-la a descer. Clary podia, sozinha, ter saltado para fora da caminhonete, mas foi bom ter ajuda, do jeito como Luke fazia quando ela era pequena demais para descer sozinha.
Seus pés bateram na sujeira seca acumulada, enviando flocos de poeira. Os carros que tinham seguido-os estavam subindo, um por um, formando uma espécie de círculo em torno do veículo de Luke. Seus faróis varriam toda a sua visão, iluminando as grades da cerca para um branco prateado. Além da cerca, o hospital em si era uma ruína banhada na dura luz que apontava sua dilapidada situação: as paredes sem teto sobressaiam no terreno irregular como dentes quebrados, os parapeitos de pedra da fortificação estavam cobertos com um tapete verde de hera.
— É uma ruína — ela se ouviu dizer suavemente, um vacilar de apreensão em sua voz — não vejo como Valentim poderia eventualmente esconder aqui.
Luke olhou além dela para o hospital.
— É um feitiço forte — respondeu — tente olhar além das luzes.
Alaric estava andando na direção deles ao longo da estrada, a leve brisa fazendo seu casaco sacudir aberto, mostrando a cicatriz por baixo do peito. Os lobisomens andando atrás dele pareciam completamente pessoas comuns, Clary pensou. Se ela tivesse visto eles todos juntos em algum lugar, poderia ter pensado que se conheciam uns aos outros de alguma maneira, havia certa semelhança não física, uma rudeza em seus olhares, uma força em suas expressões. Ela poderia ter pensado que eram agricultores, já que pareciam mais bronzeados, curvados e magros do que a maioria dos moradores da cidade, ou talvez achasse que eram de uma gangue de motociclistas. Mas eles em nada se pareciam como monstros.
Eles se reuniram em uma conferência rápida na caminhonete de Luke, como uma amontoada reunião de futebol. Clary, do lado de fora, virou-se para olhar para o hospital novamente. Desta vez ela tentou olhar ao redor da luz, ou através delas, da forma como você por vezes poderia olhar através de um fino acabamento de tinta para ver o que estava por baixo. Como normalmente ela fazia, pensando em como iria pintá-lo, isso ajudou. As luzes pareceram desaparecer, e agora ela estava olhando através de um carvalho – o gramado limpo para uma ornada estrutura gótica do Renascimento que parecia se assomar acima das árvores como a amurada de um grande navio. As janelas dos andares mais baixos eram escuras e blindadas, mas luz era derramada através das esquadrias dos arcos das janelas do terceiro andar, como uma linha de chamas queimando ao longo do cume de uma montanha distante. Uma pesada pedra na varanda cobria o exterior, escondendo a porta da frente.
— Você vê?
Era Luke, que veio atrás dela com a passada graciosa de... bem, um lobo.
Clary ainda estava olhando.
— É mais parecido com um castelo do que com um hospital.
Tomando ela pelos ombros, Luke a virou para olhá-lo.
— Clary, me escute — seu aperto foi dolorosamente com força — eu quero que você fique ao meu lado. Se mova quando eu passar. Segure a minha manga se tiver necessidade. Os outros vão ficar em torno de nós, nos protegendo, mas se você ficar fora do círculo, eles não serão capazes de te proteger. Vamos nos mover em direção à porta.
Ele tirou as mãos de seus ombros e quando se moveu, ela viu o brilho de algo de metal no interior da sua jaqueta. Não tinha percebido que ele estava carregando uma arma, mas então lembrou que Simon havia dito sobre o que estava na velha mala verde de Luke e supostamente fazia sentido.
— Você promete que vai fazer o que eu disse?
— Prometo.
A grade era real, não fazia parte do encantamento. Alaric, ainda na frente, a agitou experimentando, em seguida, colocou uma mão preguiçosa. Longas garras brotando de suas mãos, e ele cortou o alambrado com elas, transformando o metal em tiras. Elas se empilharam no chão com um barulho.
— Vão.
Ele gesticulou para os outros atravessarem. Os lobisomens agitaram-se à frente como uma só pessoa, um mar de movimentos coordenados. Pressionando o braço de Clary, Luke a empurrou rente a ele, abaixando a cabeça para seguir. Eles se endireitaram no interior da cerca, olhando para cima em direção ao hospital, onde recolhidas formas escuras, reunidas na varanda, estavam começando a se deslocar pelos degraus.
Alaric tinha levantado sua cabeça, farejando o vento.
