Capítulo 2

Quando Celaena e Sam entraram na Fortaleza dos Assassinos no dia seguinte, era como se nada tivesse mudado. A mesma governanta trêmula os recebeu à porta antes de desaparecer, e Wesley, o guarda-costas de Arobynn, estava de pé na posição familiar do lado de fora do escritório do rei dos Assassinos.
Caminharam direto para a porta; Celaena usava cada passo, cada fôlego, para observar os detalhes. Duas lâminas presas às costas de Wesley, uma na lateral do corpo, duas adagas embainhadas à cintura, o lampejo de outra brilhando na bota do homem — provavelmente mais uma escondida na segunda bota. O guarda-costas estava com os olhos atentos, aguçados; nenhum sinal de exaustão ou doença ou nada que Celaena pudesse usar em vantagem própria caso acontecesse uma briga.
Mas Sam, apesar do quanto estivera silencioso na longa caminhada até lá, apenas foi até Wesley, estendendo a mão, e disse:
— Bom ver você, Wesley.
O homem apertou a mão de Sam e deu um meio-sorriso.
— Eu diria que você parece bem, rapaz, mas esse hematoma diz o contrário. — Wesley olhou para Celaena, que ergueu o queixo e bufou. — Você parece mais ou menos igual — disse ele, com um brilho desafiador nos olhos. O guarda-costas jamais gostara de Celaena, jamais se incomodara em ser agradável. Como se sempre soubesse que ela e Arobynn acabariam de lados opostos, e que ele seria a primeira linha de defesa.
Celaena passou direto por Wesley.
— E você ainda parece um babaca — disse ela, com doçura, e abriu as portas do escritório.
Sam murmurou um pedido de desculpas quando Celaena entrou no cômodo e encontrou Arobynn esperando.
O rei dos Assassinos os observava com um sorriso, as mãos apoiadas na mesa diante de si. Wesley fechou a porta atrás de Sam, e o casal silenciosamente ocupou os dois assentos diante da enorme mesa de carvalho.
Um olhar para o rosto fechado de Sam informou a Celaena que o rapaz também estava se lembrando da última vez em que tinham estado ali juntos. Aquela noite acabou com os dois espancados até ficarem inconscientes pelas mãos de Arobynn. Fora a noite em que a lealdade de Sam havia mudado — quando ameaçara matar o mentor por ter ferido Celaena. Fora a noite que mudou tudo.
O sorriso de Arobynn cresceu, uma expressão ensaiada e elegante, disfarçada de benevolência.
— Por mais que esteja radiante por ver ambos em boa saúde — disse ele —, por acaso quero saber o que os traz de volta ao lar? — Lar, aquele não era o lar de Celaena agora, e Arobynn sabia disso. A palavra era apenas mais uma arma.
Sam fervilhou de ódio, mas Celaena se aproximou. Tinham combinado que ela falaria, pois era mais provável que o rapaz perdesse a calma ao se tratar de Arobynn.
— Temos uma proposta para você — falou a jovem, mantendo-se perfeitamente imóvel. Ficar cara a cara com o mentor depois de toda a traição fazia o estômago dela se revirar. Quando Celaena saíra do escritório de Arobynn Hamel um mês antes, tinha jurado que o mataria se a incomodasse de novo. E ele, surpreendentemente, havia mantido distância.
— Ah? — Arobynn se recostou na cadeira.
— Vamos deixar Forte da Fenda — declarou Celaena, a voz fria e calma. — E gostaríamos de deixar a Guilda também. Idealmente, montaríamos um negócio próprio em outra cidade do continente. Nada que rivalizasse com a Guilda — acrescentou ela, com sutileza —, apenas um negócio privado para nos virarmos. — A assassina podia precisar da aprovação de Arobynn, mas não precisava implorar.
O homem olhou de Celaena para Sam. Os olhos prateados se semicerraram no lábio cortado do rapaz.
— Briga de namorados?
