Capítulo 7
Sam não estava no apartamento.
Mas o relógio sobre a lareira marcava 1 hora da manhã.
Celaena ficou de pé diante das brasas e encarou os ponteiros, questionando se estaria de alguma forma lendo errado.
Mas continuavam se movendo e, ao verificar o relógio de bolso, este também dizia 1 hora. Então dois minutos se passaram. Depois cinco minutos...
A assassina jogou mais lenha na fogueira e tirou as espadas e as adagas, mas permaneceu com o traje. Apenas por precaução.
Não fazia ideia de quando havia começado a caminhar de um lado para outro diante da lareira — e só percebeu quando o relógio bateu 2 horas e ainda estava diante dele.
Sam chegaria a qualquer minuto.
A qualquer minuto.
***
Celaena acordou sobressaltada com o leve tique-taque do relógio. Por algum motivo, acabara no sofá... e de alguma forma caíra no sono.
Eram 4 horas.
Ela sairia de novo em um minuto. Talvez Sam estivesse escondido na Fortaleza dos Assassinos durante a noite. Improvável, mas... era talvez o lugar mais seguro para se esconder depois de matar Rourke Farran.
A assassina fechou os olhos.
O alvorecer a cegava, e os olhos pareciam cheios de areia e doloridos conforme Celaena corria pelos cortiços, em seguida pelos bairros nobres, avaliando cada paralelepípedo, cada nicho escondido, cada telhado em busca de algum sinal do companheiro.
Então foi até o rio.
Ela não ousou respirar ao andar de um lado para outro das margens que ladeavam os cortiços em busca de qualquer coisa. Qualquer sinal de Farran ou... ou...
Ou.
Não se permitiu terminar esse pensamento, embora uma náusea intensa tivesse tomado conta dela conforme avaliava as margens e o cais e os depósitos de esgoto.
Ele estaria esperando por ela em casa. E então a repreenderia, riria dela e a beijaria. E então Celaena mataria Jayne naquela noite, depois os dois zarpariam naquele rio para o mar próximo, aí sumiriam.
Sam estaria esperando em casa.
Estaria em casa.
Em casa.
***
Meio-dia.
Não podia ser meio-dia, mas era. O relógio de bolso estava devidamente ajustado e não falhara sequer uma vez durante os anos em que a assassina o possuía.
Cada passo escada acima para o apartamento era pesado e leve — pesado e leve, a sensação mudava a cada batida do coração. Celaena pararia no apartamento apenas por tempo o bastante para ver se Sam havia voltado.
Um silêncio ensurdecedor pairava sobre ela, uma onda alta da qual Celaena tentava fugir havia horas. Sabia que assim que o silêncio finalmente a atingisse, tudo mudaria.
Ela se viu no alto das escadas, encarando a porta.
Tinha sido destrancada e deixada levemente aberta.
Dando um ruído meio estrangulado, a jovem correu os últimos metros, mal reparando quando escancarou a porta e irrompeu no apartamento. Gritaria com ele. E o beijaria. E gritaria mais. Muito mais. Como ousava fazê-la...
Arobynn Hamel estava sentado no sofá.
Celaena parou.
O rei dos Assassinos se levantou devagar. Ela viu a expressão nos olhos dele e soube o que Arobynn diria muito antes que ele abrisse a boca e sussurrasse:
— Sinto muito.
O silêncio a alcançou.
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