— O fedor da morte paira pesado no ar.
A respiração de Luke deixou seus pulmões em um sibilo apressado: “Esquecidos”.
Ele empurrou Clary para trás dele, e ela tropeçou levemente sobre o terreno irregular. O grupo começou a se mover em direção a ela e Luke; enquanto se aproximavam, todos se baixaram em quatro, lábios rosnando por trás de suas longas presas, membros se estendendo longamente, as extremidades forradas de pelos, roupas cobertas por peles. Uma pequena voz instintiva na parte de trás do cérebro de Clary estava gritando para ela: Lobos! Fuja! Mas ela lutou e permaneceu onde estava, embora pudesse sentir o salto e os tremores nos nervos em suas mãos.
O bando os rodeou, de dentro para fora. Mais lobos flanquearam de ambos os lados do círculo. Era como se ela e Luke estivessem no centro de uma estrela. Com isso, eles começaram a avançar em direção a varanda do hospital. Ainda atrás de Luke, Clary nem sequer viu o primeiro dos Esquecidos que eles atingiram. Ela ouviu um uivo de dor de um lobo. O uivo subiu e subiu, transformando-se rapidamente em um rosnado. Houve um som de queda, e então o gorgolejante choro e um som como de papel rasgando...
Clary ficou se perguntando se os Esquecidos eram comestíveis.
Ela olhou para Luke. O rosto dele estava concentrado. Ela podia vê-los agora, além do círculo de lobos, o palco iluminado de brilho e pelos refletores tremulando o brilho de Manhattan: dezenas de Esquecidos, sua pele pálida de cadáver ao luar, queimados por Runas. Seus olhos eram vagos enquanto eles se lançavam aos lobos, e os lobos encontrando-os de cabeça, garras arranhando, dentes arrancando e rasgando. Ela viu um dos guerreiros Esquecidos – uma mulher – cair, a garganta despedaçada, os braços ainda se debatendo. Outro fora mordido por um lobo em um braço, enquanto o outro braço descansava no terreno a um metro de distância, sangue pulsando da ponta. Sangue negro, repulsivo como a água de pântano, corria em um jorro, tornando a grama escorregadia, então os pés de Clary escorregaram. Luke pegou-a antes que pudesse cair.
— Fique comigo.
Estou aqui, ela queria dizer, mas não havia palavras que saíssem de sua boca. O grupo ainda estava subindo o gramado em direção ao hospital, agonizantemente lento. O aperto de Luke era rígido como ferro. Clary não poderia dizer quem estava ganhando – se alguém estava. Os lobos tinham o tamanho e a velocidade do seu lado, mas os Esquecidos se moviam com uma sinistra inevitabilidade e eram surpreendentemente difíceis de matar. Ela viu o grande lobo listrado que era Alaric pegar um, rasgando suas pernas abaixo, em seguida, pulando para a garganta. O Esquecido se manteve em movimento mesmo com o rasgo, o corte do machado abrindo uma longa ferida vermelha no casaco de Alaric.
Distraída, Clary quase não notou que um Esquecido tinha furado o círculo de proteção até que se jogou na frente dela, como se tivesse surgido da grama a seus pés. Com olhar branco, cabelo emaranhado, ele levantou uma faca pingando.
Ela gritou. Luke girou, arrastando-a para seu lado, pegou o pulso da coisa e torceu. Clary ouviu um estalo de osso e a faca caiu na grama. A mão do Esquecido balançou frouxamente, mas ele se manteve vindo em direção a eles, sem evidenciar nenhum sinal de dor. Luke estava gritando roucamente para Alaric. Clary tentou alcançar a adaga em sua cintura, mas o aperto de Luke em seu braço era demasiado forte. Antes que ela pudesse gritar com ele para soltá-la, um delgado borrão prateado se chocou contra o Esquecido. Era Gretel. Ela aterrissou com suas patas no peito do Esquecido, lançando-o para o chão. Um feroz queixar de raiva veio da garganta de Gretel, mas o Esquecido era mais forte, lançou-a para o lado como uma boneca de trapo e rolou para seus pés.
Alguma coisa tinha levantado Clary de seus pés. Ela gritou, mas era Alaric, meio em forma de lobo, meio humano. Suas mãos a prendiam com afiadas garras. Ainda assim, elas a seguravam gentilmente em seus braços.
Luke estava fazendo sinal para eles.
— Leve-a daqui! Leve-a para as portas! — ele estava gritando.
