Depois
Encolhida no canto da carruagem da prisão, Celaena Sardothien observava os borrões de sombra e luz passarem na parede. Árvores — apenas começando a adquirir os ricos matizes do outono — pareciam olhar para ela pela pequena janela gradeada.
Celaena apoiou a cabeça contra a parede de madeira mofada, ouvindo o ranger da carruagem, o tilintar dos grilhões ao redor de seus pulsos e tornozelos, a conversa murmurada e a risada ocasional dos guardas que a escoltavam pela trilha havia dois dias.
No entanto, embora estivesse ciente de tudo isso, um tipo de silêncio ensurdecedor recaíra sobre ela como um manto. Ele abafava tudo. A assassina sabia que tinha sede e fome, assim como sabia que seus dedos estavam dormentes de frio, mas não conseguia sentir isso de maneira apurada.
A carruagem atingiu uma depressão, sacudindo Celaena com tanta força que a cabeça se chocou contra a parede. Mesmo aquela dor pareceu distante.
Os pontos de luz nas paredes dançavam como neve caindo.
Como cinzas.
Cinzas de um mundo queimado até sumir — caído em ruínas ao redor dela. Conseguia sentir o gosto das cinzas daquele mundo morto sobre os lábios ressecados, detendo-se na língua pesada.
A assassina preferia o silêncio. No silêncio, não ouvia a pior pergunta de todas: tinha causado aquilo a si mesma?
A carruagem passou debaixo de um dossel de árvores especialmente denso, que bloqueava a luz. Por um segundo, o silêncio se afastou o suficiente para que essa pergunta adentrasse a mente de Celaena, por debaixo da pele, sob a respiração e os ossos.
E, na escuridão, ela lembrou.
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