— Um mal-entendido — falou Celaena, antes que Sam pudesse disparar uma réplica. É claro que Arobynn se recusaria a dar uma resposta imediatamente. O companheiro se agarrou aos braços de madeira da cadeira.
— Ah — respondeu Arobynn, ainda sorrindo. Ainda calmo e gracioso e mortal. — E onde, exatamente, estão morando agora? Algum lugar bom, espero. Não seria apropriado que meus melhores assassinos estivessem morando em um barraco.
O mentor os faria jogar aquele jogo de trocar gentilezas até que ele quisesse responder à pergunta. Ao lado de Celaena, Sam estava rígido no assento. Ela praticamente sentiu o ódio quente que emanou do rapaz quando Arobynn disse meus assassinos. Outro uso afiado das palavras. Celaena suprimiu a própria raiva, que aumentava.
— Você parece bem, Arobynn — falou a jovem. Se ele não pretendia responder às perguntas dela, então Celaena certamente não responderia às dele. Principalmente aquelas sobre a localização atual dos dois, embora o mestre provavelmente já soubesse.
Arobynn gesticulou com a mão, recostando-se no assento.
— Esta Fortaleza parece muito vazia sem vocês.
Ele disse isso com tanta convicção, como se eles tivessem partido apenas para causar rancor, que Celaena ponderou se estava falando sério, se havia de alguma forma esquecido o que fizera com ela e como tratara Sam.
— E agora estão falando em mudar da capital e deixar a Guilda... — A expressão de Arobynn era indecifrável. Celaena manteve a respiração tranquila, evitou que o coração acelerasse. Uma não resposta à pergunta.
A assassina manteve o queixo erguido.
— Então é aceitável à Guilda se partirmos? — Cada palavra equilibrada no fio de uma lâmina.
Os olhos de Arobynn brilharam.
— Estão livres para se mudarem. — Mudar. Não tinha dito nada sobre deixar a Guilda.
Celaena abriu a boca para exigir uma afirmativa mais clara, mas então...
— Dê uma droga de resposta. — Sam exibia os dentes, o rosto estava lívido de ódio.
Arobynn olhou para Sam, o sorriso era tão mortal que Celaena lutou contra a vontade de levar a mão à adaga.
— Acabei de dar. Estão livres para fazer o que quiserem.
A assassina tinha segundos, talvez, antes que Sam realmente explodisse — antes que começasse uma briga que estragaria tudo. O sorriso do mestre aumentou, e as mãos de Sam casualmente penderam na lateral do corpo — os dedos muito, muito próximos dos cabos da espada e da adaga.
Merda.
— Estamos dispostos a oferecer esta quantia para deixar a Guilda — interrompeu Celaena, desesperada por qualquer coisa para evitar que tudo fosse pelos ares. Pelos deuses, estava doida para brigar, mas não aquela briga, não contra Arobynn. Felizmente, tanto o mentor quanto Sam se voltaram para ela quando a quantia foi proferida. — Esse preço é mais que satisfatório para partirmos e montarmos nosso negócio em outro lugar.
O homem olhou para a jovem por um momento longo demais antes de fazer uma contraoferta. Sam se pôs de pé.
— Está louco?
Celaena estava chocada demais para se mover. Tanto dinheiro... Ele tinha que saber, de algum jeito, quanto ela ainda tinha no banco. Porque pagar o que Arobynn pedia acabaria com tudo. O único dinheiro que teriam seria da poupança minguada de Sam e o que Celaena conseguisse pelo apartamento — o qual poderia ser difícil de vender, considerando a localização e a disposição incomum.
A assassina rebateu a oferta com outra, mas Arobynn apenas sacudiu a cabeça e encarou Sam.
— Vocês dois são meus melhores — falou ele, com uma calma irritante. — Se partirem, então o respeito e o dinheiro que fornecem à Guilda estariam perdidos. Preciso contabilizar isso. Esse preço é generoso.
Generoso — ciciou o rapaz.