— Luke! — Clary se virou nos braços de Alaric.
— Não olhe — Alaric disse com um rosnar.
Mas ela olhou. Tempo suficiente para começar a ver Luke indo em direção a Gretel, uma lâmina em sua mão, mas ele estava muito atrasado. O Esquecido segurou uma faca, que havia caído na grama molhada de sangue, e a afundou nas costas de Gretel, de novo e de novo, enquanto ela o agarrava e lutava e finalmente desmoronava, a luz em seus olhos prateados desvanecendo em trevas. Com um grito, Luke projetou sua espada na garganta do Esquecido...
— Eu lhe disse para não olhar — Alaric rosnou, virando aquela linha de visão dela que foi bloqueada por seu volume agigantado. Eles estavam correndo acima dos degraus, o som do arranhar das garras dos pés friccionando o granito como unhas em uma lousa.
— Alaric — Clary chamou.
— Sim?
— Sinto muito por ter jogado uma faca em você.
— Não se desculpe. Foi um golpe bem colocado.
Ela tentou olhar além dele.
— Onde está Luke?
— Estou aqui — Luke falou.
Alaric se virou. Luke estava correndo na direção deles, deslizando sua espada de volta À bainha, que estava presa ao seu lado, sob o seu casaco. A lâmina estava negra e pegajosa.
Alaric deixou Clary deslizar para a varanda. Ela desceu se virando. Não podia ver Gretel ou o Esquecido que a tinha matado, só uma massa de corpos e metais brilhando. O rosto de Clary estava molhado. Luke a alcançou com uma mão livre para ver se ela estava sangrando, mas percebeu que em vez disso, ela estava chorando. Luke olhou-a curiosamente.
— Ela era apenas uma criatura do Submundo — ele disse.
Os olhos de Clary queimavam.
— Não diga isso.
— Eu vejo — ele se virou para Alaric — obrigado por cuidar dela. Enquanto nós vamos para dentro...
— Eu vou com você — Alaric completou.
Ele tinha feito a maior parte da transformação para a forma de homem, mas seus olhos ainda eram os olhos de um lobo e seus lábios estavam puxados para trás dos dentes, tão longos quanto palitos de dentes. Ele flexionou as longas unhas de suas mãos.
Os olhos de Luke estavam preocupados.
— Alaric, não.
A voz rosnada de Alaric estava calma.
— Você é o líder do bando. Sou seu segundo agora que Gretel está morta. Não seria correto deixar você ir sozinho.
— Eu... — Luke olhou Clary e, em seguida, de volta lá fora na área em frente ao hospital — Eu preciso de você aqui fora, Alaric. Sinto muito. Isso é uma ordem.
Os olhos de Alaric lampejaram ressentidamente, mas ele andou para o lado. A porta do hospital era pesadamente ornamentada com madeira esculpida, os padrões eram familiares para Clary, as rosas de Idris, Runas enroscadas, sóis imitindo raios. Ela abriu com um barulho de estrondo no trinco quando Luke a chutou. Ele empurrou Clary em direção à porta aberta largamente.
— Entre.
Ela tropeçou passando por ele, e virou-se na soleira da porta. Pegou um único breve vislumbre de Alaric olhando para eles, seus olhos de lobo reluziam. Atrás dele, o gramado em frente ao hospital estava coberto de corpos, as sujeiras manchadas de sangue, preto e vermelho. Quando a porta se fechou atrás dela, cortando sua visão, ela ficou agradecida.
Ela e Luke ficaram na semiescuridão, em uma pedra na entrada, o caminho iluminado por uma única tocha. Depois do ruído da batalha, o silêncio era como um manto opressor. Clary se encontrou arfando para respirar o ar, o ar que não era espesso com umidade e o cheiro de sangue.
Luke agarrou o seu ombro com a mão.
— Você está bem?
Ela limpou suas bochechas.
— Você não deveria ter dito aquilo. Sobre Gretel ser apenas uma criatura do Submundo. Eu não penso assim.
— Estou feliz em ouvir isso — ele se aproximou da tocha em um apoio de metal — eu odiei a ideia dos Lightwood terem transformado você em uma cópia deles.
— Bem, eles não fizeram.
A tocha não saía do lugar nas mãos de Luke, e ele franziu a sobrancelha. Escavando em seu bolso, Clary removeu a lisa pedra de luz que Jace tinha lhe dado no seu aniversário e a levantou para o alto. A luz brotou entre seus dedos, como se fosse uma semente na escuridão, soltando toda a iluminação presa lá dentro.
Luke largou a tocha.
— Pedra enfeitiçada? — ele disse.
— Jace a deu para mim.
Ela podia sentir sua pulsação na mão, como o batimento cardíaco de um pequeno pássaro. Se perguntou onde Jace estava nesta pilha de pedra cinza de quartos, se estava amedrontado, se se perguntava se a veria novamente.
— Já faz anos desde que vi uma pedra enfeitiçada — Luke disse, e começou a subir as escadas. Elas rangiam ruidosamente sob suas botas. — Me siga.
O chamejante brilho da pedra enfeitiçada lançava as suas sombras estranhamente alongadas contra as lisas paredes de granito. Eles pararam em uma pedra aterrada que se curvava em torno de um arco. Acima deles ela podia ver luz.
— Assim é o que o hospital costumava ser a centenas de anos atrás? — Clary sussurrou.
— Oh, a estrutura do que Renwick construiu ainda está aqui — Luke notou — mas eu imagino que Valentim, Blackwell e os outros tenham remodelado o local para ser um pouco mais ao gosto deles. Veja aqui.
Ele raspou a bota ao longo do piso: Clary olhou para baixo e viu uma Runa esculpida em granito sob seus pés: um círculo, no centro do qual havia um ditado em latim: Em Hoc Signo Vinces.
— O que significa isso?
— Significa, “Por este sinal nós iremos conquistar”. Era o lema do Círculo.
Ela olhou acima, em direção à luz.
— Então, eles estão aqui.
— Eles estão aqui — Luke concordou, e havia uma antecipação em seu tom. — Venha.
Eles subiram a escada sinuosa, circulando abaixo da luz até que ela estava em torno deles e ambos estavam de pé na entrada de um longo e estreito corredor. Tochas queimavam ao longo da passagem. Clary fechou sua mão sobre a pedra enfeitiçada, que piscou como uma estrela se extinguindo.
Havia portas colocadas em intervalos ao longo do corredor, todas fechadas firmemente. Clary se perguntou se elas haviam sido enfermarias, quando havia sido um hospital, ou talvez, quartos particulares. Enquanto eles se moviam pelo corredor, Clary viu pegadas enlameadas da grama lá de fora, cruzando a passagem.
Alguém tinha andado aqui recentemente.
A primeira porta que eles tentaram abrir cedeu facilmente, mas a sala estava vazia: apenas o polido piso de madeira e paredes de pedra, iluminadas pelo misterioso derramar do luar através da janela. O fraco rugido da batalha lá fora preenchia a sala, tão rítmicas quanto o som do oceano. A segunda sala estava cheia de armas: espadas, clavas e machados. A luz da lua corria como água prateada com filas após filas de aço frio desembainhado. Luke assobiou sob a sua respiração.
— O bastante para uma coleção.
— Você acha que Valentim utiliza todas elas?
— Improvável. Suspeito que elas são para o seu exército.
Luke se afastou.
A terceira sala era um quarto. Os dosséis em torno dos quatro postes da cama eram azuis, o tapete persa padronizado em preto, azul e cinza, com móveis pintados de branco, como o mobiliário em um quarto infantil. Uma fina camada de fantasmagórica poeira cobria tudo, cintilando ligeiramente ao luar.
Deitada na cama, Jocelyn dormia.
Ela estava deitada de costas, uma mão cuidadosamente jogada em seu peito, seus cabelos espalhados por todo o travesseiro. Ela usava uma espécie de camisola branca que Clary nunca tinha visto, e respirava regularmente e em silêncio. Na penetrante luz da lua, Clary pôde ver o tremular de pálpebras de sua mãe enquanto ela sonhava.
Com um gritinho, Clary se atirou em sua direção... mas Luke segurou seu braço, prendendo-a em seu peito como uma barra de ferro, segurando-a de volta.
— Espere — ele disse, a sua própria voz tensa com o esforço — temos que ter cuidado.
Clary virou a cabeça em sua direção, mas ele estava olhando além dela, sua expressão furiosa e dolorosa. Ela seguiu a linha de seu olhar e viu o que não tinha querido ver antes.