Mas Celaena, com o estômago revirado, ergueu o queixo. Podia continuar atirando quantias até ficar com o rosto roxo, mas Arobynn obviamente escolhera aquele número por um motivo. Ele não cederia. Era um último tapa na cara — uma última pisada na ferida, apenas com a intenção de puni-la.
— Aceito — falou a jovem, dando um sorriso inexpressivo. Sam virou o rosto, mas Celaena manteve os olhos nas feições elegantes de Arobynn. — Transferirei os fundos para sua conta imediatamente. E, depois que isso estiver feito, vamos partir, e espero jamais ser incomodada por você ou pela Guilda novamente. Entendido?
Ela ficou de pé. Precisava ir para longe dali. Voltar tinha sido um erro. A assassina enfiou as mãos nos bolsos para esconder que começavam a tremer.
Arobynn sorriu para a jovem, fazendo-a perceber que ele já sabia.
— Entendido.

***

— Você não tinha o direito de aceitar a oferta — vociferou Sam, com a expressão do rosto tão enfurecida que as pessoas na ampla avenida da cidade praticamente saltavam para longe do caminho dele. — Não tinha direito de fazer isso sem me consultar. Nem mesmo negociou!
Celaena olhava as vitrines conforme caminhava. Amava o distrito de compras no coração da capital — as calçadas limpas ladeadas com árvores, a avenida principal que dava nos degraus de mármore do Teatro Real, o modo como conseguia encontrar qualquer coisa, desde sapatos até perfumes, joias e belas armas.
— Se pagarmos isso, então definitivamente precisaremos encontrar um contrato antes de partirmos!
Se pagarmos.
— Vou pagar — retrucou a jovem.
— Não vai mesmo.
— É meu dinheiro e posso fazer o que quiser com ele.
— Já pagou por sua dívida e pela minha, não vou deixar que dê mais um centavo a ele. Podemos encontrar alguma alternativa a pagar essa quantia de rescisão.
Os dois passaram pela entrada lotada de uma casa de chá popular na qual mulheres bem-vestidas conversavam ao sol morno do outono.
— A questão é ele ter exigido tanto dinheiro, ou o fato de que eu pagarei?
Sam parou subitamente, e, embora não tivesse olhado duas vezes para as moças da casa de chá, elas certamente repararam nele. Mesmo transbordando ódio, o rapaz era lindo. E estava irritado demais para perceber que aquele não era um lugar para discutir.
Celaena segurou o braço dele, puxando-o. Ela sentiu os olhos das moças sobre si quando o fez. Não podia deixar de sentir um lampejo de orgulho ao ver as mulheres observarem a túnica azul-escuro com o bordado dourado delicado sobre a lapela e os punhos, a calça justa marfim, as botas marrons na altura do joelho, feitas com couro maleável como manteiga. Embora a maioria das mulheres — principalmente as de origem rica ou nobre — optasse por usar vestidos e corseletes cruéis, calças e túnicas eram comuns o suficiente para que as roupas chiques de Celaena não escapassem à apreciação das moças desocupadas do lado de fora da casa de chá.
— A questão — falou Sam, entre dentes — é que estou cheio de fazer os joguetes dele, e prefiro cortar logo a garganta de Arobynn a pagar a quantia.
— Então é um tolo. Se deixarmos Forte da Fenda em circunstâncias desagradáveis, jamais conseguiremos nos estabelecer em lugar algum, não se quisermos manter a ocupação atual. E, se decidirmos encontrar profissões honestas, sempre imaginarei se ele ou a Guilda vão aparecer um dia e exigir esse dinheiro. Por isso, se eu precisar dar a Arobynn até a última moeda de cobre em minha conta bancária para garantir que conseguirei dormir em paz pelo resto da vida, que seja.
O casal chegou à enorme interseção no coração do distrito de compras, no qual o domo do Teatro Real se erguia acima das ruas lotadas de cavalos, carruagens e pessoas.
— Qual o limite? — perguntou Sam, baixinho. — Quando dizemos basta?