Algemas prateadas se fechavam em torno dos pulsos e pés de Jocelyn, as pontas das correntes mergulhadas profundamente no piso de pedra em cada lado da cama. A mesa ao lado da cama estava coberta com o estranho conjunto de tubos e garrafas, frascos de vidros longos, e maldosamente inclinados, cintilantes instrumentos cirúrgicos de aço. Um tubo de borracha corria de um dos frascos de vidro para uma veia do braço esquerdo de Jocelyn.
Clary se sacudiu, afastando-se das mãos restritivas de Luke e disparou em direção a cama, embalando seus braços em torno do corpo impassível de sua mãe. Mas foi como tentar abraçar em uma boneca mal articulada. Jocelyn permanecia imóvel e rígida, a sua respiração lenta, inalterada.
Uma semana atrás, Clary teria chorado como tinha feito naquela primeira noite terrível em que tinha descoberto que sua mãe estava sumida, chorou e saiu. Mas nenhuma lágrima veio agora, enquanto ela deixava sua mãe e se endireitava. Não havia terror nela agora, e nenhuma autopiedade: apenas uma amarga fúria e a necessidade de encontrar o homem que havia feito isto, o responsável por tudo isso.
— Valentim — ela disse.
— É claro — Luke estava ao lado dela, tocando levemente o rosto de sua mãe, levantando suas pálpebras. Os olhos abaixo estavam brancos como mármore — ela não está drogada. É algum tipo de feitiço, eu espero.
Clary deixou sua respiração sair em um quase soluço apertado.
— Como é que vamos tirá-la daqui?
— Eu não posso tocar as algemas — disse Luke. — Prata. Você pode...
— A sala de armas — Clary falou, de pé — eu vi um machado lá. Vários. Podíamos quebrar as correntes...
— As correntes são inquebráveis.
A voz que falou da porta era baixa, arenosa, e familiar. Clary virou-se e viu Blackwell. Ele estava sorrindo agora, usando a mesma veste cor de sangue coagulado de antes, a capa empurrada para trás, botas lamacentas visíveis sob a bainha.
— Graymark — ele disse — que surpresa agradável.
Luke se endireitou.
— Se você está surpreso, é um idiota. Eu não cheguei exatamente em silêncio.
As bochechas de Blackwell coraram em um roxo mais escuro, mas ele não se moveu em direção a Luke.
— Líder de um clã novamente, não é? — ele disse, e deu uma desagradável risada. — Não é possível você quebrar o hábito de botar as criaturas do Submundo para fazer seu trabalho sujo? As tropas de Valentim estão ocupadas espalhando pedaços deles em todo o gramado, e você está aqui em cima a salvo com suas namoradas — ele olhou com desprezo na direção de Clary — essa parece um pouco jovem para você, Lucian.
Clary corou furiosamente, suas mãos se dobrando nos punhos, mas a voz de Luke, quando respondeu, era educada.
— Eu não chamaria exatamente aquilo de tropas, Blackwell. Eles são Esquecidos. Atormentados, sendo uma vez seres humanos. Se me lembro corretamente, a Clave olha bem feio para tudo isso – pessoas torturadas, preparadas por magia negra. Eu não posso imaginá-los ficando muito satisfeitos.
— Maldita Clave — Blackwell rugiu. — Nós não precisamos deles e sua meia-raça de tolerantes. Além disso, os Esquecidos não serão Esquecidos por muito tempo. Uma vez que Valentim utilizar o Cálice sobre eles, serão tão bons Caçadores de Sombras quanto o resto de nós, melhor do que aquilo que a Clave está fazendo passar como guerreiros hoje em dia. Seres do Submundo amando covardes.
Ele revelou seus dentes desbotados.
— Se for esse o seu plano para o Cálice — Luke falou — porque já não o fez? O que é que ele está esperando?
As sobrancelhas de Blackwell se levantaram.
— Como você sabia? Ele tem o seu...
Uma sedosa risada interrompeu-o. Pangborn tinham aparecido atrás dele, todo em preto com uma tira de couro através de seu ombro.
— Já chega, Blackwell. Você fala demais, como sempre — ele reluziu seus dentes afiados para Luke — jogada interessante, Graymark. Eu não achei que você teria estômago para conduzir o seu mais novo clã em uma missão suicida.
Um músculo da bochecha de Luke retorceu.
— Jocelyn — ele disse. — O que ele fez com ela?
Pangborn gargalhou musicalmente.
— Eu pensei que você não se importasse.
— Não vejo o que ele quer com ela agora — prosseguiu Luke, ignorando o sarcasmo — ele tem o Cálice. Ela não tem serventia. Valentim nunca foi um assassino sem propósito. É um assassino com um objetivo. Agora, isso poderia ser uma história diferente.
Pangborn encolheu os ombros com indiferença.
— Não faz diferença para nós o que ele faz com ela. Ela era sua esposa. Talvez ele a odeie. Esse é um motivo.
— Deixe-a ir — Luke falou — e nós saímos com ela, chamarei o clã para fora. Vou te dever uma.
— Não!
A explosão de fúria de Clary fez Pangborn e Blackwell virarem seus olhares para ela. Ambos pareceram ligeiramente incrédulos, como se fosse falar bobeiras. Ela se virou para Luke.
— Ainda há Jace. Ele está aqui em algum lugar.
Blackwell estava rindo.
— Jace? Nunca ouvi falar de um Jace. Agora, eu poderia pedir a Pangborn para deixá-la ir. Mas eu prefiro que não. Ela sempre foi uma cadela para mim, Jocelyn. Pensei que fosse melhor do que o resto de nós, com sua aparência e linhagem. Apenas uma cadela com pedigree, isso é tudo. Ela só casou com ele para que pudesse ficar em torno de nós todos...
— Decepcionado por você mesmo não conseguir casar com ela, Blackwell? — era tudo que Luke disse em resposta, embora Clary pudesse ouvir a fria raiva em sua voz.
Blackwell, seu rosto se arroxeando, deu um passo zangado para dentro do quarto. E Luke, se movendo tão rapidamente que Clary quase não o viu, agarrou o bisturi na mesa de cabeceira e o arremessou. Ele girou duas vezes no ar e afundou na garganta de Blackwell, cortando seu rosnado de revide. Ele silenciou, os olhos rolaram até ficarem brancos, e caiu em seus joelhos, as mãos na garganta. Um líquido vermelho pulsante espalhava-se entre seus dedos. Ele abriu a sua boca como se para falar, mas apenas uma linha fina de sangue gotejou para fora. Suas mãos escorregaram da garganta, e Blackwell caiu no chão como uma árvore quebrada.
— Oh, querido — disse Pangborn, olhando para o corpo caído de seu companheiro com um manhoso desgosto — que desagradável.
O sangue da garganta cortada de Blackwell estava se espalhando por todo o chão em uma viscosa piscina vermelha. Luke, pegando o ombro de Clary, sussurrou algo no ouvido dela. Aquilo não tinha significado. Clary tinha apenas o conhecimento de um zumbido entorpecido em sua cabeça. Ela lembrou de outro poema da aula de inglês, algo sobre como após a primeira morte que você viu, as outras não importavam. Esse poeta não sabia do que estava falando.
Luke soltou-a.
— As chaves, Pangborn — pediu.
Pangborn cutucou Blackwell com um pé e olhou para cima. Ele parecia irritado.
— Ou o quê? Você vai atirar uma seringa em mim? Havia apenas uma lâmina sobre a mesa. Não — ele acrescentou, levantando os braços e alcançando em seus ombros uma longa e exagerada espada — temo que se você quer as chaves, terá que vir e pegá-las. Não porque me interesso por Jocelyn Morgenstern de uma forma ou de outra, você entende, mas apenas porque estou ansioso para matar você... há anos.
Ele soltou a última palavra saboreando com uma deliciosa exultação enquanto avançava pelo quarto. Sua espada reluziu, lançando um raio da luz da lua. Clary viu Luke empurrar uma mão em direção a ela – uma mão estranhamente alongada, inclinada com unhas como minúsculos punhais e percebeu duas coisas: ele estava prestes a mudar, e o que ele tinha sussurrado em seu ouvido foi uma única palavra.
Corra.
Ela fugiu. Ziguezagueou em torno de Pangorn, que mal olhou para ela, evitando o corpo de Blackwell, que estava fora da porta, no corredor. Com o coração batendo forte, fugiu antes que a transformação de Luke estivesse completa. Ela não olhou para trás, mas ouviu um uivo longo e penetrante, o som de metal no metal e algo estilhaçando. Vidro quebrando, ela pensou. Talvez eles tivessem derrubado a mesa de cabeceira.
Clary se lançou ao fundo do corredor para a sala de armas. No interior, puxou o cabo de aço do machado. Estava firmemente preso à parede, não importasse quão duramente se esforçasse em retirar. Tentou uma espada e, em seguida, uma lança – até mesmo um pequeno punhal, mas não havia uma única arma que vinha livre em sua mão. Por fim, com as unhas despedaçadas e os dedos sangrando pelo esforço, ela teve que desistir. Havia magia nesta sala, no entanto não uma magia rúnica: era algo selvagem e estranho, algo escuro.