— Esta é a última vez.
Sam soltou um risinho de escárnio.
— Tenho certeza de que é. — Ele virou em uma das avenidas, na direção oposta de casa.
— Aonde vai?
Sam olhou por cima do ombro.
— Preciso espairecer. Vejo você em casa. — Celaena o observou atravessar a avenida movimentada, observou até que fosse engolido pela agitação da capital.
A assassina começou a caminhar também, para onde os pés a levassem. Passou pelos degraus do Teatro Real e continuou andando, as lojas e as barracas se misturavam em um borrão. O dia passava, mostrando-se um exemplar realmente lindo do clima de outono — o ar estava frio, mas o sol era morno.
De algumas formas, Sam estava certo. Mas Celaena o havia arrastado para aquela confusão: fora ela quem começara as coisas em baía da Caveira. Embora o rapaz alegasse estar apaixonado por ela havia anos, se a jovem tivesse mantido distância nos últimos meses, Sam não estaria naquela situação. Talvez se tivesse sido esperta, teria apenas partido o coração dele e permitido que ficasse com Arobynn. Era mais fácil que o rapaz a odiasse do que estar naquela situação. Celaena era... responsável por Sam agora. E isso era apavorante.
Ela se importava com ele mais do que se importara com qualquer um. Agora que havia estragado a carreira pela qual Sam trabalhara a vida toda, entregaria todo seu dinheiro para garantir que ele pudesse ao menos ser livre. Contudo, não podia simplesmente explicar que pagara por tudo porque se sentia culpada. Sam se ressentiria disso.
Celaena parou de andar e se viu no outro extremo da ampla avenida, do outro lado da rua dos portões do castelo de vidro. Não percebera que tinha caminhado tanto — nem que estava tão perdida nos próprios pensamentos. Costumava evitar se aproximar assim do castelo.
Os portões de ferro intensamente vigiados levavam para um caminho longo, ladeado por árvores, que serpenteava até a famigerada construção. Ela inclinou a cabeça para trás e viu as torres que tocavam o céu, as torretas refletindo o sol do meio da manhã. Tinha sido construído sobre o castelo de pedra original e era a grande realização do império de Adarlan.
Celaena o odiava.
Mesmo da rua, conseguia ver as pessoas perambulando pela propriedade distante do castelo — guardas uniformizados, damas em vestidos volumosos, criados usando as roupas de suas estações de trabalho... que tipo de vidas levavam, morando à sombra do rei?
Os olhos da assassina se ergueram até a mais alta torre de pedras cinza, na qual uma pequena varanda se projetava para fora, coberta de trepadeiras. Era tão fácil imaginar que as pessoas do lado de dentro não tinham com o que se preocupar.
No entanto, dentro daquele prédio brilhante, decisões que alteravam o curso de Erilea eram tomadas diariamente. Dentro daquele prédio, fora decretado que a magia era ilegal e que campos de trabalhos forçados como Calaculla e Endovier deveriam ser estabelecidos. Dentro daquele prédio, morava o assassino que se chamava de rei, o homem que Celaena temia acima de todos os outros. Se o Cofres era o coração do submundo de Forte da Fenda, então o castelo de vidro era a alma do império de Adarlan.
A jovem sentia como se o castelo a observasse, uma besta gigante de vidro e pedra e ferro. Encarar a construção fazia com que os problemas com Sam e Arobynn parecessem irrelevantes — como mosquitos zumbindo diante da boca escancarada de uma criatura pronta para devorar o mundo.
Um vento frio soprou, soltando fios de cabelo de sua trança. Não deveria ter se permitido chegar tão perto, embora as chances de encontrar o rei fossem quase zero. Apenas pensar nele fazia um medo insuportável percorrer o corpo da assassina.
O único consolo era que a maioria das pessoas dos reinos conquistados pelo rei provavelmente se sentia da mesma forma. Quando ele marchou para Terrasen nove anos antes, a invasão fora ágil e brutal; tão brutal que até mesmo Celaena se sentia enojada ao se lembrar de algumas das atrocidades que foram cometidas para assegurar o domínio do rei.