Ela saiu da sala. Não havia nada neste andar que pudesse ajudá-la. Avançou com dificuldade pelo corredor, estava começando a sentir a dor da verdadeira exaustão em suas pernas e braços, e se encontrou na junção das escadas. Para cima ou para baixo? Abaixo, ela lembrou, havia a escuridão, o vazio. É claro, havia a pedra enfeitiçada no seu bolso, mas algo nela desanimava o pensamento de entrar naqueles espaços escuros sozinha. Escada acima, ela viu o queimar de mais luzes, refletindo o tremeluzir de algo que poderia ter sido um movimento.
Ela subiu. Suas pernas doíam, seus pés doíam, tudo doía. Seus cortes tinham sido atados, mas isso não os impedia de arder. O rosto estava machucado onde Hugo tinha cortado sua bochecha e a boca tinha um gosto metálico e amargo.
Atingiu o último andar. Era suavemente curvo como a proa de um navio, tão silencioso quanto nos andares abaixo, não havia o som dos combates lá de fora. Outro longo corredor esticava-se em frente a ela, com as mesmas múltiplas portas, porém aqui algumas estavam abertas, derramando ainda mais luz para o corredor. Ela foi em frente, e algum instinto direcionou-a para a última porta à sua esquerda. Cautelosamente, olhou o interior.
À primeira vista, o quarto a lembrava de um período de exibição no Museu Metropolitano de Arte. Era como se entrasse no passado, os painéis nas paredes brilhavam como se fossem recentemente ilustrados, a interminavelmente longa mesa de jantar em conjunto com a delicada porcelana chinesa. Um ornamentado espelho com moldura dourada adornava a parede mais distante, entre dois retratos a óleo com pesadas molduras. Tudo reluzia sob a luz das tochas: os pratos na mesa, preenchidos com alimentos, o sulco dos vidros em forma de lírios, os panos da mesa tão brancos que cegavam. No final do quarto estavam duas grandes janelas, guarnecidas com um veludo pesado pendurado. Jace estava parado em uma das janelas, tão imóvel que por um momento ela imaginou que ele fosse uma estátua, até que percebeu que podia ver a luz brilhando em seu cabelo. Sua mão esquerda segurava uma cortina de lado e, na janela escura havia o reflexo das dezenas de velas no interior da sala, presas no vidro como vagalumes.
— Jace — ela chamou.
Ouviu sua própria voz à distância: surpresa, gratidão, saudade, tão acentuadas quanto dolorosas. Ele se virou, deixando a cortina cair, e Clary viu o olhar admirado sobre o seu rosto.
— Jace! — ela disse novamente, e correu em direção a ele.
Jace a pegou enquanto ela se lançava sobre ele. Os braços dele a envolviam com força.
— Clary — sua voz era quase irreconhecível — Clary, o que você está fazendo aqui?
Sua voz estava abafada contra sua camisa.
— Eu vim por você.
— Você não deveria ter vindo — seu domínio sobre si desapertou de repente e ele se afastou para trás, segurando-a um pouco longe — meu Deus — ele disse, tocando o rosto dela. — Idiota, que coisa a se fazer.
Sua voz era brava, mas o olhar que varria o rosto dela, os dedos que suavemente escovavam o cabelo dela para trás, eram carinhosos. Clary nunca o tinha visto sob este aspecto, havia uma espécie de fragilidade nele, algo que pudesse não ser apenas tocado, mas machucado.
— Por que você nunca pensa? — ele sussurrou.
— Eu estava pensando. Eu estava pensando em você.
Ele fechou os olhos por um instante.
— Se alguma coisa tivesse acontecido com você... — Suas mãos traçaram a linha dos braços suavemente, abaixo até os pulsos dela, como se ele estivesse se reassegurando que ela estava realmente lá. — Como você me encontrou?
— Luke — ela respondeu. — Eu vim com Luke. Para resgatar você.
Ainda a segurando, ele olhou do seu rosto para a janela, um ligeiro franzido ondulando no canto de sua boca.
— Portanto aqueles eram... você veio com um clã de lobos? — ele perguntou, um estranho tom em sua voz.
— Luke. Ele é um lobisomem e...