Estremecendo, a assassina deu meia-volta e foi para casa.

***

Sam não voltou até a hora do jantar.
Celaena estava jogada no sofá diante da lareira incandescente, com um livro na mão, quando ele entrou no apartamento. O capuz ainda cobria metade do rosto, e o cabo da espada, presa às costas, reluzia à luz laranja do cômodo. Quando Sam trancou a porta, Celaena viu o reflexo fosco das luvas amarradas nos antebraços dele — do couro espesso e entremeado que ocultava adagas. O rapaz se moveu com uma eficiência tão precisa e um poder tão controlado que Celaena piscou. Às vezes era fácil esquecer que o jovem com quem dividia o apartamento era também um assassino treinado e implacável.
— Encontrei um cliente. — Sam tirou o capuz e se recostou à porta, os braços cruzados sobre o peito largo.
Ela fechou o livro que estava devorando e o apoiou no sofá.
— Hã?
Os olhos castanhos de Sam brilhavam, embora o rosto fosse indecifrável.
— Vão pagar. Muito. E querem evitar que chegue aos ouvidos da Guilda dos Assassinos. Têm até um contrato para você.
— Quem é o cliente?
— Não sei. O homem com quem falei tinha os disfarces de sempre: capuz, roupas comuns. Poderia estar agindo em nome de outra pessoa.
— Por que querem evitar usar a Guilda? — Ela se mexeu para se apoiar no braço do sofá. A distância entre Celaena e Sam parecia tão grande, tão carregada.
— Porque querem que eu mate Ioan Jayne e seu segundo no comando, Rourke Farran.
Celaena o encarou.
— Ioan Jayne. — O maior lorde do crime de Forte da Fenda.
Sam assentiu.
Um rugido tomou conta dos ouvidos de Celaena.
— Ele é muito bem protegido — disse ela. — E Farran... Aquele homem é um psicopata. É sádico.
Sam se aproximou.
— Você disse que para nos mudarmos para outra cidade, precisaríamos de dinheiro. E como insiste em pagar a Guilda, precisamos mesmo de dinheiro. Portanto, a não ser que queira que acabemos ladrões, sugiro aceitarmos.
Celaena precisou inclinar a cabeça para trás para olhar para o rapaz.
— Jayne é perigoso.
— Então que bom que somos os melhores, não? — Embora Sam tivesse dado um sorriso despreocupado, a assassina via a tensão nos ombros dele.
— Deveríamos encontrar outro contrato. Deve haver outra pessoa.
— Você não sabe. E ninguém mais pagaria tanto. — O companheiro disse o montante, e as sobrancelhas dela se ergueram. Ficariam muito confortáveis depois disso. Poderiam viver em qualquer lugar.
— Tem certeza de que não sabe quem é o cliente?
— Está procurando desculpas para dizer não?
— Estou tentando me certificar de que estamos em segurança — disparou ela. — Sabe quantas pessoas tentaram matar Jayne e Farran? Sabe quantas ainda estão vivas?
Sam passou a mão pelos cabelos.
— Quer ficar comigo?
— O quê?
— Quer ficar comigo?
— Sim. — No momento, era tudo que queria.
Um meio-sorriso repuxou os cantos dos lábios dele.
— Portanto, faremos isso e teremos dinheiro suficiente para resolver as coisas em Forte da Fenda e nos estabelecermos em outro lugar do continente. Se perguntasse, eu ainda partiria esta noite sem dar a Arobynn ou à Guilda um centavo, mas você está certa: não quero passar o resto de nossas vidas com medo. Deveríamos ir embora tranquilos. Quero isso para nós. — A garganta de Celaena se apertou, e ela olhou na direção do fogo. Sam colocou um dedo sob o queixo da jovem, erguendo a cabeça dela para cima de novo. — Então irá atrás de Jayne e Farran comigo?