— Eu sei — Jace cortou-a — eu deveria ter adivinhado... as algemas — ele olhou em direção à porta. — Onde ele está?
— No andar de baixo — Clary respondeu lentamente — ele matou Blackwell. Eu vim procurar por você...
— Ele vai ter de chamá-los para fora — Jace disse.
Ela encarou-o sem compreender.
— O quê?
— Luke. Ele vai ter que chamar os lobos de seu bando. Há um mal entendido.
— O quê, você mesmo se sequestrou? — Ela quis soar provocando, mas a voz dela estava muito leve. — Vamos lá, Jace.
Ela puxou o seu pulso, mas Jace resistiu. Estava olhando-a intensamente, e Clary notou com um choque o que não tinha notado em sua primeira precipitação de alívio.
A última vez em que o tinha visto, ele estava cortado e contundido, as roupas manchadas de sangue e sujeira, seu cabelo imundo com sangue e poeira. Agora ele estava vestido com uma camisa branca larga e calças escuras, seu cabelo limpo caindo por todo o rosto, ouro pálido e esvoaçante. Ele tirou alguns fios dos seus olhos com uma mão delgada, e Clary percebeu que o seu pesado anel de prata estava em seu dedo.
— Essas são suas roupas? — ela perguntou, confusa. — E… seus ferimentos estão todos cuidados... — Sua voz falhou. — Parece que Valentim esteve cuidando terrivelmente bem de você.
Ele deu um sorriso cansado.
— Se eu te dissesse a verdade, você diria que estou louco.
Ela sentiu seu coração agitando duramente contra o interior do seu peito, como uma rápida batida de asas de um beija-flor.
— Não, eu não diria.
— Meu pai me deu essas roupas.
A palpitação tornou-se um rápido tumulto.
— Jace — ela disse com cuidado — seu pai está morto.
— Não — ele agitou a cabeça. Ela teve a sensação de que Jace estava segurando por dentro um enorme sentimento, como horror ou prazer – ou ambos — eu achava que ele estava, mas não está. Foi tudo um engano.
Ela se lembrou do que Hodge tinha dito sobre Valentim e sua habilidade de ser encantador e convincente em mentiras.
— Isto é algo que Valentim disse a você? Porque ele é um mentiroso, Jace. Lembre-se do que Hodge disse. Se ele está dizendo que seu pai está vivo, é uma mentira para que você faça aquilo que ele quer.
— Eu vi o meu pai. Conversei com ele. Ele me deu isto — ele puxou sua nova camisa limpa como se fosse uma prova inevitável — meu pai não está morto. Valentim não o matou. Hodge mentiu para mim. Todos estes anos pensei que ele estava morto, mas ele não estava.
Clary olhou selvagemente ao redor, para a sala com a sua brilhante porcelana chinesa e tochas derretendo e esvaziando, o espelho reluzente.
— Bem, se o seu pai está realmente neste lugar, então onde está ele? Valentim sequestrou-o também?
Os olhos de Jace estavam brilhando. O colarinho de sua camisa estava aberto e ela podia ver as finas cicatrizes brancas que cobriam sua clavícula, como fissuras na macia pele dourada.
— Meu pai...
A porta da sala, que Clary tinha fechado atrás dela, se abriu com um rangido, e um homem caminhava para o quarto.
Era Valentim. Seus cabelos prateados cortados reluziam como um elmo de aço polido e sua boca estava dura. Ele usava na cintura uma grossa bainha em seu cinto e o cabo de uma longa espada projetava-se a partir do início da mesma.
— Então — o homem falou, descansando a mão sobre o cabo da espada enquanto falava — você já recolheu suas coisas? Nossos Esquecidos podem distanciar os homens lobo por apenas...
Vendo Clary, ele se interrompeu no meio da sentença. Ele não era o tipo de homem que realmente era apanhado fora guarda, mas ela viu o tremular de espanto nos olhos dele.
— O que é isso? — ele perguntou, virando seu olhar para Jace.
Mas Clary já estava tateando sua cintura pela adaga. Ela a agarrou pelo cabo, sacudindo-a fora de sua bainha, e puxou a mão para trás. A fúria golpeava atrás de seus olhos como um tambor. Ela poderia matar este homem. Ela iria matá-lo.
Jace segurou seu pulso.
— Não.
Ela não podia conter sua incredulidade.
— Mas, Jace...
 Clary — ele disse firmemente. — Este é o meu pai.

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