Ele era tão lindo, tão cheio de todas as coisas que Celaena queria, tudo que esperava. Como jamais notara até aquele ano? Como passara tanto tempo o odiando?
— Vou pensar no assunto — respondeu ela, com a voz rouca. Não era apenas teimosia. Precisava mesmo pensar a respeito. Principalmente se os alvos seriam Jayne e Farran.
O sorriso de Sam cresceu, e ele se abaixou para dar um beijo na têmpora de Celaena.
— Melhor que um não.
A respiração dos dois se misturou.
— Desculpe pelo que falei mais cedo hoje.
— Uma desculpa de Celaena Sardothien? — Os olhos do rapaz dançavam com a luz. — Estou sonhando?
Ela fez uma careta, mas Sam a beijou. A assassina o envolveu pelo pescoço com os braços, abrindo a boca diante da dele, e um gemido baixo escapou de Sam quando as línguas se encontraram. As mãos dela ficaram presas na alça que prendia a espada do rapaz contra as costas, e Celaena se afastou por tempo o bastante para soltar o fecho da bainha na altura do peito do jovem.
A espada caiu tilintando no chão de madeira. Sam encarou Celaena de novo, e foi o suficiente para que ela o puxasse para perto. Ele a beijou por inteira, demorando-se, como se tivesse uma vida toda de beijos pela frente.
Ela gostou disso. Muito.
Sam passou um braço pelas costas de Celaena e outro por baixo dos joelhos, levantando-a em um movimento fluido e gracioso. Embora a jovem jamais fosse contar a ele, quase perdeu os sentidos.
Sam a levou da sala para o quarto, apoiando Celaena com carinho na cama. Ele se afastou apenas o bastante para retirar as luvas mortais dos pulsos, seguidas pelas botas, pelo manto, pela jaqueta e pela camisa. A assassina observou a pele dourada e o peito musculoso de Sam, as cicatrizes finas que salpicavam o tronco; o coração dela batia tão rápido que mal conseguia respirar.
Sam era de Celaena. Aquela criatura magnífica e poderosa era dela.
A boca do assassino encontrou a de Celaena novamente, e o rapaz a colocou mais para cima da cama. Descendo mais e mais, as mãos astutas exploraram cada centímetro da jovem até que ela estivesse deitada de barriga para cima e ele se apoiasse nos antebraços sobre Celaena. Sam beijou o pescoço da jovem, e Celaena arqueou o corpo na direção dele conforme o rapaz percorria a mão pelo tronco dela, desabotoando o manto ao prosseguir. Ela não queria saber onde Sam havia aprendido a fazer aquelas coisas. Porque se algum dia soubesse os nomes das garotas...
O fôlego de Celaena ficou preso quando Sam chegou ao último botão e tirou o casaco. Ele olhou para o corpo da companheira com a respiração entrecortada. Os dois tinham ido mais longe que aquilo antes, mas havia uma pergunta nos olhos do rapaz, uma pergunta escrita em cada centímetro de seu corpo.
— Não esta noite — sussurrou Celaena, com as bochechas incandescentes de calor. — Ainda não.
— Não tenho pressa — afirmou Sam, abaixando-se para percorrer o ombro dela com o nariz.
— É só que... — Pelos deuses, deveria parar de falar. Não devia explicação alguma a ele, e Sam não insistiu, mas... — Se só vou fazer isso uma vez, quero aproveitar cada passo. — Ele entendia o que a assassina queria dizer com isso: aquele relacionamento entre os dois, aquele laço que se formava, tão inquebrável e resistente que fazia todo o eixo do mundo de Celaena se voltar na direção de Sam. Isso a aterrorizava mais que qualquer coisa.
— Posso esperar — falou o companheiro, com a voz áspera, beijando a base do pescoço dela. — Temos todo o tempo do mundo.
Talvez estivesse certo. E passar todo o tempo do mundo com Sam...
Era um tesouro pelo qual valia a pena pagar qualquer coisa.

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